Assertivo

20-05-2009
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OS PÓS-SOCRÁTICOS
A vitória de Sócrates, para além de corresponder ao triunfo do «político-produto» – pretendendo eu dizer com isto que é um político cuja estratégia se baseia no marketing e na imagem –, significa que o poder político deixará definitivamente de ser um entrave para os grandes interesses económicos que estão a tomar conta do país. Não tenho a mais pequena dúvida de que o PS ganhará as legislativas em 2006 – o que não será difícil, atendendo às trapalhadas deste governo, que é o mais medíocre desde os tempos da revolução –, mas não tenho a certeza de que isso significará uma melhoria substancial na qualidade de vida dos portugueses. Sócrates pode até rodear-se de economistas brilhantes e debelar a crise económica, mas as aspirações social-democratas do eleitorado socialista estão irremediavelmente comprometidas. Vai ser impossível obrigar as empresas a cumprirem qualquer papel em termos de responsabilidade social, porque estas, na sequência da actuação do governo da coligação PSL-PP, vão estar enquadradas por um ordenamento jurídico que lhes garantirá uma certa impunidade e irresponsabilidade social – correspondendo, de resto, ao axioma da maximização dos dividendos, que se tornou no Santo Graal do patronato.
Esta incapacidade de impor ónus ao capital sucederá porque Sócrates não significa qualquer afronta aos interesses instituídos. Para estes pouco importará se o poder está nas mãos do PS ou do PSD. O PS poderá, eventualmente, ser tentado a fazer política social, mas será sempre à custa do orçamento do Estado. Porque as empreses, como referi, não estão dispostas a abrir mão do lucro para garantir benefícios de natureza social. Por seu turno, a sobrecarga do orçamento do Estado obrigará, mais tarde ou mais cedo, a mais medidas de rigor orçamental – o que significa que tudo ficará na mesma!
Existe, por outro lado, uma franja que está satisfeitíssima com a vitória de Sócrates. São os que sempre viveram à sombra dos cargos políticos, que pressurosamente se colocaram ao lado de Sócrates. Narciso Miranda poderá ser um dos principais beneficiários – e quem sabe se as conclusões da comissão política, que o afastou das próximas eleições autárquicas, não poderão ser discretamente esquecidas... Mas há muitos outros, com uma preponderância curiosa na região norte. Orlando Gaspar, Fernando Gomes, Nuno Cardoso, Mário de Almeida, etc. – são estes os grandes vencedores das eleições para o Secretário Geral do PS. Estes, e toda a nossa classe empresarial. Os Belmiros, os Ulrichs e toda essa classe que está a enriquecer por conta da recessão económica, e que verão em Sócrates um interlocutor inofensivo. Dele nunca partirão ameaças de tributação de mais-valias, ou de aumentos do IRC.

OS PÓS-SOCRÁTICOS
A vitória de Sócrates, para além de corresponder ao triunfo do «político-produto» – pretendendo eu dizer com isto que é um político cuja estratégia se baseia no marketing e na imagem –, significa que o poder político deixará definitivamente de ser um entrave para os grandes interesses económicos que estão a tomar conta do país. Não tenho a mais pequena dúvida de que o PS ganhará as legislativas em 2006 – o que não será difícil, atendendo às trapalhadas deste governo, que é o mais medíocre desde os tempos da revolução –, mas não tenho a certeza de que isso significará uma melhoria substancial na qualidade de vida dos portugueses. Sócrates pode até rodear-se de economistas brilhantes e debelar a crise económica, mas as aspirações social-democratas do eleitorado socialista estão irremediavelmente comprometidas. Vai ser impossível obrigar as empresas a cumprirem qualquer papel em termos de responsabilidade social, porque estas, na sequência da actuação do governo da coligação PSL-PP, vão estar enquadradas por um ordenamento jurídico que lhes garantirá uma certa impunidade e irresponsabilidade social – correspondendo, de resto, ao axioma da maximização dos dividendos, que se tornou no Santo Graal do patronato.
Esta incapacidade de impor ónus ao capital sucederá porque Sócrates não significa qualquer afronta aos interesses instituídos. Para estes pouco importará se o poder está nas mãos do PS ou do PSD. O PS poderá, eventualmente, ser tentado a fazer política social, mas será sempre à custa do orçamento do Estado. Porque as empreses, como referi, não estão dispostas a abrir mão do lucro para garantir benefícios de natureza social. Por seu turno, a sobrecarga do orçamento do Estado obrigará, mais tarde ou mais cedo, a mais medidas de rigor orçamental – o que significa que tudo ficará na mesma!
Existe, por outro lado, uma franja que está satisfeitíssima com a vitória de Sócrates. São os que sempre viveram à sombra dos cargos políticos, que pressurosamente se colocaram ao lado de Sócrates. Narciso Miranda poderá ser um dos principais beneficiários – e quem sabe se as conclusões da comissão política, que o afastou das próximas eleições autárquicas, não poderão ser discretamente esquecidas... Mas há muitos outros, com uma preponderância curiosa na região norte. Orlando Gaspar, Fernando Gomes, Nuno Cardoso, Mário de Almeida, etc. – são estes os grandes vencedores das eleições para o Secretário Geral do PS. Estes, e toda a nossa classe empresarial. Os Belmiros, os Ulrichs e toda essa classe que está a enriquecer por conta da recessão económica, e que verão em Sócrates um interlocutor inofensivo. Dele nunca partirão ameaças de tributação de mais-valias, ou de aumentos do IRC.

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