Minde-Online: Sabe o que é o Mindrico?

06-10-2009
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Artigo publicado hoje no site «Observatório do Algarve»:http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=29856Sabe o que é o Mindrico?O calão mindrico, falado nas zonas de Minde e Mira de Aire, é um falar secreto sem características para ser considerado língua como o mirandês, defendem estudiosos.O professor Abílio Martins e a linguista Maria Helena Mira Mateus explicaram à agência Lusa as várias gradações de línguas, dialectos e calões secretos, no momento em que passam dez anos sobre a declaração do mirandês como língua oficial de Portugal.Estão neste caso a língua dos pedreiros de Guimarães, o calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha, a gíria dos vendedores de tecidos de Castanheira de Pêra ou o latim dos Canhoteiros de Viana do Castelo, muitos deles códigos falantes de classes sociais ou de terras particulares.No caso do mindrico, de Minde (Alcanena) e Mira de Aire (Porto de Mós), o isolamento serrano conduziu a um idioma local próprio que resistiu aos séculos mas que agora corre o risco de extinção devido à globalização e à falta de apoios. Em declarações à Agência Lusa, Abílio Martins, que coordenou uma das reedições do livro “A Piação dos Charales do Ninhou” (“Maneira de Falar dos Mindricos”, em português corrente), afirma não ver “grande futuro” no calão mindrico.“Nunca foi um instrumento de diálogo”, considera o antigo professor, de 80 anos, explicando que são “muito poucos os que conhecem alguns termos”. Diz mesmo que “tentar trazer o calão ao de cima não é mais que fazer reavivar umas brasas que estavam apagadas”.Abílio Martins, que nasceu e vive em Minde, concelho de Alcanena, sustenta que o calão mindrico tem origem na segunda metade do século XVIII, mas avisa que “não há dados muito seguros”.“Existia, essencialmente, para os cardadores que saíam de Minde nas suas digressões de ofício pela região”, refere, acrescentando que “a avaliar pelos primeiros nomes que apareceram, era para os clientes não os compreenderem”.Abílio Martins acredita que este calão tem de ser enqudrado na fase de apogeu da indústria têxtil da vila, quando “vendedores de mantas e compradores de lãs” iam para as feiras. Usavam-no para “esconder certos segredos e truques de negócio” e para falar da “maneira como se governavam”.Admite que no período do Estado Novo, o calão “dava sempre a oportunidade de fazer comentários sem se denunciar”.O antigo professor destaca a presença de “poucos verbos” no mindrico, entre os quais “jordar" que era "usado em várias circunstâncias”.“Há nomes de pessoas que figuram como substantivos comuns”, exemplificando com o nome “Francisco Vaz”, que significa padre. A palavra para barbeiro “dizia-se pelo nome do barbeiro”, acrescentou Abílio Martins, sublinhando que o calão mindrico “não tem correspondência em todas as palavras”.A linguista Maria Helena Mira Mateus explicou à Lusa que em Portugal apenas o mirandês tem "características, fonética e estruturas próprias" que permitem considerá-lo uma língua e não um mero dialecto.Embora derive de um dialecto asturo-leonês caído em desuso em Espanha, o mirandês é a única língua com estrutura existente no país além do Português, indica a linguista: "Tem características específicas que não são próprias do Português nem do galego".Apesar de existirem "muitos falares e dialectos transfronteiriços" - como nos casos do mindrico ou do barranquenho - o mirandês é a única língua que pode ser vista como tal, refere Maria Helena Mira Mateus."Foi a língua em que as pessoas aprenderam a falar e portanto tem um significado afectivo muito forte"."Não é uma língua de comportamento secreto", explica a linguista.O mirandês foi declarado "língua oficial" em Portugal a 29 de Janeiro de 1999 e passou a ser estudado como tal pelos alunos da pré-primária ao 12º ano, na região de Miranda do Douro.Uma tradução em mirandês de "Os Lusíadas" de Luís de Camões, feita por Amadeu Ferreira, será lançada até ao fim do mês de Junho.NOTA ADICIONAL por PM:Infelizmente esta foi uma notícia divulgada e difundida pela agência Lusa. Sob o título "Mindrico: A fala secreta dos têxteis de Minde e Mira de Aire" foi publicada em inúmeros sites e blogs, entre os quais o site de RTP, Expresso, Sapo, Notícias do Ribatejo, etc.Há dias que mais valeria estarmos calados. No Expresso pode ler e comentar a notícia aqui: (eu já comentei)http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/520129


Artigo publicado hoje no site «Observatório do Algarve»:http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=29856Sabe o que é o Mindrico?O calão mindrico, falado nas zonas de Minde e Mira de Aire, é um falar secreto sem características para ser considerado língua como o mirandês, defendem estudiosos.O professor Abílio Martins e a linguista Maria Helena Mira Mateus explicaram à agência Lusa as várias gradações de línguas, dialectos e calões secretos, no momento em que passam dez anos sobre a declaração do mirandês como língua oficial de Portugal.Estão neste caso a língua dos pedreiros de Guimarães, o calão dos contrabandistas de Albergaria-a-Velha, a gíria dos vendedores de tecidos de Castanheira de Pêra ou o latim dos Canhoteiros de Viana do Castelo, muitos deles códigos falantes de classes sociais ou de terras particulares.No caso do mindrico, de Minde (Alcanena) e Mira de Aire (Porto de Mós), o isolamento serrano conduziu a um idioma local próprio que resistiu aos séculos mas que agora corre o risco de extinção devido à globalização e à falta de apoios. Em declarações à Agência Lusa, Abílio Martins, que coordenou uma das reedições do livro “A Piação dos Charales do Ninhou” (“Maneira de Falar dos Mindricos”, em português corrente), afirma não ver “grande futuro” no calão mindrico.“Nunca foi um instrumento de diálogo”, considera o antigo professor, de 80 anos, explicando que são “muito poucos os que conhecem alguns termos”. Diz mesmo que “tentar trazer o calão ao de cima não é mais que fazer reavivar umas brasas que estavam apagadas”.Abílio Martins, que nasceu e vive em Minde, concelho de Alcanena, sustenta que o calão mindrico tem origem na segunda metade do século XVIII, mas avisa que “não há dados muito seguros”.“Existia, essencialmente, para os cardadores que saíam de Minde nas suas digressões de ofício pela região”, refere, acrescentando que “a avaliar pelos primeiros nomes que apareceram, era para os clientes não os compreenderem”.Abílio Martins acredita que este calão tem de ser enqudrado na fase de apogeu da indústria têxtil da vila, quando “vendedores de mantas e compradores de lãs” iam para as feiras. Usavam-no para “esconder certos segredos e truques de negócio” e para falar da “maneira como se governavam”.Admite que no período do Estado Novo, o calão “dava sempre a oportunidade de fazer comentários sem se denunciar”.O antigo professor destaca a presença de “poucos verbos” no mindrico, entre os quais “jordar" que era "usado em várias circunstâncias”.“Há nomes de pessoas que figuram como substantivos comuns”, exemplificando com o nome “Francisco Vaz”, que significa padre. A palavra para barbeiro “dizia-se pelo nome do barbeiro”, acrescentou Abílio Martins, sublinhando que o calão mindrico “não tem correspondência em todas as palavras”.A linguista Maria Helena Mira Mateus explicou à Lusa que em Portugal apenas o mirandês tem "características, fonética e estruturas próprias" que permitem considerá-lo uma língua e não um mero dialecto.Embora derive de um dialecto asturo-leonês caído em desuso em Espanha, o mirandês é a única língua com estrutura existente no país além do Português, indica a linguista: "Tem características específicas que não são próprias do Português nem do galego".Apesar de existirem "muitos falares e dialectos transfronteiriços" - como nos casos do mindrico ou do barranquenho - o mirandês é a única língua que pode ser vista como tal, refere Maria Helena Mira Mateus."Foi a língua em que as pessoas aprenderam a falar e portanto tem um significado afectivo muito forte"."Não é uma língua de comportamento secreto", explica a linguista.O mirandês foi declarado "língua oficial" em Portugal a 29 de Janeiro de 1999 e passou a ser estudado como tal pelos alunos da pré-primária ao 12º ano, na região de Miranda do Douro.Uma tradução em mirandês de "Os Lusíadas" de Luís de Camões, feita por Amadeu Ferreira, será lançada até ao fim do mês de Junho.NOTA ADICIONAL por PM:Infelizmente esta foi uma notícia divulgada e difundida pela agência Lusa. Sob o título "Mindrico: A fala secreta dos têxteis de Minde e Mira de Aire" foi publicada em inúmeros sites e blogs, entre os quais o site de RTP, Expresso, Sapo, Notícias do Ribatejo, etc.Há dias que mais valeria estarmos calados. No Expresso pode ler e comentar a notícia aqui: (eu já comentei)http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/520129

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