105 anos de irreverência

29-02-2008
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105 anos de irreverência

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Sérgio Granadeiro

EMÍDIO Guerreiro não esconde o cepticismo sobre a eficácia de um Governo liderado pelo homem que se diz politicamente inspirado por Sá Carneiro., diz este fundador e um dos primeiros presidentes do PSD, que esta semana completou 105 anos de vida.

A voz denota cansaço, mas o seu pensamento mantém uma lucidez que frequentes vezes o arrasta para tiradas irreverentes e inesperadas: acha que o PSD virou demasiado à direita, que Ferro Rodrigues era um bom líder, que o actual Governo é reaccionário, que a Igreja Católica é demasiado favorecida, que vivemos numa sociedade pouco democrática, e que pouco separou os Executivos de Guterres e de Durão Barroso.

Na passada segunda-feira, foram muitos os amigos e admiradores que se deslocaram a Guimarães para o ver soprar as velas de aniversário. Entre eles, estavam figuras sociais-democratas que não se cansam de elogiar o papel de Emídio Guerreiro na formatação inicial do PPD. Mas são esses que recordam igualmente o desencanto com que ele se afastou do PSD, tendo até apoiado Ferro Rodrigues nas últimas eleições legislativas.

Emídio Guerreiro foi o primeiro líder da estrutura distrital do PPD no Porto, criada em Outubro de 1974. Pouco tempo depois, o fundador do partido chegou mesmo à liderança nacional, substituindo Francisco Sá Carneiro quando este se ausentou para o estrangeiro, alegando razões de saúde.

A sua eleição foi tudo menos pacífica, com muitos dirigentes a criticar a irreverência com que entrara para o partido. «Quando aderi ao partido não assinei nenhum documento. Tornei-me dirigente sem ter um único papel a dizer que eu era militante», recorda Emídio Guerreiro.

Em Maio de 1975, sai da presidência e abandona mesmo o partido, não gostando do rumo definido no Congresso de Aveiro. Foi ter com Sá Carneiro e disse-lhe: «Sabe, eu não estou para me filiar num novo partido». Desde então, assumiu as vestes de homem livre, que sempre o definiram, desenhadas pelas aventuras na Guerra Civil Espanhola e pelas experiências de resistência ao regime salazarista e de quatro décadas de exílio em França.

Matemático, com especial fascínio pela Teoria dos Números, Emídio Guerreiro irrita-se com o avançar dos dígitos da sua idade: «A velhice é a antecâmara da morte».

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Sérgio Granadeiro

EMÍDIO Guerreiro não esconde o cepticismo sobre a eficácia de um Governo liderado pelo homem que se diz politicamente inspirado por Sá Carneiro., diz este fundador e um dos primeiros presidentes do PSD, que esta semana completou 105 anos de vida.

A voz denota cansaço, mas o seu pensamento mantém uma lucidez que frequentes vezes o arrasta para tiradas irreverentes e inesperadas: acha que o PSD virou demasiado à direita, que Ferro Rodrigues era um bom líder, que o actual Governo é reaccionário, que a Igreja Católica é demasiado favorecida, que vivemos numa sociedade pouco democrática, e que pouco separou os Executivos de Guterres e de Durão Barroso.

Na passada segunda-feira, foram muitos os amigos e admiradores que se deslocaram a Guimarães para o ver soprar as velas de aniversário. Entre eles, estavam figuras sociais-democratas que não se cansam de elogiar o papel de Emídio Guerreiro na formatação inicial do PPD. Mas são esses que recordam igualmente o desencanto com que ele se afastou do PSD, tendo até apoiado Ferro Rodrigues nas últimas eleições legislativas.

Emídio Guerreiro foi o primeiro líder da estrutura distrital do PPD no Porto, criada em Outubro de 1974. Pouco tempo depois, o fundador do partido chegou mesmo à liderança nacional, substituindo Francisco Sá Carneiro quando este se ausentou para o estrangeiro, alegando razões de saúde.

A sua eleição foi tudo menos pacífica, com muitos dirigentes a criticar a irreverência com que entrara para o partido. «Quando aderi ao partido não assinei nenhum documento. Tornei-me dirigente sem ter um único papel a dizer que eu era militante», recorda Emídio Guerreiro.

Em Maio de 1975, sai da presidência e abandona mesmo o partido, não gostando do rumo definido no Congresso de Aveiro. Foi ter com Sá Carneiro e disse-lhe: «Sabe, eu não estou para me filiar num novo partido». Desde então, assumiu as vestes de homem livre, que sempre o definiram, desenhadas pelas aventuras na Guerra Civil Espanhola e pelas experiências de resistência ao regime salazarista e de quatro décadas de exílio em França.

Matemático, com especial fascínio pela Teoria dos Números, Emídio Guerreiro irrita-se com o avançar dos dígitos da sua idade: «A velhice é a antecâmara da morte».

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