Rabiscos e Garatujas: Fé e religiosidade

30-09-2009
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Quando descobri a Bíblia nunca mais me separei dela. Lia e relia avidamente os livros do Velho Testamento. Gostava também, embora não tanto, do Novo Testamento. Procurava seguir os exemplos de alguns santos, tinha como modelos algumas personagens da Condessa de Ségur e foi uma loucura quando li As Memórias da Irmã Lúcia. Com 9 anos contei a história da paixão de Cristo aos meus irmãos semi-analfabetos. A emoção foi tanta que a mãe me tirou a Bíblia das mãos e a escondeu durante algum tempo. Fazia sacrifícios. Mais interiores do que propriamente corporais. Gostava de ir à missa em jejum para sentir na plenitude o corpo do Senhor dentro do meu. Tomava a hóstia duas vezes, porque ia a duas missas aos Domingos. O padre sorria e nunca mas negou. Depois pensei em ser freira, mas sabia que as inquietudes do corpo já adolescente nunca me deixariam respeitar inteiramente os votos de castidade. Lia os panfletos que as Testemunhas de Jeová me entregavam, lia livros sobre o judaísmo, budismo, islamismo, hinduísmo e artigos científicos sobre a inexistência de Deus. Eu era católica mas não era católica. Não compreendia que um Deus-Amor criasse um Diabo e um Inferno, as desigualdades sociais, a doença. Não compreendia um Deus-Amor vingativo, invejoso, caprichoso. Não compreendia a Santíssima Trindade. Não compreendia a salvação apenas para os baptizados e a recusa da entrada no Paraíso a todos os que professassem outro credo. Não compreendia nem acreditava.Depois descobri o Espiritismo, como confessei aqui e aqui. E fez-se luz. Ciência, Moral, Filosofia. Já não sou beata, nem papa-hóstias, nem rata de sacristia. Sinto-me livre. Responsavelmente livre. E consolada.Os meus Manelinhos não têm uma educação católica. Não têm medo do Inferno. Sabem que errar é humano. E que há sempre uma nova oportunidade. Falo-lhes do que acredito e ignoro se um dia acreditarão também. Não os atemorizo com isso, como antes faziam os pais aos filhos.Não pertenço ao grupo de crentes que se preocupa em provar a existência de Deus. Nem pretendo convencer ninguém a seguir o meu credo. Nem fico triste quando os meus afectos me confessam a sua incredulidade. E quem me conhece sabe que assim é. A única coisa que me irrita é que se benzam ou se assustem quando digo que sou espírita. A única coisa que me irrita é o preconceito. Porque preconceito é, para mim, sinónimo de ignorância. ... e a ignorância irrita-me profundamente...


Quando descobri a Bíblia nunca mais me separei dela. Lia e relia avidamente os livros do Velho Testamento. Gostava também, embora não tanto, do Novo Testamento. Procurava seguir os exemplos de alguns santos, tinha como modelos algumas personagens da Condessa de Ségur e foi uma loucura quando li As Memórias da Irmã Lúcia. Com 9 anos contei a história da paixão de Cristo aos meus irmãos semi-analfabetos. A emoção foi tanta que a mãe me tirou a Bíblia das mãos e a escondeu durante algum tempo. Fazia sacrifícios. Mais interiores do que propriamente corporais. Gostava de ir à missa em jejum para sentir na plenitude o corpo do Senhor dentro do meu. Tomava a hóstia duas vezes, porque ia a duas missas aos Domingos. O padre sorria e nunca mas negou. Depois pensei em ser freira, mas sabia que as inquietudes do corpo já adolescente nunca me deixariam respeitar inteiramente os votos de castidade. Lia os panfletos que as Testemunhas de Jeová me entregavam, lia livros sobre o judaísmo, budismo, islamismo, hinduísmo e artigos científicos sobre a inexistência de Deus. Eu era católica mas não era católica. Não compreendia que um Deus-Amor criasse um Diabo e um Inferno, as desigualdades sociais, a doença. Não compreendia um Deus-Amor vingativo, invejoso, caprichoso. Não compreendia a Santíssima Trindade. Não compreendia a salvação apenas para os baptizados e a recusa da entrada no Paraíso a todos os que professassem outro credo. Não compreendia nem acreditava.Depois descobri o Espiritismo, como confessei aqui e aqui. E fez-se luz. Ciência, Moral, Filosofia. Já não sou beata, nem papa-hóstias, nem rata de sacristia. Sinto-me livre. Responsavelmente livre. E consolada.Os meus Manelinhos não têm uma educação católica. Não têm medo do Inferno. Sabem que errar é humano. E que há sempre uma nova oportunidade. Falo-lhes do que acredito e ignoro se um dia acreditarão também. Não os atemorizo com isso, como antes faziam os pais aos filhos.Não pertenço ao grupo de crentes que se preocupa em provar a existência de Deus. Nem pretendo convencer ninguém a seguir o meu credo. Nem fico triste quando os meus afectos me confessam a sua incredulidade. E quem me conhece sabe que assim é. A única coisa que me irrita é que se benzam ou se assustem quando digo que sou espírita. A única coisa que me irrita é o preconceito. Porque preconceito é, para mim, sinónimo de ignorância. ... e a ignorância irrita-me profundamente...

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