VERITAS: S. N. S. – 25 anos

13-02-2008
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S. N. S. – 25 anos

Por me parecer actual e cada vez mais pertinente, deixo aqui um texto publicado n’As Beiras em 22-02-2003.

O Serviço Nacional de Saúde Português (SNS) é muito bom. Pesem embora alguns atrasos nas consultas, interesses corporativos que o infiltram, ineficiências de gestão que o depauperam, apetites que desperta e outros acidentes de percurso.

Tem profissionais competentes, dedicados e com espírito de missão. Muitos. E, também, alguns trampolineiros, madraços e oportunistas, como soe acontecer em qualquer sítio. Mas tem sobretudo quem o deprecie por má fé, ignorância ou cupidez.

E, ainda assim, é muito bom.

São muitos os que o atacam, poucos os que o defendem e todos a beneficiar dele. Mais do que mal amado suscita um ódio de estimação. Ingratidão de muitos, maldade de alguns.

Considerado pela OMS o 12.º melhor serviço de saúde mundial, o SNS desperta apetites vorazes. É por isso que, em vez de tentarem melhorar a gestão, pôr cobro a interesses ilegítimos que alimenta, erradicar o parasitismo que o infiltra, é no desmantelamento que os neoliberais pensam.

E então...

Quando um pai vender a motorizada que comprou ao filho, para pagar o tratamento da pneumonia que o rapaz apanhou, vai lastimar-se; quando tiver de se desfazer do automóvel, de cujas prestações se aliviara meses antes, para pagar a operação à vesícula que apoquentou a mulher nos últimos anos, entra em desespero. Dar-se-á conta da tragédia que lhe bateu à porta quando souber que aquela assinatura que fez, debilitado, no papel que a mulher lhe estendeu entre lágrimas, foi a autorizar a hipoteca da casa, para poder pagar os medicamentos e hospitalizações frequentes da doença prolongada que o vitimou, casa que irá ser leiloada por não poder resgatar a hipoteca.

E então se arrependerá de não ter defendido o SNS ou de ter acreditado num partido que lhe prometia liberdade de escolha dos cuidados de saúde. Sabe que não tarda em deixar viúva e filhos sem a casa onde julgou que iriam brincar os netos. Porca de vida. E que raio de gente por quem se deixou induzir. Nem o atestado de indigente que agora lhe dá acesso aos últimos paliativos o desaflige.

E então...

Leva consigo o remorso.

Apostila – Presto a minha homenagem a António Arnaut, ministro responsável pela criação do S.N.S., há 25 anos, e a Fernando Gomes e João Rui Gaspar de Almeida, respectivamente deputados do PCP e do PS, que honradamente o defenderam na A. R..

Posted by carlos_esperanca at setembro 15, 2004 05:55 PM

S. N. S. – 25 anos

Por me parecer actual e cada vez mais pertinente, deixo aqui um texto publicado n’As Beiras em 22-02-2003.

O Serviço Nacional de Saúde Português (SNS) é muito bom. Pesem embora alguns atrasos nas consultas, interesses corporativos que o infiltram, ineficiências de gestão que o depauperam, apetites que desperta e outros acidentes de percurso.

Tem profissionais competentes, dedicados e com espírito de missão. Muitos. E, também, alguns trampolineiros, madraços e oportunistas, como soe acontecer em qualquer sítio. Mas tem sobretudo quem o deprecie por má fé, ignorância ou cupidez.

E, ainda assim, é muito bom.

São muitos os que o atacam, poucos os que o defendem e todos a beneficiar dele. Mais do que mal amado suscita um ódio de estimação. Ingratidão de muitos, maldade de alguns.

Considerado pela OMS o 12.º melhor serviço de saúde mundial, o SNS desperta apetites vorazes. É por isso que, em vez de tentarem melhorar a gestão, pôr cobro a interesses ilegítimos que alimenta, erradicar o parasitismo que o infiltra, é no desmantelamento que os neoliberais pensam.

E então...

Quando um pai vender a motorizada que comprou ao filho, para pagar o tratamento da pneumonia que o rapaz apanhou, vai lastimar-se; quando tiver de se desfazer do automóvel, de cujas prestações se aliviara meses antes, para pagar a operação à vesícula que apoquentou a mulher nos últimos anos, entra em desespero. Dar-se-á conta da tragédia que lhe bateu à porta quando souber que aquela assinatura que fez, debilitado, no papel que a mulher lhe estendeu entre lágrimas, foi a autorizar a hipoteca da casa, para poder pagar os medicamentos e hospitalizações frequentes da doença prolongada que o vitimou, casa que irá ser leiloada por não poder resgatar a hipoteca.

E então se arrependerá de não ter defendido o SNS ou de ter acreditado num partido que lhe prometia liberdade de escolha dos cuidados de saúde. Sabe que não tarda em deixar viúva e filhos sem a casa onde julgou que iriam brincar os netos. Porca de vida. E que raio de gente por quem se deixou induzir. Nem o atestado de indigente que agora lhe dá acesso aos últimos paliativos o desaflige.

E então...

Leva consigo o remorso.

Apostila – Presto a minha homenagem a António Arnaut, ministro responsável pela criação do S.N.S., há 25 anos, e a Fernando Gomes e João Rui Gaspar de Almeida, respectivamente deputados do PCP e do PS, que honradamente o defenderam na A. R..

Posted by carlos_esperanca at setembro 15, 2004 05:55 PM

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