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11-06-2007
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http://www.diarioeconomico.com

Editorial 14:00

Mais, por favor

Ainda hoje José Sócrates deve arrepender-se daquele maldito cartaz. Numa altura em que a vitória nas eleições legislativas já era um facto (quase) adquirido, a promessa de criar 150 mil empregos em quatro anos revelou-se irresistível.

André Macedo

Não era talvez necessário ir tão longe face ao descrédito do PSD, mas Sócrates, no meio de uma campanha eleitoral recheada de generalidades, sentiu a necessidade de ser um pouco mais concreto e prometeu aquilo que dificilmente será capaz de cumprir. Nas próximas eleições, daqui a dois anos, muito do que se disser andará à volta deste cartaz e do seu falhanço. Pouco se falará da reforma da administração pública – ainda titubeante, mas já no terreno – ou do facto de este Governo ser mais focado do que os anteriores na criação de condições de desenvolvimento económico do país. O desemprego e aquele magnífico cartaz serão as estrelas do debate – ao lado da saúde.

Para evitar os mesmos riscos de cobrança futura, António Costa decidiu fazer em Lisboa a pré-campanha mais mole de que há memória. Desde o início do debate, Costa – o vencedor antecipado – não tem dito nada de particularmente relevante sobre a cidade. Na verdade, tem repetido factos óbvios e generalidades avulsas que poderiam ser debitadas por ele ou por qualquer um dos outros candidatos: a qualidade do ar em Lisboa é insustentável, há problemas de trânsito, é fundamental combater a desertificação da cidade. Apoiado, apoiado e apoiado. Entre duas margens, Costa coloca-se milimetricamente no meio. Não divide, não ameaça, não toma partido, não se explica. Ou seja, não quer perder os votos que já tem no bolso. Procura, por isso, o maior denominador comum e fica ali, a pastar no centrão, à espera da brisa favorável que o levará – porque inevitavelmente levará – à presidência de Lisboa.

Não está em causa a seriedade e a capacidade política de António Costa. Discute-se, sim, a forma como decorre esta fase da pré-campanha. Perante a situação comatosa de Lisboa, parece suficiente prometer rigor para ganhar o coração dos eleitores. É verdade que rigor é coisa que tem faltado à cidade. Mas rigor não é um princípio abstracto que se aplica a tudo – género lixívia purificadora. Para avaliarmos “o rigor” de António Costa, e para perceber como ele é diferente do rigor “a sério” de Fernando Negrão, seria importante perceber como o PS quer gerir a câmara. Vai vender património? Qual? Vai encarecer os parques de estacionamento? Quanto? Vai reduzir a burocracia que trava os investimentos privados? De que forma? Vai recuperar o Chiado? Com que dinheiro e em quanto tempo? Vai criar emprego? Onde? Pretende mudar o modelo de funcionamento da Câmara? De que maneira: privatizando, extinguindo empresas municipais?

As perguntas são estas. Talvez os programas tragam algumas respostas.

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Mais, por favor

Ainda hoje José Sócrates deve arrepender-se daquele maldito cartaz. Numa altura em que a vitória nas eleições legislativas já era um facto (quase) adquirido, a promessa de criar 150 mil empregos em quatro anos revelou-se irresistível.

André Macedo

Não era talvez necessário ir tão longe face ao descrédito do PSD, mas Sócrates, no meio de uma campanha eleitoral recheada de generalidades, sentiu a necessidade de ser um pouco mais concreto e prometeu aquilo que dificilmente será capaz de cumprir. Nas próximas eleições, daqui a dois anos, muito do que se disser andará à volta deste cartaz e do seu falhanço. Pouco se falará da reforma da administração pública – ainda titubeante, mas já no terreno – ou do facto de este Governo ser mais focado do que os anteriores na criação de condições de desenvolvimento económico do país. O desemprego e aquele magnífico cartaz serão as estrelas do debate – ao lado da saúde.

Para evitar os mesmos riscos de cobrança futura, António Costa decidiu fazer em Lisboa a pré-campanha mais mole de que há memória. Desde o início do debate, Costa – o vencedor antecipado – não tem dito nada de particularmente relevante sobre a cidade. Na verdade, tem repetido factos óbvios e generalidades avulsas que poderiam ser debitadas por ele ou por qualquer um dos outros candidatos: a qualidade do ar em Lisboa é insustentável, há problemas de trânsito, é fundamental combater a desertificação da cidade. Apoiado, apoiado e apoiado. Entre duas margens, Costa coloca-se milimetricamente no meio. Não divide, não ameaça, não toma partido, não se explica. Ou seja, não quer perder os votos que já tem no bolso. Procura, por isso, o maior denominador comum e fica ali, a pastar no centrão, à espera da brisa favorável que o levará – porque inevitavelmente levará – à presidência de Lisboa.

Não está em causa a seriedade e a capacidade política de António Costa. Discute-se, sim, a forma como decorre esta fase da pré-campanha. Perante a situação comatosa de Lisboa, parece suficiente prometer rigor para ganhar o coração dos eleitores. É verdade que rigor é coisa que tem faltado à cidade. Mas rigor não é um princípio abstracto que se aplica a tudo – género lixívia purificadora. Para avaliarmos “o rigor” de António Costa, e para perceber como ele é diferente do rigor “a sério” de Fernando Negrão, seria importante perceber como o PS quer gerir a câmara. Vai vender património? Qual? Vai encarecer os parques de estacionamento? Quanto? Vai reduzir a burocracia que trava os investimentos privados? De que forma? Vai recuperar o Chiado? Com que dinheiro e em quanto tempo? Vai criar emprego? Onde? Pretende mudar o modelo de funcionamento da Câmara? De que maneira: privatizando, extinguindo empresas municipais?

As perguntas são estas. Talvez os programas tragam algumas respostas.

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