Papéis de Alexandria*: O verdadeiro contrato

16-07-2009
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"Avante!PONTO UM : o senhor António Champalimaud foi recebido na passada sexta-feira no Palácio de Belém, onde foi manifestar o seu «reconhecimento » ao Presidente da República pela promulgação do decreto-lei que lhe permitiu fazer o negócio do Totta. O carácter inédito da iniciativa permitiria extensas reflexões. Mas anote-se apenas que esta manifestação pública de « reconhecimento » de Champalimaud diz alguma coisa sobre a muito especial natureza do referido diploma legal. Sob pena de grave injustiça e manifesta discriminição, aguarda-se agora que o conhecido empresário peça audiências ao Ministro das Finanças e ao Primeiro-Ministro para lhes manifestar a sua gratidão por terem elaborado e aprovado aquele decreto-lei que, respeitando certamente o sagrado príncipio do carácter obrigatoriamente abstracto das leis, tem entretanto a particularidade de toda a gente saber que foi propositadamente feito para servir os interesses do senhor Champalimaud.PONTO DOIS : o senhor António Champalimaud está porém dispensado de pedir uma audiência ao Eng. António Guterres para lhe exprimir o seu « reconhecimento » pelo claro apoio e magnífica compreensão que o PS tem dado em geral ao processo de reconstituição das oligarquias financeiras e em particular do império Champalimaud. Com efeito, essa dívida ficou instantaneamente saldada quando, à saída de Belém, manifestou a sua profunda tranquilidade perante a eventualidade de um Governo PS, solidamente fundada na ideia de que os partidos socialistas já não são o que foram no passado.PONTO TRÊS : algumas boas almas julgaram que aquela cena de « amor com amor se paga » protagonizada na Madeira por Jaime Gama ( engolindo o défice democrático - sem comas ! ) e por Alberto João Jardim ( acenando com o apoio dos deputados do PSD/Madeira a um eventual governo minoritário do PS ) não passava a marca dos tacticismos destinados a enervar o PSD nacional. Enganaram-se, porque o assunto é mesmo a sério, como acaba de confessar o deputado socialista Eurico de Figueiredo na sua última crónica no « Expresso» . Gozando com os que gritam « Mas que horror ! , o PS entendido com Alberto João Jardim », Eurico de Figueiredo, misturando alhos com bogalhos, escreve que « só se surpreende com esta aproximação quem não acredita na regionalização do país . Ou tem pesadelos bósnios ! » , explicando depois que « o PS quer aprofundar e completar o processo de regionalização do país. O PSD, não. Mas o PSD da Madeira e dos Açores, estão nesta matéria, próximos do PS » e essa « é uma forte razão para se entenderem » .PONTO QUATRO : fala-se numa aceleração até Agosto do processo de privatizações, abrangendo importantes empresas industriais . É uma boa notícia para o PS, merecedora de ser celebrada com champanhe no Largo do Rato, uma vez que o seu porta-voz para a Indústria tinha declarado ( « Independente », de 3.2.95) que « as privatizações têm sido feitas a um ritmo inaceitável » e que « é um caso patético que , dez anos passados, o PS vá receber no sector industrial quase todas as empresas por privatizar.» .Não é certamente necessário meter explicador para se perceber que nestes e noutros pontos é que está o verdadeiro « contrato de legislatura » do PS : os mandantes e beneficiários da política de direita receberiam o supremo prémio da sua continuação e as vítimas da política de direita teriam garantida a continuação das suas ofensas e golpes, recebendo quando muito, como substancial consolação, carradas de discursos sobre o « diálogo», a « partilha do poder » e a « nova forma de fazer política ». e que « é um caso patético que , dez anos passados, o PS vá receber no sect


"Avante!PONTO UM : o senhor António Champalimaud foi recebido na passada sexta-feira no Palácio de Belém, onde foi manifestar o seu «reconhecimento » ao Presidente da República pela promulgação do decreto-lei que lhe permitiu fazer o negócio do Totta. O carácter inédito da iniciativa permitiria extensas reflexões. Mas anote-se apenas que esta manifestação pública de « reconhecimento » de Champalimaud diz alguma coisa sobre a muito especial natureza do referido diploma legal. Sob pena de grave injustiça e manifesta discriminição, aguarda-se agora que o conhecido empresário peça audiências ao Ministro das Finanças e ao Primeiro-Ministro para lhes manifestar a sua gratidão por terem elaborado e aprovado aquele decreto-lei que, respeitando certamente o sagrado príncipio do carácter obrigatoriamente abstracto das leis, tem entretanto a particularidade de toda a gente saber que foi propositadamente feito para servir os interesses do senhor Champalimaud.PONTO DOIS : o senhor António Champalimaud está porém dispensado de pedir uma audiência ao Eng. António Guterres para lhe exprimir o seu « reconhecimento » pelo claro apoio e magnífica compreensão que o PS tem dado em geral ao processo de reconstituição das oligarquias financeiras e em particular do império Champalimaud. Com efeito, essa dívida ficou instantaneamente saldada quando, à saída de Belém, manifestou a sua profunda tranquilidade perante a eventualidade de um Governo PS, solidamente fundada na ideia de que os partidos socialistas já não são o que foram no passado.PONTO TRÊS : algumas boas almas julgaram que aquela cena de « amor com amor se paga » protagonizada na Madeira por Jaime Gama ( engolindo o défice democrático - sem comas ! ) e por Alberto João Jardim ( acenando com o apoio dos deputados do PSD/Madeira a um eventual governo minoritário do PS ) não passava a marca dos tacticismos destinados a enervar o PSD nacional. Enganaram-se, porque o assunto é mesmo a sério, como acaba de confessar o deputado socialista Eurico de Figueiredo na sua última crónica no « Expresso» . Gozando com os que gritam « Mas que horror ! , o PS entendido com Alberto João Jardim », Eurico de Figueiredo, misturando alhos com bogalhos, escreve que « só se surpreende com esta aproximação quem não acredita na regionalização do país . Ou tem pesadelos bósnios ! » , explicando depois que « o PS quer aprofundar e completar o processo de regionalização do país. O PSD, não. Mas o PSD da Madeira e dos Açores, estão nesta matéria, próximos do PS » e essa « é uma forte razão para se entenderem » .PONTO QUATRO : fala-se numa aceleração até Agosto do processo de privatizações, abrangendo importantes empresas industriais . É uma boa notícia para o PS, merecedora de ser celebrada com champanhe no Largo do Rato, uma vez que o seu porta-voz para a Indústria tinha declarado ( « Independente », de 3.2.95) que « as privatizações têm sido feitas a um ritmo inaceitável » e que « é um caso patético que , dez anos passados, o PS vá receber no sector industrial quase todas as empresas por privatizar.» .Não é certamente necessário meter explicador para se perceber que nestes e noutros pontos é que está o verdadeiro « contrato de legislatura » do PS : os mandantes e beneficiários da política de direita receberiam o supremo prémio da sua continuação e as vítimas da política de direita teriam garantida a continuação das suas ofensas e golpes, recebendo quando muito, como substancial consolação, carradas de discursos sobre o « diálogo», a « partilha do poder » e a « nova forma de fazer política ». e que « é um caso patético que , dez anos passados, o PS vá receber no sect

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