Geração de 80: Esclarecimento

04-10-2009
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Parece-me que o post que ontem escrevi suscitou algumas dúvidas nalgumas pessoas. Algumas chegaram mesmo a confrontar-me pessoalmente sobre o assunto. Devo, então, aqui prestar o meu esclarecimento.A figura de Palma Inácio, pessoalmente, não me diz nada. Não alinho, como alguns por aí fazem, naquele palavreado do "herói romântico". O que Palma Inácio deixou marcado na história resume-se a dois acontecimentos. Sejamos, pois, honestos quanto a isto: um assalto a um banco e o desvio de um avião civil não são coisas de que alguém se orgulhe. Nem hoje, que vivemos em democracia, tais actos seriam vistos com bons olhos.Poder-se-á, porém, atribuir a tais actos o mérito de terem sido praticados contra o regime da altura e em favor da liberdade. Seja. Ainda assim não o justifica. Só será capaz de o defender quem não tiver escrúpulos ou quem estiver a ser intelectualmente desonesto.Mas ainda que os queiramos aceitar como meritórios não podemos fechar os olhos a determinados "pormenores": o avião desviado era civil e o banco roubado era o Banco de Portugal. Adequados não foram certamente...Incomoda-me seriamente que actos contra a lei vigente sejam tomados como exemplares assim que muda o regime político. Para agravar a situação, neste caso concreto, nem a lei mudou: desviar um avião civil e assaltar um banco não passaram a ser práticas rotineiras na vida dos portugueses. Ninguém vai desviar aviões da TAP depois de almoço... Incomoda-me mais ainda o paradigma que vivemos desde 1974. Desde a Revolução que se encara todo e qualquer acto praticado alegadamente contra a ditadura como exemplar.Por outro lado, também, não consigo compreender a idolatria que certos tipos conquistaram ao longo dos anos de democracia. Palma Inácio representa perfeitamente uma certa classe de gente cujo grande feito na vida foi terem sido antifascistas.Eu não vivi em ditadura. Lamento. Conheço os seus defeitos como conheço as suas virtudes. Sempre vivi em democracia. Lamento. Mas sei que aqueles que sempre lutaram (por meios justos) contra a ditadura deviam ter feito mais pela democracia. Deixem-me lamentar só mais esta vez. Mas, que eu saiba, Palma Inácio não fez rigorosamente nada para que o país tivesse evoluído nem para que a própria democracia em si mesma tivesse crescido e se tivesse estabilizado sem cair no lodo em que se encontra hoje. Se tudo o que Palma Inácio deu ao país foi um avião desviado e um banco assaltado, então paz à sua alma. Eu não o aplaudo.Acredito na liberdade do ser humano. Acredito que todos nós a devemos preservar e lutar para que a possamos manter enquanto valor. Mas não acredito nela enquanto valor absoluto e supremo. A liberdade é um meio para o desenvolvimento de uma sociedade e para o amadurecimento de uma pessoa. Não é um fim em si mesmo. Palma Inácio não o soube compreender. P.S.: Provavelmente chamar "terrorista" a Palma Inácio é adequado. Desviar um avião com civis lá dentro não me parece um acto revolucionário. Como disse, é desproporcional às circunstâncias. Palma Inácio não compreendeu mesmo que a liberdade não é um fim. E colocada assim a questão, um revolucionário não foi certamente...


Parece-me que o post que ontem escrevi suscitou algumas dúvidas nalgumas pessoas. Algumas chegaram mesmo a confrontar-me pessoalmente sobre o assunto. Devo, então, aqui prestar o meu esclarecimento.A figura de Palma Inácio, pessoalmente, não me diz nada. Não alinho, como alguns por aí fazem, naquele palavreado do "herói romântico". O que Palma Inácio deixou marcado na história resume-se a dois acontecimentos. Sejamos, pois, honestos quanto a isto: um assalto a um banco e o desvio de um avião civil não são coisas de que alguém se orgulhe. Nem hoje, que vivemos em democracia, tais actos seriam vistos com bons olhos.Poder-se-á, porém, atribuir a tais actos o mérito de terem sido praticados contra o regime da altura e em favor da liberdade. Seja. Ainda assim não o justifica. Só será capaz de o defender quem não tiver escrúpulos ou quem estiver a ser intelectualmente desonesto.Mas ainda que os queiramos aceitar como meritórios não podemos fechar os olhos a determinados "pormenores": o avião desviado era civil e o banco roubado era o Banco de Portugal. Adequados não foram certamente...Incomoda-me seriamente que actos contra a lei vigente sejam tomados como exemplares assim que muda o regime político. Para agravar a situação, neste caso concreto, nem a lei mudou: desviar um avião civil e assaltar um banco não passaram a ser práticas rotineiras na vida dos portugueses. Ninguém vai desviar aviões da TAP depois de almoço... Incomoda-me mais ainda o paradigma que vivemos desde 1974. Desde a Revolução que se encara todo e qualquer acto praticado alegadamente contra a ditadura como exemplar.Por outro lado, também, não consigo compreender a idolatria que certos tipos conquistaram ao longo dos anos de democracia. Palma Inácio representa perfeitamente uma certa classe de gente cujo grande feito na vida foi terem sido antifascistas.Eu não vivi em ditadura. Lamento. Conheço os seus defeitos como conheço as suas virtudes. Sempre vivi em democracia. Lamento. Mas sei que aqueles que sempre lutaram (por meios justos) contra a ditadura deviam ter feito mais pela democracia. Deixem-me lamentar só mais esta vez. Mas, que eu saiba, Palma Inácio não fez rigorosamente nada para que o país tivesse evoluído nem para que a própria democracia em si mesma tivesse crescido e se tivesse estabilizado sem cair no lodo em que se encontra hoje. Se tudo o que Palma Inácio deu ao país foi um avião desviado e um banco assaltado, então paz à sua alma. Eu não o aplaudo.Acredito na liberdade do ser humano. Acredito que todos nós a devemos preservar e lutar para que a possamos manter enquanto valor. Mas não acredito nela enquanto valor absoluto e supremo. A liberdade é um meio para o desenvolvimento de uma sociedade e para o amadurecimento de uma pessoa. Não é um fim em si mesmo. Palma Inácio não o soube compreender. P.S.: Provavelmente chamar "terrorista" a Palma Inácio é adequado. Desviar um avião com civis lá dentro não me parece um acto revolucionário. Como disse, é desproporcional às circunstâncias. Palma Inácio não compreendeu mesmo que a liberdade não é um fim. E colocada assim a questão, um revolucionário não foi certamente...

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