CART.3514 "panteras negras": Estórias de Évora (1)

24-07-2009
marcar artigo


Mapa da zona envolvente do Pólo Universitário na herdade da Mitra onde fizemos o I.A.O. em Dez. de 1971 Imagem obtida no penúltimo dia de I.A.O na Herdade da Mitra nas proximidades de Évora com alguns camaradas furriéis da Cart 3514 - Fila1: Duarte, Pereirinha e Soares. Fila2: Carvalho, Marques, Raul de Sousa e Medeiros. Fila3: Arlindo de Sousa, Barros, Monteiro e RamalhosaDezembro de 197137 anos depois, parece que foi ontem, estávamos no RAL3 em Évora, praticamente no final da formação, preparação e instrução da Companhia, com embarque para Angola, previsto para Janeiro de 1972. Tínhamos iniciado a semana de campo nos primeiros dias de Dezembro, nesta época o Alentejo é muito frio, a paisagem monótona e agreste da manhã, com os campos cobertos dum manto branco de geada e o ar gélido, eram o inimigo principal dos cento e setenta homens que compunham o efectivo da Cart3514. Acampados no mato, em tendas de três panos, muito rudimentares, com muito pouco, ou nenhum conforto, mal agasalhados e alimentados, ali para os lados de Valverde, na Herdade Estatal da Mitra a fazer o I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), em manobras e exercícios militares com fogo real, que antecedia a partida para a Campanha Ultramarina. Lembro hoje aqui alguns episódios com a sua graça, mas descabidos, reconheço, próprios da nossa juventude, passados nessa longa e penosa semana.Todas as madrugadas saía uma viatura para Évora buscar o pão, e num dos regressos o Beja que já tinha em dias anteriores estudado um "objectivo" á beira do caminho, aliciou os camaradas, Medeiros, Carrilho, Milo e o Revés, a fazerem um golpe de mão num galinheiro do Monte das Flores, aproveitando a penumbra da alvorada, conseguiram chegar ao interior através duma entrada nauseabunda, de escoamento de água e dejectos, a operação esteve em risco de abortar, mas o sacrifício e a vontade inabalável do Revés, rendeu meia dúzia de galinhas e um ganso, que marcharam em silêncio, para a cozinha do acampamento. Era Sábado, e outro golpe já estava em marcha, este engendrado pelo Manel Parreira e pelo Parreirinha das Trms. que era doido por caça. Na periferia da Herdade da Mitra, existia um "couto de reserva" onde havia coelhos aos pontapés, simulando uma qualquer patrulha ou operação de rotina, uma meia dúzia de companheiros de G3 na mão, invadiram a herdade, atrás dos orelhudos, alguns a tiro, outros arrancados das locas, fendas e cavidades entre as pedras, com um primitivo arpejo de arame farpado, muito em uso no Alentejo. No regresso, com as mochilas bem abonadas, somos interceptados pelo IN, um Guarda Florestal responsável pelo couto atravessa-se á nossa frente, e do alto da sua montada, espingarda em riste, berra ao pessoal, estão lixados, isto é uma propriedade privada, vocês não podem andar aqui aos tiros e a caçar, o Manel Parreira que se tinha emboscado atrás duma giesteira, numa manobra de dissuasão, lança uma granada de instrução, para as patas do cavalo, a explosão o pó e a confusão, espantam o animal que arranca a galope matagal abaixo, com o Guarda pendurado na garupa. No dia seguinte Domingo, em concluiu com os cozinheiros, os coelhos as galinhas e o ganso, acabaram de reforço ao rancho para o almoço. A meio da manhã o tacho começa a cheirar a esturro, uma queixa do Q.G. chega ao Comandante da Companhia, acerca da invasão abusiva da Herdade, motivo pela qual fomos avisados e advertidos das consequências do acto, mas como estavam no campo mais duas companhias a 3515 e a 3516 também em exercícios e manobras, não seria fácil chegar aos autores da delituosa ocorrência, ficámos á vontade, não de consciência tranquila como é óbvio. Toca o clarim para o almoço e para nosso espanto, o nosso Capitão aparece acompanhado do Comandante do RAL3 e sentam-se á mesa, instala-se o "pânico" entre os artistas do dia anterior, só havia uma saída, comer e calar, também o nosso "Maior" ficou mudo e quedo quando detectou no prato, carne de caça, pelo contrário, o Com. do RAL3, raposa velha e astuto, com muitos anos de tarimba naquele ripado, saboreou o repasto com prazer, fazendo no final um breve discurso de circunstância, com alguma ironia á mistura sobre o menu, sorriu e agradeceu a deferência, pela qualidade do rancho com que foi presenteado, chegando mesmo a questionar se tinham adivinhado a sua presença no almoço...! Hoje dá vontade de rir, mas aquele almoço foi dos mais difíceis de roer e de engolir....!


Mapa da zona envolvente do Pólo Universitário na herdade da Mitra onde fizemos o I.A.O. em Dez. de 1971 Imagem obtida no penúltimo dia de I.A.O na Herdade da Mitra nas proximidades de Évora com alguns camaradas furriéis da Cart 3514 - Fila1: Duarte, Pereirinha e Soares. Fila2: Carvalho, Marques, Raul de Sousa e Medeiros. Fila3: Arlindo de Sousa, Barros, Monteiro e RamalhosaDezembro de 197137 anos depois, parece que foi ontem, estávamos no RAL3 em Évora, praticamente no final da formação, preparação e instrução da Companhia, com embarque para Angola, previsto para Janeiro de 1972. Tínhamos iniciado a semana de campo nos primeiros dias de Dezembro, nesta época o Alentejo é muito frio, a paisagem monótona e agreste da manhã, com os campos cobertos dum manto branco de geada e o ar gélido, eram o inimigo principal dos cento e setenta homens que compunham o efectivo da Cart3514. Acampados no mato, em tendas de três panos, muito rudimentares, com muito pouco, ou nenhum conforto, mal agasalhados e alimentados, ali para os lados de Valverde, na Herdade Estatal da Mitra a fazer o I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), em manobras e exercícios militares com fogo real, que antecedia a partida para a Campanha Ultramarina. Lembro hoje aqui alguns episódios com a sua graça, mas descabidos, reconheço, próprios da nossa juventude, passados nessa longa e penosa semana.Todas as madrugadas saía uma viatura para Évora buscar o pão, e num dos regressos o Beja que já tinha em dias anteriores estudado um "objectivo" á beira do caminho, aliciou os camaradas, Medeiros, Carrilho, Milo e o Revés, a fazerem um golpe de mão num galinheiro do Monte das Flores, aproveitando a penumbra da alvorada, conseguiram chegar ao interior através duma entrada nauseabunda, de escoamento de água e dejectos, a operação esteve em risco de abortar, mas o sacrifício e a vontade inabalável do Revés, rendeu meia dúzia de galinhas e um ganso, que marcharam em silêncio, para a cozinha do acampamento. Era Sábado, e outro golpe já estava em marcha, este engendrado pelo Manel Parreira e pelo Parreirinha das Trms. que era doido por caça. Na periferia da Herdade da Mitra, existia um "couto de reserva" onde havia coelhos aos pontapés, simulando uma qualquer patrulha ou operação de rotina, uma meia dúzia de companheiros de G3 na mão, invadiram a herdade, atrás dos orelhudos, alguns a tiro, outros arrancados das locas, fendas e cavidades entre as pedras, com um primitivo arpejo de arame farpado, muito em uso no Alentejo. No regresso, com as mochilas bem abonadas, somos interceptados pelo IN, um Guarda Florestal responsável pelo couto atravessa-se á nossa frente, e do alto da sua montada, espingarda em riste, berra ao pessoal, estão lixados, isto é uma propriedade privada, vocês não podem andar aqui aos tiros e a caçar, o Manel Parreira que se tinha emboscado atrás duma giesteira, numa manobra de dissuasão, lança uma granada de instrução, para as patas do cavalo, a explosão o pó e a confusão, espantam o animal que arranca a galope matagal abaixo, com o Guarda pendurado na garupa. No dia seguinte Domingo, em concluiu com os cozinheiros, os coelhos as galinhas e o ganso, acabaram de reforço ao rancho para o almoço. A meio da manhã o tacho começa a cheirar a esturro, uma queixa do Q.G. chega ao Comandante da Companhia, acerca da invasão abusiva da Herdade, motivo pela qual fomos avisados e advertidos das consequências do acto, mas como estavam no campo mais duas companhias a 3515 e a 3516 também em exercícios e manobras, não seria fácil chegar aos autores da delituosa ocorrência, ficámos á vontade, não de consciência tranquila como é óbvio. Toca o clarim para o almoço e para nosso espanto, o nosso Capitão aparece acompanhado do Comandante do RAL3 e sentam-se á mesa, instala-se o "pânico" entre os artistas do dia anterior, só havia uma saída, comer e calar, também o nosso "Maior" ficou mudo e quedo quando detectou no prato, carne de caça, pelo contrário, o Com. do RAL3, raposa velha e astuto, com muitos anos de tarimba naquele ripado, saboreou o repasto com prazer, fazendo no final um breve discurso de circunstância, com alguma ironia á mistura sobre o menu, sorriu e agradeceu a deferência, pela qualidade do rancho com que foi presenteado, chegando mesmo a questionar se tinham adivinhado a sua presença no almoço...! Hoje dá vontade de rir, mas aquele almoço foi dos mais difíceis de roer e de engolir....!

marcar artigo