EXPRESSO: Vidas

28-10-2008
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ROSA DO CANTO

Mais séria que o riso

Aparece em dose dupla na SIC mas não cansa ninguém. É das que faz de tudo com empenho e talento

Texto de Marta Romão

ANA BAIÃO

Se ainda havia quem tomasse Rosa do Canto como mais dada à comédia do que a registos sérios, o equívoco desfez-se com a própria a encarregar-se de mostrar que dá conta de outras encomendas, sem tirar o pé do género que lhe trouxe fama com merecido proveito. A prova está na «sitcom» «Não Há Pai» e na novela «Olhar da Serpente» (ambas da SIC) onde a actriz se divide entre Fátima, uma nova-rica com graça, e Dulce, uma dona de casa vítima de violência doméstica. Mas Rosa nunca duvidou que seria capaz de tudo:

A ironia maior é que ela sempre preferiu papéis dramáticos. Diz que lhe é mais fácil fazer chorar do que arrancar uma gargalhada ao público. De uma forma inteligente, que fique assente. «Sim, porque as pessoas rirem-se quando vêem um actor levar com um bolo na cara não é complicado». Podia parecer estranho para quem se habituou a vê-la em teatro de revista ou em «sitcoms» diversas, mas a verdade é que Rosa não destoa quando assume um ar mais grave no «Olhar da Serpente». A sua personagem vive em crise, no seio de um casamento infeliz com um homem agressivo, o que lhe tem valido momentos carregados de tensão: «Lembro-me de uma cena em que o Luís Vicente tinha que me bater. Ele entusiasmou-se e magoou-me a sério e eu acabei por agredi-lo também. Quando parei de gravar, estive a tremer durante algum tempo. Mas acho que a cena ficou a ganhar».

Já em «Não Há Pai», o drama toma proporções diferentes: o de representar em directo e ao vivo. Ela só participa na «sitcom» duas vezes por semana, mas partilha com o elenco a ansiedade dos minutos que antecedem o início de cada episódio. E garante que não é para todos: «É um milagre diário. Muitas vezes, eles vão para o 'plateau' com dois ensaios. Os textos são entregues no próprio dia e não há tempo para estudar. Por isso, não tenho dúvidas em dizer que o melhor actor do mundo é o português».

Natural de Ponte da Barca, no Alto Minho, Rosa foi trazida pela família para Lisboa quando completou um ano. Viveu entre Alfama, a Sé e a Graça e, aos seis anos, já estudava música com um professor particular. Passou a infância e a adolescência a cantarolar, por brincadeira, sem ambição nem repertório próprio. Até o interesse pela escola diminuir, à medida que subia o entusiasmo por subir ao palco em espectáculos de casinos. Aos 20 anos, começa a cantar no teatro da revista. Correu tudo mal. «Odiei o ambiente. As peças eram muito politizadas naquela altura, umas muito viradas à direita, outras à esquerda. Os próprios colegas tinham uma linguagem com a qual não me identificava muito».

Ficou-se só pela música, até ser vista pelo Badaró num espectáculo no Casino de Espinho. Tinha 26 anos e, depois de um teste com Varela Silva, foi convidada logo para protagonista da peça Tu e Eu Somos Três, no Parque Mayer. «Tive críticas fabulosas, como nunca mais tive na vida», ri-se ela. A profissão ficou escolhida mesmo ali, até porque, daí para a frente, apareceram mais propostas. Orgulha-se de ter trabalhado com os melhores actores do nosso país, mas não guarda boas recordações da peça em que dividiu o palco com Laura Alves. «Sempre a respeitei e admirei muito, mas naquela altura ela já estava bastante doente. Via-a esconder-se atrás dacortina com medo de representar e isso fez-me pensar que não quero nunca que o público tenha pena de mim. Nós, actores, temos que exigir a admiração do público. Se não a merecemos é porque não somos nada e o melhor é mudar de profissão».

Na televisão, estreou-se com uma peça de teatro, Terra Firme, de Miguel Torga, e fez várias novelas e séries cómicas, tendo Fernando Mendes como um dos seus parceiros mais regulares. Admiradora assumida do talento dele e sua amiga do peito, Rosa admite que ser vista sempre a seu lado teve o seu quê de incómodo: «Houve uma altura em que achei que as pessoas pensavam que eu estava a aproveitar-me dele, que vivia à sua custa. A verdade é que qualquer actor que esteja com ele em palco trabalha na sua sombra, porque ele é brilhante. Sempre achei que o Fernando tinha mais graça do que eu, isso nunca me fez confusão, mas precisava de provar que sabia fazer coisas sozinha». E por já ter conseguido, vai voltar a fazer com ele, Carlos e Cristina Areia, o espectáculo itinerante Isto É Revista, lá mais para o Verão. Mas antes ainda conta subir ao palco do Teatro Há-de Ver com a peça Não Venhas Atrás de Mim!, encenada por Fernando Gomes e com estreia apontada para a segunda quinzena de Janeiro. O tempo que sobrar é para a leitura, a música e os amigos. Faz ela bem.

ROSA DO CANTO

Mais séria que o riso

Aparece em dose dupla na SIC mas não cansa ninguém. É das que faz de tudo com empenho e talento

Texto de Marta Romão

ANA BAIÃO

Se ainda havia quem tomasse Rosa do Canto como mais dada à comédia do que a registos sérios, o equívoco desfez-se com a própria a encarregar-se de mostrar que dá conta de outras encomendas, sem tirar o pé do género que lhe trouxe fama com merecido proveito. A prova está na «sitcom» «Não Há Pai» e na novela «Olhar da Serpente» (ambas da SIC) onde a actriz se divide entre Fátima, uma nova-rica com graça, e Dulce, uma dona de casa vítima de violência doméstica. Mas Rosa nunca duvidou que seria capaz de tudo:

A ironia maior é que ela sempre preferiu papéis dramáticos. Diz que lhe é mais fácil fazer chorar do que arrancar uma gargalhada ao público. De uma forma inteligente, que fique assente. «Sim, porque as pessoas rirem-se quando vêem um actor levar com um bolo na cara não é complicado». Podia parecer estranho para quem se habituou a vê-la em teatro de revista ou em «sitcoms» diversas, mas a verdade é que Rosa não destoa quando assume um ar mais grave no «Olhar da Serpente». A sua personagem vive em crise, no seio de um casamento infeliz com um homem agressivo, o que lhe tem valido momentos carregados de tensão: «Lembro-me de uma cena em que o Luís Vicente tinha que me bater. Ele entusiasmou-se e magoou-me a sério e eu acabei por agredi-lo também. Quando parei de gravar, estive a tremer durante algum tempo. Mas acho que a cena ficou a ganhar».

Já em «Não Há Pai», o drama toma proporções diferentes: o de representar em directo e ao vivo. Ela só participa na «sitcom» duas vezes por semana, mas partilha com o elenco a ansiedade dos minutos que antecedem o início de cada episódio. E garante que não é para todos: «É um milagre diário. Muitas vezes, eles vão para o 'plateau' com dois ensaios. Os textos são entregues no próprio dia e não há tempo para estudar. Por isso, não tenho dúvidas em dizer que o melhor actor do mundo é o português».

Natural de Ponte da Barca, no Alto Minho, Rosa foi trazida pela família para Lisboa quando completou um ano. Viveu entre Alfama, a Sé e a Graça e, aos seis anos, já estudava música com um professor particular. Passou a infância e a adolescência a cantarolar, por brincadeira, sem ambição nem repertório próprio. Até o interesse pela escola diminuir, à medida que subia o entusiasmo por subir ao palco em espectáculos de casinos. Aos 20 anos, começa a cantar no teatro da revista. Correu tudo mal. «Odiei o ambiente. As peças eram muito politizadas naquela altura, umas muito viradas à direita, outras à esquerda. Os próprios colegas tinham uma linguagem com a qual não me identificava muito».

Ficou-se só pela música, até ser vista pelo Badaró num espectáculo no Casino de Espinho. Tinha 26 anos e, depois de um teste com Varela Silva, foi convidada logo para protagonista da peça Tu e Eu Somos Três, no Parque Mayer. «Tive críticas fabulosas, como nunca mais tive na vida», ri-se ela. A profissão ficou escolhida mesmo ali, até porque, daí para a frente, apareceram mais propostas. Orgulha-se de ter trabalhado com os melhores actores do nosso país, mas não guarda boas recordações da peça em que dividiu o palco com Laura Alves. «Sempre a respeitei e admirei muito, mas naquela altura ela já estava bastante doente. Via-a esconder-se atrás dacortina com medo de representar e isso fez-me pensar que não quero nunca que o público tenha pena de mim. Nós, actores, temos que exigir a admiração do público. Se não a merecemos é porque não somos nada e o melhor é mudar de profissão».

Na televisão, estreou-se com uma peça de teatro, Terra Firme, de Miguel Torga, e fez várias novelas e séries cómicas, tendo Fernando Mendes como um dos seus parceiros mais regulares. Admiradora assumida do talento dele e sua amiga do peito, Rosa admite que ser vista sempre a seu lado teve o seu quê de incómodo: «Houve uma altura em que achei que as pessoas pensavam que eu estava a aproveitar-me dele, que vivia à sua custa. A verdade é que qualquer actor que esteja com ele em palco trabalha na sua sombra, porque ele é brilhante. Sempre achei que o Fernando tinha mais graça do que eu, isso nunca me fez confusão, mas precisava de provar que sabia fazer coisas sozinha». E por já ter conseguido, vai voltar a fazer com ele, Carlos e Cristina Areia, o espectáculo itinerante Isto É Revista, lá mais para o Verão. Mas antes ainda conta subir ao palco do Teatro Há-de Ver com a peça Não Venhas Atrás de Mim!, encenada por Fernando Gomes e com estreia apontada para a segunda quinzena de Janeiro. O tempo que sobrar é para a leitura, a música e os amigos. Faz ela bem.

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