O MacGuffin

09-04-2005
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Novamente Carla Santos Guedes (uma habitué):Mais uma vez, obrigado pela sua participação. Como é notório, partimos de pontos de vista diferentes. Já deu para perceber que a Carla não vai à bola com a minha(não sabia que tinha uma nova família. Que excitante! Já agora, qual é a sua?). Tudo bem. Escusava era de apelidar os outros de «intelectualmente desonestos». Mas, adiante. Do seu comentário, aponto duas falhas argumentativas para rebater o estar «contra a corrente»: 1ª) basear-se exclusivamente na questão particular da guerra; e 2ª) atribuir uma importância excessiva aos meios de comunicação e às posições oficiais de governos e chefes de Estado, como se elas se substituíssem às pessoas. (Já o disse e volto a repetir: eu não represento nenhum grupo, nenhum partido, nenhuma capelinha. Represento-me a mim próprio). Reconheça, de uma vez por todas, que certos governos, como é o caso dos governos português, espanhol ou inglês, estão a remar «contra a corrente», ou seja, contra a opinião maioritária. Devolvendo-lhe o mimo, negar isso não será, também, desonesto? Por outro lado, onde foi buscar essa obsessiva ideia de apoio à guerra por parte dos meios de comunicação social? Em todos os jornais nacionais, que se esforçam por dar uma imagem de independência e de equidistância, vejo artigos de opinião contra e a favor da guerra, na mesmíssima medida. Dir-me-á que o José Manuel Fernandes, director do Público, escreve editoriais a favor da intervenção. So what? Há outros editoriais no mesmo jornal que apontam na direcção contrária. O Mário Bettencourt Resendes, do DN, já demonstrou, por diversas vezes, o seu cepticismo face a esta guerra e o eventual perigo que advém da suposta violação do Direito Internacional. Ou vai dizer-me que o DN é só o Luis Delgado? A não ser que, para si, o mero acto de cobrir a guerra, revelando factos, é, por si só, um acto de apoio incondicional à guerra. Nas televisões, Francisco Louçã, Fernando Rosas e tantos outros, têm sido convidados para comentar e, neste caso, criticar ferozmente a intervenção no Iraque. Há dias, no Fórum TSF, reparei que dos vários telefonemas recebidos de ouvintes, apenas dois ou três eram a favor da intervenção no Iraque. Na Sic-Notícias, que tem dado voz a gente anónima, as posições são, invariavelmente, contra a guerra. Se for à rua, verificará que dificilmente encontrará uma pessoa favorável à guerra. Toda a gente clama pela Paz, pelo Direito Internacional e pelo Amor entre povos. Lá fora, onde a imprensa é mais frontal, existem jornais para todos os gostos e tendências: contra a guerra, a favor da guerra, pro-americanos, anti-americanos, etc. etc. Portanto, não vejo onde foi buscar essa teoria conspirativa que defende a existência de uma entidade omnipresente, manipuladora dos media.Mas deixe lá a guerra. Se a Carla for minimamente conhecedora de política e filosofia política (acredito que é), reconhecerá que falar hoje em conservadorismo ou liberalismo clássico é conversa de quem está «out». Démodé. Quer queira, quer não queira, é ir «contra a corrente» das terceiras vias, do neo-liberalismo, da social democracia ou do (neo)socialismo – estas sim, doutrinas correntes, representativas do mainstream. Vá lá Carla, seja lá «honesta»: encontra assim com tanta facilidade, na rua, quem professe as ideias de Oakeshott ou de Burke?Quanto ao Independente, saiba a Carla que o Independente é propriedade da sociedade O Independente Global-Ediçãode Publicações Periódicas S.A.. Que eu saiba, esta sociedade anónima não está ligada a nenhum grande grupo económico (já vi que, para si, os grandes grupos económicos são o alvo a abater, origem de todos os males...). Em tempos sim, de facto, o Indy pertenceu ao grupo Media Capital (que detém o controlo da inenarrável TVI).Finalmente, quanto ao Berlin, ainda bem que o «devolve». É sempre salutar e prazenteiro reler um bom livro. Recomendo, em particular, os capítulo dedicados ao anti-racionalismo alemão, Machiavelli, Disraeli e Marx. Contudo, agora que volto a recapitular as suas palavras, recomendar-lhe-ia antes, também de Berlin, “Freedom and its Betrayal – Six Enemies of Human Liberty.”

Novamente Carla Santos Guedes (uma habitué):Mais uma vez, obrigado pela sua participação. Como é notório, partimos de pontos de vista diferentes. Já deu para perceber que a Carla não vai à bola com a minha(não sabia que tinha uma nova família. Que excitante! Já agora, qual é a sua?). Tudo bem. Escusava era de apelidar os outros de «intelectualmente desonestos». Mas, adiante. Do seu comentário, aponto duas falhas argumentativas para rebater o estar «contra a corrente»: 1ª) basear-se exclusivamente na questão particular da guerra; e 2ª) atribuir uma importância excessiva aos meios de comunicação e às posições oficiais de governos e chefes de Estado, como se elas se substituíssem às pessoas. (Já o disse e volto a repetir: eu não represento nenhum grupo, nenhum partido, nenhuma capelinha. Represento-me a mim próprio). Reconheça, de uma vez por todas, que certos governos, como é o caso dos governos português, espanhol ou inglês, estão a remar «contra a corrente», ou seja, contra a opinião maioritária. Devolvendo-lhe o mimo, negar isso não será, também, desonesto? Por outro lado, onde foi buscar essa obsessiva ideia de apoio à guerra por parte dos meios de comunicação social? Em todos os jornais nacionais, que se esforçam por dar uma imagem de independência e de equidistância, vejo artigos de opinião contra e a favor da guerra, na mesmíssima medida. Dir-me-á que o José Manuel Fernandes, director do Público, escreve editoriais a favor da intervenção. So what? Há outros editoriais no mesmo jornal que apontam na direcção contrária. O Mário Bettencourt Resendes, do DN, já demonstrou, por diversas vezes, o seu cepticismo face a esta guerra e o eventual perigo que advém da suposta violação do Direito Internacional. Ou vai dizer-me que o DN é só o Luis Delgado? A não ser que, para si, o mero acto de cobrir a guerra, revelando factos, é, por si só, um acto de apoio incondicional à guerra. Nas televisões, Francisco Louçã, Fernando Rosas e tantos outros, têm sido convidados para comentar e, neste caso, criticar ferozmente a intervenção no Iraque. Há dias, no Fórum TSF, reparei que dos vários telefonemas recebidos de ouvintes, apenas dois ou três eram a favor da intervenção no Iraque. Na Sic-Notícias, que tem dado voz a gente anónima, as posições são, invariavelmente, contra a guerra. Se for à rua, verificará que dificilmente encontrará uma pessoa favorável à guerra. Toda a gente clama pela Paz, pelo Direito Internacional e pelo Amor entre povos. Lá fora, onde a imprensa é mais frontal, existem jornais para todos os gostos e tendências: contra a guerra, a favor da guerra, pro-americanos, anti-americanos, etc. etc. Portanto, não vejo onde foi buscar essa teoria conspirativa que defende a existência de uma entidade omnipresente, manipuladora dos media.Mas deixe lá a guerra. Se a Carla for minimamente conhecedora de política e filosofia política (acredito que é), reconhecerá que falar hoje em conservadorismo ou liberalismo clássico é conversa de quem está «out». Démodé. Quer queira, quer não queira, é ir «contra a corrente» das terceiras vias, do neo-liberalismo, da social democracia ou do (neo)socialismo – estas sim, doutrinas correntes, representativas do mainstream. Vá lá Carla, seja lá «honesta»: encontra assim com tanta facilidade, na rua, quem professe as ideias de Oakeshott ou de Burke?Quanto ao Independente, saiba a Carla que o Independente é propriedade da sociedade O Independente Global-Ediçãode Publicações Periódicas S.A.. Que eu saiba, esta sociedade anónima não está ligada a nenhum grande grupo económico (já vi que, para si, os grandes grupos económicos são o alvo a abater, origem de todos os males...). Em tempos sim, de facto, o Indy pertenceu ao grupo Media Capital (que detém o controlo da inenarrável TVI).Finalmente, quanto ao Berlin, ainda bem que o «devolve». É sempre salutar e prazenteiro reler um bom livro. Recomendo, em particular, os capítulo dedicados ao anti-racionalismo alemão, Machiavelli, Disraeli e Marx. Contudo, agora que volto a recapitular as suas palavras, recomendar-lhe-ia antes, também de Berlin, “Freedom and its Betrayal – Six Enemies of Human Liberty.”

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