Philip Agee

23-02-2008
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Edição 1839

Philip Agee

1935-2007 Ex-agente da CIA, em 1975 publicou um livro onde expunha a identidade de informadores e empresas de fachada. Demitira-se em 1969, declarando indignação moral Philip Burnett Franklin Agee, agente renegado da CIA que morreu de peritonite no dia 7 deste mês em Havana, Cuba, para onde gostava de se mudar nos meses de Inverno do seu apartamento de Hamburgo, ganhara renome internacional a seguir à publicação, em 1975, do livro ‘Dentro da companhia: diário da CIA’ com o qual entrara na galeria de traidores, agentes duplos, trânsfugas de várias fés e proveniências que são parte integrante da história da informação e da espionagem desde que o mundo é mundo - ou, pelo menos, desde que se divide em tribos e credos. Philip Burnett Franklin Agee, agente renegado da CIA que morreu de peritonite no dia 7 deste mês em Havana, Cuba, para onde gostava de se mudar nos meses de Inverno do seu apartamento de Hamburgo, ganhara renome internacional a seguir à publicação, em 1975, do livro ‘Dentro da companhia: diário da CIA’ com o qual entrara na galeria de traidores, agentes duplos, trânsfugas de várias fés e proveniências que são parte integrante da história da informação e da espionagem desde que o mundo é mundo - ou, pelo menos, desde que se divide em tribos e credos. 1975 era um ano receptivo às inconfidências de Agee sobre a CIA e os seus agentes. A guerra do Vietname desmoralizara os americanos e tornara-os impopulares; Watergate desacreditara ainda mais as altas esferas do poder político em Washington. Na confrontação existencial da Guerra Fria, Moscovo aproveitava-se de tais fragilidades e a sua propaganda influenciava estudantes e partidos políticos europeus. O livro, incluindo a revelação dos nomes, moradas e telefones de umas duzentas e cinquenta pessoas que trabalhavam para a CIA - bem como das empresas que serviam de fachadas - causou grande prejuízo. Não tanto por revelar e comprometer operações em curso: Agee demitira-se em 1969, declarando indignação moral com procedimentos da Agência, expatriara-se a seguir e não se calara entretanto, o que dera algum tempo às autoridades americanas para emendarem a mão em casos melindrosos. Mas a revelação no livro, em mais dois volumes, publicado em 1978-79, e em panfletos periódicos, de milhares de nomes de agentes secretos americanos e estrangeiros, alguns recrutados com grande risco para si próprios na União Soviética e em países de Leste da Europa, fez grande estrago, causando mesmo a morte de alguns deles. Agee negou sempre ter denunciado Richard Welch, chefe da estação da CIA em Atenas, assassinado pelo grupo terrorista grego ‘17 de Novembro’ em 1975, mas não convenceu as autoridades americanas. Dois agentes secretos polacos, traídos por Agee, tiveram morte macaca. O efeito geral foi tão devastador que, em 1982, o Congresso americano passou legislação que fez da revelação da identidade de um agente secreto um crime. (No ano passado, durante investigação sobre possível violação dessa lei no caso da agente secreta Valerie Plame, casada com um inimigo político do Presidente Bush, o chefe de gabinete do vice-presidente Cheney foi condenado por perjúrio). Philip Agee, que nascera em família próspera da Florida, fora educado num colégio de jesuítas onde ajudava à missa e na universidade católica de Notre Dame. Pouco depois de formado, a CIA recrutara-o e viria a ser colocado na América Latina: Equador, Uruguai, México. A pouco e pouco, chocado pela gente a quem a CIA dava apoio, indignado por barbaridades que a agência ajudava a cometer foi-se desencantando. Uma namorada brasileira, devota de Guevara, havia sido torturada em S. Paulo. Em Montevideu, ouvira os gritos de um preso cujo nome indicara à polícia. Acabou por partir em cruzada contra a agência. Mas, ao mesmo tempo, estabelecera em segredo ligações com os serviços de informação do outro lado. Pretendeu sempre não o ter feito mas mentia, como vieram a provar testemunhos de ex-agentes soviéticos e documentos compilados depois do colapso da União Soviética. Em vez de clareza, houvera nevoeiro moral. Acontece. Philby, agente secreto soviético célebre que chegou quase a chefe da contra-espionagem britânica e que, postumamente, Moscovo homenageou com um selo, morreu convencido de que ajudara o progresso da humanidade. No cimo do Estado, Miguel de Vasconcelos e Pétain consideravam-se patriotas. Graham Greene ganhou glória literária enaltecendo ambivalências assim. Há outra visão da traição, como uma actriz shakespeariana, em digressão por Moscovo, lembrou a Guy Burgess, cúmplice de Philby também refugiado na União Soviética, que lá a quisera encontrar. “Você mijou na nossa sopa e a gente comeu-a”. OBITUÁRIO

Ivone Dias Lourenço

1937-2008 Membro do Partido Comunista Português desde 1953, dedicou a vida à luta pela liberdade e pela democracia. Participou no MUD na primeira metade da década de 50, foi membro do Comité Local do Porto e desempenhou, ainda antes do 25 de Abril, várias tarefas ligadas ao aparelho técnico do PCP. Viveu na clandestinidade de 1955 a 1957, foi detida pela PIDE por actividades subversivas, e passou sete anos na prisão. Era secretária da redacção do órgão central do PCP, desde 1975. Dia 24, em Lisboa, de cancro. Fernando Cabral

1929-2008 Ex-presidente da Câmara do Porto, foi membro do núcleo fundador do PPD de Francisco Sá Carneiro. Bateu o pé à EDP, comprou o Rivoli para impedir que este teatro fosse destruído, lançou a construção de obras como a Via da Cintura Interna, e deixou os cofres do município cheios. Era um dos mais conceituados advogados da cidade. Dia 20, no Porto, de cancro. Heath Ledger

1980-2008 Actor australiano. Ver mais em www.expresso.pt

Manuel Dionísio (1955-2008), escritor e jornalista, um dos ‘mestres’ do jornalismo angolano, em Lisboa, de cancro Ugo Pirro (1921-2008), argumentista italiano, autor do filme ‘Um Cidadão acima de Qualquer Suspeita’, de 1970, em Roma, de doença Duilio Loi (1920-2008), italiano, ex-campeão mundial de boxe, em Treviso, Itália, de Alzheimer Suzanne Pleshette (1938-2008), actriz norte-americana do filme ‘Pássaros’, de Hitchcock, nos EUA, ver mais em www.expresso.pt, Adriano Gonzalez Leon (1931-2008), um dos grandes escritores venezuelanos, na Venezuela, de ataque cardíaco Luiz Carlos Tourinho (1965-2008), actor brasileiro, o ‘Nezinho’ da telenovela ‘Desejo Proibido’, no Rio de Janeiro, de aneurisma cerebral.

Edição 1839

Philip Agee

1935-2007 Ex-agente da CIA, em 1975 publicou um livro onde expunha a identidade de informadores e empresas de fachada. Demitira-se em 1969, declarando indignação moral Philip Burnett Franklin Agee, agente renegado da CIA que morreu de peritonite no dia 7 deste mês em Havana, Cuba, para onde gostava de se mudar nos meses de Inverno do seu apartamento de Hamburgo, ganhara renome internacional a seguir à publicação, em 1975, do livro ‘Dentro da companhia: diário da CIA’ com o qual entrara na galeria de traidores, agentes duplos, trânsfugas de várias fés e proveniências que são parte integrante da história da informação e da espionagem desde que o mundo é mundo - ou, pelo menos, desde que se divide em tribos e credos. Philip Burnett Franklin Agee, agente renegado da CIA que morreu de peritonite no dia 7 deste mês em Havana, Cuba, para onde gostava de se mudar nos meses de Inverno do seu apartamento de Hamburgo, ganhara renome internacional a seguir à publicação, em 1975, do livro ‘Dentro da companhia: diário da CIA’ com o qual entrara na galeria de traidores, agentes duplos, trânsfugas de várias fés e proveniências que são parte integrante da história da informação e da espionagem desde que o mundo é mundo - ou, pelo menos, desde que se divide em tribos e credos. 1975 era um ano receptivo às inconfidências de Agee sobre a CIA e os seus agentes. A guerra do Vietname desmoralizara os americanos e tornara-os impopulares; Watergate desacreditara ainda mais as altas esferas do poder político em Washington. Na confrontação existencial da Guerra Fria, Moscovo aproveitava-se de tais fragilidades e a sua propaganda influenciava estudantes e partidos políticos europeus. O livro, incluindo a revelação dos nomes, moradas e telefones de umas duzentas e cinquenta pessoas que trabalhavam para a CIA - bem como das empresas que serviam de fachadas - causou grande prejuízo. Não tanto por revelar e comprometer operações em curso: Agee demitira-se em 1969, declarando indignação moral com procedimentos da Agência, expatriara-se a seguir e não se calara entretanto, o que dera algum tempo às autoridades americanas para emendarem a mão em casos melindrosos. Mas a revelação no livro, em mais dois volumes, publicado em 1978-79, e em panfletos periódicos, de milhares de nomes de agentes secretos americanos e estrangeiros, alguns recrutados com grande risco para si próprios na União Soviética e em países de Leste da Europa, fez grande estrago, causando mesmo a morte de alguns deles. Agee negou sempre ter denunciado Richard Welch, chefe da estação da CIA em Atenas, assassinado pelo grupo terrorista grego ‘17 de Novembro’ em 1975, mas não convenceu as autoridades americanas. Dois agentes secretos polacos, traídos por Agee, tiveram morte macaca. O efeito geral foi tão devastador que, em 1982, o Congresso americano passou legislação que fez da revelação da identidade de um agente secreto um crime. (No ano passado, durante investigação sobre possível violação dessa lei no caso da agente secreta Valerie Plame, casada com um inimigo político do Presidente Bush, o chefe de gabinete do vice-presidente Cheney foi condenado por perjúrio). Philip Agee, que nascera em família próspera da Florida, fora educado num colégio de jesuítas onde ajudava à missa e na universidade católica de Notre Dame. Pouco depois de formado, a CIA recrutara-o e viria a ser colocado na América Latina: Equador, Uruguai, México. A pouco e pouco, chocado pela gente a quem a CIA dava apoio, indignado por barbaridades que a agência ajudava a cometer foi-se desencantando. Uma namorada brasileira, devota de Guevara, havia sido torturada em S. Paulo. Em Montevideu, ouvira os gritos de um preso cujo nome indicara à polícia. Acabou por partir em cruzada contra a agência. Mas, ao mesmo tempo, estabelecera em segredo ligações com os serviços de informação do outro lado. Pretendeu sempre não o ter feito mas mentia, como vieram a provar testemunhos de ex-agentes soviéticos e documentos compilados depois do colapso da União Soviética. Em vez de clareza, houvera nevoeiro moral. Acontece. Philby, agente secreto soviético célebre que chegou quase a chefe da contra-espionagem britânica e que, postumamente, Moscovo homenageou com um selo, morreu convencido de que ajudara o progresso da humanidade. No cimo do Estado, Miguel de Vasconcelos e Pétain consideravam-se patriotas. Graham Greene ganhou glória literária enaltecendo ambivalências assim. Há outra visão da traição, como uma actriz shakespeariana, em digressão por Moscovo, lembrou a Guy Burgess, cúmplice de Philby também refugiado na União Soviética, que lá a quisera encontrar. “Você mijou na nossa sopa e a gente comeu-a”. OBITUÁRIO

Ivone Dias Lourenço

1937-2008 Membro do Partido Comunista Português desde 1953, dedicou a vida à luta pela liberdade e pela democracia. Participou no MUD na primeira metade da década de 50, foi membro do Comité Local do Porto e desempenhou, ainda antes do 25 de Abril, várias tarefas ligadas ao aparelho técnico do PCP. Viveu na clandestinidade de 1955 a 1957, foi detida pela PIDE por actividades subversivas, e passou sete anos na prisão. Era secretária da redacção do órgão central do PCP, desde 1975. Dia 24, em Lisboa, de cancro. Fernando Cabral

1929-2008 Ex-presidente da Câmara do Porto, foi membro do núcleo fundador do PPD de Francisco Sá Carneiro. Bateu o pé à EDP, comprou o Rivoli para impedir que este teatro fosse destruído, lançou a construção de obras como a Via da Cintura Interna, e deixou os cofres do município cheios. Era um dos mais conceituados advogados da cidade. Dia 20, no Porto, de cancro. Heath Ledger

1980-2008 Actor australiano. Ver mais em www.expresso.pt

Manuel Dionísio (1955-2008), escritor e jornalista, um dos ‘mestres’ do jornalismo angolano, em Lisboa, de cancro Ugo Pirro (1921-2008), argumentista italiano, autor do filme ‘Um Cidadão acima de Qualquer Suspeita’, de 1970, em Roma, de doença Duilio Loi (1920-2008), italiano, ex-campeão mundial de boxe, em Treviso, Itália, de Alzheimer Suzanne Pleshette (1938-2008), actriz norte-americana do filme ‘Pássaros’, de Hitchcock, nos EUA, ver mais em www.expresso.pt, Adriano Gonzalez Leon (1931-2008), um dos grandes escritores venezuelanos, na Venezuela, de ataque cardíaco Luiz Carlos Tourinho (1965-2008), actor brasileiro, o ‘Nezinho’ da telenovela ‘Desejo Proibido’, no Rio de Janeiro, de aneurisma cerebral.

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