Beatas: Pelas "Joanas"

24-03-2005
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Joana Cipriano Guerreiro. Oito anos. Morava com a mãe, com o padrasto e com mais cinco irmãos. Desapareceu num Domingo, dia 12 de Setembro, depois de ter saído de casa a pedido da mãe, para lhe fazer um recado.Durante dias, esta pobre mãe apareceu nos jornais e televisões com um ar que oscilava entre a angústia de ter perdido a filha e a esperança de a recuperar. "De uma forma ou de outra, ela há-de aparecer", dizia numa entrevista...Em todo esse tempo, olhámos para Leonor Cipriano e pensávamos que aquela mãe extremosa não podia fazer muito mais pela filha pois, até ali, fizera de tudo para a encontrar.Mas depois tudo mudou. As notícias davam conta do envolvimento directo da mãe no desaparecimento da pequena Joana. Chegou-se mesmo a falar na venda da menina a um casal de alemães. "Como é que uma mãe pode vender uma filha?!", pensou-se nessa altura. No entanto, o caso era bem mais grave.Leonor Cipriano era agora acusada de ter morto a própria filha e, com a ajuda de um irmão, ocultar o corpo da criança. Esta mulher passou de mãe angustiada a monstro sem coração. E no nosso coração resta agora um sentimento de pena e impotência em relação à pequena e asco em relação àquela mãe.Há um ano, a Associação de Pais da escola que a Joana frequentava fez queixa à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), de Portimão. Alegadamente, esta criança tinha já na altura uma vida dura e era maltratada por aquela que a devia amar mais do que a tudo na vida.Depois do alerta, os técnicos da tal Comissão visitaram a casa da Joana pelo menos duas vezes e não encontraram nada que lhes parecesse suspeito e digno de registo. Como poderiam? Será que estas pessoas pensavam que a mãe iria obrigar a filha a fazer as lides da casa, e bater-lhe caso a menina não obedecesse, em frente delas? Será que estas pessoas achavam que a Joana se ia queixar da vida que levava à frente da mãe?Como não havia indícios de maus tratos, esses técnicos acharam por bem arquivar o caso. E assim a Joana foi esquecida.Um ano volvido, a Joana foi vítima mortal dos mesmos abusos de que já sofria na altura. Mas a culpa não é dos que a negligenciaram. A culpa é, segundo Dulce Rocha (presidente da CPCJ, de Portimão) "obviamente do criminoso". E assim, esta instituição, que fora alertada para o mal de que padecia a pequena Joana e acabou por esquecer a sua situação, lava as mãos da responsabilidade.Também o Ministro da Segurança Social, Família e Criança, Fernando Negrão, diz que a culpa é de todos porque a sociedade não está sensibilizada para este tipo de situações. Então perguntamos: não foi feita uma queixa? Não havia gente que sabia do que a Joana estava a passar e deu a conhecer a situação a quem de direito?A culpa da morte da Joana é do monstro que é a sua mãe, do monstro que é quem com ela colaborou no seu desaparecimento, dos técnicos negligentes que arquivaram o caso e de pessoas como Dulce Rocha e Fernando Negrão que, qual avestruzes, escondem as cabeças na areia e sacodem dos ombros quaisquer responsabilidades.O que nos garante que casos idênticos aos da Joana não poderão acontecer no futuro? Precisamos de pessoas que assumam as responsabilidades e que tenham um espírito aberto para ver o perigo onde ele não parece existir.Em quem vão confiar as crianças maltratadas, se nem com os familiares podem contar? Neste tipo de técnicos "astutos" e "prestáveis"?Haja sensibilidade para não tratar as pessoas como números. A Joana era infeliz, sofria e ninguém quis saber. Pode ser que agora tenha encontrado a paz que há tanto procurava. Esperamos que sim.


Joana Cipriano Guerreiro. Oito anos. Morava com a mãe, com o padrasto e com mais cinco irmãos. Desapareceu num Domingo, dia 12 de Setembro, depois de ter saído de casa a pedido da mãe, para lhe fazer um recado.Durante dias, esta pobre mãe apareceu nos jornais e televisões com um ar que oscilava entre a angústia de ter perdido a filha e a esperança de a recuperar. "De uma forma ou de outra, ela há-de aparecer", dizia numa entrevista...Em todo esse tempo, olhámos para Leonor Cipriano e pensávamos que aquela mãe extremosa não podia fazer muito mais pela filha pois, até ali, fizera de tudo para a encontrar.Mas depois tudo mudou. As notícias davam conta do envolvimento directo da mãe no desaparecimento da pequena Joana. Chegou-se mesmo a falar na venda da menina a um casal de alemães. "Como é que uma mãe pode vender uma filha?!", pensou-se nessa altura. No entanto, o caso era bem mais grave.Leonor Cipriano era agora acusada de ter morto a própria filha e, com a ajuda de um irmão, ocultar o corpo da criança. Esta mulher passou de mãe angustiada a monstro sem coração. E no nosso coração resta agora um sentimento de pena e impotência em relação à pequena e asco em relação àquela mãe.Há um ano, a Associação de Pais da escola que a Joana frequentava fez queixa à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), de Portimão. Alegadamente, esta criança tinha já na altura uma vida dura e era maltratada por aquela que a devia amar mais do que a tudo na vida.Depois do alerta, os técnicos da tal Comissão visitaram a casa da Joana pelo menos duas vezes e não encontraram nada que lhes parecesse suspeito e digno de registo. Como poderiam? Será que estas pessoas pensavam que a mãe iria obrigar a filha a fazer as lides da casa, e bater-lhe caso a menina não obedecesse, em frente delas? Será que estas pessoas achavam que a Joana se ia queixar da vida que levava à frente da mãe?Como não havia indícios de maus tratos, esses técnicos acharam por bem arquivar o caso. E assim a Joana foi esquecida.Um ano volvido, a Joana foi vítima mortal dos mesmos abusos de que já sofria na altura. Mas a culpa não é dos que a negligenciaram. A culpa é, segundo Dulce Rocha (presidente da CPCJ, de Portimão) "obviamente do criminoso". E assim, esta instituição, que fora alertada para o mal de que padecia a pequena Joana e acabou por esquecer a sua situação, lava as mãos da responsabilidade.Também o Ministro da Segurança Social, Família e Criança, Fernando Negrão, diz que a culpa é de todos porque a sociedade não está sensibilizada para este tipo de situações. Então perguntamos: não foi feita uma queixa? Não havia gente que sabia do que a Joana estava a passar e deu a conhecer a situação a quem de direito?A culpa da morte da Joana é do monstro que é a sua mãe, do monstro que é quem com ela colaborou no seu desaparecimento, dos técnicos negligentes que arquivaram o caso e de pessoas como Dulce Rocha e Fernando Negrão que, qual avestruzes, escondem as cabeças na areia e sacodem dos ombros quaisquer responsabilidades.O que nos garante que casos idênticos aos da Joana não poderão acontecer no futuro? Precisamos de pessoas que assumam as responsabilidades e que tenham um espírito aberto para ver o perigo onde ele não parece existir.Em quem vão confiar as crianças maltratadas, se nem com os familiares podem contar? Neste tipo de técnicos "astutos" e "prestáveis"?Haja sensibilidade para não tratar as pessoas como números. A Joana era infeliz, sofria e ninguém quis saber. Pode ser que agora tenha encontrado a paz que há tanto procurava. Esperamos que sim.

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