Papéis de Alexandria*: Chá de tília para o PS

10-10-2009
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«Avante!"No « Independente » da semana passada, um relato sobre as ruminações socialistas em torno da revisão da Constituição - que estão servindo de intervalo às fraternais punhaladas do costume - continha uma pérola que seria injusto ficar esquecida.Com efeito, aí se referia que as elocubrações socialistas em matéria de revisão também abrangem « a democracia interna dos partidos políticos », onde o PS defenderia « a " gestão democrática interna ", ou seja , o fim do centralismo democrático " tipo PCP " ».Se a notícia tem algum fundamento, ficamos assim a saber que os dirigentes do PS, tontos com tanta reflexão sobre o sistema político, conjecturam estender a intervenção do Estado à vida interna dos partidos, no que constituiria, sem dúvida, um comovente sinal de respeito pela liberdade e autonomia da sociedade civil , embora não esteja ao alcance dos dirigentes do PS perceberem esta ironia porque eles, julgando os outros por si próprios, estão mesmo convencidos que os partidos e respectivos militantes não fazem parte da sociedade civil mas sim do Estado.Tudo indica assim que , nesta matéria, o pessoal do Largo do Rato precisa de ser avisado de três coisas muito siimples :- a primeira é que, em vez de implicarem com o centralismo democrático, deviam era preocupar-se com o vergonhoso centralismo "tout court ", o centralismo puro e duro, o máximo centralismo, « tipo PS », onde o Secretário-geral, sozinho, escolhe cabeças de lista, propõe a lista para os órgãos dirigentes (?) do partido, adianta propostas de revisão constitucional à revelia daqueles, e onde até uma coligação no mais remoto concelho precisa da sua assinatura para ser viabilizada;- a segunda é que, se não têm cuidado e juizo ainda acabam a propor que os partidos sujeitem os seus Estatutos à aprovação prévia de qualquer entidade estatal, tal como as colectividades e sindicatos no tempo do fascismo;- a terceira é que, se não começam a tomar chá de tília de hora em hora ainda acabam a ressuscitar a célebre proposta adiantada por Sá Carneiro em Maio de 1974 para que a lei dos partidos os obrigasse a entregar os ficheiros de militantes no Ministério da Administração Interna.E já que os dirigentes do PS andam tão afadigados em frescas reflexôes sobre os vícios da vida política e partidária, até nós que, ao contrário do PS, não partilhamos da crença na solução de problemas éticos e políticos por via legislativa e administrativa, nos permitimos recomendar-lhes que pensem em qualquer coisita contra a mentira, a hipocrisia e a falta de escrúpulos a que frequentemente recorrem.Talvez isso pudesse dificultar que Barros Moura se venha apresentar agora como « um crítico, de sempre , da filosofia da Política Agrícola Comum » ( "Público" de 28/5 ) quando saudou e apoiou activamente a Reforma da PAC e até, nessa altura, se permitiu acusar o PCP de estar unido à CAP na contestação a essa Reforma.Talvez isso pudesse dificultar que António Vitorino tivesse o atrevimento de dizer, no último «Expresso », reportando-se ao « que se passou na Europa nos anos 80 e no principio dos anos 90 » , que « a inépcia » no combate ao desemprego « não é atribuível à União Europeia mas aos governos de orientação liberal e monetarista » , esquecendo-se das responsabilidades governativas de destacados companheiros do PS no Partido Socialista Europeu tais como Laurent Fabius, Michel Rocard, Edith Cresson, Pierre Beregovoy, Betino Craxi e Filipe Gonzalez.


«Avante!"No « Independente » da semana passada, um relato sobre as ruminações socialistas em torno da revisão da Constituição - que estão servindo de intervalo às fraternais punhaladas do costume - continha uma pérola que seria injusto ficar esquecida.Com efeito, aí se referia que as elocubrações socialistas em matéria de revisão também abrangem « a democracia interna dos partidos políticos », onde o PS defenderia « a " gestão democrática interna ", ou seja , o fim do centralismo democrático " tipo PCP " ».Se a notícia tem algum fundamento, ficamos assim a saber que os dirigentes do PS, tontos com tanta reflexão sobre o sistema político, conjecturam estender a intervenção do Estado à vida interna dos partidos, no que constituiria, sem dúvida, um comovente sinal de respeito pela liberdade e autonomia da sociedade civil , embora não esteja ao alcance dos dirigentes do PS perceberem esta ironia porque eles, julgando os outros por si próprios, estão mesmo convencidos que os partidos e respectivos militantes não fazem parte da sociedade civil mas sim do Estado.Tudo indica assim que , nesta matéria, o pessoal do Largo do Rato precisa de ser avisado de três coisas muito siimples :- a primeira é que, em vez de implicarem com o centralismo democrático, deviam era preocupar-se com o vergonhoso centralismo "tout court ", o centralismo puro e duro, o máximo centralismo, « tipo PS », onde o Secretário-geral, sozinho, escolhe cabeças de lista, propõe a lista para os órgãos dirigentes (?) do partido, adianta propostas de revisão constitucional à revelia daqueles, e onde até uma coligação no mais remoto concelho precisa da sua assinatura para ser viabilizada;- a segunda é que, se não têm cuidado e juizo ainda acabam a propor que os partidos sujeitem os seus Estatutos à aprovação prévia de qualquer entidade estatal, tal como as colectividades e sindicatos no tempo do fascismo;- a terceira é que, se não começam a tomar chá de tília de hora em hora ainda acabam a ressuscitar a célebre proposta adiantada por Sá Carneiro em Maio de 1974 para que a lei dos partidos os obrigasse a entregar os ficheiros de militantes no Ministério da Administração Interna.E já que os dirigentes do PS andam tão afadigados em frescas reflexôes sobre os vícios da vida política e partidária, até nós que, ao contrário do PS, não partilhamos da crença na solução de problemas éticos e políticos por via legislativa e administrativa, nos permitimos recomendar-lhes que pensem em qualquer coisita contra a mentira, a hipocrisia e a falta de escrúpulos a que frequentemente recorrem.Talvez isso pudesse dificultar que Barros Moura se venha apresentar agora como « um crítico, de sempre , da filosofia da Política Agrícola Comum » ( "Público" de 28/5 ) quando saudou e apoiou activamente a Reforma da PAC e até, nessa altura, se permitiu acusar o PCP de estar unido à CAP na contestação a essa Reforma.Talvez isso pudesse dificultar que António Vitorino tivesse o atrevimento de dizer, no último «Expresso », reportando-se ao « que se passou na Europa nos anos 80 e no principio dos anos 90 » , que « a inépcia » no combate ao desemprego « não é atribuível à União Europeia mas aos governos de orientação liberal e monetarista » , esquecendo-se das responsabilidades governativas de destacados companheiros do PS no Partido Socialista Europeu tais como Laurent Fabius, Michel Rocard, Edith Cresson, Pierre Beregovoy, Betino Craxi e Filipe Gonzalez.

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