“A História são histórias de pessoas”

23-02-2008
marcar artigo

Prémio Pessoa

“A História são histórias de pessoas”

A vencedora da 20ª edição do Prémio Pessoa tem um olhar muito próprio sobre a História e os seus métodos Irene Flunser Pimentel, historiadora, 57 anos: estudar o Estado Novo para preservar a memória Pela terceira vez em 20 anos, o vencedor do Prémio Pessoa é alguém ligado à História. Depois de José Mattoso (1987) e Cláudio Torres (1991) é, agora, a vez de Irene Flunser Pimentel. Investigadora do período do Estado Novo, com diversos livros publicados, a sua posição foi assim resumida na declaração final do Prémio Pessoa: “Os seus livros, que nunca negam a sua adesão à causa das liberdades e dos direitos humanos, revelam um notável esforço de rigor intelectual e de objectividade académica”. Pela terceira vez em 20 anos, o vencedor do Prémio Pessoa é alguém ligado à História. Depois de José Mattoso (1987) e Cláudio Torres (1991) é, agora, a vez de Irene Flunser Pimentel. Investigadora do período do Estado Novo, com diversos livros publicados, a sua posição foi assim resumida na declaração final do Prémio Pessoa: “Os seus livros, que nunca negam a sua adesão à causa das liberdades e dos direitos humanos, revelam um notável esforço de rigor intelectual e de objectividade académica”. Iniciativa conjunta do Expresso e da Unysis, o Prémio Pessoa contempla anualmente uma figura com intervenção relevante na vida científica, artística ou literária portuguesa. Francisco Pinto Balsemão, presidiu ao júri, coadjuvado por Luís Portugal Devesa (Unysis). António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais, também estudioso do período da Ditadura, não tem dúvidas. “Este prémio consagra uma historiadora que tem feito um esforço notável para divulgar o período da longa experiência autoritária portuguesa do séc. XX”. Fernando Rosas, catedrático da Universidade Nova de Lisboa, que orientou a tese de doutoramento de Irene Pimentel, disse “tratar-se de um prémio muito merecido”, acrescentando que a investigação sobre a PIDE, “por si só justificaria a distinção”. A premiada acha que o Estado Novo está suficientemente distante para os historiadores o encararem “com distanciamento”. Mas se a história recente não deve ser vista “como um ajuste de contas”, estudar as instituições e os métodos da Ditadura é “um passo fundamental” para que não “se perca uma memória”. Considera que os historiadores da sua geração, podendo ter menos distanciamento que os mais novos, são mais capazes de “desmontar alguns mitos” e têm, seguramente, “maior sentido crítico”. Porém, na história como, de resto, no jornalismo, “a neutralidade e a objectividade total nunca são possíveis”, ainda que tendencialmente “seja para lá que se deve apontar”. A premiada acha que o Estado Novo está suficientemente distante para os historiadores o encararem “com distanciamento”. Mas se a história recente não deve ser vista “como um ajuste de contas”, estudar as instituições e os métodos da Ditadura é “um passo fundamental” para que não “se perca uma memória”. Considera que os historiadores da sua geração, podendo ter menos distanciamento que os mais novos, são mais capazes de “desmontar alguns mitos” e têm, seguramente, “maior sentido crítico”. Porém, na história como, de resto, no jornalismo, “a neutralidade e a objectividade total nunca são possíveis”, ainda que tendencialmente “seja para lá que se deve apontar”. Irene Pimentel militou nas fileiras da oposição à Ditadura, tendo chegado a estar emigrada em Paris, antes do 25 de Abril, como alguns estudantes esquerdistas de então. Regressada a Portugal, começou, aos poucos, a concretizar uma velha paixão pelo estudo do passado que lhe vinha dos tempos do Liceu Francês Charles Lepierre. Quando resolveu inscrever-se na Faculdade de Letras de Lisboa já tinha 30 anos. Concluído o curso, quatro anos depois, prosseguiu a vida académica, ao mesmo tempo que trabalhava na Livraria Buchholz, um dos pontos de referência da vida cultural de Lisboa. Fez um mestrado em História Contemporânea e, mais tarde, um doutoramento. Ambas as teses, respectivamente, sobre as organizações femininas do Estado Novo e sobre a sua polícia política, a PIDE, viriam, anos depois, a transformar-se nos seus livros de maior sucesso: ‘História das Organizações Femininas do Estado Novo’ (Círculo de Leitores, 2000) e ‘A História da Pide’ (Círculo de Leitores, 2007). A este propósito, a sua colega e amiga Margarida Magalhães Ramalho, que comissariou a exposição ‘25 de Abril, 25 anos’, destaca em Irene Pimentel a “capacidade de escrever a história de uma forma aliciante e acessível”. Além de ser “uma das raras autoras capaz de escrever a história no feminino”. Uma das poucas coisas que entristecem a vencedora do Prémio Pessoa é a forma como a história é ensinada nas escolas. “Para os jovens, história é sinónimo de seca.” Tenta mostrar-lhes que não é assim, que “a História é feita de histórias de pessoas” e que o mundo não pode ser visto “como se tudo se passasse num eterno presente, em que só os jovens contam e os velhos são esquecidos”.

Rui Cardoso

VIDA, LIVROS E IDEIAS

Irene Pimentel sempre gostou de temas históricos. Exilada em Paris antes do 25 de Abril, passava o tempo livre nas bibliotecas. Mas, até entrar na Faculdade, em 1980, já tardiamente, nunca tinha pensado na História como uma profissão. Durante dez anos trabalhou na livraria Buchholz, lugar de referência da vida cultural lisboeta, que abandonou para se dedicar a tempo inteiro à investigação. A partir das suas teses de mestrado e de doutoramento escreve dois livros de divulgação, respectivamente, sobre as organizações femininas do Estado Novo e sobre a PIDE, polícia política do salazarismo. A publicação, o ano passado, de ‘Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial’ valeu-lhe «ex aequo» o prémio Sedas Nunes. Publicou uma fotobiografia do cardeal Cerejeira e tem no prelo outra sobre José Afonso.

Prémio Pessoa

“A História são histórias de pessoas”

A vencedora da 20ª edição do Prémio Pessoa tem um olhar muito próprio sobre a História e os seus métodos Irene Flunser Pimentel, historiadora, 57 anos: estudar o Estado Novo para preservar a memória Pela terceira vez em 20 anos, o vencedor do Prémio Pessoa é alguém ligado à História. Depois de José Mattoso (1987) e Cláudio Torres (1991) é, agora, a vez de Irene Flunser Pimentel. Investigadora do período do Estado Novo, com diversos livros publicados, a sua posição foi assim resumida na declaração final do Prémio Pessoa: “Os seus livros, que nunca negam a sua adesão à causa das liberdades e dos direitos humanos, revelam um notável esforço de rigor intelectual e de objectividade académica”. Pela terceira vez em 20 anos, o vencedor do Prémio Pessoa é alguém ligado à História. Depois de José Mattoso (1987) e Cláudio Torres (1991) é, agora, a vez de Irene Flunser Pimentel. Investigadora do período do Estado Novo, com diversos livros publicados, a sua posição foi assim resumida na declaração final do Prémio Pessoa: “Os seus livros, que nunca negam a sua adesão à causa das liberdades e dos direitos humanos, revelam um notável esforço de rigor intelectual e de objectividade académica”. Iniciativa conjunta do Expresso e da Unysis, o Prémio Pessoa contempla anualmente uma figura com intervenção relevante na vida científica, artística ou literária portuguesa. Francisco Pinto Balsemão, presidiu ao júri, coadjuvado por Luís Portugal Devesa (Unysis). António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais, também estudioso do período da Ditadura, não tem dúvidas. “Este prémio consagra uma historiadora que tem feito um esforço notável para divulgar o período da longa experiência autoritária portuguesa do séc. XX”. Fernando Rosas, catedrático da Universidade Nova de Lisboa, que orientou a tese de doutoramento de Irene Pimentel, disse “tratar-se de um prémio muito merecido”, acrescentando que a investigação sobre a PIDE, “por si só justificaria a distinção”. A premiada acha que o Estado Novo está suficientemente distante para os historiadores o encararem “com distanciamento”. Mas se a história recente não deve ser vista “como um ajuste de contas”, estudar as instituições e os métodos da Ditadura é “um passo fundamental” para que não “se perca uma memória”. Considera que os historiadores da sua geração, podendo ter menos distanciamento que os mais novos, são mais capazes de “desmontar alguns mitos” e têm, seguramente, “maior sentido crítico”. Porém, na história como, de resto, no jornalismo, “a neutralidade e a objectividade total nunca são possíveis”, ainda que tendencialmente “seja para lá que se deve apontar”. A premiada acha que o Estado Novo está suficientemente distante para os historiadores o encararem “com distanciamento”. Mas se a história recente não deve ser vista “como um ajuste de contas”, estudar as instituições e os métodos da Ditadura é “um passo fundamental” para que não “se perca uma memória”. Considera que os historiadores da sua geração, podendo ter menos distanciamento que os mais novos, são mais capazes de “desmontar alguns mitos” e têm, seguramente, “maior sentido crítico”. Porém, na história como, de resto, no jornalismo, “a neutralidade e a objectividade total nunca são possíveis”, ainda que tendencialmente “seja para lá que se deve apontar”. Irene Pimentel militou nas fileiras da oposição à Ditadura, tendo chegado a estar emigrada em Paris, antes do 25 de Abril, como alguns estudantes esquerdistas de então. Regressada a Portugal, começou, aos poucos, a concretizar uma velha paixão pelo estudo do passado que lhe vinha dos tempos do Liceu Francês Charles Lepierre. Quando resolveu inscrever-se na Faculdade de Letras de Lisboa já tinha 30 anos. Concluído o curso, quatro anos depois, prosseguiu a vida académica, ao mesmo tempo que trabalhava na Livraria Buchholz, um dos pontos de referência da vida cultural de Lisboa. Fez um mestrado em História Contemporânea e, mais tarde, um doutoramento. Ambas as teses, respectivamente, sobre as organizações femininas do Estado Novo e sobre a sua polícia política, a PIDE, viriam, anos depois, a transformar-se nos seus livros de maior sucesso: ‘História das Organizações Femininas do Estado Novo’ (Círculo de Leitores, 2000) e ‘A História da Pide’ (Círculo de Leitores, 2007). A este propósito, a sua colega e amiga Margarida Magalhães Ramalho, que comissariou a exposição ‘25 de Abril, 25 anos’, destaca em Irene Pimentel a “capacidade de escrever a história de uma forma aliciante e acessível”. Além de ser “uma das raras autoras capaz de escrever a história no feminino”. Uma das poucas coisas que entristecem a vencedora do Prémio Pessoa é a forma como a história é ensinada nas escolas. “Para os jovens, história é sinónimo de seca.” Tenta mostrar-lhes que não é assim, que “a História é feita de histórias de pessoas” e que o mundo não pode ser visto “como se tudo se passasse num eterno presente, em que só os jovens contam e os velhos são esquecidos”.

Rui Cardoso

VIDA, LIVROS E IDEIAS

Irene Pimentel sempre gostou de temas históricos. Exilada em Paris antes do 25 de Abril, passava o tempo livre nas bibliotecas. Mas, até entrar na Faculdade, em 1980, já tardiamente, nunca tinha pensado na História como uma profissão. Durante dez anos trabalhou na livraria Buchholz, lugar de referência da vida cultural lisboeta, que abandonou para se dedicar a tempo inteiro à investigação. A partir das suas teses de mestrado e de doutoramento escreve dois livros de divulgação, respectivamente, sobre as organizações femininas do Estado Novo e sobre a PIDE, polícia política do salazarismo. A publicação, o ano passado, de ‘Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial’ valeu-lhe «ex aequo» o prémio Sedas Nunes. Publicou uma fotobiografia do cardeal Cerejeira e tem no prelo outra sobre José Afonso.

marcar artigo