Futebol acima de tudo: Grandes "Estórias" Saltillo

04-10-2009
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Sexta-feira, Maio 11, 2007
Portugal esteve vinte anos sem participar numa fase final de um Campeonato do Mundo de Futebol. A sua primeira e única participação até então remontava a 1966 onde, sob a batuta de Eusébio, Coluna e companhia, os Magriços alcançaram um brilhante terceiro lugar. Em 1984, Portugal conseguiu mais um terceiro lugar, desta feita no Campeonato Europeu, pelo que as expectativas para o Mundial de 1986 no México eram muito elevadas.Portugal apurou-se para a fase final do Campeonato do Mundo com um segundo lugar no grupo de qualificação (que a Alemanha venceu), apenas um ponto à frente do terceiro, a Suécia. A campanha de apuramento foi deveras conturbada e muito irregular; a qualificação só foi assegurada no último jogo, com uma surpreendente vitória em Estugarda, frente à Alemanha (1-0). Foi a primeira vez após 1945 que o conjunto teutónico perdeu um jogo de qualificação em solo pátrio.---O sorteio para a fase final foi pouco positivo, não tanto pelos adversários (Inglaterra, Polónia e Marrocos), mas pelo facto de dois dos jogos serem disputados em altitude, Monterrey e Guadalajara, a mais de 1.600 metros acima do nível do mar. Não foi fácil a vida de José Torres, para escolher os 22 jogadores que iriam ao México. Rui Jordão, um dos melhores marcadores de sempre tinha tido uma época infeliz, marcada por conflitos no seu clube, o Sporting. Manuel Fernandes, o melhor marcador nessa temporada na Liga portuguesa, tinha renunciado à selecção alguns anos antes.---A selecção foi anunciada a 19 de Abril de 1986---Guarda-redes: Manuel Bento, Vítor Damas e Jorge Martins. Defesas: João Pinto, Morato, Venâncio, Inácio, Veloso, José António, Frederico, Álvaro e Sobrinho. Médios: Jaime Magalhães, Carlos Manuel, Jaime Pacheco, André, António Sousa, Futre e José RibeiroAvançados: Diamantino Miranda, Rui Águas e Fernando Gomes----A poucas horas da selecção partir para o México, foi anunciado que Veloso tinha sido apanhado num controlo anti-doping positivo, acusando um anabolizante (Primobolan). O lateral do Benfica foi substituído por Bandeirinha, na madrugada da viagem. O episódio criou bastante tensão entre os jogadores que acreditavam na inocência de Veloso, como mais tarde uma contra-análise viria a provar. A própria viagem para o México foi fonte de discórdia. A Federação escolheu um voo com escalas em Frankfurt e Dallas, em vez de optar por viajar directamente para o México. A selecção instalou-se em Saltillo, onde também estava a equipa inglesa. Para além disso, vários aspectos da preparação foram seriamente negligenciados, nomeadamente a forçosa adaptação à altitude. O hotel estava longe de proporcionar tranquilidade aos jogadores, sempre ao alcance da curiosidade de jornalistas nacionais e estrangeiros. O campo de treinos não oferecia um mínimo de condições, e os jogos de preparação foram realizados com equipas amadoras locais. Mesmo esses jogos foram descuidados; num deles, Diamantino chegou a dar uma entrevista dentro do próprio campo, no decorrer da partida. Estava programado um amigável ante o Chile, mas foi anulado por desavenças em questões financeiras. Circulavam igualmente rumores de envolvimento dos jogadores com prostitutas locais, o que terá criado animosidade telefónica com as famílias em Portugal. A autoridade do chefe da delegação portuguesa Amândio de Carvalho, o vice-presidente federativo, era inexistente, e o presidente Silva Resende estava sempre ausente na cidade do México. A tensão foi aumentando progressivamente no seio dos próprios atletas, até chegar ao ponto de os jogadores ameaçarem fazer greve se os seus prémios de jogo não fossem melhorados. Além disso, alguns membros da comitiva queixaram-se de serem obrigados a fazer publicidade para empresas (designadamente Adidas e a cerveja Cristal, que tinham contratos com a Federação) sem serem remunerados. A 25 de Maio, recusara colectiva para treinar. Num dos treinos seguintes, alguns jogadores utilizaram as camisolas vestidas do avesso, para evitar fazer publicidade rentável para a Federação. Foi neste ambiente de cortar à faca que Portugal entrou na competição. O primeiro jogo foi contra a Inglaterra, em Monterrey. A partida tinha uma grande carga emocional, por tudo o que havia rodeado a preparação, mas também pelo facto de ter sido a equipa inglesa a afastar Portugal da final do Mundial 20 anos antes. Carlos Manuel, que já havia apontado o golo decisivo contra a Alemanha, na fase de qualificação, voltou a marcar, e Portugal venceu por 1-0. O jogo aparentemente mais difícil tinha corrido bem.---Paulo Futre era uma das grandes esperanças portuguesas, sendo considerado pela crítica como uma das possíveis revelações da prova. Mas o treinador deixava bem claro que não o colocaria na equipa principal, embora o anunciasse como "arma secreta". A temível dupla avançada do Porto, Futre e Gomes, nunca jogava em simultâneo. Viria a saber-se mais tarde que Futre não jogava para se obter um equilíbrio entre os jogadores das diferentes equipas portuguesas e evitar conflitos. Bento partiu uma perna durante um treino, possivelmente devido à má qualidade do relvado (nunca mais viria a jogar na selecção).----No segundo jogo, a 7 de Junho, também em Monterrey, Portugal perdeu com a Polónia, uma equipa teoricamente acessível, (1-0), com golo de Smolarek. Tudo ficava assim guardado para o jogo final do grupo com Marrocos, a 11 de Junho, em Guadalajara. Um empate seria suficiente para garantir a qualificação às duas equipas. Portugal perdeu de forma humilhante (3-1), com golos de Khairi (2) e Krimau (Diamantino conseguiu o único tento luso). Fomos último do grupo e consequentemente eliminados. José Torres demitiu-se, Rui Seabra foi o senhor que se seguiu. A maior parte dos jogadores que fizeram greve no México foram excluídos dos jogos de apuramento para o Campeonato da Europa de 1988. Durante dois anos, Portugal foi obrigado a jogar com a sua segunda equipa. Os resultados foram péssimos, incluindo um dos piores resultados de sempre, um empate em casa contra Malta. Seabra viria a ser demitido, sendo substituído por Juca. A selecção foi progressivamente reconstruída, mas durante dez anos Portugal esteve ausente das principais competições internacionais.---Saltillo foi uma página negra na história do futebol luso. A imagem do país saiu manchada, a presença num evento marcante como um Mundial foi um autêntico fiasco. Foram precisos mais 16 anos para que a selecção voltasse ao maior evento do desporto rei. A presença no Mundial 2002 acabaria por ser mais uma desilusão, com inúmeras polémicas à mistura. Em 2006 a história foi bem diferente, Scolari, Ronaldo e companhia guiaram Portugal a um brilhante 4º lugar. O África do Sul 2010 está aí à porta...Etiquetas: Grandes "Estórias", História dos Mundiais, Selecção Portuguesa

Sexta-feira, Maio 11, 2007
Portugal esteve vinte anos sem participar numa fase final de um Campeonato do Mundo de Futebol. A sua primeira e única participação até então remontava a 1966 onde, sob a batuta de Eusébio, Coluna e companhia, os Magriços alcançaram um brilhante terceiro lugar. Em 1984, Portugal conseguiu mais um terceiro lugar, desta feita no Campeonato Europeu, pelo que as expectativas para o Mundial de 1986 no México eram muito elevadas.Portugal apurou-se para a fase final do Campeonato do Mundo com um segundo lugar no grupo de qualificação (que a Alemanha venceu), apenas um ponto à frente do terceiro, a Suécia. A campanha de apuramento foi deveras conturbada e muito irregular; a qualificação só foi assegurada no último jogo, com uma surpreendente vitória em Estugarda, frente à Alemanha (1-0). Foi a primeira vez após 1945 que o conjunto teutónico perdeu um jogo de qualificação em solo pátrio.---O sorteio para a fase final foi pouco positivo, não tanto pelos adversários (Inglaterra, Polónia e Marrocos), mas pelo facto de dois dos jogos serem disputados em altitude, Monterrey e Guadalajara, a mais de 1.600 metros acima do nível do mar. Não foi fácil a vida de José Torres, para escolher os 22 jogadores que iriam ao México. Rui Jordão, um dos melhores marcadores de sempre tinha tido uma época infeliz, marcada por conflitos no seu clube, o Sporting. Manuel Fernandes, o melhor marcador nessa temporada na Liga portuguesa, tinha renunciado à selecção alguns anos antes.---A selecção foi anunciada a 19 de Abril de 1986---Guarda-redes: Manuel Bento, Vítor Damas e Jorge Martins. Defesas: João Pinto, Morato, Venâncio, Inácio, Veloso, José António, Frederico, Álvaro e Sobrinho. Médios: Jaime Magalhães, Carlos Manuel, Jaime Pacheco, André, António Sousa, Futre e José RibeiroAvançados: Diamantino Miranda, Rui Águas e Fernando Gomes----A poucas horas da selecção partir para o México, foi anunciado que Veloso tinha sido apanhado num controlo anti-doping positivo, acusando um anabolizante (Primobolan). O lateral do Benfica foi substituído por Bandeirinha, na madrugada da viagem. O episódio criou bastante tensão entre os jogadores que acreditavam na inocência de Veloso, como mais tarde uma contra-análise viria a provar. A própria viagem para o México foi fonte de discórdia. A Federação escolheu um voo com escalas em Frankfurt e Dallas, em vez de optar por viajar directamente para o México. A selecção instalou-se em Saltillo, onde também estava a equipa inglesa. Para além disso, vários aspectos da preparação foram seriamente negligenciados, nomeadamente a forçosa adaptação à altitude. O hotel estava longe de proporcionar tranquilidade aos jogadores, sempre ao alcance da curiosidade de jornalistas nacionais e estrangeiros. O campo de treinos não oferecia um mínimo de condições, e os jogos de preparação foram realizados com equipas amadoras locais. Mesmo esses jogos foram descuidados; num deles, Diamantino chegou a dar uma entrevista dentro do próprio campo, no decorrer da partida. Estava programado um amigável ante o Chile, mas foi anulado por desavenças em questões financeiras. Circulavam igualmente rumores de envolvimento dos jogadores com prostitutas locais, o que terá criado animosidade telefónica com as famílias em Portugal. A autoridade do chefe da delegação portuguesa Amândio de Carvalho, o vice-presidente federativo, era inexistente, e o presidente Silva Resende estava sempre ausente na cidade do México. A tensão foi aumentando progressivamente no seio dos próprios atletas, até chegar ao ponto de os jogadores ameaçarem fazer greve se os seus prémios de jogo não fossem melhorados. Além disso, alguns membros da comitiva queixaram-se de serem obrigados a fazer publicidade para empresas (designadamente Adidas e a cerveja Cristal, que tinham contratos com a Federação) sem serem remunerados. A 25 de Maio, recusara colectiva para treinar. Num dos treinos seguintes, alguns jogadores utilizaram as camisolas vestidas do avesso, para evitar fazer publicidade rentável para a Federação. Foi neste ambiente de cortar à faca que Portugal entrou na competição. O primeiro jogo foi contra a Inglaterra, em Monterrey. A partida tinha uma grande carga emocional, por tudo o que havia rodeado a preparação, mas também pelo facto de ter sido a equipa inglesa a afastar Portugal da final do Mundial 20 anos antes. Carlos Manuel, que já havia apontado o golo decisivo contra a Alemanha, na fase de qualificação, voltou a marcar, e Portugal venceu por 1-0. O jogo aparentemente mais difícil tinha corrido bem.---Paulo Futre era uma das grandes esperanças portuguesas, sendo considerado pela crítica como uma das possíveis revelações da prova. Mas o treinador deixava bem claro que não o colocaria na equipa principal, embora o anunciasse como "arma secreta". A temível dupla avançada do Porto, Futre e Gomes, nunca jogava em simultâneo. Viria a saber-se mais tarde que Futre não jogava para se obter um equilíbrio entre os jogadores das diferentes equipas portuguesas e evitar conflitos. Bento partiu uma perna durante um treino, possivelmente devido à má qualidade do relvado (nunca mais viria a jogar na selecção).----No segundo jogo, a 7 de Junho, também em Monterrey, Portugal perdeu com a Polónia, uma equipa teoricamente acessível, (1-0), com golo de Smolarek. Tudo ficava assim guardado para o jogo final do grupo com Marrocos, a 11 de Junho, em Guadalajara. Um empate seria suficiente para garantir a qualificação às duas equipas. Portugal perdeu de forma humilhante (3-1), com golos de Khairi (2) e Krimau (Diamantino conseguiu o único tento luso). Fomos último do grupo e consequentemente eliminados. José Torres demitiu-se, Rui Seabra foi o senhor que se seguiu. A maior parte dos jogadores que fizeram greve no México foram excluídos dos jogos de apuramento para o Campeonato da Europa de 1988. Durante dois anos, Portugal foi obrigado a jogar com a sua segunda equipa. Os resultados foram péssimos, incluindo um dos piores resultados de sempre, um empate em casa contra Malta. Seabra viria a ser demitido, sendo substituído por Juca. A selecção foi progressivamente reconstruída, mas durante dez anos Portugal esteve ausente das principais competições internacionais.---Saltillo foi uma página negra na história do futebol luso. A imagem do país saiu manchada, a presença num evento marcante como um Mundial foi um autêntico fiasco. Foram precisos mais 16 anos para que a selecção voltasse ao maior evento do desporto rei. A presença no Mundial 2002 acabaria por ser mais uma desilusão, com inúmeras polémicas à mistura. Em 2006 a história foi bem diferente, Scolari, Ronaldo e companhia guiaram Portugal a um brilhante 4º lugar. O África do Sul 2010 está aí à porta...Etiquetas: Grandes "Estórias", História dos Mundiais, Selecção Portuguesa

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