SEBENTARIA, A Palavra a Quem a Trabalha: Militante do PPD não hesita em assumir a sua liderança, quando outros abandonaram...

19-07-2005
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"Falar de Emídio Guerreiro é-me extraordinariamente gratificante. Como militar de Abril, costumo afirmar que o 25 de Abril só foi possível, como acção libertadora de Portugal e dos portugueses, porque muitos mantiveram acesa a chama da esperança na liberdade. Ainda que para isso tivessem que arriscar não só a sua liberdade mas também a própria vida. Foi a luta desses homens e dessas mulheres, organizados em partidos ou grupos políticos, ou radicalmente independentes procurando teimosamente a unidade na acção, que criou as condições para que o caduco regime de ditadura fascista encontrasse o seu fim, em 25 de Abril de 74. A grande virtude dos capitães de Abril consistiu no saber aproveitar a oportunidade. Com coragem, com decisão, com determinação, mas aproveitando as condições que muitos democratas e antifascistas conseguiram criar. Emídio Guerreiro é bem o exemplo dos lutadores independentes, que nunca hesitaram, nunca viraram a cara à luta e tudo fizeram para que a liberdade e a democracia fossem uma realidade em Portugal. Com a feliz particularidade de viver em três séculos diferentes, tem uma vida repleta de emoções, de lutas, de alegrias e tristezas, de vitórias e derrotas. Vida intensa, como o século XX que ele viveu inteiro, não passou ao lado das revoluções, contra-revoluções e das guerras de diversos matizes que se verificaram nestes últimos cem anos. É assim que o vemos nascer na Monarquia, assistir à implantação da República democrática, a que aderiu, apanhar com o Estado Novo fascista que o perseguirá, o expulsará da universidade e o obrigará ao exílio. Que o leva a novas lutas, sempre do lado da liberdade, primeiro na guerra civil de Espanha, depois na luta contra a ocupação nazi em França. Foi assim que, mesmo exilado, o vemos na organização da luta contra a ditadura em Portugal, nunca abdicando dos valores cívicos e éticos, que o transformaram num exemplo vivo para as novas gerações. Envolvendo-se com a LUAR, pugna por uma luta com ética e sem aventureirismos, ainda que tenha de arrostar com ataques soezes que procuraram lançar na lama o seu bom nome. Tendo sido o primeiro a denunciar o assassinato de Humberto Delgado pela PIDE, tudo fazendo para procurar a verdade desse crime, ganha com isso lugar de destaque nos inimigos de estimação dessa política tenebrosa, que lhe passa a dedicar o consequente ódio. É por isso que só pode voltar a Portugal depois do 25 de Abril de 1974. A idade de 75 anos não o impede de se lançar pela consolidação da democracia em Portugal, pela construção do país com que sempre sonhara e pelo qual lutara. Não aceitando ficar a ver a marcha da História, volta a empenhar-se na sua construção e é tempo de o vermos envolvido, pela primeira vez, na luta partidária. Militante do PPD não hesita em assumir a sua liderança, quando outros abandonaram a cena, convencidos de que a derrota era inevitável. Sempre fiel à social - democracia, envolveu-se na luta do inesquecível Verão Quente de 1975, participa na autêntica trincheira em que a Assembleia Constituinte se transforma, consegue que o seu partido se mantenha firme e ganha jus a um lugar na galeria dos que nesses conturbados tempos defenderam e salvaguardaram a liberdade e a democracia em Portugal. Passados os tempos mais conturbados e, portanto, mais perigosos, logo os oportunistas os haviam de pôr em causa, o procuraram engolir e o forçaram a abandonar o partido que, na fase mais difícil da sua existência, soubera liderar. Para trás ficava a experiência partidária, tal como a actividade política concreta, mas para trás não ficou uma prática cívica e política sempre na defesa e no apoio a acções de democratas das gerações mais jovens, a que empresta um permanente e jovem entusiasmo de velho lutador. Todas estas acções são ainda mais relevantes, porque Emídio Guerreiro nunca abdicou da sua vocação de intelectual e de professor. Homem de enorme cultura, com conhecimentos científicos e filosóficos permanentemente actualizados, grande matemático, também aqui pode orgulhar-se o seu passado, onde, depois da expulsão de assistente da Faculdade de Ciências do Porto, sobressai o facto de ter leccionado em Espanha e em França e de, nos liceus deste país, ter sido o introdutor das matemáticas modernas. Verdadeiro exemplo para as novas gerações, homem de enorme coragem, total coerência e integridade cívica e intelectual, é com grande orgulho que me vejo no grupo dos seus admiradores e amigos."Vasco Lourenço In «100 Anos de História»

"Falar de Emídio Guerreiro é-me extraordinariamente gratificante. Como militar de Abril, costumo afirmar que o 25 de Abril só foi possível, como acção libertadora de Portugal e dos portugueses, porque muitos mantiveram acesa a chama da esperança na liberdade. Ainda que para isso tivessem que arriscar não só a sua liberdade mas também a própria vida. Foi a luta desses homens e dessas mulheres, organizados em partidos ou grupos políticos, ou radicalmente independentes procurando teimosamente a unidade na acção, que criou as condições para que o caduco regime de ditadura fascista encontrasse o seu fim, em 25 de Abril de 74. A grande virtude dos capitães de Abril consistiu no saber aproveitar a oportunidade. Com coragem, com decisão, com determinação, mas aproveitando as condições que muitos democratas e antifascistas conseguiram criar. Emídio Guerreiro é bem o exemplo dos lutadores independentes, que nunca hesitaram, nunca viraram a cara à luta e tudo fizeram para que a liberdade e a democracia fossem uma realidade em Portugal. Com a feliz particularidade de viver em três séculos diferentes, tem uma vida repleta de emoções, de lutas, de alegrias e tristezas, de vitórias e derrotas. Vida intensa, como o século XX que ele viveu inteiro, não passou ao lado das revoluções, contra-revoluções e das guerras de diversos matizes que se verificaram nestes últimos cem anos. É assim que o vemos nascer na Monarquia, assistir à implantação da República democrática, a que aderiu, apanhar com o Estado Novo fascista que o perseguirá, o expulsará da universidade e o obrigará ao exílio. Que o leva a novas lutas, sempre do lado da liberdade, primeiro na guerra civil de Espanha, depois na luta contra a ocupação nazi em França. Foi assim que, mesmo exilado, o vemos na organização da luta contra a ditadura em Portugal, nunca abdicando dos valores cívicos e éticos, que o transformaram num exemplo vivo para as novas gerações. Envolvendo-se com a LUAR, pugna por uma luta com ética e sem aventureirismos, ainda que tenha de arrostar com ataques soezes que procuraram lançar na lama o seu bom nome. Tendo sido o primeiro a denunciar o assassinato de Humberto Delgado pela PIDE, tudo fazendo para procurar a verdade desse crime, ganha com isso lugar de destaque nos inimigos de estimação dessa política tenebrosa, que lhe passa a dedicar o consequente ódio. É por isso que só pode voltar a Portugal depois do 25 de Abril de 1974. A idade de 75 anos não o impede de se lançar pela consolidação da democracia em Portugal, pela construção do país com que sempre sonhara e pelo qual lutara. Não aceitando ficar a ver a marcha da História, volta a empenhar-se na sua construção e é tempo de o vermos envolvido, pela primeira vez, na luta partidária. Militante do PPD não hesita em assumir a sua liderança, quando outros abandonaram a cena, convencidos de que a derrota era inevitável. Sempre fiel à social - democracia, envolveu-se na luta do inesquecível Verão Quente de 1975, participa na autêntica trincheira em que a Assembleia Constituinte se transforma, consegue que o seu partido se mantenha firme e ganha jus a um lugar na galeria dos que nesses conturbados tempos defenderam e salvaguardaram a liberdade e a democracia em Portugal. Passados os tempos mais conturbados e, portanto, mais perigosos, logo os oportunistas os haviam de pôr em causa, o procuraram engolir e o forçaram a abandonar o partido que, na fase mais difícil da sua existência, soubera liderar. Para trás ficava a experiência partidária, tal como a actividade política concreta, mas para trás não ficou uma prática cívica e política sempre na defesa e no apoio a acções de democratas das gerações mais jovens, a que empresta um permanente e jovem entusiasmo de velho lutador. Todas estas acções são ainda mais relevantes, porque Emídio Guerreiro nunca abdicou da sua vocação de intelectual e de professor. Homem de enorme cultura, com conhecimentos científicos e filosóficos permanentemente actualizados, grande matemático, também aqui pode orgulhar-se o seu passado, onde, depois da expulsão de assistente da Faculdade de Ciências do Porto, sobressai o facto de ter leccionado em Espanha e em França e de, nos liceus deste país, ter sido o introdutor das matemáticas modernas. Verdadeiro exemplo para as novas gerações, homem de enorme coragem, total coerência e integridade cívica e intelectual, é com grande orgulho que me vejo no grupo dos seus admiradores e amigos."Vasco Lourenço In «100 Anos de História»

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