PALAVROSSAVRVS REX: O GRANDE MORALIZADOR

30-09-2009
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Aqui em pose de el-Rei de Marrocos, como brinca o João Gonçalves.lkjDepois do que investigou José António Cerejo sobre as célebres assinaturas técnicas da longínqua fase socratina no Município da Guarda, os ânimos estão ao rubro e as opiniões profundamente divididas.Como Mourinho, que, se não é treinador, é comentador,Sócrates, se não for novamente, ou deixar de ser de repente, Primeiro-Ministro, talvez venha a ser por certo um Modelo Fotográficoe um fornecedor excelente de enredos intrincados à Sétima Arte de como se é político na parvónia portuguesa.lkjEm falando do PS, dir-se-ia que a seriedade e a ética têm de ser só para alguns:devemos ser implacáveis com Telmo Correia, com Santana Lopes, sempre que tropecem,mas indulgentes com José Sócrates e os seus próximos em qualquer coisa que espirre a indevido.Aliás, não conheço ninguém mais implacável nestas judicações que ele, que é esmagador e tem nas mãos as melhores anotações da sua Agência de Imagempara arrasar sem dó nem piedade os adversários.lkjAs coisas que vou lendo surpreendem-me deveras.Porque, por um lado, a paixão clubística típica em muitos militantes do PScega milagrosamente perante quaisquer factos, tenham a consistência e a gravidade que tiverem. Por outro, já ninguém se surpreende com quaisquer revelações do passadomirabolante de 'técnico' e político do homem em apreço, o que sintomatizaa noção de que o País está num equilíbrio crítico: que o controlo das contas públicastalvez justifique à Psique Geral Portuguesa que se engulam quantos sapos haja de falta de idoneidade e de ética, afinal reveladores do carácter viscoso subjacente à pessoa pública referida.lkjEle, que nos tem comprimido a paciência, a sanidade e mesmo as nossas veleidades de felicidade, enquanto cidadãos com uma vida digna, com medidas draconianas, a nós, que sobrevivemos, e mal!, com o trabalho que vendemos ou com o desemprego que pastamos, (e nisso é visto como corajoso e reformador, o mesmo é Chávez!) já não tem qualquer margem para parecer. Mas também já não pode ser.lkjTranscrevo uma posta do Francisco José Viegas a isto concernente: lkj«Não partilho a ideia da superioridade moral do jornalismo, e considero que José António Cerejo é um bom jornalista que criou justificados anti-corpos no PS. çlkEntrevistei J. A. Cerejo no longínquo «Falatório» (RTP-2, 1997; às sextas à noite era dedicado aos média), no dia a seguir à demissão de António Vitorino provocada pelo seu artigo no Público. Era uma emissão com os média da semana, que antecedeu o «Primeira Página», que era diário. Lembro-me do corredor que dava para o estúdio; eu tinha escrito no meu bloco as primeiras perguntas a José António Cerejo, o jornalista que tinha levado o vice-primeiro-ministro e ministro da defesa à demissão. Foi já no estúdio que decidi alterar o guião; em vez de começar pelas perguntas da ordem (como se sente por ter provocado esta demissão?, quando começou a sua investigação em Almodovar?, etc.), disse «boa noite, J.A. Cerejo, tem os seus impostos em dia?» lkjLembro-me da resposta de Cerejo, resumida: «Mas eu não sou um político.» Era um facto. Mas era bom saber-se se um jornalista que investiga um suposto deslize fiscal de um político deve estar, ou não, sujeito ao mesmo escrutínio. lkjPessoalmente, penso que os jornalistas devem fazer as suas declarações de interesses e devemos conhecê-las para não desconfiarmos (enquanto cidadãos) do que escrevem. Talvez se acabasse com a ideia dos inconfessáveis interesses dos jornalistas, ou de um jornalista de cada vez. lkjÉ exactamente a falta dessa declaração de interesses que tem mantido a ideia de que o jornalismo deve ser bacteriologicamente puro.Acontece que a atitude de António Vitorino foi a de demitir-se, mesmo garantindo que estava inocente e que não tinha cometido qualquer ilícito fiscal. çlkjClaro, houve zunzuns sobre o apetite de Vitorino sobre o governo: que não lhe apetecia estar lá e que aproveitou a oportunidade. Não acredito, apesar de tudo.A ideia de que o Público imprimiu estes artigos sobre José Sócrates movido pelo interesse da Sonae em derrubar o primeiro-ministro parece-me zunzum igual. lkjDevemos desconfiar, sim; devemos sempre desconfiar. Mas convinha esclarecer o assunto, ou não? Devia o Público abster-se de publicar as notícias apenas porque o patrão é um grupo económico distribuído por telecomunicações, madeiras & hipermercados?Vamos e venhamos: 1) primeira parte: do ponto de vista do rigor da informação, a primeira peça de Cerejo sobre as assinaturas de favor é inatacável; são factos; 2) segunda parte: tem interesse público o conhecimento desses factos? lkjEssa é outra matéria. lkjNão é crime, já se sabe, fazer aquilo que Sócrates fez, se o fez; mas não é nada ético. Sinceramente, e sem querer fazer piada, é um beco sem saída: se o fez, é mau; se elaborou os estudos e os projectos daquelas casas, é ainda pior. No primeiro caso, é mau politicamente. No segundo caso, é mau em geral. lkjInteressa, à opinião pública, conhecer estes aspectos da vida anterior de José Sócrates? Não estamos a falar da sua vida pessoal; não estamos a entrar na esfera da privacidade; são factos públicos. Provando-se que são factos, têm eles interesse político? Servem para avaliar o comportamento político de José Sócrates ou, até, do primeiro-ministro? Estas são as questões essenciais. As outras relevam do puro comentário e, aí sim, da teoria da conspiração e do combate político.lkjFazer juízos de ordem moral é fácil, mas não é apenas isso que está em causa (ah, porque sim, porque estamos todos a fazer juízos de ordem moral, agora ou noutras circunstâncias), independentemente dos supostos «inconfessáveis interesses» do Público. Uma coisa é desconfiar das afirmações dos políticos; outra é desconfiar de todas as perguntas aos políticos. lkjHá uns anos, num dos seus textos, Agustina Bessa-Luís falava do novo exemplar de homem político; que seria o homem comum. Infelizmente, referia-se a Santana Lopes. Viu-se.»lkjFrancisco José Viegas, A Origem das Espécies


Aqui em pose de el-Rei de Marrocos, como brinca o João Gonçalves.lkjDepois do que investigou José António Cerejo sobre as célebres assinaturas técnicas da longínqua fase socratina no Município da Guarda, os ânimos estão ao rubro e as opiniões profundamente divididas.Como Mourinho, que, se não é treinador, é comentador,Sócrates, se não for novamente, ou deixar de ser de repente, Primeiro-Ministro, talvez venha a ser por certo um Modelo Fotográficoe um fornecedor excelente de enredos intrincados à Sétima Arte de como se é político na parvónia portuguesa.lkjEm falando do PS, dir-se-ia que a seriedade e a ética têm de ser só para alguns:devemos ser implacáveis com Telmo Correia, com Santana Lopes, sempre que tropecem,mas indulgentes com José Sócrates e os seus próximos em qualquer coisa que espirre a indevido.Aliás, não conheço ninguém mais implacável nestas judicações que ele, que é esmagador e tem nas mãos as melhores anotações da sua Agência de Imagempara arrasar sem dó nem piedade os adversários.lkjAs coisas que vou lendo surpreendem-me deveras.Porque, por um lado, a paixão clubística típica em muitos militantes do PScega milagrosamente perante quaisquer factos, tenham a consistência e a gravidade que tiverem. Por outro, já ninguém se surpreende com quaisquer revelações do passadomirabolante de 'técnico' e político do homem em apreço, o que sintomatizaa noção de que o País está num equilíbrio crítico: que o controlo das contas públicastalvez justifique à Psique Geral Portuguesa que se engulam quantos sapos haja de falta de idoneidade e de ética, afinal reveladores do carácter viscoso subjacente à pessoa pública referida.lkjEle, que nos tem comprimido a paciência, a sanidade e mesmo as nossas veleidades de felicidade, enquanto cidadãos com uma vida digna, com medidas draconianas, a nós, que sobrevivemos, e mal!, com o trabalho que vendemos ou com o desemprego que pastamos, (e nisso é visto como corajoso e reformador, o mesmo é Chávez!) já não tem qualquer margem para parecer. Mas também já não pode ser.lkjTranscrevo uma posta do Francisco José Viegas a isto concernente: lkj«Não partilho a ideia da superioridade moral do jornalismo, e considero que José António Cerejo é um bom jornalista que criou justificados anti-corpos no PS. çlkEntrevistei J. A. Cerejo no longínquo «Falatório» (RTP-2, 1997; às sextas à noite era dedicado aos média), no dia a seguir à demissão de António Vitorino provocada pelo seu artigo no Público. Era uma emissão com os média da semana, que antecedeu o «Primeira Página», que era diário. Lembro-me do corredor que dava para o estúdio; eu tinha escrito no meu bloco as primeiras perguntas a José António Cerejo, o jornalista que tinha levado o vice-primeiro-ministro e ministro da defesa à demissão. Foi já no estúdio que decidi alterar o guião; em vez de começar pelas perguntas da ordem (como se sente por ter provocado esta demissão?, quando começou a sua investigação em Almodovar?, etc.), disse «boa noite, J.A. Cerejo, tem os seus impostos em dia?» lkjLembro-me da resposta de Cerejo, resumida: «Mas eu não sou um político.» Era um facto. Mas era bom saber-se se um jornalista que investiga um suposto deslize fiscal de um político deve estar, ou não, sujeito ao mesmo escrutínio. lkjPessoalmente, penso que os jornalistas devem fazer as suas declarações de interesses e devemos conhecê-las para não desconfiarmos (enquanto cidadãos) do que escrevem. Talvez se acabasse com a ideia dos inconfessáveis interesses dos jornalistas, ou de um jornalista de cada vez. lkjÉ exactamente a falta dessa declaração de interesses que tem mantido a ideia de que o jornalismo deve ser bacteriologicamente puro.Acontece que a atitude de António Vitorino foi a de demitir-se, mesmo garantindo que estava inocente e que não tinha cometido qualquer ilícito fiscal. çlkjClaro, houve zunzuns sobre o apetite de Vitorino sobre o governo: que não lhe apetecia estar lá e que aproveitou a oportunidade. Não acredito, apesar de tudo.A ideia de que o Público imprimiu estes artigos sobre José Sócrates movido pelo interesse da Sonae em derrubar o primeiro-ministro parece-me zunzum igual. lkjDevemos desconfiar, sim; devemos sempre desconfiar. Mas convinha esclarecer o assunto, ou não? Devia o Público abster-se de publicar as notícias apenas porque o patrão é um grupo económico distribuído por telecomunicações, madeiras & hipermercados?Vamos e venhamos: 1) primeira parte: do ponto de vista do rigor da informação, a primeira peça de Cerejo sobre as assinaturas de favor é inatacável; são factos; 2) segunda parte: tem interesse público o conhecimento desses factos? lkjEssa é outra matéria. lkjNão é crime, já se sabe, fazer aquilo que Sócrates fez, se o fez; mas não é nada ético. Sinceramente, e sem querer fazer piada, é um beco sem saída: se o fez, é mau; se elaborou os estudos e os projectos daquelas casas, é ainda pior. No primeiro caso, é mau politicamente. No segundo caso, é mau em geral. lkjInteressa, à opinião pública, conhecer estes aspectos da vida anterior de José Sócrates? Não estamos a falar da sua vida pessoal; não estamos a entrar na esfera da privacidade; são factos públicos. Provando-se que são factos, têm eles interesse político? Servem para avaliar o comportamento político de José Sócrates ou, até, do primeiro-ministro? Estas são as questões essenciais. As outras relevam do puro comentário e, aí sim, da teoria da conspiração e do combate político.lkjFazer juízos de ordem moral é fácil, mas não é apenas isso que está em causa (ah, porque sim, porque estamos todos a fazer juízos de ordem moral, agora ou noutras circunstâncias), independentemente dos supostos «inconfessáveis interesses» do Público. Uma coisa é desconfiar das afirmações dos políticos; outra é desconfiar de todas as perguntas aos políticos. lkjHá uns anos, num dos seus textos, Agustina Bessa-Luís falava do novo exemplar de homem político; que seria o homem comum. Infelizmente, referia-se a Santana Lopes. Viu-se.»lkjFrancisco José Viegas, A Origem das Espécies

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