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20-03-2005
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21.7.04

[1570] A Transição Falhada: O Marcelismo e o Fim do Estado Novo (1968-1974)

Fernando Rosas e Pedro Aires de Oliveira (coord.s)

(Lisboa: Editorial Notícias, 2004)

Os investigadores que participaram neste projecto do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa não tiveram acesso a novas fontes documentais, nem procederam a um programa sistematizado de entrevistas com os principais intervenientes do período em análise. Inevitavelmente, e se se quiser colocar a questão nestes termos, poderá dizer-se desde já que se trata de uma obra conservadora nas suas conclusões, na medida em que não coloca em causa as interpretações dominantes sobre o Marcelismo. Aliás, sem o recurso a novas fontes, muito dificilmente poderiam ocorrer grandes revisões interpretativas. Isto, claro, admitindo que o acesso à documentação oficial possa mais tarde vir a revelar algumas surpresas de fundo.

Eventualmente, teria sido útil adicionar um capítulo que fornecesse um enquadramento téorico sobre as tentativas de liberalização de regimes autoritários. A sua inclusão, muito possivelmente, teria permitido compreender melhor o próprio título do livro. A literatura sobre as mudanças de regime político geralmente distingue três momentos: o processo de desmoronamento do regime autoritário, a transição para a democracia, e a consolidação do regime democrático. No caso português, os três períodos em causa são 1968-1974, 1974-1976 e 1976-1982. Este livro aborda apenas uma parte – a primeira – da mudança de regime em Portugal.

Dito isto, não tenho qualquer dúvida de que este livro será, muito justamente, uma das obras do ano na área das ciências sociais. Mais. Este trabalho colectivo passará certamente a ser um marco de referência para obras posteriores sobre a mesma matéria. Ao longo de 370 páginas, dez investigadores – Fernando Rosas (Marcelismo: ser ou não ser), Rita Almeida de Carvalho (A definição do Marcelismo à luz da revisão da constituição), João Madeira (As oposições de esquerda e a extrema-esquerda), João Barreto (A igreja e os católicos), Fátima Patriarca (Estado social: a caixa de pandora), David Corkill (O desenvolvimento económico português no fim do Estado Novo), Maria Cândida Proença (A reforma educativa de Veiga Simão), Norrie MacQueen (As guerras coloniais), Pedro Aires de Oliveira (A política externa) e Maria Inácia Rezola (As Forças Armadas, os capitães e a crise final do regime) – abordam os principais dilemas, os traços dominantes e os grandes desafios a que Marcelo Caetano teve de fazer face. Como se percebe facilmente, este é, sem dúvida, o grande mérito desta obra: a sua abordagem pluridimensional e a sistematização que se faz dos traços principais do período entre 1968 e 1974.

Sem querer entrar em pormenor sobre cada um dos capítulos – de valor relativamente homogéneo – resta-me manifestar a esperança de que este livro não seja o ponto de chegada, mas antes o ponto de partida no aprofundamento que os autores fazem do seu (e do nosso) conhecimento sobre o período Marcelista. Em suma, este livro deve ser lido por quem se interesse sobre o fim do regime autoritário e os antecedentes do regime democrático em Portugal.

21.7.04

[1570] A Transição Falhada: O Marcelismo e o Fim do Estado Novo (1968-1974)

Fernando Rosas e Pedro Aires de Oliveira (coord.s)

(Lisboa: Editorial Notícias, 2004)

Os investigadores que participaram neste projecto do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa não tiveram acesso a novas fontes documentais, nem procederam a um programa sistematizado de entrevistas com os principais intervenientes do período em análise. Inevitavelmente, e se se quiser colocar a questão nestes termos, poderá dizer-se desde já que se trata de uma obra conservadora nas suas conclusões, na medida em que não coloca em causa as interpretações dominantes sobre o Marcelismo. Aliás, sem o recurso a novas fontes, muito dificilmente poderiam ocorrer grandes revisões interpretativas. Isto, claro, admitindo que o acesso à documentação oficial possa mais tarde vir a revelar algumas surpresas de fundo.

Eventualmente, teria sido útil adicionar um capítulo que fornecesse um enquadramento téorico sobre as tentativas de liberalização de regimes autoritários. A sua inclusão, muito possivelmente, teria permitido compreender melhor o próprio título do livro. A literatura sobre as mudanças de regime político geralmente distingue três momentos: o processo de desmoronamento do regime autoritário, a transição para a democracia, e a consolidação do regime democrático. No caso português, os três períodos em causa são 1968-1974, 1974-1976 e 1976-1982. Este livro aborda apenas uma parte – a primeira – da mudança de regime em Portugal.

Dito isto, não tenho qualquer dúvida de que este livro será, muito justamente, uma das obras do ano na área das ciências sociais. Mais. Este trabalho colectivo passará certamente a ser um marco de referência para obras posteriores sobre a mesma matéria. Ao longo de 370 páginas, dez investigadores – Fernando Rosas (Marcelismo: ser ou não ser), Rita Almeida de Carvalho (A definição do Marcelismo à luz da revisão da constituição), João Madeira (As oposições de esquerda e a extrema-esquerda), João Barreto (A igreja e os católicos), Fátima Patriarca (Estado social: a caixa de pandora), David Corkill (O desenvolvimento económico português no fim do Estado Novo), Maria Cândida Proença (A reforma educativa de Veiga Simão), Norrie MacQueen (As guerras coloniais), Pedro Aires de Oliveira (A política externa) e Maria Inácia Rezola (As Forças Armadas, os capitães e a crise final do regime) – abordam os principais dilemas, os traços dominantes e os grandes desafios a que Marcelo Caetano teve de fazer face. Como se percebe facilmente, este é, sem dúvida, o grande mérito desta obra: a sua abordagem pluridimensional e a sistematização que se faz dos traços principais do período entre 1968 e 1974.

Sem querer entrar em pormenor sobre cada um dos capítulos – de valor relativamente homogéneo – resta-me manifestar a esperança de que este livro não seja o ponto de chegada, mas antes o ponto de partida no aprofundamento que os autores fazem do seu (e do nosso) conhecimento sobre o período Marcelista. Em suma, este livro deve ser lido por quem se interesse sobre o fim do regime autoritário e os antecedentes do regime democrático em Portugal.

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