O apoio ao 'sim' no referendo está de acordo com a concepção que esta religião católica tem da vida, argumentaram hoje católicos dos movimentos a favor da despenalização ao aborto
A ideia foi sublinhada por Leonor Xavier, do movimento leigo «Nós somos a Igreja», logo na abertura de uma conferência de impressa em Lisboa apoiada pelos cinco movimentos pelo sim inscritos para participar na campanha que antecede o referendo de 11 de Fevereiro.
«Votar sim é amor» e «compaixão por quem praticou um aborto também pode ser uma atitude cristã», afirmou Leonor Xavier.
Alcilene Cavalcante, do movimento internacional Católicas pelo Direito de Decidir, realçou que «o aborto não é uma matéria dogmática do pensamento católico» e que entre os crentes «há diferentes vozes».
«A visão do papa, da hierarquia católica, é apenas uma, a visão oficial , institucional, da hierarquia da Igreja, diga-se de passagem composta apenas po r homens», explicitou a dirigente deste movimento que, no Brasil, se constitui c omo uma organização não governamental que reúne «católicas e católicos».
Também como «cidadão e como crente» se apresentou o sociólogo José Manuel Pureza, que se afirmou «preocupado» por «viver num país onde se confunde de maneira deliberada pecado e crime» e que, por isso, «se parece com um regime de u m fundamentalismo religioso inqualificável».
Citando o episódio do Novo Testamento do apedrejamento de uma mulher, e m que Jesus incita aqueles que nunca pecaram a atirar a primeira pedra, José Manuel Pureza salientou que o exemplo de Jesus foi o de «transformar a vida da mulher pelo perdão e não a conformar com a aplicação da lei».
Também Deolinda Machado, da comissão executiva da CGTP, que afirmou lutar «dentro da Igreja pela transformação», invocou a figura de Jesus de Nazaré para o considerar «o primeiro libertador da mulher».
A sindicalista lamentou que os oito anos que passaram desde o primeiro referendo sobre a despenalização do aborto «mostraram que nada se quis fazer» em matéria de educação sexual, tanto na sociedade como nas famílias, e criticou o «silêncio» dos movimentos a favor do voto em não no referendo perante casos que prejudicam a «maternidade responsável».
«[As leis de apoio à maternidade] são as mais violadas nos locais de trabalho no nosso país», acentuou, exemplificando com casos de empregadores que questionam a mulher sobre se pretende engravidar como critério para o acesso a det erminado emprego, ou mulheres que são despedidas por estarem grávidas.
«Onde vimos os movimentos do não a denunciar estas situações? Não os vemos nunca e vêm agora dizer que são a favor da vida», questionou Deolinda Machado.
A conferência de imprensa, cuja plateia era quase exclusivamente consti tuída por defensores do voto 'sim', contou ainda com a presença das deputadas so cialista Fernanda Asseiceira e da social-democrata Maria Ofélia Moleiro.
Esta última, que adiantou ter votado 'não' em 1998, explicou que agora defende o voto no 'sim' «exactamente pelas mesmas convicções».
Em 1998, «politicamente ainda estava imbuída da esperança de que logo a pós [o referendo] se implementasse uma política integrada do Estado» na informação sexual e apoio social à mulher grávida, explicou a deputada.
Mas «passaram oito anos e nada aconteceu, [excepto] uma quantas medidas casuísticas», e como a «realidade é muito mais rápida do que a assumpção de políticas pelo Estado», é necessário «acautelar uma [situação] trágica e uma política de saúde pública errada», concluiu.
Lusa/SOL
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O apoio ao 'sim' no referendo está de acordo com a concepção que esta religião católica tem da vida, argumentaram hoje católicos dos movimentos a favor da despenalização ao aborto
A ideia foi sublinhada por Leonor Xavier, do movimento leigo «Nós somos a Igreja», logo na abertura de uma conferência de impressa em Lisboa apoiada pelos cinco movimentos pelo sim inscritos para participar na campanha que antecede o referendo de 11 de Fevereiro.
«Votar sim é amor» e «compaixão por quem praticou um aborto também pode ser uma atitude cristã», afirmou Leonor Xavier.
Alcilene Cavalcante, do movimento internacional Católicas pelo Direito de Decidir, realçou que «o aborto não é uma matéria dogmática do pensamento católico» e que entre os crentes «há diferentes vozes».
«A visão do papa, da hierarquia católica, é apenas uma, a visão oficial , institucional, da hierarquia da Igreja, diga-se de passagem composta apenas po r homens», explicitou a dirigente deste movimento que, no Brasil, se constitui c omo uma organização não governamental que reúne «católicas e católicos».
Também como «cidadão e como crente» se apresentou o sociólogo José Manuel Pureza, que se afirmou «preocupado» por «viver num país onde se confunde de maneira deliberada pecado e crime» e que, por isso, «se parece com um regime de u m fundamentalismo religioso inqualificável».
Citando o episódio do Novo Testamento do apedrejamento de uma mulher, e m que Jesus incita aqueles que nunca pecaram a atirar a primeira pedra, José Manuel Pureza salientou que o exemplo de Jesus foi o de «transformar a vida da mulher pelo perdão e não a conformar com a aplicação da lei».
Também Deolinda Machado, da comissão executiva da CGTP, que afirmou lutar «dentro da Igreja pela transformação», invocou a figura de Jesus de Nazaré para o considerar «o primeiro libertador da mulher».
A sindicalista lamentou que os oito anos que passaram desde o primeiro referendo sobre a despenalização do aborto «mostraram que nada se quis fazer» em matéria de educação sexual, tanto na sociedade como nas famílias, e criticou o «silêncio» dos movimentos a favor do voto em não no referendo perante casos que prejudicam a «maternidade responsável».
«[As leis de apoio à maternidade] são as mais violadas nos locais de trabalho no nosso país», acentuou, exemplificando com casos de empregadores que questionam a mulher sobre se pretende engravidar como critério para o acesso a det erminado emprego, ou mulheres que são despedidas por estarem grávidas.
«Onde vimos os movimentos do não a denunciar estas situações? Não os vemos nunca e vêm agora dizer que são a favor da vida», questionou Deolinda Machado.
A conferência de imprensa, cuja plateia era quase exclusivamente consti tuída por defensores do voto 'sim', contou ainda com a presença das deputadas so cialista Fernanda Asseiceira e da social-democrata Maria Ofélia Moleiro.
Esta última, que adiantou ter votado 'não' em 1998, explicou que agora defende o voto no 'sim' «exactamente pelas mesmas convicções».
Em 1998, «politicamente ainda estava imbuída da esperança de que logo a pós [o referendo] se implementasse uma política integrada do Estado» na informação sexual e apoio social à mulher grávida, explicou a deputada.
Mas «passaram oito anos e nada aconteceu, [excepto] uma quantas medidas casuísticas», e como a «realidade é muito mais rápida do que a assumpção de políticas pelo Estado», é necessário «acautelar uma [situação] trágica e uma política de saúde pública errada», concluiu.
Lusa/SOL