Assertivo

23-05-2005
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PORQUE NÃO ACHO GRAÇA NENHUMA AO BLOCO DE ESQUERDAEm primeiro lugar, por causa da mania que os seus dirigentes têm de pôr-se em bicos de pés. Está certo que têm oito deputados, e que foram o partido que mais subiu – mas vamos pôr as coisas no seu devido lugar: quem representa trezentos mil cidadãos e se põe a falar em nome do povo é, no mínimo, risível.Depois, porque representa uma espécie que me é particularmente desagradável – a esquerda-caviar. O BE é constituído por gente que fala do povo e em seu nome, mas que nunca, por um segundo que fosse das suas vidas, sentiu na pele os problemas que o povo vive quotidianamente.De seguida, por causa dos excessos libertários, que, acredito eu, são algo que lhes sai «da boca para fora» – como costuma dizer-se para exprimir superficialidade e irreflexão. Há uma diferença muito grande entre os excessos libertários folclóricos por que o BE se bate e as políticas de descriminalização e desjudiciarização que eu, como jurista inserido no meu tempo, preconizo. Não podemos falar na liberalização do consumo de drogas enquanto estas servirem para alimentar um mundo subterrâneo de delinquência organizada. O que devemos é falar de administração de drogas de maneira rigorosa, na senda das recentes proibições de venda de bebidas alcoólicas (o que pressupõe, naturalmente, o controlo pelo Estado do comércio de drogas; não me repugna, porque o mesmo já se passa com drogas como o álcool e o tabaco). Agora, se as pessoas da esquerda-caviar conhecessem a realidade, e tivessem de viver na proximidade das subculturas da droga e da violência, talvez pensassem de outra maneira...Também não gosto de pessoas dogmáticas. O BE vive amarrado a dogmas que não têm lugar nos dias que correm, apesar da modernidade que gostam de fingir através de manifestações epidérmicas.O que me traz ao último dos motivos por que não aprecio o BE: não gosto de trotskistas, maoístas e outros esquerdistas. Ideologicamente estão ultrapassados (desde Junho de 1968...) e, historicamente, foram – voluntária ou involuntariamente – grandes aliados dos movimentos de direita, ao causar cisões numa esquerda que deveria manter-se unida.Nada disto significa que não reconheça mérito a pessoas como Francisco Louçã e Fernando Rosas. Mas uma das coisas que odeio na política actual é a personalização dos partidos. Porque acredito em causas mais do que em caras. E isto leva-me a condenar o que é hoje o BE. Tornou-se num partido institucional e inserido no sistema. Tinha a sua graça quando era um movimento «desalinhado», que gritava e esbracejava muito e que apresentava ideias originais. Agora é um partido inebriado pela influência e pelo poder – como todos os outros.

PORQUE NÃO ACHO GRAÇA NENHUMA AO BLOCO DE ESQUERDAEm primeiro lugar, por causa da mania que os seus dirigentes têm de pôr-se em bicos de pés. Está certo que têm oito deputados, e que foram o partido que mais subiu – mas vamos pôr as coisas no seu devido lugar: quem representa trezentos mil cidadãos e se põe a falar em nome do povo é, no mínimo, risível.Depois, porque representa uma espécie que me é particularmente desagradável – a esquerda-caviar. O BE é constituído por gente que fala do povo e em seu nome, mas que nunca, por um segundo que fosse das suas vidas, sentiu na pele os problemas que o povo vive quotidianamente.De seguida, por causa dos excessos libertários, que, acredito eu, são algo que lhes sai «da boca para fora» – como costuma dizer-se para exprimir superficialidade e irreflexão. Há uma diferença muito grande entre os excessos libertários folclóricos por que o BE se bate e as políticas de descriminalização e desjudiciarização que eu, como jurista inserido no meu tempo, preconizo. Não podemos falar na liberalização do consumo de drogas enquanto estas servirem para alimentar um mundo subterrâneo de delinquência organizada. O que devemos é falar de administração de drogas de maneira rigorosa, na senda das recentes proibições de venda de bebidas alcoólicas (o que pressupõe, naturalmente, o controlo pelo Estado do comércio de drogas; não me repugna, porque o mesmo já se passa com drogas como o álcool e o tabaco). Agora, se as pessoas da esquerda-caviar conhecessem a realidade, e tivessem de viver na proximidade das subculturas da droga e da violência, talvez pensassem de outra maneira...Também não gosto de pessoas dogmáticas. O BE vive amarrado a dogmas que não têm lugar nos dias que correm, apesar da modernidade que gostam de fingir através de manifestações epidérmicas.O que me traz ao último dos motivos por que não aprecio o BE: não gosto de trotskistas, maoístas e outros esquerdistas. Ideologicamente estão ultrapassados (desde Junho de 1968...) e, historicamente, foram – voluntária ou involuntariamente – grandes aliados dos movimentos de direita, ao causar cisões numa esquerda que deveria manter-se unida.Nada disto significa que não reconheça mérito a pessoas como Francisco Louçã e Fernando Rosas. Mas uma das coisas que odeio na política actual é a personalização dos partidos. Porque acredito em causas mais do que em caras. E isto leva-me a condenar o que é hoje o BE. Tornou-se num partido institucional e inserido no sistema. Tinha a sua graça quando era um movimento «desalinhado», que gritava e esbracejava muito e que apresentava ideias originais. Agora é um partido inebriado pela influência e pelo poder – como todos os outros.

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