Professorices: A catástrofe de Bolonha

17-06-2005
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Quinta-feira, Outubro 28, 2004 A catástrofe de Bolonha Ontem, só tive disponibilidade muito tardia para ler o Público. Lá vem um artigo de Fernando Rosas (FR), "Bolonha ou a regressão do ensino superior". Não posso dar o "link", porque não aparece no Público online. É a visão mais catastrófica que já vi sobre Bolonha. Não vou comentá-la extensamente porque, entretanto, o Prof. José Gomes Ferreira (vice-reitor da UP), uma das nossas indiscutíveis autoridades sobre Bolonha, lhe responde excelentemente num artigo que enviou ao Público.

Fernando Rosas é politico e dirigente partidário, é colunista e é professor universitário (catedrático). Estas coisas nem sempre ligam bem e este é um exemplo. Neste artigo, não consigo perceber o que é oposição ao governo (que também faço, mas com rigor) e o que é uma mentalidade universitária conservadora, em contraste com a posição politica de FR. Começa por dizer que o que parece estar a ser o consenso português sobre Bolonha é uma imposição governamental. Longe de mim estar a ser advogado deste governo e acho que ninguém que me conheça pode suspeitar disso. A afirmação de FR não é verdadeira. O que tem saído é um consenso que vai crescendo nos muitos grupos de estudo que a ministra nomeou. A falta de transparência deste processo é outra coisa, mas não é a isto que FR se refere.

Numa coisa eu podia até ser tentado a concordar com FR, quando ele fala na consciência académica adormecida e na falta de debate. Denunciei durante muito tempo essa falta de debate, agora já não dou para as encomendas de palestras, colóquios e tudo o mais sobre Bolonha. E é evidente no texto de FR que ele quer ver esse debate é como um processo de rejeição de Bolonha. Até invoca a autonomia - lá vem ela sempre, usada abusivamente - quando é óbvio que o processo de Bolonha é uma reforma universitária global que não pode ficar ao sabor desta ou daquela universidade.

No seu ataque conservador ao esquema 3+2 - que até provavelmente não será único, coexistindo com o 4+1 e certamente com o 5+0 - entra pela discussão da empregabilidade. É bom que o faça, porque é um aspecto central de Bolonha, aliás objecto de um dos meus últimos artigos. Mas não em termos em que a polémica politica obscurece o rigor do historiador. Julgo que um historiador não vive só para o passado, tira dele lições para uma análise do presente. E FR parece desconhecer a sociedade actual do conhecimento, a polivalência no emprego, a necessidade de uma formação de banda larga e interdisciplinar, quando escreve que se caminha para o desastre, para a formação de "uma mão de obra não especializada e flexível (isto é, servindo um pouco para tudo), (...) uma força de trabalho não excessivamente qualificável e seguramente precária".

E há incorrecções factuais que descredibilizam qualquer análise. Por exemplo, dizer que o processo de Bolonha admite um esquema 5+1. Onde é que FR leu isso? Garanto que em parte nenhuma. Ou quando diz que o governo se desvinculou das pós-graduações. Mais uma vez, tenho que ir contra a minha atitude de oposição a este governo, mas a verdade é que a ministra já assegurou o financiamento de todas as pós-graduações profissionalizantes. É verdade que, para mim, não basta, como hei-de escrever, mas mostra a leviandade de FR. Por fim, o que acho mais delirante: o processo de Bolonha aplicado a Portugal significa o fim do serviço público de ensino superior!

Já houve tempo em que me indignava facilmente. Com a idade, comecei a controlar essa emoção, que faz mal à saúde. Mas, felizmente, continuo a indignar-me com a leviandade intelectual - para não dizer outra coisa. Não é por acaso que me estou a deliciar com a leitura de uma grande biografia de Thomas More. Se calhar, a sua fotografia ainda vai acompanhar a do Antero neste blogue.

PS (13:30) - O artigo de FR já está disponível no meu "site", como ficheiro PDF, para leitura no browser ou download. Mas tenham paciência, porque hoje a Netcabo está a funcionar a passo de caracol.

PS (17:25) - Peço desculpa aos que devem ter tido dificuldade ou gasto muito tempo a descarregar o tal ficheiro PDF. Esqueci-me de o comprimir. A idade já não vai perdoando... Obrigado ao MJMatos pela chamada de atenção. Agora penso que está tudo bem, independentemente da Netcabo funcionar às maravilhas!

Quinta-feira, Outubro 28, 2004 A catástrofe de Bolonha Ontem, só tive disponibilidade muito tardia para ler o Público. Lá vem um artigo de Fernando Rosas (FR), "Bolonha ou a regressão do ensino superior". Não posso dar o "link", porque não aparece no Público online. É a visão mais catastrófica que já vi sobre Bolonha. Não vou comentá-la extensamente porque, entretanto, o Prof. José Gomes Ferreira (vice-reitor da UP), uma das nossas indiscutíveis autoridades sobre Bolonha, lhe responde excelentemente num artigo que enviou ao Público.

Fernando Rosas é politico e dirigente partidário, é colunista e é professor universitário (catedrático). Estas coisas nem sempre ligam bem e este é um exemplo. Neste artigo, não consigo perceber o que é oposição ao governo (que também faço, mas com rigor) e o que é uma mentalidade universitária conservadora, em contraste com a posição politica de FR. Começa por dizer que o que parece estar a ser o consenso português sobre Bolonha é uma imposição governamental. Longe de mim estar a ser advogado deste governo e acho que ninguém que me conheça pode suspeitar disso. A afirmação de FR não é verdadeira. O que tem saído é um consenso que vai crescendo nos muitos grupos de estudo que a ministra nomeou. A falta de transparência deste processo é outra coisa, mas não é a isto que FR se refere.

Numa coisa eu podia até ser tentado a concordar com FR, quando ele fala na consciência académica adormecida e na falta de debate. Denunciei durante muito tempo essa falta de debate, agora já não dou para as encomendas de palestras, colóquios e tudo o mais sobre Bolonha. E é evidente no texto de FR que ele quer ver esse debate é como um processo de rejeição de Bolonha. Até invoca a autonomia - lá vem ela sempre, usada abusivamente - quando é óbvio que o processo de Bolonha é uma reforma universitária global que não pode ficar ao sabor desta ou daquela universidade.

No seu ataque conservador ao esquema 3+2 - que até provavelmente não será único, coexistindo com o 4+1 e certamente com o 5+0 - entra pela discussão da empregabilidade. É bom que o faça, porque é um aspecto central de Bolonha, aliás objecto de um dos meus últimos artigos. Mas não em termos em que a polémica politica obscurece o rigor do historiador. Julgo que um historiador não vive só para o passado, tira dele lições para uma análise do presente. E FR parece desconhecer a sociedade actual do conhecimento, a polivalência no emprego, a necessidade de uma formação de banda larga e interdisciplinar, quando escreve que se caminha para o desastre, para a formação de "uma mão de obra não especializada e flexível (isto é, servindo um pouco para tudo), (...) uma força de trabalho não excessivamente qualificável e seguramente precária".

E há incorrecções factuais que descredibilizam qualquer análise. Por exemplo, dizer que o processo de Bolonha admite um esquema 5+1. Onde é que FR leu isso? Garanto que em parte nenhuma. Ou quando diz que o governo se desvinculou das pós-graduações. Mais uma vez, tenho que ir contra a minha atitude de oposição a este governo, mas a verdade é que a ministra já assegurou o financiamento de todas as pós-graduações profissionalizantes. É verdade que, para mim, não basta, como hei-de escrever, mas mostra a leviandade de FR. Por fim, o que acho mais delirante: o processo de Bolonha aplicado a Portugal significa o fim do serviço público de ensino superior!

Já houve tempo em que me indignava facilmente. Com a idade, comecei a controlar essa emoção, que faz mal à saúde. Mas, felizmente, continuo a indignar-me com a leviandade intelectual - para não dizer outra coisa. Não é por acaso que me estou a deliciar com a leitura de uma grande biografia de Thomas More. Se calhar, a sua fotografia ainda vai acompanhar a do Antero neste blogue.

PS (13:30) - O artigo de FR já está disponível no meu "site", como ficheiro PDF, para leitura no browser ou download. Mas tenham paciência, porque hoje a Netcabo está a funcionar a passo de caracol.

PS (17:25) - Peço desculpa aos que devem ter tido dificuldade ou gasto muito tempo a descarregar o tal ficheiro PDF. Esqueci-me de o comprimir. A idade já não vai perdoando... Obrigado ao MJMatos pela chamada de atenção. Agora penso que está tudo bem, independentemente da Netcabo funcionar às maravilhas!

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