Um livro cada domingo. O brasileiro João Ubaldo Ribeiro (n. 1941) costuma ser citado a propósito de um romance libertino cuja venda foi interdita numa conhecida rede portuguesa de supermercados. Ignorância ou sacanagem? Mas o Prémio Camões 2008 tem mais por onde pegar. Em Viva o Povo Brasileiro (1984), por exemplo. O romance vai de 1647 a 1977, não deixando de fora nenhum episódio relevante da história do Brasil que tenha ocorrido nesse lapso de tempo. Como não podia deixar de ser, mete tugas, holandeses, negros e índios ao barulho, gente de todos os estratos, incluindo padralhada, porque sem essa mistura era uma vez a identidade brasileira. O essencial da intriga passa-se em Itaparica (Bahia), terra natal do escritor. Mas não se pense que a cronologia é linear. Vai ter de dar muito salto para ter uma visão de conjunto. As 846 páginas podem desencorajar alguns, mas o esforço vale bem a pena.Depois de Abel Barros Baptista, A. M. Pires Cabral, Arnaldo Saraiva, Carlos Mendes de Sousa, Fernando Cabral Martins, Frederico Lourenço, Gonçalo M. Tavares, Gustavo Rubim, Helena Buescu, Jorge Fernandes da Silveira, José Emílio-Nelson, Luís Maffei, Luís Mourão, Mário de Carvalho, Nuno Júdice, Pedro Eiras, Rita Taborda Duarte e Rui Lage, chegou a minha vez de responder ao inquérito OLAM sobre “o melhor” / “o mais importante” livro de poesia e ficção do século XX português.João Pinto e Castro: «Louçã afirmou ontem no Parlamento — eu ouvi — que o governo já gastou 1% do PIB para salvar o BNP. Que verdade há nisto? Eis os factos. A nacionalização do BNP não envolveu o pagamento de qualquer indemnização aos seus accionistas. A CGD concedeu-lhe posteriormente um empréstimo para fazer face às suas dificuldades de liquidez. Quanto dinheiro foi então pago pelo Estado ao BNP ou aos seus accionistas? Nenhum. Nada. Zero. Qualquer pessoa familiarizada com a diferença entre doação e empréstimo entende isto; mas o Dr. Louçã, que é professor de economia, finge não compreender. Alguns apoiantes do Bloco de Esquerda defendem Louçã argumentando que o Governo ainda não deu, mas vai dar. Ao melhor estilo da imprensa tablóide, baralham factos com previsões. Terão razão? Esta especulação recrudesceu quando se soube que o BNP tem um “buraco” de 1.800 milhões de euros. “Cá está!”, dizem eles, “Vai ser o Estado, logo os contribuintes, a tapar o buraco, visto que os activos do banco são insuficientes para resolver o problema”. Qual a origem das dificuldades financeiras do BNP? Aparentemente, o banco endividou-se para adquirir activos financeiros que entretanto se desvalorizaram fortemente. Assim sendo, não está em condições de fazer face aos encargos contraídos. Significa isso que não resta outra solução senão o Estado pagar essas dívidas? Para esclarecer este ponto seria indispensável conhecer-se em detalhe a estrutura da dívida, ou seja, como foi ela financiada e quando terá que ser paga. Falta também saber-se quais dos activos financeiros detidos pelo BPN são susceptíveis de virem a valorizar-se no futuro e quando isso acontecerá. Por outras palavras, não é possível estabelecer-se neste momento se a operação de nacionalização do BPN virá a saldar-se por um lucro ou por um prejuízo. O Dr. Louçã e o Prof. Karamba, porém, já sabem. Mas há outro ponto. O Dr. Louçã mostra-se muito alarmado com o buraco de 1.800 milhões de euros, embora insista em negar que o risco sistémico justificasse a intervenção do Estado. Quando lhe dá jeito à argumentação, o buraco é grande; caso contrário, é pequeno. Isto permite-lhe ignorar duas coisas. Primeiro, que os tais 1.800 milhões de euros são devidos a outras instituições, e que, se o BPN não os pagasse, isso teria consequências. Segundo, e ainda mais grave, o BPN tem 5.500 milhões de euros de depósitos, também eles titulados por empresas e particulares. Tendo em conta que o Estado português garantiu todos os depósitos bancários até ao limite de 100 mil euros, parece lógico admitir-se que a pura e simples falência do BPN teria sempre encargos mais elevados para os contribuintes, mesmo no caso extremo de ser necessário pagar por inteiro os tais 1.800 milhões de euros. A finalizar, eu gostaria que o Bloco de Esquerda me explicasse qual a sua opção preferida para lidar com o problema do BPN: a) Não fazer nada, como pretende agora o PSD e sustentam os republicanos nos EUA? / b) Socorrer os bancos sem que o Estado use a legitimidade que essa intervenção lhe confere para apertar o controlo sobre a sua gestão, como Obama está a fazer? / c) Nacionalizar os bancos insolventes, como fizeram, entre outros, os governos inglês e português? / Nada disso. O meu prognóstico é que o Bloco optará antes por convocar uma manifestação de protesto contra os banqueiros. Que falta de paciência para aturar garotos.»Maradona: «Gostei muito do texto do Francisco Sarsfield Cabral no Público de hoje (ontem). Fala sobre a Irlanda e, curiosamente, fala muito sobre nós. Um exemplo: de país e de artigo.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura
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Um livro cada domingo. O brasileiro João Ubaldo Ribeiro (n. 1941) costuma ser citado a propósito de um romance libertino cuja venda foi interdita numa conhecida rede portuguesa de supermercados. Ignorância ou sacanagem? Mas o Prémio Camões 2008 tem mais por onde pegar. Em Viva o Povo Brasileiro (1984), por exemplo. O romance vai de 1647 a 1977, não deixando de fora nenhum episódio relevante da história do Brasil que tenha ocorrido nesse lapso de tempo. Como não podia deixar de ser, mete tugas, holandeses, negros e índios ao barulho, gente de todos os estratos, incluindo padralhada, porque sem essa mistura era uma vez a identidade brasileira. O essencial da intriga passa-se em Itaparica (Bahia), terra natal do escritor. Mas não se pense que a cronologia é linear. Vai ter de dar muito salto para ter uma visão de conjunto. As 846 páginas podem desencorajar alguns, mas o esforço vale bem a pena.Depois de Abel Barros Baptista, A. M. Pires Cabral, Arnaldo Saraiva, Carlos Mendes de Sousa, Fernando Cabral Martins, Frederico Lourenço, Gonçalo M. Tavares, Gustavo Rubim, Helena Buescu, Jorge Fernandes da Silveira, José Emílio-Nelson, Luís Maffei, Luís Mourão, Mário de Carvalho, Nuno Júdice, Pedro Eiras, Rita Taborda Duarte e Rui Lage, chegou a minha vez de responder ao inquérito OLAM sobre “o melhor” / “o mais importante” livro de poesia e ficção do século XX português.João Pinto e Castro: «Louçã afirmou ontem no Parlamento — eu ouvi — que o governo já gastou 1% do PIB para salvar o BNP. Que verdade há nisto? Eis os factos. A nacionalização do BNP não envolveu o pagamento de qualquer indemnização aos seus accionistas. A CGD concedeu-lhe posteriormente um empréstimo para fazer face às suas dificuldades de liquidez. Quanto dinheiro foi então pago pelo Estado ao BNP ou aos seus accionistas? Nenhum. Nada. Zero. Qualquer pessoa familiarizada com a diferença entre doação e empréstimo entende isto; mas o Dr. Louçã, que é professor de economia, finge não compreender. Alguns apoiantes do Bloco de Esquerda defendem Louçã argumentando que o Governo ainda não deu, mas vai dar. Ao melhor estilo da imprensa tablóide, baralham factos com previsões. Terão razão? Esta especulação recrudesceu quando se soube que o BNP tem um “buraco” de 1.800 milhões de euros. “Cá está!”, dizem eles, “Vai ser o Estado, logo os contribuintes, a tapar o buraco, visto que os activos do banco são insuficientes para resolver o problema”. Qual a origem das dificuldades financeiras do BNP? Aparentemente, o banco endividou-se para adquirir activos financeiros que entretanto se desvalorizaram fortemente. Assim sendo, não está em condições de fazer face aos encargos contraídos. Significa isso que não resta outra solução senão o Estado pagar essas dívidas? Para esclarecer este ponto seria indispensável conhecer-se em detalhe a estrutura da dívida, ou seja, como foi ela financiada e quando terá que ser paga. Falta também saber-se quais dos activos financeiros detidos pelo BPN são susceptíveis de virem a valorizar-se no futuro e quando isso acontecerá. Por outras palavras, não é possível estabelecer-se neste momento se a operação de nacionalização do BPN virá a saldar-se por um lucro ou por um prejuízo. O Dr. Louçã e o Prof. Karamba, porém, já sabem. Mas há outro ponto. O Dr. Louçã mostra-se muito alarmado com o buraco de 1.800 milhões de euros, embora insista em negar que o risco sistémico justificasse a intervenção do Estado. Quando lhe dá jeito à argumentação, o buraco é grande; caso contrário, é pequeno. Isto permite-lhe ignorar duas coisas. Primeiro, que os tais 1.800 milhões de euros são devidos a outras instituições, e que, se o BPN não os pagasse, isso teria consequências. Segundo, e ainda mais grave, o BPN tem 5.500 milhões de euros de depósitos, também eles titulados por empresas e particulares. Tendo em conta que o Estado português garantiu todos os depósitos bancários até ao limite de 100 mil euros, parece lógico admitir-se que a pura e simples falência do BPN teria sempre encargos mais elevados para os contribuintes, mesmo no caso extremo de ser necessário pagar por inteiro os tais 1.800 milhões de euros. A finalizar, eu gostaria que o Bloco de Esquerda me explicasse qual a sua opção preferida para lidar com o problema do BPN: a) Não fazer nada, como pretende agora o PSD e sustentam os republicanos nos EUA? / b) Socorrer os bancos sem que o Estado use a legitimidade que essa intervenção lhe confere para apertar o controlo sobre a sua gestão, como Obama está a fazer? / c) Nacionalizar os bancos insolventes, como fizeram, entre outros, os governos inglês e português? / Nada disso. O meu prognóstico é que o Bloco optará antes por convocar uma manifestação de protesto contra os banqueiros. Que falta de paciência para aturar garotos.»Maradona: «Gostei muito do texto do Francisco Sarsfield Cabral no Público de hoje (ontem). Fala sobre a Irlanda e, curiosamente, fala muito sobre nós. Um exemplo: de país e de artigo.»Etiquetas: Blogues, Nota de leitura