Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74

01-10-2009
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Juvenal AmadoEx-1.º Cabo CondutorCCS/BCAÇ 3872Galomaro1972/741. Mensagem de Juvenal Amado de 22 de Fevereiro de 2008Caros camaradasEsta é uma pequena estória passada numa das minhas permanências no destacamento do Saltinho.Penso estar recordado do mais importante. Em todo o caso os camaradas do Saltinho que se lembrem deste episódio, peço, enviem-me o parecer.Um abraçoJuvenal AmadoGuiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do SaltinhoFoto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados2. O Homem Grande, a Bajuda e o FuzileiroUma estória de amorO Saltinho ficava isolado na época das chuvas, chegando a haver rotura nos mantimentos alimentares.Quando se chegava à situação de nem haver arroz, era grave.Esta, era uma dessas ocasiões e a única solução era a Aldeia Formosa nos dispensar alguns géneros.Assim, deslocámo-nos alguns quilómetros para uma zona onde o Rio Corubal podia ser atravessado por canoas.Chegámos à beira do rio, montou-se segurança e aguardámos que a travessia se concretizasse.Lá vinham os barcos com a nossa bianda, mas também vinham a bordo várias mulheres.A travessia não estava a ser pacífica. Entre as mulheres notava-se alguma agitação. Com o aproximar dos barcos, também vozes e choro se começou a tornar audível.As canoas encostaram à margem, descarregou-se os sacos de bianda ao som de choro de uma jovem, talvez com quinze ou dezasseis anos. As mulheres mais velhas, talvez umas quatro, ralhavam e seguravam a bajuda, que de forma alguma queria desembarcar e muito menos subir para a minha Berliet.Nós, os soldados, assistíamos sem podermos intervir, pois aquele caso era quase assunto de Estado.A bajuda vinha para casar, com o Homem Grande da Tabanca de Campala. Homem muito importante das relações (quando tinha que ser) do General Spínola.Quando os soldados souberam o que se passava, logo ficaram do lado da jovem - O filho da p. do velho!Chegados ao destacamento, logo a jovem foi empurrada para a tabanca e para o seu destino, em que se tornaria a décima mulher do Homem Grande.Tinha deixado o grande amor da vida dela, um jovem fuzileiro nativo, em Aldeia Formosa. Estava inconsolável.A noite chega rápido naquelas paragens.Ao amanhecer, com a chegada de helicóptero que foi directo à aldeia, viemos a saber do sucedido.O noivo, na noite de núpcias, entendeu mesmo contra vontade da noiva, exercer os seus direitos de macho. A noiva após ter esgotado por todas as formas, evitar que ele lhe tocasse, resolveu o assunto, pegando no pau do pilão e partindo uma perna ao marido.O desditoso foi evacuado mais rápido, do que se fosse um soldado ferido em combate.A acção psicológica assim mandava.A jovem foi presa debaixo de uma árvore, com as mãos e pernas presas. Ia ser vergastada e ficaria presa mais de trinta dias.Logo começou uma romaria de soldados que lhe levavam toda a espécie de guloseimas. Fantas, latas de conserva, doce e pão.Enfim, gerou-se uma onda de solidariedade, que levou a que a pena não fosse cumprida.Os pais da noiva terão devolvido o dote que o Homem Grande tinha pago por ela.Ela voltou para Aldeia Formosa, com o coração a sair-lhe do peito. Lá estava um certo fuzileiro, que de certo não esperaria um final tão feliz.Não fosse a coragem dela...Juvenal Amado_____________Nota dos editores(1) Vd. último post da série de 23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)


Juvenal AmadoEx-1.º Cabo CondutorCCS/BCAÇ 3872Galomaro1972/741. Mensagem de Juvenal Amado de 22 de Fevereiro de 2008Caros camaradasEsta é uma pequena estória passada numa das minhas permanências no destacamento do Saltinho.Penso estar recordado do mais importante. Em todo o caso os camaradas do Saltinho que se lembrem deste episódio, peço, enviem-me o parecer.Um abraçoJuvenal AmadoGuiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do SaltinhoFoto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados2. O Homem Grande, a Bajuda e o FuzileiroUma estória de amorO Saltinho ficava isolado na época das chuvas, chegando a haver rotura nos mantimentos alimentares.Quando se chegava à situação de nem haver arroz, era grave.Esta, era uma dessas ocasiões e a única solução era a Aldeia Formosa nos dispensar alguns géneros.Assim, deslocámo-nos alguns quilómetros para uma zona onde o Rio Corubal podia ser atravessado por canoas.Chegámos à beira do rio, montou-se segurança e aguardámos que a travessia se concretizasse.Lá vinham os barcos com a nossa bianda, mas também vinham a bordo várias mulheres.A travessia não estava a ser pacífica. Entre as mulheres notava-se alguma agitação. Com o aproximar dos barcos, também vozes e choro se começou a tornar audível.As canoas encostaram à margem, descarregou-se os sacos de bianda ao som de choro de uma jovem, talvez com quinze ou dezasseis anos. As mulheres mais velhas, talvez umas quatro, ralhavam e seguravam a bajuda, que de forma alguma queria desembarcar e muito menos subir para a minha Berliet.Nós, os soldados, assistíamos sem podermos intervir, pois aquele caso era quase assunto de Estado.A bajuda vinha para casar, com o Homem Grande da Tabanca de Campala. Homem muito importante das relações (quando tinha que ser) do General Spínola.Quando os soldados souberam o que se passava, logo ficaram do lado da jovem - O filho da p. do velho!Chegados ao destacamento, logo a jovem foi empurrada para a tabanca e para o seu destino, em que se tornaria a décima mulher do Homem Grande.Tinha deixado o grande amor da vida dela, um jovem fuzileiro nativo, em Aldeia Formosa. Estava inconsolável.A noite chega rápido naquelas paragens.Ao amanhecer, com a chegada de helicóptero que foi directo à aldeia, viemos a saber do sucedido.O noivo, na noite de núpcias, entendeu mesmo contra vontade da noiva, exercer os seus direitos de macho. A noiva após ter esgotado por todas as formas, evitar que ele lhe tocasse, resolveu o assunto, pegando no pau do pilão e partindo uma perna ao marido.O desditoso foi evacuado mais rápido, do que se fosse um soldado ferido em combate.A acção psicológica assim mandava.A jovem foi presa debaixo de uma árvore, com as mãos e pernas presas. Ia ser vergastada e ficaria presa mais de trinta dias.Logo começou uma romaria de soldados que lhe levavam toda a espécie de guloseimas. Fantas, latas de conserva, doce e pão.Enfim, gerou-se uma onda de solidariedade, que levou a que a pena não fosse cumprida.Os pais da noiva terão devolvido o dote que o Homem Grande tinha pago por ela.Ela voltou para Aldeia Formosa, com o coração a sair-lhe do peito. Lá estava um certo fuzileiro, que de certo não esperaria um final tão feliz.Não fosse a coragem dela...Juvenal Amado_____________Nota dos editores(1) Vd. último post da série de 23 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2575: Estórias do Juvenal Amado (4): A pequena e adorável Mariama que eu conheci no reordenamento de Bengacia (Juvenal Amado)

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