Médicos de Portugal

31-07-2007
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Agência Portuguesa de Segurança Alimentar alerta para o consumo de sódio » Abuso de sal pode originar cancro gástrico

Sofia Filipe

Data: 2006-02-07

O excesso de sal na dieta é um factor de risco do cancro do estômago, uma das principais causas de morte em Portugal. Mas este é apenas um exemplo de uma consequência da predilecção por salgadas tentações.

Quando se pensa em sal, automaticamente surge a ideia de salgar os alimentos no acto de os cozinhar ou já na mesa acabados de confeccionar e prontos a servir aos comensais.

É, no entanto, de considerar a quantidade a acrescentar aos cozinhados. Isto porque os alimentos têm já uma determinada quantidade de sódio. É igualmente importante ter atenção a produtos alimentares, como bolachas ou queijos, que à partida não parecem ter teores elevados de sal.

O cuidado com este ingrediente seria dispensável se não fosse um dos factores de risco de doenças cardiovasculares ou cancro gástrico. Acontece, porém, que é muitas vezes indispensável, afinal, dá sabor à comida.

Com o intuito de alertar os consumidores para implicações negativas do sal na saúde, a Agência Portuguesa de Segurança Alimentar (APSA) promoveu mais um encontro Comunicar Ciência.

Realizado no âmbito do Dia Mundial da Alimentação (16 de Outubro), objectivou consciencializar os presentes para as consequências do consumo excessivo de sal na alimentação.

Para isso, neste quarto encontro, a APSA convidou a Prof.ª Carla Lopes, investigadora do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para abordar a importância das interacções alimentares do sal e da doença. O Prof. Manuel Sobrinho Simões, responsável pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, foi convidado a comparecer para explicar o papel do sal e da infecção por Helicobacter pylori na interacção genético-ambiental.

Após a intervenção destes dois especialistas, o Dr. Fernando Serrasqueiro, secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, encerrou o evento.

Sal e doenças

«A hipertensão arterial é a doença mais conhecida resultante do abuso de sal na dieta», mencionou Carla Lopes, salientando haver outras patologias associadas àquele ingrediente. Elas são o acidente vascular cerebral (AVC), a insuficiência cardíaca, o cancro gástrico e a osteoporose.

Relativamente à hipertensão, a investigadora explicou que «o excesso de sódio aumenta o volume de fluidos que, por sua vez, aumenta o débito cardíaco e consequentemente o aumento da pressão arterial».

Já o AVC e a insuficiência cardíaca estão naturalmente relacionadas com a hipertensão.

No que diz respeito à osteoporose, Carla Lopes referiu que «o papel do sal como factor de risco só pode ser esclarecido através da investigação dos efeitos do sal no contexto da alimentação global, com particular referência para outros factores alimentares envolvidos no metabolismo do cálcio, como o potássio, o magnésio, o fósforo e a proteína».

Risco de cancro gástrico

Das cerca de 100 mil mortes que ocorrem em Portugal, por ano, cerca de 30 mil são causadas por doenças cardiovasculares e aproximadamente 25 mil por cancro. Os três tipos de cancros mais incidentes entre os portugueses são os do pulmão, cólon e recto, e estômago. Ora, segundo algumas investigações, o sal pode ser um dos factores de risco do cancro gástrico, responsável por cerca de 3 mil mortes anuais no nosso País.

De acordo com um estudo realizado entre imigrantes japoneses nos EUA e no Brasil, com base nas diferenças geográficas, na tendência da incidência do cancro com o tempo e na modificação dos padrões de incidência, o cancro gástrico está associado a factores dietéticos, como a ingestão de sal e de alimentos fumados e/ou salgados.

Além disso, o consumo excessivo de sal pode aumentar o risco das lesões gástricas causadas pela infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria que vive no muco que cobre a superfície do estômago. A nível mundial, a maior parte da população está infectada por este agente, mas apenas uma minoria é afectada pelas estirpes mais virulentas da bactéria.

«A taxa de incidência desta infecção em Portugal é, nos adultos, de cerca de 80 a 90% e, segundo investigações em animais de experiência, o consumo abusivo de sal pode aumentar a agressividade da bactéria», indicou Manuel Sobrinho Simões.

E continuou: «Um indivíduo pode viver toda a vida sem saber que está infectado por esta bactéria, pois não tem sintomas. Mas, se for afectado por uma das estirpes virulentas e tiver uma resposta imunitária alterada, poderá sofrer as consequências, tais como dispepsia, gastrite, úlceras do estômago e do duodeno e cancro do estômago.»

Ainda de acordo com o responsável pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, «O consumo abusivo de sódio pode associar-se à agressão causada por Helicobacter pylori, isto é, pode haver uma sinergia entre o excesso de sal e a bactéria que, por sua vez, vai facilitar o desenvolvimento de cancro gástrico».

«Educar» o paladar

O consumo diário de sal por pessoa deveria rondar as 5 a 6 gramas. Acontece que a média de consumo dos portugueses situa-se nas 12 g/dia. De acordo com um estudo efectuado no Reino Unido, a redução de 12 g para 9 g/dia reduz 13% dos AVC e 10% da doença coronária. Contudo, referem que só uma redução mais acentuada de 12 para 3 g/dia seria de facto mais efectiva.

Referindo-se às orientações futuras da política alimentar, a mesma investigadora frisou que «o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 da Direcção-Geral da Saúde fala do sal no âmbito dos comportamentos saudáveis, mas apenas diz que é preciso reduzir o seu consumo. Não há indicações sobre a quantidade a diminuir nem sobre as medidas para o conseguir».

Para que a dita diminuição do consumo de sódio tenha efeitos, Carla Lopes salien­tou ser importante «haver negociações com a indústria alimentar para reduzir o sal, incentivar os fabricantes a não adicionar ou reduzir o sódio em alguns alimentos (produtos de padaria, por exemplo), desenvolver campanhas de informação para o consumidor e, por último, haver rótulos obrigatórios, sendo o teor em sal ou sódio indicado sempre da mesma forma».

Porque as preferências gastronómicas são adquiridas nos primeiros anos de vida, as mães com filhos ainda em idades precoces são o público-alvo para alteração de hábitos alimentares no que respeita ao consumo de sal.

Aliás, como reforçou Manuel Sobrinho Simões, «existem hábitos muito difíceis de modificar, sendo o paladar um deles. Uma criança que se habitua ao gosto do sal na comida, de futuro dificilmente conseguirá comer alimentos pouco salgados. O treino do gosto deve, portanto, ser feito desde muito cedo».

Ideias falsas sobre o sal

Muitas pessoas formulam ideias erradas relativamente ao consumo de sódio. Eis algumas falsidades:

- Não estou a consumir sal em excesso, pois não o adiciono à minha alimentação

- Os alimentos não têm sabor se não tiverem sal

- Só os idosos precisam de se preocupar com a quantidade de sal que consomem

- Existem variedades de sal melhores que outras

- Quem tem a tensão arterial baixa pode consumir sal à-vontade

Salgadas tentações

Anote alguns tipos de alimentos ricos em sal, cujo consumo abusivo não se recomenda...

Alimentos obviamente salgados

- Anchovas

- Aperitivos salgados

- Batatas fritas de pacote

- Enchidos e fumados

- Azeitonas

- Pevides

- Bacalhau

- Carne e peixe fumados

Alimentos salgados mas que o consumidor não identifica imediatamente

- Bacon

- Pickles

- Queijos

- Salsichas

- Molho de soja

- Caldo em cubos

Alimentos em relação aos quais algumas receitas têm um teor elevado em sal

- Enlatados de vegetais e leguminosas aos quais foi adicionado sal

- Cereais de pequeno-almoço

- Pizza

- Bolachas e biscoitos (doces e salgados)

- Refeições pré-cozinhadas

- Molhos para cozinhar e temperar

Agência Portuguesa de Segurança Alimentar alerta para o consumo de sódio » Abuso de sal pode originar cancro gástrico

Sofia Filipe

Data: 2006-02-07

O excesso de sal na dieta é um factor de risco do cancro do estômago, uma das principais causas de morte em Portugal. Mas este é apenas um exemplo de uma consequência da predilecção por salgadas tentações.

Quando se pensa em sal, automaticamente surge a ideia de salgar os alimentos no acto de os cozinhar ou já na mesa acabados de confeccionar e prontos a servir aos comensais.

É, no entanto, de considerar a quantidade a acrescentar aos cozinhados. Isto porque os alimentos têm já uma determinada quantidade de sódio. É igualmente importante ter atenção a produtos alimentares, como bolachas ou queijos, que à partida não parecem ter teores elevados de sal.

O cuidado com este ingrediente seria dispensável se não fosse um dos factores de risco de doenças cardiovasculares ou cancro gástrico. Acontece, porém, que é muitas vezes indispensável, afinal, dá sabor à comida.

Com o intuito de alertar os consumidores para implicações negativas do sal na saúde, a Agência Portuguesa de Segurança Alimentar (APSA) promoveu mais um encontro Comunicar Ciência.

Realizado no âmbito do Dia Mundial da Alimentação (16 de Outubro), objectivou consciencializar os presentes para as consequências do consumo excessivo de sal na alimentação.

Para isso, neste quarto encontro, a APSA convidou a Prof.ª Carla Lopes, investigadora do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para abordar a importância das interacções alimentares do sal e da doença. O Prof. Manuel Sobrinho Simões, responsável pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, foi convidado a comparecer para explicar o papel do sal e da infecção por Helicobacter pylori na interacção genético-ambiental.

Após a intervenção destes dois especialistas, o Dr. Fernando Serrasqueiro, secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, encerrou o evento.

Sal e doenças

«A hipertensão arterial é a doença mais conhecida resultante do abuso de sal na dieta», mencionou Carla Lopes, salientando haver outras patologias associadas àquele ingrediente. Elas são o acidente vascular cerebral (AVC), a insuficiência cardíaca, o cancro gástrico e a osteoporose.

Relativamente à hipertensão, a investigadora explicou que «o excesso de sódio aumenta o volume de fluidos que, por sua vez, aumenta o débito cardíaco e consequentemente o aumento da pressão arterial».

Já o AVC e a insuficiência cardíaca estão naturalmente relacionadas com a hipertensão.

No que diz respeito à osteoporose, Carla Lopes referiu que «o papel do sal como factor de risco só pode ser esclarecido através da investigação dos efeitos do sal no contexto da alimentação global, com particular referência para outros factores alimentares envolvidos no metabolismo do cálcio, como o potássio, o magnésio, o fósforo e a proteína».

Risco de cancro gástrico

Das cerca de 100 mil mortes que ocorrem em Portugal, por ano, cerca de 30 mil são causadas por doenças cardiovasculares e aproximadamente 25 mil por cancro. Os três tipos de cancros mais incidentes entre os portugueses são os do pulmão, cólon e recto, e estômago. Ora, segundo algumas investigações, o sal pode ser um dos factores de risco do cancro gástrico, responsável por cerca de 3 mil mortes anuais no nosso País.

De acordo com um estudo realizado entre imigrantes japoneses nos EUA e no Brasil, com base nas diferenças geográficas, na tendência da incidência do cancro com o tempo e na modificação dos padrões de incidência, o cancro gástrico está associado a factores dietéticos, como a ingestão de sal e de alimentos fumados e/ou salgados.

Além disso, o consumo excessivo de sal pode aumentar o risco das lesões gástricas causadas pela infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria que vive no muco que cobre a superfície do estômago. A nível mundial, a maior parte da população está infectada por este agente, mas apenas uma minoria é afectada pelas estirpes mais virulentas da bactéria.

«A taxa de incidência desta infecção em Portugal é, nos adultos, de cerca de 80 a 90% e, segundo investigações em animais de experiência, o consumo abusivo de sal pode aumentar a agressividade da bactéria», indicou Manuel Sobrinho Simões.

E continuou: «Um indivíduo pode viver toda a vida sem saber que está infectado por esta bactéria, pois não tem sintomas. Mas, se for afectado por uma das estirpes virulentas e tiver uma resposta imunitária alterada, poderá sofrer as consequências, tais como dispepsia, gastrite, úlceras do estômago e do duodeno e cancro do estômago.»

Ainda de acordo com o responsável pelo Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, «O consumo abusivo de sódio pode associar-se à agressão causada por Helicobacter pylori, isto é, pode haver uma sinergia entre o excesso de sal e a bactéria que, por sua vez, vai facilitar o desenvolvimento de cancro gástrico».

«Educar» o paladar

O consumo diário de sal por pessoa deveria rondar as 5 a 6 gramas. Acontece que a média de consumo dos portugueses situa-se nas 12 g/dia. De acordo com um estudo efectuado no Reino Unido, a redução de 12 g para 9 g/dia reduz 13% dos AVC e 10% da doença coronária. Contudo, referem que só uma redução mais acentuada de 12 para 3 g/dia seria de facto mais efectiva.

Referindo-se às orientações futuras da política alimentar, a mesma investigadora frisou que «o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 da Direcção-Geral da Saúde fala do sal no âmbito dos comportamentos saudáveis, mas apenas diz que é preciso reduzir o seu consumo. Não há indicações sobre a quantidade a diminuir nem sobre as medidas para o conseguir».

Para que a dita diminuição do consumo de sódio tenha efeitos, Carla Lopes salien­tou ser importante «haver negociações com a indústria alimentar para reduzir o sal, incentivar os fabricantes a não adicionar ou reduzir o sódio em alguns alimentos (produtos de padaria, por exemplo), desenvolver campanhas de informação para o consumidor e, por último, haver rótulos obrigatórios, sendo o teor em sal ou sódio indicado sempre da mesma forma».

Porque as preferências gastronómicas são adquiridas nos primeiros anos de vida, as mães com filhos ainda em idades precoces são o público-alvo para alteração de hábitos alimentares no que respeita ao consumo de sal.

Aliás, como reforçou Manuel Sobrinho Simões, «existem hábitos muito difíceis de modificar, sendo o paladar um deles. Uma criança que se habitua ao gosto do sal na comida, de futuro dificilmente conseguirá comer alimentos pouco salgados. O treino do gosto deve, portanto, ser feito desde muito cedo».

Ideias falsas sobre o sal

Muitas pessoas formulam ideias erradas relativamente ao consumo de sódio. Eis algumas falsidades:

- Não estou a consumir sal em excesso, pois não o adiciono à minha alimentação

- Os alimentos não têm sabor se não tiverem sal

- Só os idosos precisam de se preocupar com a quantidade de sal que consomem

- Existem variedades de sal melhores que outras

- Quem tem a tensão arterial baixa pode consumir sal à-vontade

Salgadas tentações

Anote alguns tipos de alimentos ricos em sal, cujo consumo abusivo não se recomenda...

Alimentos obviamente salgados

- Anchovas

- Aperitivos salgados

- Batatas fritas de pacote

- Enchidos e fumados

- Azeitonas

- Pevides

- Bacalhau

- Carne e peixe fumados

Alimentos salgados mas que o consumidor não identifica imediatamente

- Bacon

- Pickles

- Queijos

- Salsichas

- Molho de soja

- Caldo em cubos

Alimentos em relação aos quais algumas receitas têm um teor elevado em sal

- Enlatados de vegetais e leguminosas aos quais foi adicionado sal

- Cereais de pequeno-almoço

- Pizza

- Bolachas e biscoitos (doces e salgados)

- Refeições pré-cozinhadas

- Molhos para cozinhar e temperar

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