Literatura Portuguesa do Século XX: Mário Cesariny

04-07-2009
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*DISCURSO AO PRINCIPE DE EPAMINONDAS,MANCEBO DE GRANDE FUTURODespe-te de verdadesdas grandes primeiro que das pequenasdas tuas antes que de quaisquer outrasabre uma cova e enterra-asa teu ladoprimeiro as que te impuseram eras ainda imbelee não possuías mácula senão a de um nome estranhodepois as que crescendo penosamente vestistea verdade do pão a verdade das lágrimaspois não és flor nem luto nem acalanto nem estreladepois as que ganhaste com o teu sémenonde a manhã ergue um espelho vazioe uma criança chora entre nuvens e abismosdepois as que hão-de pôr em cima do teu retratoquando lhes forneceres a grande recordaçãoque todos esperam tanto porque a esperam de tiNada depois, só tu e o teu silêncioe veias de coral rasgando-nos os pulsosEntão, meu senhor, poderemos passarpela planície nuao teu corpo com nuvens pelos ombrosas minhas mãos cheias de barbas brancasAí não haverá demora nem abrigos nem chegadamas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeçase uma estrada de pedra até ao fim das luzese um silêncio de morte à nossa passagemManual de Prestidigitação, 1956*


*DISCURSO AO PRINCIPE DE EPAMINONDAS,MANCEBO DE GRANDE FUTURODespe-te de verdadesdas grandes primeiro que das pequenasdas tuas antes que de quaisquer outrasabre uma cova e enterra-asa teu ladoprimeiro as que te impuseram eras ainda imbelee não possuías mácula senão a de um nome estranhodepois as que crescendo penosamente vestistea verdade do pão a verdade das lágrimaspois não és flor nem luto nem acalanto nem estreladepois as que ganhaste com o teu sémenonde a manhã ergue um espelho vazioe uma criança chora entre nuvens e abismosdepois as que hão-de pôr em cima do teu retratoquando lhes forneceres a grande recordaçãoque todos esperam tanto porque a esperam de tiNada depois, só tu e o teu silêncioe veias de coral rasgando-nos os pulsosEntão, meu senhor, poderemos passarpela planície nuao teu corpo com nuvens pelos ombrosas minhas mãos cheias de barbas brancasAí não haverá demora nem abrigos nem chegadamas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeçase uma estrada de pedra até ao fim das luzese um silêncio de morte à nossa passagemManual de Prestidigitação, 1956*

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