Assim escreve Pedro Picoito no Cachimbo de Magrite, sobre a I República e o Estado Novo:Assim, a chamada República Velha significa um corte histórico com a tradição liberal portuguesa, para o bem e para o mal representada pelas sete décadas de constitucionalismo monárquico. Ao contrário do que ensina a mitologia corrente, a Primeira República não antecipa a democracia, de que a "longa noite do fascismo" seria apenas um intervalo, mas a ditadura do próprio Estado Novo. O quadro histórico em que se movem Afonso Costa e Salazar é o mesmo. A extraordinária violência da política republicana, que contamina o quotidiano do país, abre caminho à violência ordinária e quotidiana do salazarismo, que despolitiza o país. O país, cansado de política, suspirou de alívio. Durante 48 anos.É incrível como uma mentira tantas vezes repetida acaba por se tornar verdade.A I República não era liberal, era o quê? Um regime revolucionário?Considerando esta tese como válida, o que defende Rui Ramos, é tomar em consideração que o período entre 1910 e 1926 é estanque e «monocolor». O que, manifestamente, não é verdade.O que fazem os anarquistas, que por diversas vezes paralisam o país? Ou os Monárquicos, que até proclamam uma Monarquia no Norte? Ou os militares, que com Pimenta de Castro, primeiro, e com Sidónio, depois, procuram por via violente a tomada do poder do Estado? O que é o 18 de Abril de 1925 ou o 28 de Maio de 1926?Quem tem, afinal, o monopólio da violência?Não será mais plausível a explicação de que todo o período é que é violento, independentemente do quadrante político? (aliás, pelo menos desde o 31 de Janeiro de 1891 que o uso da violência como táctica de assalto ao Poder é frequentemente utilizada...).Gosto ainda da ideia de que o Estado Novo despolitiza as pessoas. Nada mais errado. Foi, talvez, dos períodos mais politizados da nossa história recente; com grande confronto quer na oposição quer na situação. Aliás, basta pensar que, na sua génese, o Estado Novo tem uma forte matriz liberal (sim, liberal). Basta analisarem as suas leis eleitorais.Por fim, depois de tanta baboseira, entendo o «alívio» que Pedro Picoto diz sentir no Estado Novo. Para a sua linha interpretativa imagino que seja, mesmo, um qualquer alívio, aqueles 48 anos (para outros, imagino, talvez tenha sido um tormento...)
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Assim escreve Pedro Picoito no Cachimbo de Magrite, sobre a I República e o Estado Novo:Assim, a chamada República Velha significa um corte histórico com a tradição liberal portuguesa, para o bem e para o mal representada pelas sete décadas de constitucionalismo monárquico. Ao contrário do que ensina a mitologia corrente, a Primeira República não antecipa a democracia, de que a "longa noite do fascismo" seria apenas um intervalo, mas a ditadura do próprio Estado Novo. O quadro histórico em que se movem Afonso Costa e Salazar é o mesmo. A extraordinária violência da política republicana, que contamina o quotidiano do país, abre caminho à violência ordinária e quotidiana do salazarismo, que despolitiza o país. O país, cansado de política, suspirou de alívio. Durante 48 anos.É incrível como uma mentira tantas vezes repetida acaba por se tornar verdade.A I República não era liberal, era o quê? Um regime revolucionário?Considerando esta tese como válida, o que defende Rui Ramos, é tomar em consideração que o período entre 1910 e 1926 é estanque e «monocolor». O que, manifestamente, não é verdade.O que fazem os anarquistas, que por diversas vezes paralisam o país? Ou os Monárquicos, que até proclamam uma Monarquia no Norte? Ou os militares, que com Pimenta de Castro, primeiro, e com Sidónio, depois, procuram por via violente a tomada do poder do Estado? O que é o 18 de Abril de 1925 ou o 28 de Maio de 1926?Quem tem, afinal, o monopólio da violência?Não será mais plausível a explicação de que todo o período é que é violento, independentemente do quadrante político? (aliás, pelo menos desde o 31 de Janeiro de 1891 que o uso da violência como táctica de assalto ao Poder é frequentemente utilizada...).Gosto ainda da ideia de que o Estado Novo despolitiza as pessoas. Nada mais errado. Foi, talvez, dos períodos mais politizados da nossa história recente; com grande confronto quer na oposição quer na situação. Aliás, basta pensar que, na sua génese, o Estado Novo tem uma forte matriz liberal (sim, liberal). Basta analisarem as suas leis eleitorais.Por fim, depois de tanta baboseira, entendo o «alívio» que Pedro Picoto diz sentir no Estado Novo. Para a sua linha interpretativa imagino que seja, mesmo, um qualquer alívio, aqueles 48 anos (para outros, imagino, talvez tenha sido um tormento...)