As Imagens e Nós

11-10-2009
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MARTEHoje, 27 de Agosto, Marte aproxima-se da Terra quanto já não acontecia desde há 60 mil anos e só em 2287 terá uma posição semelhante. Daí que este acontecimento provoque uma verdadeira "mundialização" do olhar, levando os habitantes de Lisboa, Seatlle, Florianópolis, Hong Kong, por exemplo, a olhar para os céus e usufruir deste momento único que o olhar proporciona (se as nuvens o permitirem).Ora Marte tem sido um dos planetas mais fotografados dos últimos 20 anos desde as sondas Viking, no fim dos anos 70. "A fotografia é a verdadeira retina do sábio", declarou Jan Janssen, um astrónomo. Seguindo esse princípio varias sondas têm feito milhares de fotografias (mais de 50 mil pelas Viking, depois segui-se a Pathfinder, em 1997 e mais recentemente o gigantesco telescópio Hubble).As imagens de Marte, bem como outros dados, acabaram por quebrar o imaginário da vida em Marte que foi amplamente alimentada pela ciência, no século XIX. De facto, astrónomos como o italiano Sciapparelli e o americano Lowell defenderam a ideia, o primeiro de canais que na Europa foram assimilados a redes de caminhos de ferro, então em grande expansão. Nos EUA foram vistos mais como canais de irrigação levando para Marte a seca do sudoeste americano. Assim os habitantes de Marte teriam uma civilização avançada com as suas linhas férreas e os seus sistemas de irrigação complexos.A literatura (H.G.Wells), o cinema (Marte Ataca, de Tim Burton, por exemplo), a rádio (a Guerra dos Mundos, de Orson Welles) fazem parte do universo ficcional que a ciência havia alimentado. As imagens recentes vieram dizer que, afinal, tudo não passava de um sonho. Neste caso até o sonho se integrou na ciência, na literatura, na rádio: as imagens ajudaram a desfazê-lo, paradoxalmente, elas que são acusadas de ser, por via de regra, uma fábrica de sonhos.Interessante também o peso tecnológico da fabricação destas imagens: missões espaciais são planeadas para esta recolha, potentes telescópios são construídos, o seu envio de Marte para a Terra exige complexas transmisssões. Ainda há quem pense que as imagens só vivem pelo sentido que criam.. E os dólares que são precisos para as fabricar? E as políticas sociais, científicas, tecnológicas que se constroem (ou deixam de construir) para esses imagens serem obtidas? E a tecnologia que se lhes associa? As imagens são relações…nem sempre relativas ao seu sentido, à sua significação. A imagem também tem reação co o dinheiro, a ciencia, o imaginário social, entre outros.Ver SICARD, M., La fabrique du regard, Paris, Odile Jacob, 1998

MARTEHoje, 27 de Agosto, Marte aproxima-se da Terra quanto já não acontecia desde há 60 mil anos e só em 2287 terá uma posição semelhante. Daí que este acontecimento provoque uma verdadeira "mundialização" do olhar, levando os habitantes de Lisboa, Seatlle, Florianópolis, Hong Kong, por exemplo, a olhar para os céus e usufruir deste momento único que o olhar proporciona (se as nuvens o permitirem).Ora Marte tem sido um dos planetas mais fotografados dos últimos 20 anos desde as sondas Viking, no fim dos anos 70. "A fotografia é a verdadeira retina do sábio", declarou Jan Janssen, um astrónomo. Seguindo esse princípio varias sondas têm feito milhares de fotografias (mais de 50 mil pelas Viking, depois segui-se a Pathfinder, em 1997 e mais recentemente o gigantesco telescópio Hubble).As imagens de Marte, bem como outros dados, acabaram por quebrar o imaginário da vida em Marte que foi amplamente alimentada pela ciência, no século XIX. De facto, astrónomos como o italiano Sciapparelli e o americano Lowell defenderam a ideia, o primeiro de canais que na Europa foram assimilados a redes de caminhos de ferro, então em grande expansão. Nos EUA foram vistos mais como canais de irrigação levando para Marte a seca do sudoeste americano. Assim os habitantes de Marte teriam uma civilização avançada com as suas linhas férreas e os seus sistemas de irrigação complexos.A literatura (H.G.Wells), o cinema (Marte Ataca, de Tim Burton, por exemplo), a rádio (a Guerra dos Mundos, de Orson Welles) fazem parte do universo ficcional que a ciência havia alimentado. As imagens recentes vieram dizer que, afinal, tudo não passava de um sonho. Neste caso até o sonho se integrou na ciência, na literatura, na rádio: as imagens ajudaram a desfazê-lo, paradoxalmente, elas que são acusadas de ser, por via de regra, uma fábrica de sonhos.Interessante também o peso tecnológico da fabricação destas imagens: missões espaciais são planeadas para esta recolha, potentes telescópios são construídos, o seu envio de Marte para a Terra exige complexas transmisssões. Ainda há quem pense que as imagens só vivem pelo sentido que criam.. E os dólares que são precisos para as fabricar? E as políticas sociais, científicas, tecnológicas que se constroem (ou deixam de construir) para esses imagens serem obtidas? E a tecnologia que se lhes associa? As imagens são relações…nem sempre relativas ao seu sentido, à sua significação. A imagem também tem reação co o dinheiro, a ciencia, o imaginário social, entre outros.Ver SICARD, M., La fabrique du regard, Paris, Odile Jacob, 1998

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