Os partidos não se medem aos palmos

29-02-2008
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PPM / PEV / MPT / MRPP / PND / PNR / POUS Como vivem e que actividades têm os pequenos partidos, alguns só visíveis em tempo de eleições e a maior parte deles sem representação parlamentar? Alterar tamanho JOSÉ VENTURA ANTÓNIO CARLOS FERREIRA, secretário-geral do PPM, trata das plantas da sede como cuida do partido

Na Rua da Pimenteira, em Lisboa, Armando Carlos Ferreira, secretário-geral do Partido Popular Monárquico (PPM), zela pelas plantas que preenchem a floreira na frontaria do rés-do-chão do prédio camarário, arrendado ao partido no tempo que Santana Lopes era o presidente da Câmara. Foi, aliás, um «compromisso de honra de Pedro Santana Lopes», adianta Nuno da Câmara Pereira, presidente do directório do partido. Mas, o gesto de Carlos Ferreira acaba por ser uma perfeita metáfora. Na Rua da Pimenteira, em Lisboa, Armando Carlos Ferreira, secretário-geral do Partido Popular Monárquico (PPM), zela pelas plantas que preenchem a floreira na frontaria do rés-do-chão do prédio camarário, arrendado ao partido no tempo que Santana Lopes era o presidente da Câmara. Foi, aliás, um «compromisso de honra de Pedro Santana Lopes», adianta Nuno da Câmara Pereira, presidente do directório do partido. Mas, o gesto de Carlos Ferreira acaba por ser uma perfeita metáfora. Quando, em Março de 2001, a sede, na Barata Salgueiro, ruiu, o céu desabou na cabeça dos monárquicos. Nos escombros ficava uma parte substancial do pecúlio do partido: «Restaram um ou dois armários, umas cadeiras e umas quantas, poucas, pastas e ficheiros de militantes», lamenta Armando Carlos Ferreira. Um mal nunca vem só, e as duas sedes, no Porto e em Coimbra, acabaram por fechar fruto do «envelhecimento dos prédios e incumprimento financeiro», confessa o secretário-geral do PPM. Era a ruína de um partido fundado em 1974 por Gonçalo Ribeiro Telles, agora rendido ao Movimento Partido da Terra (MPT). JOSÉ VENTURA NO PCPT-MRPP, o advogado Garcia Pereira é o eterno candidato nas várias eleições O velho PPM ficou, então, arrumado durante três anos numa cave do município, por obséquio do autarca João Soares, por sinal um republicano confesso. O velho PPM ficou, então, arrumado durante três anos numa cave do município, por obséquio do autarca João Soares, por sinal um republicano confesso. Talvez por tudo isto, Nuno da Câmara Pereira não esconda hoje o orgulho pela nova morada do partido: «É a sede mais aprumada dos pequenos partidos», diz. Sobretudo o salão nobre: um quarto com menos de uma dezena de metros quadrados, um tecto estucado em relevo e onde o branco das paredes caiadas é escondido por quadros dos monarcas desenhados por um sapateiro da Mouraria. De Afonso Henriques, que lá está de ar sisudo, até D. Manuel II. E, para todos uma quadra da lavra poética deste «bandarra» da Mouraria. «Ofereceu-me durante uma campanha em Lisboa. Achei interessante e afixei-os», diz Câmara Pereira. Na sala do lado, as fotos dos presidentes desde a fundação estão perfiladas na parede. É ali que se reúne o directório todas as terças-feiras e a regional de Lisboa às quartas-feiras. Uma actividade interna, à qual, esclarece Nuno da Câmara Pereira, se junta a dos «dois deputados da Assembleia da República, dos dois elementos da Assembleia Municipal de Lisboa, de um de Sintra, do vereador de Arronches e de um terço da autarquia do Corvo», onde o PPM surge como a segunda força política, atrás do PS. «E isto não é actividade política?», questiona Câmara Pereira, indignado com a Lei dos Partidos, que exige um mínimo de cinco mil militantes para serem validados junto do Tribunal Constitucional. António Carlos Ferreira ostenta o velho ficheiro de associados, arrancado dos escombros da Barata Salgueiro, mas garante que, até Março, quando tiver que fazer prova no Tribunal Constitucional, apresentará o número de militantes exigidos pela lei. «E pagam os 15 euros de quota anual. Uma ninharia», assegura. «Sacudir os pequenos» JORGE SIMÃO PINTO COELHO, líder do PNR, na sede do partido, que acolhe tertúlias aos sábados A garantia do limite mínimo de inscritos também não parece ser problema para o Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Na sede central, um 3.º andar do n.º 83 da Rua da Boavista, em Lisboa, Luís Ferreira, presidente do partido, não teme a prova de vida exigida aos partidos, mas lamenta «uma certa tendência para fragilizar o sistema democrático». Ou, melhor, mostra preocupação pela tentativa do poder para «sacudir os pequenos partidos da sua existência». Eles, sustenta, que sacodem a sociedade com «pequenas grandes acções». E salienta: «No ano passado, por exemplo, percorremos 230 concelhos a sensibilizar os mais jovens para a poupança de energia. São gestos simples - desligar a televisão, apagando a luz piloto - que podem significar muito em termos de poupança.» Obstinado por causas, não obcecado por crescer, o PEV vive bem com cinco dirigentes a tempo inteiro, três sedes (Santarém, Porto e Lisboa) e uma subvenção de 190 mil euros, fruto de dois deputados no Parlamento e 60 eleitos nas autarquias, sempre coligados com o PCP. Prepara a XIII convenção e garante ter seis mil militantes. A garantia do limite mínimo de inscritos também não parece ser problema para o Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Na sede central, um 3.º andar do n.º 83 da Rua da Boavista, em Lisboa, Luís Ferreira, presidente do partido, não teme a prova de vida exigida aos partidos, mas lamenta «uma certa tendência para fragilizar o sistema democrático». Ou, melhor, mostra preocupação pela tentativa do poder para «sacudir os pequenos partidos da sua existência». Eles, sustenta, que sacodem a sociedade com «pequenas grandes acções». E salienta: «No ano passado, por exemplo, percorremos 230 concelhos a sensibilizar os mais jovens para a poupança de energia. São gestos simples - desligar a televisão, apagando a luz piloto - que podem significar muito em termos de poupança.» Obstinado por causas, não obcecado por crescer, o PEV vive bem com cinco dirigentes a tempo inteiro, três sedes (Santarém, Porto e Lisboa) e uma subvenção de 190 mil euros, fruto de dois deputados no Parlamento e 60 eleitos nas autarquias, sempre coligados com o PCP. Prepara a XIII convenção e garante ter seis mil militantes. MPT e Ribeiro Telles JORGE SIMÃO CARMELINDA Pereira segura cartazes do POUS dos anos 80 Mas a ecologia tem várias cores. O Movimento Partido da Terra (MPT) surgiu da energia e convicções do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. «Muitos estávamos então no PPM por concordar com o discurso de ecologia política de Ribeiro Telles - e não por sermos monárquicos», afirma Paulo Trancoso, presidente do MPT, que tem participado nos processos eleitorais desde a sua fundação, em 1993, em listas próprias ou com acordos com outras forças partidárias, nomeadamente o PSD. Nos primeiros anos, os «slogans» das campanhas - «Será que as laranjas são o fruto da época?» ou «A esperança não é rosa nem laranja. É verde» - eram da autoria de Miguel Esteves Cardoso, como nas legislativas de 2002. Mas a ecologia tem várias cores. O Movimento Partido da Terra (MPT) surgiu da energia e convicções do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. «Muitos estávamos então no PPM por concordar com o discurso de ecologia política de Ribeiro Telles - e não por sermos monárquicos», afirma Paulo Trancoso, presidente do MPT, que tem participado nos processos eleitorais desde a sua fundação, em 1993, em listas próprias ou com acordos com outras forças partidárias, nomeadamente o PSD. Nos primeiros anos, os «slogans» das campanhas - «Será que as laranjas são o fruto da época?» ou «A esperança não é rosa nem laranja. É verde» - eram da autoria de Miguel Esteves Cardoso, como nas legislativas de 2002. Se hoje a visibilidade pública do MPT reside na figura de Pedro Quartin Graça, deputado na AR e candidato em Lisboa nas últimas eleições autárquicas, o líder partidário é Paulo Trancoso, um dos notáveis do panorama cinematográfico em Portugal. «Aqui não temos o culto da personalidade. Convivemos muito bem com esta situação», afirma Quartin Graça, na sala sóbria da sede do partido, no Bairro Santos, em Lisboa, onde não é visível qualquer foto de Ribeiro Telles, presidente honorário. «A nossa força reside nas convicções e na capacidade para as transmitir à sociedade», afirma por seu turno Paulo Trancoso. O MPT elegeu dois deputados nas listas do PSD para a AR e tem um representante no Parlamento Regional da Madeira. A «vanguarda» do MRPP JOSÉ VENTURA LUÍS FERREIRA, do PEV, mostra «restos» de iniciativas do seu partido Fundado em 18 de Setembro de 1970, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) apresentava-se como um «partido de vanguarda», de inspiração maoísta, na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Na altura, o sector estudantil e intelectual adquiriu particular relevância nas lutas desencadeadas pelo partido. Após o 25 de Abril tem sido dos partidos sem assento parlamentar mais votados nas eleições. Fundado em 18 de Setembro de 1970, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) apresentava-se como um «partido de vanguarda», de inspiração maoísta, na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Na altura, o sector estudantil e intelectual adquiriu particular relevância nas lutas desencadeadas pelo partido. Após o 25 de Abril tem sido dos partidos sem assento parlamentar mais votados nas eleições. Carlos Paisana, advogado e membro do Comité Central, lembra que, após Abril de 1974, o MRPP esteve na linha da frente na ocupação de casas, em bairros sociais, que o regime deposto tinha reservadas para entregar aos seus acólitos: «Foi um movimento social muito importante, no país», diz Paisana. Hoje, ironicamente, a sede nacional do partido ocupa um edifício camarário, muito degradado, que, segundo Carlos Paisana, lhes foi «cedido, a título precário, por João Soares quando era presidente da CML». Em 1976 passou a designar-se Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP), tendo desempenhado um papel importante na luta pela semana das 40 horas e, juntamente com o PS, durante o chamado «Verão Quente», no combate contra a tomada das estruturas do poder pelo PCP. Arnaldo Matos era então o secretário-geral. Designado pelos opositores como «O grande educador da classe operária», abandonou posteriormente a militância política, para se dedicar à advocacia. Foi um dos quatro advogados portugueses a assegurar, recentemente, a defesa do ex-primeiro-ministro de Timor Mari Alkatiri, no processo de distribuição de armas a civis. Saldanha Sanches, Maria João Rodrigues, Luís Marques, Durão Barroso, Maria José Morgado, Fernando Rosas, Ana Gomes e José Freire Antunes foram alguns dos nomes que militaram no PCTP-MRPP. Hoje quem assume a liderança é Luís Franco, um operário reformado do Metropolitano de Lisboa, eleito no Congresso em 2001, que ingressou nas fileiras maoístas após o 25 de Abril. No entanto, o rosto visível do partido continua a ser o advogado Garcia Pereira, polémico e persistente candidato à Presidência da República e à Câmara de Lisboa. PNR e «terra portuguesa» O nacionalista José Pinto Coelho não se importa que lhe chamem hiperactivo. «Gosto de acompanhar as iniciativas dos militantes», afirma o líder do Partido Nacional Renovador (PNR), que tem andado nas bocas do mundo devido às polémicas em que se envolveu desde que foi eleito presidente do partido (2005). No ano passado foi o rosto da campanha «Portugal aos portugueses», que contestava a política de integração dos imigrantes no nosso país, e participou activamente no referendo sobre o aborto (apelando ao «não»). 2007 foi, aliás, fértil em eventos promovidos pelos nacionalistas e apadrinhados por Pinto Coelho: houve manifestações no 1.º de Maio, a 10 de Junho e no 1.º de Dezembro. Organizou-se ainda o «Passeio da Liberdade» (em protesto contra a detenção de diversos elementos nacionalistas por alegada discriminação racial) e juntaram-se em Belém para contestar a assinatura do Tratado de Lisboa. Para além das manifestações, colagem de cartazes, conferências e distribuição de propaganda, conta ainda com um «site» activo e uma vintena de «blogues oficiosos» - os «terra portuguesa», associados aos núcleos mais activos da organização. Pinto Coelho encoraja igualmente a realização de almoços e jantares-convívio «para dinamizar outros pontos do país». O último teve lugar em Évora no final de Novembro. A sede nacional, na Rua da Prata, em Lisboa, «serve exclusivamente para fins políticos». Não conhece grande movimento nos dias úteis, mas aos sábados à tarde regista uma razoável afluência de gente maioritariamente jovem em busca de um reforço das suas convicções ideológicas através de acções de formação ou tertúlias. Em termos orgânicos, a Comissão Política Nacional (actualmente composta por seis elementos) reúne quinzenalmente. O PNR realizou a sua III Convenção Nacional a 12 de Janeiro: nesta reunião magna foi eleita a nova direcção do partido, liderada por Pinto Coelho. Contra a lógica da actual lei, segundo a qual a «prova de vida» dos partidos se baseia na militância, o PNR prefere falar de votantes. Nas eleições legislativas de 2002 obteve 4712 votos (0,09%), em 2005 subiu para 9374 (0,16%). O POUS de Carmelinda Carmelinda Pereira, dirigente do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), reconhece uma trajectória oposta. Longe vão os tempos em que o partido, dissidente do PS, obteve 80 mil votos, nas primeiras legislativas dos anos 80, não tendo Carmelinda sido eleita por uma «unha negra». Antes, em 1979, quando se constituíram como partido, reuniram cinco mil assinaturas num mês: «um feito assinalável», recorda. Hoje, o POUS não terá mais do que «umas centenas» de militantes, embora nas urnas ronde os cinco mil eleitores. O Secretariado Executivo do POUS reúne semanalmente na sede da Rua de Santo António da Glória (à Praça da Alegria, em Lisboa), uma cave nostálgica, povoada de cartazes e estandartes dos «bons velhos tempos» da década de 80 em amena convivência com panfletos actuais contra o Tratado de Lisboa. O partido mantém o jornal oficial - «O Militante Socialista» -, embora restrinja a sua edição a 300 exemplares. Nas últimas eleições para a Presidência da República, Carmelinda Pereira não conseguiu angariar as 7500 assinaturas necessárias para entrar na corrida. A única vez que o partido participou em presidenciais foi em 1980, com Aires Rodrigues. O PND de Manuel Monteiro Fundado em 2003, o Partido da Nova Democracia faz questão de se distinguir entre os pequenos partidos como «a mais jovem força política nacional». O seu presidente, Manuel Monteiro, assume mesmo dirigir «uma estrutura amadora, praticamente inviável sem o recurso à Internet», uma ferramenta-base para preparar encontros e estratégias. Entre os militantes, ninguém estranha ver o próprio Manuel Monteiro a arrumar as cadeiras na sala de reuniões ou a perder horas para avaliar pessoalmente as fichas dos novos membros, agora recrutados a ritmo acelerado e já a aproximarem-se dos quatro mil. Só em Dezembro, o PND contratou a sua primeira funcionária, uma jovem estudante de Direito que trabalha três tardes por semana na sobreloja da Rua da Trindade, em Lisboa, para onde o partido transferiu a sede, inicialmente instalada no Porto, depois de perceber que «era mais fácil ser notícia quando se fazem coisas na capital». As reuniões do Conselho Geral continuam, no entanto, a decorrer pelos diferentes concelhos do país, num esforço de descentralização, assumido, também, nas delegações de Aveiro, Santa Maria da Feira e Famalicão. É, aliás, esta base local que deu ao PND alguns «triunfos eleitorais», como a eleição de um deputado na Assembleia Legislativa da Madeira, membros nas assembleias de Barcelos, Lobão e Vila Franca do Campo e as presidências das Juntas de Freguesia de Cedrim e Cogula. Sob a tutela financeira da empresária Maria Augusta Gomes, o partido vive com um orçamento anual de 10 mil euros. São os contributos de «meia dúzia de militantes que garantem o pagamento da renda, água, luz e telefone». Até a contratação da jovem funcionária foi viabilizada através de mais um contributo mensal de um militante.

Textos de Humberto Costa, Isabel Oliveira, Margarida Cardoso e Mário de Carvalho

Quem TV Íntimo Vaidades Apetites Iguarias Hi-tech Play Os partidos não se medem aos palmos

PPM / PEV / MPT / MRPP / PND / PNR / POUS Como vivem e que actividades têm os pequenos partidos, alguns só visíveis em tempo de eleições e a maior parte deles sem representação parlamentar? Alterar tamanho JOSÉ VENTURA ANTÓNIO CARLOS FERREIRA, secretário-geral do PPM, trata das plantas da sede como cuida do partido

Na Rua da Pimenteira, em Lisboa, Armando Carlos Ferreira, secretário-geral do Partido Popular Monárquico (PPM), zela pelas plantas que preenchem a floreira na frontaria do rés-do-chão do prédio camarário, arrendado ao partido no tempo que Santana Lopes era o presidente da Câmara. Foi, aliás, um «compromisso de honra de Pedro Santana Lopes», adianta Nuno da Câmara Pereira, presidente do directório do partido. Mas, o gesto de Carlos Ferreira acaba por ser uma perfeita metáfora. Na Rua da Pimenteira, em Lisboa, Armando Carlos Ferreira, secretário-geral do Partido Popular Monárquico (PPM), zela pelas plantas que preenchem a floreira na frontaria do rés-do-chão do prédio camarário, arrendado ao partido no tempo que Santana Lopes era o presidente da Câmara. Foi, aliás, um «compromisso de honra de Pedro Santana Lopes», adianta Nuno da Câmara Pereira, presidente do directório do partido. Mas, o gesto de Carlos Ferreira acaba por ser uma perfeita metáfora. Quando, em Março de 2001, a sede, na Barata Salgueiro, ruiu, o céu desabou na cabeça dos monárquicos. Nos escombros ficava uma parte substancial do pecúlio do partido: «Restaram um ou dois armários, umas cadeiras e umas quantas, poucas, pastas e ficheiros de militantes», lamenta Armando Carlos Ferreira. Um mal nunca vem só, e as duas sedes, no Porto e em Coimbra, acabaram por fechar fruto do «envelhecimento dos prédios e incumprimento financeiro», confessa o secretário-geral do PPM. Era a ruína de um partido fundado em 1974 por Gonçalo Ribeiro Telles, agora rendido ao Movimento Partido da Terra (MPT). JOSÉ VENTURA NO PCPT-MRPP, o advogado Garcia Pereira é o eterno candidato nas várias eleições O velho PPM ficou, então, arrumado durante três anos numa cave do município, por obséquio do autarca João Soares, por sinal um republicano confesso. O velho PPM ficou, então, arrumado durante três anos numa cave do município, por obséquio do autarca João Soares, por sinal um republicano confesso. Talvez por tudo isto, Nuno da Câmara Pereira não esconda hoje o orgulho pela nova morada do partido: «É a sede mais aprumada dos pequenos partidos», diz. Sobretudo o salão nobre: um quarto com menos de uma dezena de metros quadrados, um tecto estucado em relevo e onde o branco das paredes caiadas é escondido por quadros dos monarcas desenhados por um sapateiro da Mouraria. De Afonso Henriques, que lá está de ar sisudo, até D. Manuel II. E, para todos uma quadra da lavra poética deste «bandarra» da Mouraria. «Ofereceu-me durante uma campanha em Lisboa. Achei interessante e afixei-os», diz Câmara Pereira. Na sala do lado, as fotos dos presidentes desde a fundação estão perfiladas na parede. É ali que se reúne o directório todas as terças-feiras e a regional de Lisboa às quartas-feiras. Uma actividade interna, à qual, esclarece Nuno da Câmara Pereira, se junta a dos «dois deputados da Assembleia da República, dos dois elementos da Assembleia Municipal de Lisboa, de um de Sintra, do vereador de Arronches e de um terço da autarquia do Corvo», onde o PPM surge como a segunda força política, atrás do PS. «E isto não é actividade política?», questiona Câmara Pereira, indignado com a Lei dos Partidos, que exige um mínimo de cinco mil militantes para serem validados junto do Tribunal Constitucional. António Carlos Ferreira ostenta o velho ficheiro de associados, arrancado dos escombros da Barata Salgueiro, mas garante que, até Março, quando tiver que fazer prova no Tribunal Constitucional, apresentará o número de militantes exigidos pela lei. «E pagam os 15 euros de quota anual. Uma ninharia», assegura. «Sacudir os pequenos» JORGE SIMÃO PINTO COELHO, líder do PNR, na sede do partido, que acolhe tertúlias aos sábados A garantia do limite mínimo de inscritos também não parece ser problema para o Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Na sede central, um 3.º andar do n.º 83 da Rua da Boavista, em Lisboa, Luís Ferreira, presidente do partido, não teme a prova de vida exigida aos partidos, mas lamenta «uma certa tendência para fragilizar o sistema democrático». Ou, melhor, mostra preocupação pela tentativa do poder para «sacudir os pequenos partidos da sua existência». Eles, sustenta, que sacodem a sociedade com «pequenas grandes acções». E salienta: «No ano passado, por exemplo, percorremos 230 concelhos a sensibilizar os mais jovens para a poupança de energia. São gestos simples - desligar a televisão, apagando a luz piloto - que podem significar muito em termos de poupança.» Obstinado por causas, não obcecado por crescer, o PEV vive bem com cinco dirigentes a tempo inteiro, três sedes (Santarém, Porto e Lisboa) e uma subvenção de 190 mil euros, fruto de dois deputados no Parlamento e 60 eleitos nas autarquias, sempre coligados com o PCP. Prepara a XIII convenção e garante ter seis mil militantes. A garantia do limite mínimo de inscritos também não parece ser problema para o Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Na sede central, um 3.º andar do n.º 83 da Rua da Boavista, em Lisboa, Luís Ferreira, presidente do partido, não teme a prova de vida exigida aos partidos, mas lamenta «uma certa tendência para fragilizar o sistema democrático». Ou, melhor, mostra preocupação pela tentativa do poder para «sacudir os pequenos partidos da sua existência». Eles, sustenta, que sacodem a sociedade com «pequenas grandes acções». E salienta: «No ano passado, por exemplo, percorremos 230 concelhos a sensibilizar os mais jovens para a poupança de energia. São gestos simples - desligar a televisão, apagando a luz piloto - que podem significar muito em termos de poupança.» Obstinado por causas, não obcecado por crescer, o PEV vive bem com cinco dirigentes a tempo inteiro, três sedes (Santarém, Porto e Lisboa) e uma subvenção de 190 mil euros, fruto de dois deputados no Parlamento e 60 eleitos nas autarquias, sempre coligados com o PCP. Prepara a XIII convenção e garante ter seis mil militantes. MPT e Ribeiro Telles JORGE SIMÃO CARMELINDA Pereira segura cartazes do POUS dos anos 80 Mas a ecologia tem várias cores. O Movimento Partido da Terra (MPT) surgiu da energia e convicções do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. «Muitos estávamos então no PPM por concordar com o discurso de ecologia política de Ribeiro Telles - e não por sermos monárquicos», afirma Paulo Trancoso, presidente do MPT, que tem participado nos processos eleitorais desde a sua fundação, em 1993, em listas próprias ou com acordos com outras forças partidárias, nomeadamente o PSD. Nos primeiros anos, os «slogans» das campanhas - «Será que as laranjas são o fruto da época?» ou «A esperança não é rosa nem laranja. É verde» - eram da autoria de Miguel Esteves Cardoso, como nas legislativas de 2002. Mas a ecologia tem várias cores. O Movimento Partido da Terra (MPT) surgiu da energia e convicções do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. «Muitos estávamos então no PPM por concordar com o discurso de ecologia política de Ribeiro Telles - e não por sermos monárquicos», afirma Paulo Trancoso, presidente do MPT, que tem participado nos processos eleitorais desde a sua fundação, em 1993, em listas próprias ou com acordos com outras forças partidárias, nomeadamente o PSD. Nos primeiros anos, os «slogans» das campanhas - «Será que as laranjas são o fruto da época?» ou «A esperança não é rosa nem laranja. É verde» - eram da autoria de Miguel Esteves Cardoso, como nas legislativas de 2002. Se hoje a visibilidade pública do MPT reside na figura de Pedro Quartin Graça, deputado na AR e candidato em Lisboa nas últimas eleições autárquicas, o líder partidário é Paulo Trancoso, um dos notáveis do panorama cinematográfico em Portugal. «Aqui não temos o culto da personalidade. Convivemos muito bem com esta situação», afirma Quartin Graça, na sala sóbria da sede do partido, no Bairro Santos, em Lisboa, onde não é visível qualquer foto de Ribeiro Telles, presidente honorário. «A nossa força reside nas convicções e na capacidade para as transmitir à sociedade», afirma por seu turno Paulo Trancoso. O MPT elegeu dois deputados nas listas do PSD para a AR e tem um representante no Parlamento Regional da Madeira. A «vanguarda» do MRPP JOSÉ VENTURA LUÍS FERREIRA, do PEV, mostra «restos» de iniciativas do seu partido Fundado em 18 de Setembro de 1970, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) apresentava-se como um «partido de vanguarda», de inspiração maoísta, na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Na altura, o sector estudantil e intelectual adquiriu particular relevância nas lutas desencadeadas pelo partido. Após o 25 de Abril tem sido dos partidos sem assento parlamentar mais votados nas eleições. Fundado em 18 de Setembro de 1970, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP) apresentava-se como um «partido de vanguarda», de inspiração maoísta, na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Na altura, o sector estudantil e intelectual adquiriu particular relevância nas lutas desencadeadas pelo partido. Após o 25 de Abril tem sido dos partidos sem assento parlamentar mais votados nas eleições. Carlos Paisana, advogado e membro do Comité Central, lembra que, após Abril de 1974, o MRPP esteve na linha da frente na ocupação de casas, em bairros sociais, que o regime deposto tinha reservadas para entregar aos seus acólitos: «Foi um movimento social muito importante, no país», diz Paisana. Hoje, ironicamente, a sede nacional do partido ocupa um edifício camarário, muito degradado, que, segundo Carlos Paisana, lhes foi «cedido, a título precário, por João Soares quando era presidente da CML». Em 1976 passou a designar-se Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP), tendo desempenhado um papel importante na luta pela semana das 40 horas e, juntamente com o PS, durante o chamado «Verão Quente», no combate contra a tomada das estruturas do poder pelo PCP. Arnaldo Matos era então o secretário-geral. Designado pelos opositores como «O grande educador da classe operária», abandonou posteriormente a militância política, para se dedicar à advocacia. Foi um dos quatro advogados portugueses a assegurar, recentemente, a defesa do ex-primeiro-ministro de Timor Mari Alkatiri, no processo de distribuição de armas a civis. Saldanha Sanches, Maria João Rodrigues, Luís Marques, Durão Barroso, Maria José Morgado, Fernando Rosas, Ana Gomes e José Freire Antunes foram alguns dos nomes que militaram no PCTP-MRPP. Hoje quem assume a liderança é Luís Franco, um operário reformado do Metropolitano de Lisboa, eleito no Congresso em 2001, que ingressou nas fileiras maoístas após o 25 de Abril. No entanto, o rosto visível do partido continua a ser o advogado Garcia Pereira, polémico e persistente candidato à Presidência da República e à Câmara de Lisboa. PNR e «terra portuguesa» O nacionalista José Pinto Coelho não se importa que lhe chamem hiperactivo. «Gosto de acompanhar as iniciativas dos militantes», afirma o líder do Partido Nacional Renovador (PNR), que tem andado nas bocas do mundo devido às polémicas em que se envolveu desde que foi eleito presidente do partido (2005). No ano passado foi o rosto da campanha «Portugal aos portugueses», que contestava a política de integração dos imigrantes no nosso país, e participou activamente no referendo sobre o aborto (apelando ao «não»). 2007 foi, aliás, fértil em eventos promovidos pelos nacionalistas e apadrinhados por Pinto Coelho: houve manifestações no 1.º de Maio, a 10 de Junho e no 1.º de Dezembro. Organizou-se ainda o «Passeio da Liberdade» (em protesto contra a detenção de diversos elementos nacionalistas por alegada discriminação racial) e juntaram-se em Belém para contestar a assinatura do Tratado de Lisboa. Para além das manifestações, colagem de cartazes, conferências e distribuição de propaganda, conta ainda com um «site» activo e uma vintena de «blogues oficiosos» - os «terra portuguesa», associados aos núcleos mais activos da organização. Pinto Coelho encoraja igualmente a realização de almoços e jantares-convívio «para dinamizar outros pontos do país». O último teve lugar em Évora no final de Novembro. A sede nacional, na Rua da Prata, em Lisboa, «serve exclusivamente para fins políticos». Não conhece grande movimento nos dias úteis, mas aos sábados à tarde regista uma razoável afluência de gente maioritariamente jovem em busca de um reforço das suas convicções ideológicas através de acções de formação ou tertúlias. Em termos orgânicos, a Comissão Política Nacional (actualmente composta por seis elementos) reúne quinzenalmente. O PNR realizou a sua III Convenção Nacional a 12 de Janeiro: nesta reunião magna foi eleita a nova direcção do partido, liderada por Pinto Coelho. Contra a lógica da actual lei, segundo a qual a «prova de vida» dos partidos se baseia na militância, o PNR prefere falar de votantes. Nas eleições legislativas de 2002 obteve 4712 votos (0,09%), em 2005 subiu para 9374 (0,16%). O POUS de Carmelinda Carmelinda Pereira, dirigente do Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), reconhece uma trajectória oposta. Longe vão os tempos em que o partido, dissidente do PS, obteve 80 mil votos, nas primeiras legislativas dos anos 80, não tendo Carmelinda sido eleita por uma «unha negra». Antes, em 1979, quando se constituíram como partido, reuniram cinco mil assinaturas num mês: «um feito assinalável», recorda. Hoje, o POUS não terá mais do que «umas centenas» de militantes, embora nas urnas ronde os cinco mil eleitores. O Secretariado Executivo do POUS reúne semanalmente na sede da Rua de Santo António da Glória (à Praça da Alegria, em Lisboa), uma cave nostálgica, povoada de cartazes e estandartes dos «bons velhos tempos» da década de 80 em amena convivência com panfletos actuais contra o Tratado de Lisboa. O partido mantém o jornal oficial - «O Militante Socialista» -, embora restrinja a sua edição a 300 exemplares. Nas últimas eleições para a Presidência da República, Carmelinda Pereira não conseguiu angariar as 7500 assinaturas necessárias para entrar na corrida. A única vez que o partido participou em presidenciais foi em 1980, com Aires Rodrigues. O PND de Manuel Monteiro Fundado em 2003, o Partido da Nova Democracia faz questão de se distinguir entre os pequenos partidos como «a mais jovem força política nacional». O seu presidente, Manuel Monteiro, assume mesmo dirigir «uma estrutura amadora, praticamente inviável sem o recurso à Internet», uma ferramenta-base para preparar encontros e estratégias. Entre os militantes, ninguém estranha ver o próprio Manuel Monteiro a arrumar as cadeiras na sala de reuniões ou a perder horas para avaliar pessoalmente as fichas dos novos membros, agora recrutados a ritmo acelerado e já a aproximarem-se dos quatro mil. Só em Dezembro, o PND contratou a sua primeira funcionária, uma jovem estudante de Direito que trabalha três tardes por semana na sobreloja da Rua da Trindade, em Lisboa, para onde o partido transferiu a sede, inicialmente instalada no Porto, depois de perceber que «era mais fácil ser notícia quando se fazem coisas na capital». As reuniões do Conselho Geral continuam, no entanto, a decorrer pelos diferentes concelhos do país, num esforço de descentralização, assumido, também, nas delegações de Aveiro, Santa Maria da Feira e Famalicão. É, aliás, esta base local que deu ao PND alguns «triunfos eleitorais», como a eleição de um deputado na Assembleia Legislativa da Madeira, membros nas assembleias de Barcelos, Lobão e Vila Franca do Campo e as presidências das Juntas de Freguesia de Cedrim e Cogula. Sob a tutela financeira da empresária Maria Augusta Gomes, o partido vive com um orçamento anual de 10 mil euros. São os contributos de «meia dúzia de militantes que garantem o pagamento da renda, água, luz e telefone». Até a contratação da jovem funcionária foi viabilizada através de mais um contributo mensal de um militante.

Textos de Humberto Costa, Isabel Oliveira, Margarida Cardoso e Mário de Carvalho

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