UniverCidade: Um centenário com um passado de luta, Diário de Notícias

23-05-2005
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Entrevista a Emídio Guerreiropor PAULA RAMOS NOGUEIRA GUIMARÃESDiz que a velhice é um naufrágio e assume ser um epicurista que ama a vida. O que é para si viver intensamente?É ser autónomo, ter a consciência de que há uma vida. Quando chegamos a uma idade como a minha, em que o poder físico diminui a tal ponto que tenho a necessidade de um amparo, já não é viver. Talvez seja um pouco orgulhoso, mas para mim já não é a vida integral.E da «força da razão humana» de que sempre fala, enquanto motor da mudança. Que mudança está a sociedade actual a viver?Estamos a viver uma época de transição. A sociedade actual está em crise, em convulsão. O terrorismo é a expressão disso mesmo. No meu tempo não havia terrorismo.E está a Humanidade preparada para a mudança que a convulsão promete?Não, não está. Este é o fim de uma civilização e o início de outra. O terceiro milénio será, na minha opinião, o milénio da desalienação humana. O homem criou mitos, depois confiou atributos a esses mitos, depois sujeitou-se a eles. Agora vai-se libertar deles.E inclui nesse processo a emancipação das mulheres?Concerteza! A mulher vai-se emancipar completamente! Não me estranha nada que assistam a governos com maioria feminina. A mulher tem outra sensibilidade... Não quero agora dizer que vamos viver numa época do matricarcado, mas que vamos viver com uma importância da mulher na vida política e social, disso não tenho dúvidas. A afirmação da mulher vai-se manifestar muito mais do que actualmente. Hoje a mulher já se emancipou e de que maneira! Temos juízes, militares de carreira, polícias!Que diferenças mais significativas encontra entre os discursos políticos do seu tempo e os que se fazem hoje?No meu tempo a política era superficial, hoje é mais aprofundada. Fala-se de política ao mesmo tempo que se fala de economia. Dantes era política, democracia, liberdade e nada mais. A própria vivência dos partidos era diferente. O partido vivia para governar. Agora, os partidos ainda querem o poder, mas para governar dentro de parâmetros de desenvolvimento.E essa diferença não é mais populista? Os discursos políticos de hoje, alguns deles, são é mais retrógrados.Foi fundador do PPD, apoiou Ferro Rodrigues, se lhe fosse possível, como se definiria politicamente?Sou um cidadão político, que tem direito a voto e tem uma visão crítica sobre a vida do país . A classificação esquerda/direita está desactualizada.Qual a análise que faz do Governo?É um Governo de direita e de coligação. O PSD, depois do PPD, transformou-se num partido de direita. Era um partido de centro-esquerda, mas depois transformou-se. O PP é um partido reaccionário.Porque diz isso?A prova está clarinha com este caso do «barco do aborto». Porque é que Portas veio proibir a entrada do barco em Portugal? Isto só prova que é um fanático. É o fanatismo que obrigou a isto, para agradar à Igreja, por causa dos votos.Quer dizer que há certa subordinação à perspectiva da Igreja nesta matéria?Isto no tempo da República não sucederia, a separação era total! Não é o que se vê. A própria Concordata está manchada por um favoritismo à Igreja Católica. Este é um Governo de direita, até dizem que é o mais reaccionário desde o 25 de Abril. Eu também acho. É evidente. É reaccionário se entendermos por reaccionário a oposição que faz à transformação da sociedadeSantana Lopes ascendeu à condição de primeiro-ministro em circunstâncias especiais. Que opinião tem dele?É um jovem ambicioso como todos os jovens, desejo-lhe muita sorte. Oxalá dê conta do recado, mas eu acho que vai ser difícil.Não acredita que seja capaz de resolver os problemas do País?Não é não acreditar, acho que não é possível. As condições que vivemos hoje em Portugal, na Europa e no Mundo não vão permitir que esta crise que estamos a atravessar seja resolvida. Acha que dentro de um ano e meio não teremos meio milhão de desempregados? Que neste tempo que falta vai ser resolvido o problema da Educação em Portugal? Claro que não! Temos 40 mil professores que não ensinam e ao mesmo tempo temos um país de analfabetos. Isto é um absurdo! Que o problema da Saúde está resolvido, transformando-a numa mercadoria? Hoje temos hospitais SA, mas isso, para mim, é um escândalo! A Saúde devia ser um primado de qualquer Governo.

Entrevista a Emídio Guerreiropor PAULA RAMOS NOGUEIRA GUIMARÃESDiz que a velhice é um naufrágio e assume ser um epicurista que ama a vida. O que é para si viver intensamente?É ser autónomo, ter a consciência de que há uma vida. Quando chegamos a uma idade como a minha, em que o poder físico diminui a tal ponto que tenho a necessidade de um amparo, já não é viver. Talvez seja um pouco orgulhoso, mas para mim já não é a vida integral.E da «força da razão humana» de que sempre fala, enquanto motor da mudança. Que mudança está a sociedade actual a viver?Estamos a viver uma época de transição. A sociedade actual está em crise, em convulsão. O terrorismo é a expressão disso mesmo. No meu tempo não havia terrorismo.E está a Humanidade preparada para a mudança que a convulsão promete?Não, não está. Este é o fim de uma civilização e o início de outra. O terceiro milénio será, na minha opinião, o milénio da desalienação humana. O homem criou mitos, depois confiou atributos a esses mitos, depois sujeitou-se a eles. Agora vai-se libertar deles.E inclui nesse processo a emancipação das mulheres?Concerteza! A mulher vai-se emancipar completamente! Não me estranha nada que assistam a governos com maioria feminina. A mulher tem outra sensibilidade... Não quero agora dizer que vamos viver numa época do matricarcado, mas que vamos viver com uma importância da mulher na vida política e social, disso não tenho dúvidas. A afirmação da mulher vai-se manifestar muito mais do que actualmente. Hoje a mulher já se emancipou e de que maneira! Temos juízes, militares de carreira, polícias!Que diferenças mais significativas encontra entre os discursos políticos do seu tempo e os que se fazem hoje?No meu tempo a política era superficial, hoje é mais aprofundada. Fala-se de política ao mesmo tempo que se fala de economia. Dantes era política, democracia, liberdade e nada mais. A própria vivência dos partidos era diferente. O partido vivia para governar. Agora, os partidos ainda querem o poder, mas para governar dentro de parâmetros de desenvolvimento.E essa diferença não é mais populista? Os discursos políticos de hoje, alguns deles, são é mais retrógrados.Foi fundador do PPD, apoiou Ferro Rodrigues, se lhe fosse possível, como se definiria politicamente?Sou um cidadão político, que tem direito a voto e tem uma visão crítica sobre a vida do país . A classificação esquerda/direita está desactualizada.Qual a análise que faz do Governo?É um Governo de direita e de coligação. O PSD, depois do PPD, transformou-se num partido de direita. Era um partido de centro-esquerda, mas depois transformou-se. O PP é um partido reaccionário.Porque diz isso?A prova está clarinha com este caso do «barco do aborto». Porque é que Portas veio proibir a entrada do barco em Portugal? Isto só prova que é um fanático. É o fanatismo que obrigou a isto, para agradar à Igreja, por causa dos votos.Quer dizer que há certa subordinação à perspectiva da Igreja nesta matéria?Isto no tempo da República não sucederia, a separação era total! Não é o que se vê. A própria Concordata está manchada por um favoritismo à Igreja Católica. Este é um Governo de direita, até dizem que é o mais reaccionário desde o 25 de Abril. Eu também acho. É evidente. É reaccionário se entendermos por reaccionário a oposição que faz à transformação da sociedadeSantana Lopes ascendeu à condição de primeiro-ministro em circunstâncias especiais. Que opinião tem dele?É um jovem ambicioso como todos os jovens, desejo-lhe muita sorte. Oxalá dê conta do recado, mas eu acho que vai ser difícil.Não acredita que seja capaz de resolver os problemas do País?Não é não acreditar, acho que não é possível. As condições que vivemos hoje em Portugal, na Europa e no Mundo não vão permitir que esta crise que estamos a atravessar seja resolvida. Acha que dentro de um ano e meio não teremos meio milhão de desempregados? Que neste tempo que falta vai ser resolvido o problema da Educação em Portugal? Claro que não! Temos 40 mil professores que não ensinam e ao mesmo tempo temos um país de analfabetos. Isto é um absurdo! Que o problema da Saúde está resolvido, transformando-a numa mercadoria? Hoje temos hospitais SA, mas isso, para mim, é um escândalo! A Saúde devia ser um primado de qualquer Governo.

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