tro.blog.dita: O uso do valor II

24-03-2005
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Leio no Em Busca da Límpida Medida uma análise muito interessante do que na esquerda e na direita mudou. De como, segundo o LOPO, existe uma Nova Direita que com pessoas como Pedro Mexia, Pedro Lomba ou Pereira Coutinho nos traz um "um discurso descomplexado, fundado e energético (...), um discurso, acima de tudo, fresco e com uma profunda noção do seu tempo e das suas questões(...) um discurso inteligente." e, quanto à esquerda, de como "Passa olimpicamente por cima de algo crucial, fundamental e cuja ignorância revela o mais profundo autismo: toda ela se baseia num discurso que, ultrapassado, está por actualizar. A Esquerda portuguesa em bom rigor é hoje completamente histórica e teórica, ou, numa visão menos severa, difícil de crer.".Considero inteiramente adequados adjectivos como "descomplexado", "fundado", "energético" ou "fresco" quando usados para qualificar o discurso dos autores da Coluna Infame. Como no texto que precedeu este e originou réplica, falei ironicamente sobre "os ilustres infames das colunas que fui lendo" sem os referir claramente, será exactamente por aí que começo.A Coluna foi o segundo blogue que li, logo a seguir ao Gato Fedorento. Esta histórica página na blogosfera tinha, na altura, acabado de encerrar, pelos motivos que são conhecidos. Li bastantes textos antigos. E, cedo, desliguei-me desta nova direita. Encontrei outras leituras, mais próximas de mim e/ou mais estimulantes. Ainda li um pouco do Dicionário do Diabo e do outro de que não me lembro do nome, mas desisti, aquele tom aborrecia-me e não me colocava as questões que eu procurava.Sem dúvida que há frescura no discurso destas coqueluches. E energia. E, o que mais admiro, trata-se de um discurso descomplexado [poderia, acredito, sê-lo mais]. Mas continuo a preferir a profundidade e o sentido crítico de JPP ao azedume [e cinismo?, cepticismo?, pessimismo? em relação às sociedades e ao homem em geral] que encontrei nestes novos talentos do combate ideológico. Serão interlocutores mais interessantes que os políticos da sua família ideológica mais velhos e mais próximos do poder exactamente porque se sentem descomprometidos em relação ao poder. E acabam sendo criticados venenosamente pelo seu próprio lado da barricada, acusados de falta de lealdade orgânica, como há pouco acontecia com o Pedro Mexia, ou o Pedro Lomba, acabo por os confundir.A esquerda padece de um problema apontado certeiramente pelo LOPO: "Uma nova Esquerda a existir tem de apresentar um discurso, uma motivação, um posicionamento. Tem de se refundar. Não pode continuar a ignorar que o muro caiu, que a perestroika existiu, que quase todas as experiências marxistas, comunistas, socialistas do mundo estão mortas, moribundas ou indignas desses epítetos.". Mas creio que quem sai mais contaminado por essa insuficiência crónica será o PCP. Não ignoro que o BE tem bases trotskistas e afins. Aceito que "se se pretende, conscientemente continuar a ser marxista nos dias de hoje é preciso explicar às pessoas o que quer isso dizer.". Quando o BE se definiu como um partido de causas, isso foi mais que um chavão de marketing político. Isso definiu o raio de acção que o movimento quer para si: a influência positiva na alteração de leis e de mudanças de mentalidades que se acreditam ser necessárias e urgentes. Seria interessante [e importante] ouvir os responsáveis do Bloco a definirem o seu posicionamento ideológico. Mas parece-me mais interessante e útil o que aconteceu, por exemplo, no primeiro mandato dos primeiros deputados do BE na AR: o Bloco tornou-se a força partidária com uma maior taxa de aprovação de decretos-leis. E fazer é mais importante que discutir - principalmente quando o nível de profundidade da discussão é o que vemos habitualmente.Quanto a novos nomes da esquerda que fundamentem e estruturem um pensamento coerente, que combatam com honestidade intelectual o que se lhes afigura dever ser combatido... não precisamos de sair da Blogosfera: no Blogue de Esquerda e no Barnabé encontramos seriedade, vigor e - MUITO, MUITO, MUITO IMPORTANTE - uma visão construtiva do mundo aliada à vigilância crítica.A mim preocupa-me mais que esteja ausente do discurso político o apresentar de soluções de facto [por oposição a falsos manás eleitorais] do que a falta da argumentação ideológica. E irrita-me muito... vou antes dar um exemplo: quando se discutia [e se procurava influenciar o sentido do voto dos cidadãos n]o referendo do aborto, fui a um debate com as cores políticas e a comunidade médica devidamente representadas. A meio, o debate degenerou numa zanga partidária. E às tantas estava-se a tratar de uma realidade em que milhares de mulheres morrem ou ficam estéreis ou com outros problemas graves de saúde [e invariavelmente traumatizadas], nos termos "mas o que é que quis dizer com isso de a esquerda estar adormecida?...", "o que a esquerda ainda não percebeu...", "se fosse pela direita tinhamos..." ou "por culpa da direita é que...". Isto é uma indignidade. Uma falta absoluta de respeito e de decência. E encontra-se aos montes na blogosfera. O sofismo extremo que torna cada discussão uma oportunidade de marcar pontos, de ganhar vantagem com argumentos bem arremessados e se esquece que, para cada questão, há o concreto do problema que tem de ser tratado com seriedade.Esta seriedade encontro-a no Bloco de Esquerda, de uma maneira geral. Especificando nomes: na serenidade firme de Miguel Portas, na profundidade fértil de Francisco Louçã, na análise crítica de Fernando Rosas, no pragmatismo fundamentado de Teixeira Lopes. Mas também encontro seriedade em vozes da direita como o já referido Pacheco Pereira. Ou, para falar de pessoas afastadas das lides do poder, no autor do Límpida Medida e no Helder. E, peço desculpa, mas não partilho do entusiasmo em volta dos também já referidos autores da Coluna. Eles têm o meu respeito, mas não a minha reverência.


Leio no Em Busca da Límpida Medida uma análise muito interessante do que na esquerda e na direita mudou. De como, segundo o LOPO, existe uma Nova Direita que com pessoas como Pedro Mexia, Pedro Lomba ou Pereira Coutinho nos traz um "um discurso descomplexado, fundado e energético (...), um discurso, acima de tudo, fresco e com uma profunda noção do seu tempo e das suas questões(...) um discurso inteligente." e, quanto à esquerda, de como "Passa olimpicamente por cima de algo crucial, fundamental e cuja ignorância revela o mais profundo autismo: toda ela se baseia num discurso que, ultrapassado, está por actualizar. A Esquerda portuguesa em bom rigor é hoje completamente histórica e teórica, ou, numa visão menos severa, difícil de crer.".Considero inteiramente adequados adjectivos como "descomplexado", "fundado", "energético" ou "fresco" quando usados para qualificar o discurso dos autores da Coluna Infame. Como no texto que precedeu este e originou réplica, falei ironicamente sobre "os ilustres infames das colunas que fui lendo" sem os referir claramente, será exactamente por aí que começo.A Coluna foi o segundo blogue que li, logo a seguir ao Gato Fedorento. Esta histórica página na blogosfera tinha, na altura, acabado de encerrar, pelos motivos que são conhecidos. Li bastantes textos antigos. E, cedo, desliguei-me desta nova direita. Encontrei outras leituras, mais próximas de mim e/ou mais estimulantes. Ainda li um pouco do Dicionário do Diabo e do outro de que não me lembro do nome, mas desisti, aquele tom aborrecia-me e não me colocava as questões que eu procurava.Sem dúvida que há frescura no discurso destas coqueluches. E energia. E, o que mais admiro, trata-se de um discurso descomplexado [poderia, acredito, sê-lo mais]. Mas continuo a preferir a profundidade e o sentido crítico de JPP ao azedume [e cinismo?, cepticismo?, pessimismo? em relação às sociedades e ao homem em geral] que encontrei nestes novos talentos do combate ideológico. Serão interlocutores mais interessantes que os políticos da sua família ideológica mais velhos e mais próximos do poder exactamente porque se sentem descomprometidos em relação ao poder. E acabam sendo criticados venenosamente pelo seu próprio lado da barricada, acusados de falta de lealdade orgânica, como há pouco acontecia com o Pedro Mexia, ou o Pedro Lomba, acabo por os confundir.A esquerda padece de um problema apontado certeiramente pelo LOPO: "Uma nova Esquerda a existir tem de apresentar um discurso, uma motivação, um posicionamento. Tem de se refundar. Não pode continuar a ignorar que o muro caiu, que a perestroika existiu, que quase todas as experiências marxistas, comunistas, socialistas do mundo estão mortas, moribundas ou indignas desses epítetos.". Mas creio que quem sai mais contaminado por essa insuficiência crónica será o PCP. Não ignoro que o BE tem bases trotskistas e afins. Aceito que "se se pretende, conscientemente continuar a ser marxista nos dias de hoje é preciso explicar às pessoas o que quer isso dizer.". Quando o BE se definiu como um partido de causas, isso foi mais que um chavão de marketing político. Isso definiu o raio de acção que o movimento quer para si: a influência positiva na alteração de leis e de mudanças de mentalidades que se acreditam ser necessárias e urgentes. Seria interessante [e importante] ouvir os responsáveis do Bloco a definirem o seu posicionamento ideológico. Mas parece-me mais interessante e útil o que aconteceu, por exemplo, no primeiro mandato dos primeiros deputados do BE na AR: o Bloco tornou-se a força partidária com uma maior taxa de aprovação de decretos-leis. E fazer é mais importante que discutir - principalmente quando o nível de profundidade da discussão é o que vemos habitualmente.Quanto a novos nomes da esquerda que fundamentem e estruturem um pensamento coerente, que combatam com honestidade intelectual o que se lhes afigura dever ser combatido... não precisamos de sair da Blogosfera: no Blogue de Esquerda e no Barnabé encontramos seriedade, vigor e - MUITO, MUITO, MUITO IMPORTANTE - uma visão construtiva do mundo aliada à vigilância crítica.A mim preocupa-me mais que esteja ausente do discurso político o apresentar de soluções de facto [por oposição a falsos manás eleitorais] do que a falta da argumentação ideológica. E irrita-me muito... vou antes dar um exemplo: quando se discutia [e se procurava influenciar o sentido do voto dos cidadãos n]o referendo do aborto, fui a um debate com as cores políticas e a comunidade médica devidamente representadas. A meio, o debate degenerou numa zanga partidária. E às tantas estava-se a tratar de uma realidade em que milhares de mulheres morrem ou ficam estéreis ou com outros problemas graves de saúde [e invariavelmente traumatizadas], nos termos "mas o que é que quis dizer com isso de a esquerda estar adormecida?...", "o que a esquerda ainda não percebeu...", "se fosse pela direita tinhamos..." ou "por culpa da direita é que...". Isto é uma indignidade. Uma falta absoluta de respeito e de decência. E encontra-se aos montes na blogosfera. O sofismo extremo que torna cada discussão uma oportunidade de marcar pontos, de ganhar vantagem com argumentos bem arremessados e se esquece que, para cada questão, há o concreto do problema que tem de ser tratado com seriedade.Esta seriedade encontro-a no Bloco de Esquerda, de uma maneira geral. Especificando nomes: na serenidade firme de Miguel Portas, na profundidade fértil de Francisco Louçã, na análise crítica de Fernando Rosas, no pragmatismo fundamentado de Teixeira Lopes. Mas também encontro seriedade em vozes da direita como o já referido Pacheco Pereira. Ou, para falar de pessoas afastadas das lides do poder, no autor do Límpida Medida e no Helder. E, peço desculpa, mas não partilho do entusiasmo em volta dos também já referidos autores da Coluna. Eles têm o meu respeito, mas não a minha reverência.

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