Tenho alguma dificuldade em dar um contributo que tenha algum interesse de divulgação. Foram momentos estendidos pelo tempo, que se amalgamam em contraditórias alegrias e profundas desilusões.Não entendo que possuam estatuto de serem publicados. Entretanto assim se passou.O meu regresso não foi interessante nem romântico Fui mobilizado no regime de rendição individual, com destino ao Pel de Morteiros 912.Oito dias no N/M Manuel Alfredo, a magicar sobre a Guerra que ainda não conhecia e levando sob Comando noventa praças que foram distribuídas por Cabo Verde e a maioria para Bissau.Não fui abrangido no tempo de regresso conjunto, por um escasso mês (o Pelotão regressou aos 22meses), pelo que fiquei órfão dos meus Camaradas.O Cmdt do BCaç. 1860, Ten.Cor. Costa Almeida, tudo fez para que continuasse sob as suas Ordens no Bat. que Comandava em Tite. Porém o CEM entendia que já tinha decorrido demasiado tempo de permanência pela Ilha do Como, por Cufar e Tite (Zonas de intervenção activas), pelo que havia que me dar descanso.Sinceramente, era-me penalizante ter tempo para pensar no Passado, Presente e desconhecer o Futuro.Fiquei em Bissau, a aguardar e a "construir" o tempo de embarque. Uma verdadeira "seca". A ansiedade matava-me lentamente. Sem acção militar e sem mais nada para fazer, Bissau foi um tormento, ou um pesadelo…Como as Rendições individuais normalmente se prolongavam no tempo em mais 4 a 6 meses (aos 28 a 30 meses), requeri o meu regresso na data do final de Comissão (24 meses) sendo a viagem paga a minhas expensas. Deste modo, obtive a aprovação e fui "corrido" do alojamento por conta do Estado.Regressei, extremamente ansioso e, recordo-me, sempre a olhar para trás. Não se me afigurava a minha partida como real.Com o Sr. Taufic Saad no avião para LisboaNo mesmo avião um velho conhecido, o Senhor Taufik Saad, que tentou, insistentemente (sem sucesso), que aceitasse o seu convite que me formulara tempos antes, para reconstituir e dirigir a sua equipa de Segurança Pessoal que tinha no Líbano. Apenas queria o meu "método de organização", que nem sequer precisava de me expor, etc, etc. O vencimento era mesmo tentador, mas não pude e nem queria aceitar porque, alegava, estava cheio da Guerra, não tinha aceite as condições do Exército, mesmo com as benesses que oferecia (eram também do seu conhecimento) e a minha Família me aguardava para constituir um Lar.Lá se ficou no Aeroporto de Lisboa com a oportunidade de emprego. Nunca mais soube dele e tenho imensa pena. Promovido no DGAApresentado no DGA, fui conduzido ao Oficial de Dia, um Tenente, que, com a minha Guia de Marcha na mão e para meu espanto me interpelou deste modo:- O nosso Sargento não acha que tem as divisas ao contrário?. Mesmo em sentido (que já não fazia sentido nenhum) não resisti a olhar para os ombros. Que não, as Divisas (de Furriel) estavam correctamente colocadas, disse. Ele, muito sério, ordenou que o seguisse. Atravessámos a parada na diagonal, ele abriu uma porta, entrou (era tudo escuro, muito escuro) e mandou que eu também entrasse e…fez-se luz conjuntamente com um grande grito de Parabéns, colectivo, de camaradas, Oficiais e Sargentos.Chorei como um velho, mas tive uma festa única, em todo o tempo de tropa, também por não ter que pagar nada. Impuseram-me uma nova Boina Preta já com o Emblema Ranger (a que usava tinha o de Artª) e umas divisas igualmente novas correspondentes ao meu fardamento (fundo preto).Recordo-me que recebi esta honra das mãos dum Sarg Ajudante, por ser o mais velho na idade, segundo os oficiais presentes. Ali mesmo fui informado da minha promoção no CTIG, um mês antes (que desconhecia por completo), mas que os papéis e a OS (Ordem de Serviço) não estavam de acordo. Fiquei perplexo.Só que, por isso, teria de ficar pelo DGA até à resolução do problema.Uns dias depois, nada resolvido, fui chamado ao Cmdt e informado do pagamento de 8 dias de Sargento acrescidos do diferencial de um mês do que deveria ter auferido no CTIG.…Dinheirito saboroso!...Fiquei expectante e a minha preocupação aumentou com a informação de que para não se criarem outros problemas, a Guia de Marcha do CTIG (que indicava Furriel Miliciano) seria a que apresentaria na GNR cá da Terra.O que queria era vir embora e assim se fez.O meu regresso não foi interessante nem romântico…mas a Vida continua até aqui e agora.A todos, o abraço, doSantos Oliveira__________Adaptação e substítulos: vb(1) Fernando Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite, 1964/66 artigo de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)(2) Artigos relacionados de:3 de Julho > Guiné 63/74 - P3018: Os nossos regressos (5): Refazer a vida (Carlos Vinhal)2 de Julho de 2008> Guiné 63/74 - P3015: Os nossos regressos (4): Dois anos perdidos naquela terra, quente, húmida e vermelha...(Torcato Mendonça)1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3012: Os nossos regressos (3): Ficámos a ver Lisboa do navio (José Teixeira)1 Julho > Guiné 63/74 - P3007: Os nossos regressos (2): Finalmente, cheguei, estou vivo, não se assustem, sou eu, o Joaquim (J. Mexia Alves)26 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2987: Os nossos regressos (1): Lisboa, dois anos depois (Virgínio Briote)
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Tenho alguma dificuldade em dar um contributo que tenha algum interesse de divulgação. Foram momentos estendidos pelo tempo, que se amalgamam em contraditórias alegrias e profundas desilusões.Não entendo que possuam estatuto de serem publicados. Entretanto assim se passou.O meu regresso não foi interessante nem romântico Fui mobilizado no regime de rendição individual, com destino ao Pel de Morteiros 912.Oito dias no N/M Manuel Alfredo, a magicar sobre a Guerra que ainda não conhecia e levando sob Comando noventa praças que foram distribuídas por Cabo Verde e a maioria para Bissau.Não fui abrangido no tempo de regresso conjunto, por um escasso mês (o Pelotão regressou aos 22meses), pelo que fiquei órfão dos meus Camaradas.O Cmdt do BCaç. 1860, Ten.Cor. Costa Almeida, tudo fez para que continuasse sob as suas Ordens no Bat. que Comandava em Tite. Porém o CEM entendia que já tinha decorrido demasiado tempo de permanência pela Ilha do Como, por Cufar e Tite (Zonas de intervenção activas), pelo que havia que me dar descanso.Sinceramente, era-me penalizante ter tempo para pensar no Passado, Presente e desconhecer o Futuro.Fiquei em Bissau, a aguardar e a "construir" o tempo de embarque. Uma verdadeira "seca". A ansiedade matava-me lentamente. Sem acção militar e sem mais nada para fazer, Bissau foi um tormento, ou um pesadelo…Como as Rendições individuais normalmente se prolongavam no tempo em mais 4 a 6 meses (aos 28 a 30 meses), requeri o meu regresso na data do final de Comissão (24 meses) sendo a viagem paga a minhas expensas. Deste modo, obtive a aprovação e fui "corrido" do alojamento por conta do Estado.Regressei, extremamente ansioso e, recordo-me, sempre a olhar para trás. Não se me afigurava a minha partida como real.Com o Sr. Taufic Saad no avião para LisboaNo mesmo avião um velho conhecido, o Senhor Taufik Saad, que tentou, insistentemente (sem sucesso), que aceitasse o seu convite que me formulara tempos antes, para reconstituir e dirigir a sua equipa de Segurança Pessoal que tinha no Líbano. Apenas queria o meu "método de organização", que nem sequer precisava de me expor, etc, etc. O vencimento era mesmo tentador, mas não pude e nem queria aceitar porque, alegava, estava cheio da Guerra, não tinha aceite as condições do Exército, mesmo com as benesses que oferecia (eram também do seu conhecimento) e a minha Família me aguardava para constituir um Lar.Lá se ficou no Aeroporto de Lisboa com a oportunidade de emprego. Nunca mais soube dele e tenho imensa pena. Promovido no DGAApresentado no DGA, fui conduzido ao Oficial de Dia, um Tenente, que, com a minha Guia de Marcha na mão e para meu espanto me interpelou deste modo:- O nosso Sargento não acha que tem as divisas ao contrário?. Mesmo em sentido (que já não fazia sentido nenhum) não resisti a olhar para os ombros. Que não, as Divisas (de Furriel) estavam correctamente colocadas, disse. Ele, muito sério, ordenou que o seguisse. Atravessámos a parada na diagonal, ele abriu uma porta, entrou (era tudo escuro, muito escuro) e mandou que eu também entrasse e…fez-se luz conjuntamente com um grande grito de Parabéns, colectivo, de camaradas, Oficiais e Sargentos.Chorei como um velho, mas tive uma festa única, em todo o tempo de tropa, também por não ter que pagar nada. Impuseram-me uma nova Boina Preta já com o Emblema Ranger (a que usava tinha o de Artª) e umas divisas igualmente novas correspondentes ao meu fardamento (fundo preto).Recordo-me que recebi esta honra das mãos dum Sarg Ajudante, por ser o mais velho na idade, segundo os oficiais presentes. Ali mesmo fui informado da minha promoção no CTIG, um mês antes (que desconhecia por completo), mas que os papéis e a OS (Ordem de Serviço) não estavam de acordo. Fiquei perplexo.Só que, por isso, teria de ficar pelo DGA até à resolução do problema.Uns dias depois, nada resolvido, fui chamado ao Cmdt e informado do pagamento de 8 dias de Sargento acrescidos do diferencial de um mês do que deveria ter auferido no CTIG.…Dinheirito saboroso!...Fiquei expectante e a minha preocupação aumentou com a informação de que para não se criarem outros problemas, a Guia de Marcha do CTIG (que indicava Furriel Miliciano) seria a que apresentaria na GNR cá da Terra.O que queria era vir embora e assim se fez.O meu regresso não foi interessante nem romântico…mas a Vida continua até aqui e agora.A todos, o abraço, doSantos Oliveira__________Adaptação e substítulos: vb(1) Fernando Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite, 1964/66 artigo de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)(2) Artigos relacionados de:3 de Julho > Guiné 63/74 - P3018: Os nossos regressos (5): Refazer a vida (Carlos Vinhal)2 de Julho de 2008> Guiné 63/74 - P3015: Os nossos regressos (4): Dois anos perdidos naquela terra, quente, húmida e vermelha...(Torcato Mendonça)1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3012: Os nossos regressos (3): Ficámos a ver Lisboa do navio (José Teixeira)1 Julho > Guiné 63/74 - P3007: Os nossos regressos (2): Finalmente, cheguei, estou vivo, não se assustem, sou eu, o Joaquim (J. Mexia Alves)26 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2987: Os nossos regressos (1): Lisboa, dois anos depois (Virgínio Briote)