Carlos Carranca - neste lugar sem portas

04-10-2009
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"Li os 7 Poemas para Carlos Paredes, autêntica oração à guitarra portuguesa".António Pinho BrojoA Guitarra portuguesa, segundo parece, emergiu timidamente, na segunda metade do século XVIII, da sua homónima inglesa. Foi-se arrastando desenraizada e subalterna pelos salões - ou tangida pelo povo sem uma técnica própria valorativa, enredada em estruturas musicais amorfo-repetitivas. Personalizou-se no século XX. Em Coimbra adquiriu uma sonoridade particular (adequada à mensagem apelativa das serenatas), fruto de um longo diálogo entre Artur Paredes e o guitarreiro Kim Grado (continuado, mais tarde, com o irmão João Pedro Grado e seu filho Gilberto). A Lusa-Atenas foi o cadinho onde se fundiram especificidades culturais do País. A guitarra e o denominado fado de Coimbra ganharam afirmação e contorno peculiares com a f arnosa geração dos anos vinte -principalmente Artur Paredes e Edmundo de Bettencourt, entre outros, que se eximiram às tradicionais lamechices, rodríguinhos e extensões exibicionistas de voz (mais características da ópera ou canção napolitana). Artur Paredes hauriu, em boa pane, o Sopro Renovador no movimento literário da "Presença", nomeadamente dos seus amigos José Régio (que o exaltou na famosa "Balada de Coimbra "), Edmundo de Bettencourt e Branquinha da Fonseca.Carlos Carranca ordenou a presente poesia segundo uma bem cuidada dialéctica. Primeiramente, a guitarra de Artur Paredes (explícito ou não), como revelação lírica e mágica de Coimbra - Sala de Espelhos do Saudosismo. Depois, em subtil solução de continuidade, a atenção de quem lê amplia-se até ao universal Carlos Paredes (ainda saudosismo: Passado-Presente-Futuro). A guitarra — ligada umbilicalmente às serenatas, lunar -exige qualidades de vigor e interpretação masculinas, solares, para ser conquistada.Intui isso Carlos Carranca:"Guitarra, meu amor de raiz/minha mulher encordoada..."Com Carlos Paredes a guitarra transbordou para o Mundo, acompanhando a Epopeia dos Portugueses (as caravelas, a diáspora dos emigrantes...):"Guitarra, meu bordão de peregrino!.../(...)... "Senhora de Portugal/Guitarra-nossa-condição/ Guitarra-povo./Guitarra Universal!".Diz-nos, num trilho nitidamente pascoalino, José Carlos de Vasconcelos: "na música e na guitarra de Paredes sinto, numa espécie de síntese dialéctica, a memória (vivida) do passado e a saudade (sonhada) do futuro".Caiu-se num Impasse. O Medo e a Descrença manietam a Alma Lusa. Cabe aos Poetas descobrirem a Vela Propulsora Interior que levará à conquista de Novos Mares. Carlos Carranca busca, também, dissipar o nevoeiro pessoano e chegar a Porto Seguro: "Oh guitarra lusitana!/Oh harpa das loucas correrias!/Salgado mar das fantasias.../É a voz do povo que te chama!/Redentora.e fraternal,/és tu quem anuncia/ a hora da alegria/de se de novo/o Povo/o Rei de Portugal".Leiam e admirem a singular acutilância sintética da linguagem pessoal do poeta Carlos Carranca, no envolvimento vivificante da Guitarra nos nossos grandes mitos - passando, doravante, ater potencialidades mágicas, motoras, no renascimento de Portugal.Teotónio Xavierin 7 poemas para Carlos Paredesedições Universitárias Lusófonas, 1996.


"Li os 7 Poemas para Carlos Paredes, autêntica oração à guitarra portuguesa".António Pinho BrojoA Guitarra portuguesa, segundo parece, emergiu timidamente, na segunda metade do século XVIII, da sua homónima inglesa. Foi-se arrastando desenraizada e subalterna pelos salões - ou tangida pelo povo sem uma técnica própria valorativa, enredada em estruturas musicais amorfo-repetitivas. Personalizou-se no século XX. Em Coimbra adquiriu uma sonoridade particular (adequada à mensagem apelativa das serenatas), fruto de um longo diálogo entre Artur Paredes e o guitarreiro Kim Grado (continuado, mais tarde, com o irmão João Pedro Grado e seu filho Gilberto). A Lusa-Atenas foi o cadinho onde se fundiram especificidades culturais do País. A guitarra e o denominado fado de Coimbra ganharam afirmação e contorno peculiares com a f arnosa geração dos anos vinte -principalmente Artur Paredes e Edmundo de Bettencourt, entre outros, que se eximiram às tradicionais lamechices, rodríguinhos e extensões exibicionistas de voz (mais características da ópera ou canção napolitana). Artur Paredes hauriu, em boa pane, o Sopro Renovador no movimento literário da "Presença", nomeadamente dos seus amigos José Régio (que o exaltou na famosa "Balada de Coimbra "), Edmundo de Bettencourt e Branquinha da Fonseca.Carlos Carranca ordenou a presente poesia segundo uma bem cuidada dialéctica. Primeiramente, a guitarra de Artur Paredes (explícito ou não), como revelação lírica e mágica de Coimbra - Sala de Espelhos do Saudosismo. Depois, em subtil solução de continuidade, a atenção de quem lê amplia-se até ao universal Carlos Paredes (ainda saudosismo: Passado-Presente-Futuro). A guitarra — ligada umbilicalmente às serenatas, lunar -exige qualidades de vigor e interpretação masculinas, solares, para ser conquistada.Intui isso Carlos Carranca:"Guitarra, meu amor de raiz/minha mulher encordoada..."Com Carlos Paredes a guitarra transbordou para o Mundo, acompanhando a Epopeia dos Portugueses (as caravelas, a diáspora dos emigrantes...):"Guitarra, meu bordão de peregrino!.../(...)... "Senhora de Portugal/Guitarra-nossa-condição/ Guitarra-povo./Guitarra Universal!".Diz-nos, num trilho nitidamente pascoalino, José Carlos de Vasconcelos: "na música e na guitarra de Paredes sinto, numa espécie de síntese dialéctica, a memória (vivida) do passado e a saudade (sonhada) do futuro".Caiu-se num Impasse. O Medo e a Descrença manietam a Alma Lusa. Cabe aos Poetas descobrirem a Vela Propulsora Interior que levará à conquista de Novos Mares. Carlos Carranca busca, também, dissipar o nevoeiro pessoano e chegar a Porto Seguro: "Oh guitarra lusitana!/Oh harpa das loucas correrias!/Salgado mar das fantasias.../É a voz do povo que te chama!/Redentora.e fraternal,/és tu quem anuncia/ a hora da alegria/de se de novo/o Povo/o Rei de Portugal".Leiam e admirem a singular acutilância sintética da linguagem pessoal do poeta Carlos Carranca, no envolvimento vivificante da Guitarra nos nossos grandes mitos - passando, doravante, ater potencialidades mágicas, motoras, no renascimento de Portugal.Teotónio Xavierin 7 poemas para Carlos Paredesedições Universitárias Lusófonas, 1996.

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