Mundo de velhos

02-03-2008
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Mundo de velhos

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A FESTA do 105º aniversário de Emídio Guerreiro, celebrada 2ªfeira na sua Guimarães natal, vem lembrar-nos do rápido envelhecimento da população do planeta.

Nascido no século XIX, Emídio Guerreiro viu o Regicídio, foi preso e torturado por lutar contra o Estado Novo, combateu na trincheira republicana durante a Guerra Civil de Espanha, foi exilado em França, internado num campo de concentração nazi durante a II Guerra Mundial, e participou activamente na construção da nossa democracia, como fundador e líder do PSD.

Chegou ao século XXI suficientemente lúcido para nos avisar de que vivemos numa época de transição - «A sociedade actual está em crise, em convulsão. O terrorismo é a expressão disso mesmo» - e sábio para nos chamar a atenção de que estamos num ponto de viragem: «Este é o fim de uma civilização e o início de outra».

A nossa sociedade foi construída com base na expectativa de vida do século em que o Emídio Guerreiro nasceu (o XIX), quando apenas 3% das pessoas ultrapassavam a barreira dos 65 anos. Por isso está obsoleta, fora de moda, desajustada de um mundo que, pela primeira vez nos seus dois mil milhões de anos de história, vai ser habitado mais por mais velhos do que por crianças.

A Terra está a transformar-se num gigantesco asilo de velhos e pouca gente pára para pensar neste virar de página civilizacional. Frank Schirrmacher, 44 anos, o filósofo alemão que dirige o Frankfurter Allgemeine, é uma das poucas cabeças pensantes que tem reflectido sobre o tema. O autor de O Complot Matusalém recorda-nos que em 99,99% da história da humanidade as pessoas nunca viveram mais do que 30 ou 35 anos. Hoje a esperança de vida de um americano está nos 80 anos, a dos japoneses nos 84 e a dos chineses nos 73. «A experiência de ficar velho é nova. Não estamos adaptados a isso», diz Schirrmacher.

A demografia contribui para explicar a tragédia na escola de Beslan, na Ossétia do Norte. Enquanto a Europa, os EUA, a América Latina e a Ásia envelhecem, assistimos à explosão da natalidade nos países árabes. A Faixa de Gaza, com uma média de idade de 16 anos, é o território mais jovem do mundo.

«Sociedades com muitos jovens costumam ser muito inquietas, agitadas e instáveis. Isso ocorreu na Alemanha, quando surgiu o nazismo. A Revolução Francesa deu-se num país com muitos jovens. A revolução iraniana aconteceu nas mesmas condições. Esse fenómeno está agora a sacudir todo o mundo árabe. O terrorismo é uma das consequências da instabilidade dos países árabes», diz Schirrmacher.

O envelhecimento da população é responsável pelo facto de 3,5 milhões de portugueses viverem à custa do Estado, de cada três activos estarem a sustentar um reformado ou excluído. É preciso agir sobre esta realidade e a receita não pode ser a espartana - que consistia em levar os velhos para a montanha e deixá-los lá morrer.

A opção pelas reformas antecipadas tem de desaparecer do topo da lista das medidas a tomar quando uma empresa precisa de emagrecer. E o Governo tem de incentivar os bancos a darem aos idosos as mesmas condições que oferecem aos jovens que querem abrir um negócio - e levar a Revolução dos Velhos ao mundo do trabalho.

A nossa economia tem de se adequar estruturalmente a um mundo povoado por velhos, em que as indústrias como as da saúde (Viagra, cirurgia plástica, lares, etc.) e do turismo não cessarão de crescer.

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A FESTA do 105º aniversário de Emídio Guerreiro, celebrada 2ªfeira na sua Guimarães natal, vem lembrar-nos do rápido envelhecimento da população do planeta.

Nascido no século XIX, Emídio Guerreiro viu o Regicídio, foi preso e torturado por lutar contra o Estado Novo, combateu na trincheira republicana durante a Guerra Civil de Espanha, foi exilado em França, internado num campo de concentração nazi durante a II Guerra Mundial, e participou activamente na construção da nossa democracia, como fundador e líder do PSD.

Chegou ao século XXI suficientemente lúcido para nos avisar de que vivemos numa época de transição - «A sociedade actual está em crise, em convulsão. O terrorismo é a expressão disso mesmo» - e sábio para nos chamar a atenção de que estamos num ponto de viragem: «Este é o fim de uma civilização e o início de outra».

A nossa sociedade foi construída com base na expectativa de vida do século em que o Emídio Guerreiro nasceu (o XIX), quando apenas 3% das pessoas ultrapassavam a barreira dos 65 anos. Por isso está obsoleta, fora de moda, desajustada de um mundo que, pela primeira vez nos seus dois mil milhões de anos de história, vai ser habitado mais por mais velhos do que por crianças.

A Terra está a transformar-se num gigantesco asilo de velhos e pouca gente pára para pensar neste virar de página civilizacional. Frank Schirrmacher, 44 anos, o filósofo alemão que dirige o Frankfurter Allgemeine, é uma das poucas cabeças pensantes que tem reflectido sobre o tema. O autor de O Complot Matusalém recorda-nos que em 99,99% da história da humanidade as pessoas nunca viveram mais do que 30 ou 35 anos. Hoje a esperança de vida de um americano está nos 80 anos, a dos japoneses nos 84 e a dos chineses nos 73. «A experiência de ficar velho é nova. Não estamos adaptados a isso», diz Schirrmacher.

A demografia contribui para explicar a tragédia na escola de Beslan, na Ossétia do Norte. Enquanto a Europa, os EUA, a América Latina e a Ásia envelhecem, assistimos à explosão da natalidade nos países árabes. A Faixa de Gaza, com uma média de idade de 16 anos, é o território mais jovem do mundo.

«Sociedades com muitos jovens costumam ser muito inquietas, agitadas e instáveis. Isso ocorreu na Alemanha, quando surgiu o nazismo. A Revolução Francesa deu-se num país com muitos jovens. A revolução iraniana aconteceu nas mesmas condições. Esse fenómeno está agora a sacudir todo o mundo árabe. O terrorismo é uma das consequências da instabilidade dos países árabes», diz Schirrmacher.

O envelhecimento da população é responsável pelo facto de 3,5 milhões de portugueses viverem à custa do Estado, de cada três activos estarem a sustentar um reformado ou excluído. É preciso agir sobre esta realidade e a receita não pode ser a espartana - que consistia em levar os velhos para a montanha e deixá-los lá morrer.

A opção pelas reformas antecipadas tem de desaparecer do topo da lista das medidas a tomar quando uma empresa precisa de emagrecer. E o Governo tem de incentivar os bancos a darem aos idosos as mesmas condições que oferecem aos jovens que querem abrir um negócio - e levar a Revolução dos Velhos ao mundo do trabalho.

A nossa economia tem de se adequar estruturalmente a um mundo povoado por velhos, em que as indústrias como as da saúde (Viagra, cirurgia plástica, lares, etc.) e do turismo não cessarão de crescer.

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