Mértola: De que vale o sentido do voto para Louçã?

12-10-2009
marcar artigo


As últimas semanas têm proporcionado a Francisco Louçã um verdadeiro périplo pelo país, em busca de pequenos casos, de grandes notícias, de pequenas falhas ou grandes escândalos. Louçã tem calcorreado, quase a palmo, concelhos e distritos que não lhe têm dado, até aqui, a confiança do seu voto.E, na mais habilidosa estratégia de cangalheiro, adoptou um discurso miserabilista no género, derrotista na projecção futura do país, pessimista quanto às políticas sociais e vazio no conteúdo. É, nitidamente, a estratégia do cangalheiro, que anda por aí a exacerbar a desgraça alheia, a dar palco à miséria sem, no entanto, levar consigo um programa que transpire esperança e optimismo.E porquê? Por uma razão muito simples. Se o fizer deita por água a filosofia básica do seu partido. Contestar, criticar, demolir, mas nunca, nem que a isso fosse obrigado, construir ou apresentar propostas de solução. E isto explica a vontade sórdida, não admitida pelo BE, mas sentida por todos, em proporcionar a vitória de Ferreira Leite e consequentemente a derrota de José Sócrates. Só assim, Louçã fará o pleno.Garante um crescimento do BE conseguido pela transferência de votos dos descontentes, justificado pelo alegado “falhanço” do Governo PS. E assim, sentir-se-á ilibado de governar e simultaneamente, agraciado por ter sido o líder político a conseguir o maior crescimento nestas eleições.Mas, e Louçã sabe disso, se conseguir um aumento significativo de votos no BE, seja qual for o status quo parlamentar, terá que alimentar o capital de expectativa, de todos aqueles que nele confiaram. Ou seja, quem votar BE por descontentamento vai exigir dele soluções. Vai pedir ao Bloco, e a Louçã, que se responsabilize por esse depósito de confiança. Todavia, essa não é a vocação deste pequeno partido, com vocação para ser pequeno e sem vontade de crescer. Na verdade a irreverência é, por definição, juvenil enquanto a responsabilidade é tradicionalmente imputada aos adultos. E é por isso que o Bloco não pode crescer. O Bloco não é, nem pretende ser um partido responsável. Se pretendesse, mesmo que evitasse coligações, estaria munido de propostas governativas viáveis.O BE tem um grande problema, que o acompanha desde o início e que o fará extinguir a prazo, que é o facto de ser uma verdadeira manta de partidos retalhados. E, se esses retalhos por algum acaso pudessem, algum dia, ter sido um todo comum, essa esperança morreu quando o BE começou a criar simpatias naqueles que repudiaram a extrema-esquerda (e bem) mas não perceberam que o Bloco era não mais do que uma recauchutagem dessas esquerdas não democráticas. Hoje, embora não seja um mass party, o BE começa a ser um catch-all-party a caminho da ingovernabilidade interna.Dará, certamente um brilhante caso de estudo. Pena é que as cobaias sejam o Portugal real.Rui Estevão Alexandre


As últimas semanas têm proporcionado a Francisco Louçã um verdadeiro périplo pelo país, em busca de pequenos casos, de grandes notícias, de pequenas falhas ou grandes escândalos. Louçã tem calcorreado, quase a palmo, concelhos e distritos que não lhe têm dado, até aqui, a confiança do seu voto.E, na mais habilidosa estratégia de cangalheiro, adoptou um discurso miserabilista no género, derrotista na projecção futura do país, pessimista quanto às políticas sociais e vazio no conteúdo. É, nitidamente, a estratégia do cangalheiro, que anda por aí a exacerbar a desgraça alheia, a dar palco à miséria sem, no entanto, levar consigo um programa que transpire esperança e optimismo.E porquê? Por uma razão muito simples. Se o fizer deita por água a filosofia básica do seu partido. Contestar, criticar, demolir, mas nunca, nem que a isso fosse obrigado, construir ou apresentar propostas de solução. E isto explica a vontade sórdida, não admitida pelo BE, mas sentida por todos, em proporcionar a vitória de Ferreira Leite e consequentemente a derrota de José Sócrates. Só assim, Louçã fará o pleno.Garante um crescimento do BE conseguido pela transferência de votos dos descontentes, justificado pelo alegado “falhanço” do Governo PS. E assim, sentir-se-á ilibado de governar e simultaneamente, agraciado por ter sido o líder político a conseguir o maior crescimento nestas eleições.Mas, e Louçã sabe disso, se conseguir um aumento significativo de votos no BE, seja qual for o status quo parlamentar, terá que alimentar o capital de expectativa, de todos aqueles que nele confiaram. Ou seja, quem votar BE por descontentamento vai exigir dele soluções. Vai pedir ao Bloco, e a Louçã, que se responsabilize por esse depósito de confiança. Todavia, essa não é a vocação deste pequeno partido, com vocação para ser pequeno e sem vontade de crescer. Na verdade a irreverência é, por definição, juvenil enquanto a responsabilidade é tradicionalmente imputada aos adultos. E é por isso que o Bloco não pode crescer. O Bloco não é, nem pretende ser um partido responsável. Se pretendesse, mesmo que evitasse coligações, estaria munido de propostas governativas viáveis.O BE tem um grande problema, que o acompanha desde o início e que o fará extinguir a prazo, que é o facto de ser uma verdadeira manta de partidos retalhados. E, se esses retalhos por algum acaso pudessem, algum dia, ter sido um todo comum, essa esperança morreu quando o BE começou a criar simpatias naqueles que repudiaram a extrema-esquerda (e bem) mas não perceberam que o Bloco era não mais do que uma recauchutagem dessas esquerdas não democráticas. Hoje, embora não seja um mass party, o BE começa a ser um catch-all-party a caminho da ingovernabilidade interna.Dará, certamente um brilhante caso de estudo. Pena é que as cobaias sejam o Portugal real.Rui Estevão Alexandre

marcar artigo