POBREZA NA IMPRENSA: Elogios de Cavaco Silva ao sucesso europeu de Portugal não vão para além de 2001

18-07-2009
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Nuno Simas, em Istambul, in Jornal PúblicoO Presidente falou de quase tudo, mas recusou abordar o caso Lopes de Mota. E até usou um trocadilho para não comentarA Europa dominou a visita presidencial à Turquia. Até ao fim. Cavaco Silva foi ontem falar aos estudantes da Universidade do Bósforo, em Istambul, da experiência da integração europeia desde 1986 até... 2001. Porque foram os anos "de claro sucesso" de integração, incluindo os que foi primeiro-ministro (1985-1995).Os outros anos, de governos PSD/CDS com Durão Barroso e Santana Lopes, mas também do PS, com José Sócrates, "não valia a pena" avaliar por envolverem "problemas que resultam de uma união monetária". Mas também da competitividade e da disciplina das finanças públicas, e que não se colocam no futuro se e quando a Turquia aderir à União Europeia (UE). Com o apoio português. Se o Presidente não fez qualquer juízo à política europeia mais recente, o mesmo já não é verdade quanto à atenção que Portugal deu nos últimos anos à Turquia, "vizinho" da UE, com um mercado de mais de 70 milhões de pessoas, já tem um acordo aduaneiro com a União, com um crescimento económico, antes da actual crise, de sete por cento ao ano. Aí, apontou o dedo ao dizer que têm vindo a ser resolvidas "falhas" anteriores.Agora, é "preciso recuperar caminho" e olhar com "muito mais atenção para a Turquia" porque não há outro país vizinho da UE com estas características. Ainda mais quando Portugal, reforçou, "necessita, como de pão para a boca, de diversificar as suas exportações, dando como outros exemplos, além do turco, a América Latina, a China ou a Índia, insistiu o Presidente numa conversa com os jornalistas que o acompanham na visita à Turquia, que hoje termina.Agora, depois desta visita, em que esteve acompanhado por cerca de 30 empresários portugueses, Cavaco espera "recuperar caminho". E num seminário económico, que reuniu centenas de empresários de ambos os países, fez um convite aos turcos para investirem em Portugal. Num dia em que a economia esteve no centro das atenções, o presidente da AICEP, Basílio Horta, disse aos jornalistas estar disposto a apoiar o BCP para que continue na Turquia, face às notícias sobre a eventual saída do mercado turco. Uma oferta de apoio feita ao administrador presente na comitiva, Luís Pereira Coutinho, e que poderia traduzir-se num memorando de entendimento, idêntico ao que a AICEP tem como o banco na Polónia. Um negócio que Cavaco não quis comentar. Como é regra, o Presidente evitou falar de política caseira em visitas ao estrangeiro - nada de comentários ao caso de Lopes da Mota e a sua manutenção no Eurojust embora tenha feito um trocadilho na resposta - "A pergunta não é 'just' mesmo quando o espírito é euro, ou seja, europeu."Do que falou mais extensamente foi sobre a economia e sobre o papel do Estado neste contexto de crise económica mundial. Para recusar que haja uma intervenção excessiva dos estados, porque pode variar conforme a conjuntura, "o tempo e o espaço". "Num parêntesis", disse que "não faz o mínimo sentido discutir as políticas do passado em qualquer país porque podem ter sido muito correctas e hoje revelarem-se inadequadas, tal como as que hoje são adequadas poderiam ter sido erradas no passado". Universidade e bazarNum anfiteatro da Universidade do Bósforo, Cavaco Silva falou da experiência portuguesa, das negociações complexas e exigentes, de como Portugal superou a Grécia na convergência real, atingindo 73 por cento da média comunitária no PIB per capita. Ou como se reduziu a taxa de inflação, o desemprego "foi reduzido até níveis historicamente baixos". Ou ainda o "crescimento exponencial do investimento directo estrangeiro" e as reformas como a abertura ao sector privado ou a liberalização do comércio. Além de ter representado, politicamente, "um marco para a democracia" e para a "consolidação da economia de mercado". De manhã, o Presidente foi a um dos enormes e famosos bazares de Istambul. Bebeu um chá, mas não fez compras. A mulher, Maria Cavaco Silva, sim, a pensar nos filhos e nos netos. "Deixei-lhe não o cartão de crédito, mas euros. Acho que aqui aceitam", como confessou Cavaco. O jornalista do PÚBLICO viajou num avião fretado pela Presidência da República. O Presidente tinha definido o objectivo da visita à Turquia um reforço das relações económicas. "Dar uma atenção especial à Turquia", como disse ontem aos jornalistas. Mas um facto que causou estranheza entre membros da comitiva foi a ausência do ministro da Economia, que acompanhou Cavaco Silva, por exemplo, nas visitas à Alemanha e Índia. Manuel Pinho fez-se representar pelo secretário de Estado do Comércio e Defesa do Consumidor. Ao PÚBLICO, Fernando Serrasqueiro disse que o ministro "tinha outras questões na agenda" e que, tratando-se de comércio, pediu para representá-lo. A escolha dos membros do Governo que acompanham o Presidente cabe ao executivo. N.S.


Nuno Simas, em Istambul, in Jornal PúblicoO Presidente falou de quase tudo, mas recusou abordar o caso Lopes de Mota. E até usou um trocadilho para não comentarA Europa dominou a visita presidencial à Turquia. Até ao fim. Cavaco Silva foi ontem falar aos estudantes da Universidade do Bósforo, em Istambul, da experiência da integração europeia desde 1986 até... 2001. Porque foram os anos "de claro sucesso" de integração, incluindo os que foi primeiro-ministro (1985-1995).Os outros anos, de governos PSD/CDS com Durão Barroso e Santana Lopes, mas também do PS, com José Sócrates, "não valia a pena" avaliar por envolverem "problemas que resultam de uma união monetária". Mas também da competitividade e da disciplina das finanças públicas, e que não se colocam no futuro se e quando a Turquia aderir à União Europeia (UE). Com o apoio português. Se o Presidente não fez qualquer juízo à política europeia mais recente, o mesmo já não é verdade quanto à atenção que Portugal deu nos últimos anos à Turquia, "vizinho" da UE, com um mercado de mais de 70 milhões de pessoas, já tem um acordo aduaneiro com a União, com um crescimento económico, antes da actual crise, de sete por cento ao ano. Aí, apontou o dedo ao dizer que têm vindo a ser resolvidas "falhas" anteriores.Agora, é "preciso recuperar caminho" e olhar com "muito mais atenção para a Turquia" porque não há outro país vizinho da UE com estas características. Ainda mais quando Portugal, reforçou, "necessita, como de pão para a boca, de diversificar as suas exportações, dando como outros exemplos, além do turco, a América Latina, a China ou a Índia, insistiu o Presidente numa conversa com os jornalistas que o acompanham na visita à Turquia, que hoje termina.Agora, depois desta visita, em que esteve acompanhado por cerca de 30 empresários portugueses, Cavaco espera "recuperar caminho". E num seminário económico, que reuniu centenas de empresários de ambos os países, fez um convite aos turcos para investirem em Portugal. Num dia em que a economia esteve no centro das atenções, o presidente da AICEP, Basílio Horta, disse aos jornalistas estar disposto a apoiar o BCP para que continue na Turquia, face às notícias sobre a eventual saída do mercado turco. Uma oferta de apoio feita ao administrador presente na comitiva, Luís Pereira Coutinho, e que poderia traduzir-se num memorando de entendimento, idêntico ao que a AICEP tem como o banco na Polónia. Um negócio que Cavaco não quis comentar. Como é regra, o Presidente evitou falar de política caseira em visitas ao estrangeiro - nada de comentários ao caso de Lopes da Mota e a sua manutenção no Eurojust embora tenha feito um trocadilho na resposta - "A pergunta não é 'just' mesmo quando o espírito é euro, ou seja, europeu."Do que falou mais extensamente foi sobre a economia e sobre o papel do Estado neste contexto de crise económica mundial. Para recusar que haja uma intervenção excessiva dos estados, porque pode variar conforme a conjuntura, "o tempo e o espaço". "Num parêntesis", disse que "não faz o mínimo sentido discutir as políticas do passado em qualquer país porque podem ter sido muito correctas e hoje revelarem-se inadequadas, tal como as que hoje são adequadas poderiam ter sido erradas no passado". Universidade e bazarNum anfiteatro da Universidade do Bósforo, Cavaco Silva falou da experiência portuguesa, das negociações complexas e exigentes, de como Portugal superou a Grécia na convergência real, atingindo 73 por cento da média comunitária no PIB per capita. Ou como se reduziu a taxa de inflação, o desemprego "foi reduzido até níveis historicamente baixos". Ou ainda o "crescimento exponencial do investimento directo estrangeiro" e as reformas como a abertura ao sector privado ou a liberalização do comércio. Além de ter representado, politicamente, "um marco para a democracia" e para a "consolidação da economia de mercado". De manhã, o Presidente foi a um dos enormes e famosos bazares de Istambul. Bebeu um chá, mas não fez compras. A mulher, Maria Cavaco Silva, sim, a pensar nos filhos e nos netos. "Deixei-lhe não o cartão de crédito, mas euros. Acho que aqui aceitam", como confessou Cavaco. O jornalista do PÚBLICO viajou num avião fretado pela Presidência da República. O Presidente tinha definido o objectivo da visita à Turquia um reforço das relações económicas. "Dar uma atenção especial à Turquia", como disse ontem aos jornalistas. Mas um facto que causou estranheza entre membros da comitiva foi a ausência do ministro da Economia, que acompanhou Cavaco Silva, por exemplo, nas visitas à Alemanha e Índia. Manuel Pinho fez-se representar pelo secretário de Estado do Comércio e Defesa do Consumidor. Ao PÚBLICO, Fernando Serrasqueiro disse que o ministro "tinha outras questões na agenda" e que, tratando-se de comércio, pediu para representá-lo. A escolha dos membros do Governo que acompanham o Presidente cabe ao executivo. N.S.

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