Urgência interna: Os ricos que paguem a crise!

24-07-2005
marcar artigo

Não basta mostrar a verdade, é preciso apresentá-la amavelmente (Fénelon)1. Com toda a amabilidade do mundo, em pequenas doses, servidas diariamente, têm-nos vindo a contar a verdade da economia do país. A verdade da economia, apenas essa. Essa verdade revelada pelo senhor Governador do Banco de Portugal, que por acaso já era Governador no tempo de outras verdades. Sendo até próximo daqueles a quem a verdade agora é revelada, fico com uma dúvida que me não sai da cabeça: ou o homem tinha as suas capacidades de analisar a realidade limitadas há uns meses atrás, isto é, o governo de então não lhe fornecia os dados que precisava ou o enganou deliberadamente (e isso é extremamente grave e ele devia denunciá-lo na altura ou pelo menos agora!) ou foi negligente nesse tempo, não procurando saber a verdade e ficando calado. Neste caso, devia assumir as suas responsabilidades. Já agora, que deveria fazer o governo que ganhou as eleições com um programa onde se dizia exactamente o contrário do que agora se faz. Obviamente, devia demitir-se por incumprimento de contrato para renovar a confiança no sistema. O fundamento seria, como fomos enganados, a nossa proposta estava errada, mas temos esta para as realidades concretas, aceitam? A coisa ficava mais ética e menos séptica. Mas, claro, vai-nos restar tapar o nariz. Por enquanto.2. Para não haver desvios da amabilidade com que a verdade nos é servida nada melhor que construir um certo unanimismo à sua volta. Havendo verdades, a verdade pode ser posta em causa. Por isso, nada melhor que fazer muitos programas de televisão e notícias em que muitos, aparentemente diferentes, dizem sempre mais do mesmo, num discurso onde se percebe que todos bebem nas mesmas fontes. Vêem ex-ministros, economistas, doutores sempre com um discurso igual, mostrar que andamos a viver bem demais e que chega de paródia. Agora vamos ter de fazer grandes sacrifícios para não irmos à falência. Definitivamente, não há nenhum economista no país a pensar de forma diferente! Realmente, se não aparecer na televisão, então não há mesmo. Mas há por exemplo quem escreva Portugal é o país da União Europeia onde são maiores as desigualdades. Segundo dados do Eurostat, os 20% da população mais ricos recebem 6,5 vezes mais rendimentos do que os 20% mais pobres, quando essa relação é, em média, de 4,4 vezes em toda a União Europeia. Por outro lado, de acordo com um estudo divulgado pelo INE, os 10% da população mais ricos apropriam-se de 29% de todo o rendimento disponível, enquanto os 50% da população mais pobres recebem apenas 24% do rendimento.(Eugénio Rosa)Parece afinal que se pode pintar um quadro diferente. 3. Assim, a verdade dos desejos tão proclamados em campanhas eleitorais de que «queremos ricos menos ricos e pobres menos pobres» não passa se slogan afirmado com toda a falsidade por aqueles que nos têm governado. Das duas uma, ou são mentirosos ou incompetentes. Os resultados disponíveis não permitem concluir de outra forma, ou nos enganam repetidamente (uns e outros, isto é, PSD/CDS e PS)ou realmente são incapazes e deviam mudar de vida.4. Portanto, todas as medidas para solucionar o problema serão muito justas e acertadas em tese, mas têm de ser avaliadas. Essa avaliação passa pelo grau de eficiência com que se consiga atingir o objectivo fundamental, reduzir o fosso entre os tais mais ricos e os mais pobres. É isso que está em causa com a panóplia de medidas que amavelmente nos vão servindo dia-a-dia? De outra forma, será que a partir de agora as casas de luxo vão ser difíceis de vender, vamos ter um parque automóvel mais à dimensão do país com menos Ferraris, Mercedes e BMWs, os grandes rendimentos e a grande propriedade vão ser mais declarados, os ricos vão finalmente pagar a crise?

Não basta mostrar a verdade, é preciso apresentá-la amavelmente (Fénelon)1. Com toda a amabilidade do mundo, em pequenas doses, servidas diariamente, têm-nos vindo a contar a verdade da economia do país. A verdade da economia, apenas essa. Essa verdade revelada pelo senhor Governador do Banco de Portugal, que por acaso já era Governador no tempo de outras verdades. Sendo até próximo daqueles a quem a verdade agora é revelada, fico com uma dúvida que me não sai da cabeça: ou o homem tinha as suas capacidades de analisar a realidade limitadas há uns meses atrás, isto é, o governo de então não lhe fornecia os dados que precisava ou o enganou deliberadamente (e isso é extremamente grave e ele devia denunciá-lo na altura ou pelo menos agora!) ou foi negligente nesse tempo, não procurando saber a verdade e ficando calado. Neste caso, devia assumir as suas responsabilidades. Já agora, que deveria fazer o governo que ganhou as eleições com um programa onde se dizia exactamente o contrário do que agora se faz. Obviamente, devia demitir-se por incumprimento de contrato para renovar a confiança no sistema. O fundamento seria, como fomos enganados, a nossa proposta estava errada, mas temos esta para as realidades concretas, aceitam? A coisa ficava mais ética e menos séptica. Mas, claro, vai-nos restar tapar o nariz. Por enquanto.2. Para não haver desvios da amabilidade com que a verdade nos é servida nada melhor que construir um certo unanimismo à sua volta. Havendo verdades, a verdade pode ser posta em causa. Por isso, nada melhor que fazer muitos programas de televisão e notícias em que muitos, aparentemente diferentes, dizem sempre mais do mesmo, num discurso onde se percebe que todos bebem nas mesmas fontes. Vêem ex-ministros, economistas, doutores sempre com um discurso igual, mostrar que andamos a viver bem demais e que chega de paródia. Agora vamos ter de fazer grandes sacrifícios para não irmos à falência. Definitivamente, não há nenhum economista no país a pensar de forma diferente! Realmente, se não aparecer na televisão, então não há mesmo. Mas há por exemplo quem escreva Portugal é o país da União Europeia onde são maiores as desigualdades. Segundo dados do Eurostat, os 20% da população mais ricos recebem 6,5 vezes mais rendimentos do que os 20% mais pobres, quando essa relação é, em média, de 4,4 vezes em toda a União Europeia. Por outro lado, de acordo com um estudo divulgado pelo INE, os 10% da população mais ricos apropriam-se de 29% de todo o rendimento disponível, enquanto os 50% da população mais pobres recebem apenas 24% do rendimento.(Eugénio Rosa)Parece afinal que se pode pintar um quadro diferente. 3. Assim, a verdade dos desejos tão proclamados em campanhas eleitorais de que «queremos ricos menos ricos e pobres menos pobres» não passa se slogan afirmado com toda a falsidade por aqueles que nos têm governado. Das duas uma, ou são mentirosos ou incompetentes. Os resultados disponíveis não permitem concluir de outra forma, ou nos enganam repetidamente (uns e outros, isto é, PSD/CDS e PS)ou realmente são incapazes e deviam mudar de vida.4. Portanto, todas as medidas para solucionar o problema serão muito justas e acertadas em tese, mas têm de ser avaliadas. Essa avaliação passa pelo grau de eficiência com que se consiga atingir o objectivo fundamental, reduzir o fosso entre os tais mais ricos e os mais pobres. É isso que está em causa com a panóplia de medidas que amavelmente nos vão servindo dia-a-dia? De outra forma, será que a partir de agora as casas de luxo vão ser difíceis de vender, vamos ter um parque automóvel mais à dimensão do país com menos Ferraris, Mercedes e BMWs, os grandes rendimentos e a grande propriedade vão ser mais declarados, os ricos vão finalmente pagar a crise?

marcar artigo