S.A.R.I.P.

09-10-2009
marcar artigo


TrafalgarComeçaram ontem, em Portsmouth, England, as comemorações dos 200 anos da batalha de Trafalgar, que se deu ao largo do cabo do mesmo nome, no sul de Espanha, onde uma esquadra britânica comandada pelo célebre almirante Nelson destruiu uma esquadra franco-espanhola superior em número, arruinando as vagas esperanças que Napoleão tinha de invadir as ilhas britânicas. A Rainha passeou-se a bordo de um navio, mais de 30 países (incluindo naturalmente os antigos inimigos) associaram-se à festa enviando navios de guerra, houve fogo de artifício, enfim, um grande encontro de paz – e de ostentação; enquanto a França envia o todo-poderoso porta-aviões nuclear Charles de Gaulle, os Estados Unidos lá condescendem em enviar um navio de segunda linha.Os jornalistas brincam com o facto de as guerras europeias serem, hoje em dia, com cheques e não com navios de linha. Estes dois factos – as lutas de cheques e o facto de os jornalistas poderem brincar com a situação – são a prova de que algo funciona ainda com o projecto europeu: este pequeno continente é hoje um espaço de paz e os povos que o constituem ultrapassaram todos, ou quase todos, os ódios antigos (se bem que o tradicional ódio franco-britânico começou a ser apagado em 1904, mas adiante.)Seria bom que nós, portugueses, fizéssemos algo de semelhante com as celebrações da batalha de Aljubarrota, convidando espanhóis, os seus aliados franceses, os nossos aliados ingleses, e talvez outros, numa cerimónia de enterro das histórias antigas. Será que não o fazemos porque os “maus ventos” de Espanha ainda não o permitem?Ou será porque pura e simplesmente, ao contrário da Inglaterra, nós não temos celebrações da batalha de Aljubarrota? …(Há alguns, como o prof. Gouveia Monteiro da FLUC, que dizem que a batalha de Aljubarrota é um mito mais ou menos encenado; mas isso não é desculpa. Trafalgar também é um mito – a batalha só veio confirmar um longo processo de decadência francesa e espanhola nos planos naval e colonial face à supremacia britânica – e isso não impede o ritual de pacificação…)E o avião?Alguns dos leitores espantar-se-ão por eu não ter falado do avião que chocou com um carro no aeródromo de Espinho, visto em Leiria haver um caso semelhante de um aeródromo atravessado por uma estrada.Não deixa de ser uma situação perigosa, mas apesar disso não acho a questão assim tão importante.Quantos automobilistas morrem por ano vítimas de aviões que lhes caem na cabeça?Quantos automobilistas morrem por ano vítimas de comboios que os passam a ferro, em passagens de nível sem guarda? Sem ler os números do INE, a resposta parece-me evidente.Num país onde as passagens de nível sem guarda proliferam como propostas de contratos ao Figo, é natural que haja dois aeródromos atravessados por uma estrada. E só não é de espantar que não haja uma ou duas auto-estradas também atravessadas por uma estrada… Em todo o caso, tenho muito mais medo dos comboios, dos bêbados e dos camionistas ensonados que dos aviões. Questão de probabilidade matemática.…o que é que Trafalgar trouxe de novo para Portugal?Tal como a invasão da URSS adiou para sempre os planos nazis de invasão da península ibérica, a batalha de Trafalgar abriu caminho às invasões francesas. Napoleão desistiu do desembarque em Dover e imaginou uma forma muito mais ambiciosa e estúpida de derrotar a Inglaterra – o bloqueio continental, impedindo o comércio inglês com os países continentais, através das armas, o que envolvia a presença de tropas francesas em todos os países que não cortassem relações com a Inglaterra. Entalado, o Portugal do Tratado de Methuen não tinha grandes hipóteses de escapar às invasões…


TrafalgarComeçaram ontem, em Portsmouth, England, as comemorações dos 200 anos da batalha de Trafalgar, que se deu ao largo do cabo do mesmo nome, no sul de Espanha, onde uma esquadra britânica comandada pelo célebre almirante Nelson destruiu uma esquadra franco-espanhola superior em número, arruinando as vagas esperanças que Napoleão tinha de invadir as ilhas britânicas. A Rainha passeou-se a bordo de um navio, mais de 30 países (incluindo naturalmente os antigos inimigos) associaram-se à festa enviando navios de guerra, houve fogo de artifício, enfim, um grande encontro de paz – e de ostentação; enquanto a França envia o todo-poderoso porta-aviões nuclear Charles de Gaulle, os Estados Unidos lá condescendem em enviar um navio de segunda linha.Os jornalistas brincam com o facto de as guerras europeias serem, hoje em dia, com cheques e não com navios de linha. Estes dois factos – as lutas de cheques e o facto de os jornalistas poderem brincar com a situação – são a prova de que algo funciona ainda com o projecto europeu: este pequeno continente é hoje um espaço de paz e os povos que o constituem ultrapassaram todos, ou quase todos, os ódios antigos (se bem que o tradicional ódio franco-britânico começou a ser apagado em 1904, mas adiante.)Seria bom que nós, portugueses, fizéssemos algo de semelhante com as celebrações da batalha de Aljubarrota, convidando espanhóis, os seus aliados franceses, os nossos aliados ingleses, e talvez outros, numa cerimónia de enterro das histórias antigas. Será que não o fazemos porque os “maus ventos” de Espanha ainda não o permitem?Ou será porque pura e simplesmente, ao contrário da Inglaterra, nós não temos celebrações da batalha de Aljubarrota? …(Há alguns, como o prof. Gouveia Monteiro da FLUC, que dizem que a batalha de Aljubarrota é um mito mais ou menos encenado; mas isso não é desculpa. Trafalgar também é um mito – a batalha só veio confirmar um longo processo de decadência francesa e espanhola nos planos naval e colonial face à supremacia britânica – e isso não impede o ritual de pacificação…)E o avião?Alguns dos leitores espantar-se-ão por eu não ter falado do avião que chocou com um carro no aeródromo de Espinho, visto em Leiria haver um caso semelhante de um aeródromo atravessado por uma estrada.Não deixa de ser uma situação perigosa, mas apesar disso não acho a questão assim tão importante.Quantos automobilistas morrem por ano vítimas de aviões que lhes caem na cabeça?Quantos automobilistas morrem por ano vítimas de comboios que os passam a ferro, em passagens de nível sem guarda? Sem ler os números do INE, a resposta parece-me evidente.Num país onde as passagens de nível sem guarda proliferam como propostas de contratos ao Figo, é natural que haja dois aeródromos atravessados por uma estrada. E só não é de espantar que não haja uma ou duas auto-estradas também atravessadas por uma estrada… Em todo o caso, tenho muito mais medo dos comboios, dos bêbados e dos camionistas ensonados que dos aviões. Questão de probabilidade matemática.…o que é que Trafalgar trouxe de novo para Portugal?Tal como a invasão da URSS adiou para sempre os planos nazis de invasão da península ibérica, a batalha de Trafalgar abriu caminho às invasões francesas. Napoleão desistiu do desembarque em Dover e imaginou uma forma muito mais ambiciosa e estúpida de derrotar a Inglaterra – o bloqueio continental, impedindo o comércio inglês com os países continentais, através das armas, o que envolvia a presença de tropas francesas em todos os países que não cortassem relações com a Inglaterra. Entalado, o Portugal do Tratado de Methuen não tinha grandes hipóteses de escapar às invasões…

marcar artigo