Papéis de Alexandria*: A minha reclamação

10-10-2009
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Exmo. SenhorMário Bettencourt ResendesDigmo. Provedor dos Leitores do Diário de NotíciasAv. da LiberdadeLisboa Amadora, 11 de Setembro de 2007Na única e exclusiva qualidade de leitor do Diário de Notícias, venho por este meio colocar à sua apreciação, enquanto Provedor dos Leitores do jornal, o seguinte pedido de uma sua tomada de posição sobre uma matéria publicada na edição de 7 de Setembro.Salientando naturalmente que as legitimas opiniões políticas pessoais que se possam ter sobre as afirmações que deram origem à situação a seguir descrita não podem interferir na reclamação que agora apresento e que esta se situa exclusivamente no plano do rigor e da deontologia profissionais, creio ser de referir como matéria de facto o seguinte:1. Na sua edição de 7 de Setembro, o DN publicou uma peça assinada pelo jornalista Pedro Correia onde, a dado passo, se podia ler : (...)«O teor das palavras de Jerónimo de Sousa é já de algum modo antecipado no editorial da revista que o partido editou para esta edição da festa. Um texto em que se critica duramente José Sócrates por desferir um "ataque feroz aos direitos dos trabalhadores e às liberdades políticas". O editorial - escrito pelo director do Avante!, José Casanova - denuncia os "sinais de cariz fascizante" do Governo socialista, que prossegue a "política de direita" de executivos anteriores.». (negritos meus).2. Esta peça foi publicada pelo DN com o título «Eles já chamam "fascista" a Sócrates» (negritos meus).3. O que é realmente afirmado no editorial do Programa da Festa do Avante! 2007 é o seguinte : « E, assim sendo e por isso mesmo, trata-se de uma política de cujo conteúdo essencial emergem sinais de iniludível cariz fascizante». (negritos meus).Com base nesta matéria de facto, considero que no tratamento jornalístico dado pelo DN a este assunto se revelam três factos criticáveis ou inaceitáveis do ponto de vista do rigor e da deontologia profissionais, a saber, por ordem crescente de gravidade.Em primeiro lugar , o facto de o jornalista Pedro Correia, apesar da brevidade da afirmação em causa constante do editorial já referido, ter fugido a proceder à sua citação exacta e ter antes optado por uma descrição em que os «sinais de cariz fascizante» passaram a ser referenciados ao «Governo socialista» e não ao «conteúdo essencial» de «uma política» que aquele realiza.Em segundo lugar, o facto de, em relação a uma peça que (embora de forma inexacta) referia "os «sinais de cariz fascizante» do governo socialista", ter sido escolhido um titulo - "Eles já chamam «fascista» a Sócrates" - através do qual foi cometida a desonesta manipulação de transformar «sinais de cariz fascizante» no adjectivo «fascista» aplicado à pessoa do primeiro-ministro («a Sócrates»). [negritos meus].Em terceiro e último lugar, com a ressalva de que não pude consultar a edição impressa mas apenas a edição online, afigura-se-me de uma extraordinária gravidade a fórmula «Eles» usada no referido título do DN. Na verdade, mesmo recuando várias décadas, não me recordo de alguma vez em noticiário político esta fórmula ter sido usada, o que não será de estranhar porque, em matéria política , o recurso em título ao «Eles» comporta um óbvio carácter pejorativo, uma atitude de hostilidade e uma definição de «campos» («nós» e «eles») inaceitável num jornal que se pretende politicamente independente e isento. Não nego que, em certos casos e em certo tipo de imprensa, podem aparecer com naturalidade títulos que incluam a fórmula «Eles» mas estou a pensar, por exemplo, em revistas cor-de-rosa que, junto às fotografias de dois famosos do jet-set, titule «Eles vão-se divorciar» ou «Eles estão apaixonados», o que obviamente, a diversos títulos, não é de nenuma forma comparável ao procedimento adoptado pelo DN no caso em apreço.Aguardando e agradecendo uma sua, tão breve quanto possível, apreciação desta reclamação, receba as cordiais saudações doa) Vítor Dias


Exmo. SenhorMário Bettencourt ResendesDigmo. Provedor dos Leitores do Diário de NotíciasAv. da LiberdadeLisboa Amadora, 11 de Setembro de 2007Na única e exclusiva qualidade de leitor do Diário de Notícias, venho por este meio colocar à sua apreciação, enquanto Provedor dos Leitores do jornal, o seguinte pedido de uma sua tomada de posição sobre uma matéria publicada na edição de 7 de Setembro.Salientando naturalmente que as legitimas opiniões políticas pessoais que se possam ter sobre as afirmações que deram origem à situação a seguir descrita não podem interferir na reclamação que agora apresento e que esta se situa exclusivamente no plano do rigor e da deontologia profissionais, creio ser de referir como matéria de facto o seguinte:1. Na sua edição de 7 de Setembro, o DN publicou uma peça assinada pelo jornalista Pedro Correia onde, a dado passo, se podia ler : (...)«O teor das palavras de Jerónimo de Sousa é já de algum modo antecipado no editorial da revista que o partido editou para esta edição da festa. Um texto em que se critica duramente José Sócrates por desferir um "ataque feroz aos direitos dos trabalhadores e às liberdades políticas". O editorial - escrito pelo director do Avante!, José Casanova - denuncia os "sinais de cariz fascizante" do Governo socialista, que prossegue a "política de direita" de executivos anteriores.». (negritos meus).2. Esta peça foi publicada pelo DN com o título «Eles já chamam "fascista" a Sócrates» (negritos meus).3. O que é realmente afirmado no editorial do Programa da Festa do Avante! 2007 é o seguinte : « E, assim sendo e por isso mesmo, trata-se de uma política de cujo conteúdo essencial emergem sinais de iniludível cariz fascizante». (negritos meus).Com base nesta matéria de facto, considero que no tratamento jornalístico dado pelo DN a este assunto se revelam três factos criticáveis ou inaceitáveis do ponto de vista do rigor e da deontologia profissionais, a saber, por ordem crescente de gravidade.Em primeiro lugar , o facto de o jornalista Pedro Correia, apesar da brevidade da afirmação em causa constante do editorial já referido, ter fugido a proceder à sua citação exacta e ter antes optado por uma descrição em que os «sinais de cariz fascizante» passaram a ser referenciados ao «Governo socialista» e não ao «conteúdo essencial» de «uma política» que aquele realiza.Em segundo lugar, o facto de, em relação a uma peça que (embora de forma inexacta) referia "os «sinais de cariz fascizante» do governo socialista", ter sido escolhido um titulo - "Eles já chamam «fascista» a Sócrates" - através do qual foi cometida a desonesta manipulação de transformar «sinais de cariz fascizante» no adjectivo «fascista» aplicado à pessoa do primeiro-ministro («a Sócrates»). [negritos meus].Em terceiro e último lugar, com a ressalva de que não pude consultar a edição impressa mas apenas a edição online, afigura-se-me de uma extraordinária gravidade a fórmula «Eles» usada no referido título do DN. Na verdade, mesmo recuando várias décadas, não me recordo de alguma vez em noticiário político esta fórmula ter sido usada, o que não será de estranhar porque, em matéria política , o recurso em título ao «Eles» comporta um óbvio carácter pejorativo, uma atitude de hostilidade e uma definição de «campos» («nós» e «eles») inaceitável num jornal que se pretende politicamente independente e isento. Não nego que, em certos casos e em certo tipo de imprensa, podem aparecer com naturalidade títulos que incluam a fórmula «Eles» mas estou a pensar, por exemplo, em revistas cor-de-rosa que, junto às fotografias de dois famosos do jet-set, titule «Eles vão-se divorciar» ou «Eles estão apaixonados», o que obviamente, a diversos títulos, não é de nenuma forma comparável ao procedimento adoptado pelo DN no caso em apreço.Aguardando e agradecendo uma sua, tão breve quanto possível, apreciação desta reclamação, receba as cordiais saudações doa) Vítor Dias

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