PALAVROSSAVRVS REX: SEGURANCICÍDIO: BALAS E FACAS

23-05-2009
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A Noite portuense está um terreno perigoso e imprevisível. Medra a tradução em sangue de essa tal lista de abate feita para os seguranças-gorilas que têm afrontado os gangues emergentes, gangues com demasiado imaginário Gangológico Nova Iorquino,com as mesmas tácticas de penetração no share no negócio do Pó & Fêmeas da Noiteou, se sonegada, de assunção pela força sem rodeios.Fareja-se violência fácil e, uma vez que me meti no meio do Meio,pelo que vejo, pelo que converso com outros Seguranças no activo ou aposentados do risco, as coisas vão sérias.lkjPor exemplo, tive há poucas horas a minha cota de perigo. Não estou isento. Todos a têm.Dois, três jovens, vieram, cheios de más intenções e blusões com capuz,postar-se à minha frente a fim de entrarem no Pub.Primeiramente, ficaram a uns trinta metros de mim, por longos tempos conversandoe gesticulando violências coreografadas de filmes ou imaginárias, ganhando coragem.Eu podia vê-los todo o tempo e eu mesmo preparava-me para o que de facto se efectivou.Finalmente, vieram, dos três, dois. Subiram as escadas e um deles, rente à parede,roçando coladíssimo a parede à sua esquerda, vinha afiando alguma coisa, uma rolha,com uma longa e ociosa faca. Quando pararam à minha frente, tinham as mãos suspeitasmetidas nos largos bolsos. Recebi-os firme, barrando a entrada:«Podemos entrar para beber qualquer coisa?» - perguntou um deles, que se colocou dois palmos à minha frente com um ar armadilhado, pronto para tudo. Respondi que não tinha a certeza.«Mas não você o segurança?». «Sou-o, mas não sou o único.»lkjLida e suspeitada a situação, não perdi nem um segundo a argumentar razões. Subitamente, voltei-me, e, enquanto com um gesto os mandava esperar, gesticulei para dentro do Pub, chamando reforços (um amigo e um Polícia fora de serviço, um ferrinho lá no sítio), para que testemunhassem toda a cenae, pelo número, dissuadíssemos de gangsterismos estúpidosestes putos pelos 16 anos, que andam pela cidadea vender-se a pedófilos, a ensaiar coragem para inéditas delinquências, e a enroscar-se, perto de Hotéis, onde haja homens com sotaque ou só homens com gostos exóticos por moços.Confidenciei-lhes, aos meus reforços, da faca oculta, da coreografia violenta por longo tempo, lá ao fundo, preparatória,confidenciei-lhes daquela idade imberbe.Éramos agora três em face daquilo juvenil: «Sim, o que era?»lkO tom ameaçador incial dos catraios, que durara uma fracção de segundo,cedeu lugar, mal assomaram os meus reforços, à mais confrangedora puerilidadecom a qual desapareceram na noite, balbuciando um cordeiresco e pungente: «Nós pensávamos que era um café!» Ouvia-se e via-se bem o tom agora atemorizado,quando lhes dissemos e demonstramos, mais calados que a falar, que não poderiam entrar. Puseram-se a monte pressurosos, céleres como gazelas.Rostos em mutação que nos fitam como lobos-maus, frios, laminados nas garras,e que pouco depois parecem cordeirinhos aflitos nos trementes cascos ungulados.«Crianças, pá. Somente crianças! Se esta merda entra, fode tudo»- ainda desabafámos uns para os outros, entreolhando-nos muito.lkjBem posso perceber que o Porto veja serem mortos, um a um, seguranças como eu,pelo menos no mesmo posto que eu, sempre fitando o halo-aura de quem vem, de quem faz um desvio da rua para o Pub,mortos por balas covardes, metódicas e planificadas, traiçoeiras,disparadas a distância e em fracção de coisa nenhuma. Que lindo é ser criminoso e varrer gente de esta existência no gatilho da imbeciliade!O Ministro Rui Pereira diz que tudo está bem e sob controlo. Não está. Nada menos simbólico que o RapBandido! Nada tem de simbólico nem há nele só o pavoneamento exibicionista do crime: tudo aquilo é projecto e é acção, transposição do poder nas ruasda pior e mais abjecta maneira, como lá nos States, no Bronx e no caralho! Mini-Favelas Tugas e Macaquices de mau gosto!Pode, o fenómeno, ser subestimado, mas não vai cessarde limpar da lista dos vivos, os Seguranças que restam do lóbi nocturno portuense.lkjNeste evento particular, eu fiquei em sobressalto porque li toda a ameaça e toda a insinuaçãoencenada. Não ando armado nem de uma luva, quanto mais de um ferro,li os innuendo ameaçadores.Antes que pessoalizassem o meu impedimento de que entrassem e, no processo,me esfaqueassem à traição retaliatoriamente, agi, lida e antecipada a situação.Putos. Um agordalhado, rotundo, baixote, de olhos verdes apontados à minha cara,medindo-me. O outro, magro, mais alto, o que trazia a faca intimidadora.Saídos (imitabundos!) de um filme hollywoodesco de arruaceiros e perigosos delituando experimentalmente pela cidade: vá lá, eram três.A propósito, o terceiro abortou a investida. Não deve ter alinhado ou tido a coragem para vir assaltar-me, desaparecendo antes.lkjPreciso dos meus 111 euros, mas não quero ter de derramar o meu sangueou o sangue-ossos quebrados alheios: não há sobrevivência que o valha. Há?Às vezes, imagino as coisas a correrem-me mesmo mal, como há algumas horas, Anjo-da-Guarda de folga, num Pub Celestial roçando, dançando, rodopiando, bebendo, alheado de mim.A correrem-me tão mal como também há vinte e quatro horas atrás, quando um bêbado sem-dinheiro queria basar sem pagare sem me dar o cartão carimbado atestando o pagamento (quantas vezes o jeitinho do meu patrãozolas!).Seria péssimo comparecer depois na Escola onde penso um dia de cada vez,com um braço ao peito, um lábio cortado, uma sobrancelha rasgada à Ronaldo,um olho negro e com um roxo inchaço,um ou vários dentes ausentes e tudo, gratis, por apenas 111 euros semanais.Ainda bem que tenho tacto. Muito tacto.Para não falar em capacidade de antecipação.


A Noite portuense está um terreno perigoso e imprevisível. Medra a tradução em sangue de essa tal lista de abate feita para os seguranças-gorilas que têm afrontado os gangues emergentes, gangues com demasiado imaginário Gangológico Nova Iorquino,com as mesmas tácticas de penetração no share no negócio do Pó & Fêmeas da Noiteou, se sonegada, de assunção pela força sem rodeios.Fareja-se violência fácil e, uma vez que me meti no meio do Meio,pelo que vejo, pelo que converso com outros Seguranças no activo ou aposentados do risco, as coisas vão sérias.lkjPor exemplo, tive há poucas horas a minha cota de perigo. Não estou isento. Todos a têm.Dois, três jovens, vieram, cheios de más intenções e blusões com capuz,postar-se à minha frente a fim de entrarem no Pub.Primeiramente, ficaram a uns trinta metros de mim, por longos tempos conversandoe gesticulando violências coreografadas de filmes ou imaginárias, ganhando coragem.Eu podia vê-los todo o tempo e eu mesmo preparava-me para o que de facto se efectivou.Finalmente, vieram, dos três, dois. Subiram as escadas e um deles, rente à parede,roçando coladíssimo a parede à sua esquerda, vinha afiando alguma coisa, uma rolha,com uma longa e ociosa faca. Quando pararam à minha frente, tinham as mãos suspeitasmetidas nos largos bolsos. Recebi-os firme, barrando a entrada:«Podemos entrar para beber qualquer coisa?» - perguntou um deles, que se colocou dois palmos à minha frente com um ar armadilhado, pronto para tudo. Respondi que não tinha a certeza.«Mas não você o segurança?». «Sou-o, mas não sou o único.»lkjLida e suspeitada a situação, não perdi nem um segundo a argumentar razões. Subitamente, voltei-me, e, enquanto com um gesto os mandava esperar, gesticulei para dentro do Pub, chamando reforços (um amigo e um Polícia fora de serviço, um ferrinho lá no sítio), para que testemunhassem toda a cenae, pelo número, dissuadíssemos de gangsterismos estúpidosestes putos pelos 16 anos, que andam pela cidadea vender-se a pedófilos, a ensaiar coragem para inéditas delinquências, e a enroscar-se, perto de Hotéis, onde haja homens com sotaque ou só homens com gostos exóticos por moços.Confidenciei-lhes, aos meus reforços, da faca oculta, da coreografia violenta por longo tempo, lá ao fundo, preparatória,confidenciei-lhes daquela idade imberbe.Éramos agora três em face daquilo juvenil: «Sim, o que era?»lkO tom ameaçador incial dos catraios, que durara uma fracção de segundo,cedeu lugar, mal assomaram os meus reforços, à mais confrangedora puerilidadecom a qual desapareceram na noite, balbuciando um cordeiresco e pungente: «Nós pensávamos que era um café!» Ouvia-se e via-se bem o tom agora atemorizado,quando lhes dissemos e demonstramos, mais calados que a falar, que não poderiam entrar. Puseram-se a monte pressurosos, céleres como gazelas.Rostos em mutação que nos fitam como lobos-maus, frios, laminados nas garras,e que pouco depois parecem cordeirinhos aflitos nos trementes cascos ungulados.«Crianças, pá. Somente crianças! Se esta merda entra, fode tudo»- ainda desabafámos uns para os outros, entreolhando-nos muito.lkjBem posso perceber que o Porto veja serem mortos, um a um, seguranças como eu,pelo menos no mesmo posto que eu, sempre fitando o halo-aura de quem vem, de quem faz um desvio da rua para o Pub,mortos por balas covardes, metódicas e planificadas, traiçoeiras,disparadas a distância e em fracção de coisa nenhuma. Que lindo é ser criminoso e varrer gente de esta existência no gatilho da imbeciliade!O Ministro Rui Pereira diz que tudo está bem e sob controlo. Não está. Nada menos simbólico que o RapBandido! Nada tem de simbólico nem há nele só o pavoneamento exibicionista do crime: tudo aquilo é projecto e é acção, transposição do poder nas ruasda pior e mais abjecta maneira, como lá nos States, no Bronx e no caralho! Mini-Favelas Tugas e Macaquices de mau gosto!Pode, o fenómeno, ser subestimado, mas não vai cessarde limpar da lista dos vivos, os Seguranças que restam do lóbi nocturno portuense.lkjNeste evento particular, eu fiquei em sobressalto porque li toda a ameaça e toda a insinuaçãoencenada. Não ando armado nem de uma luva, quanto mais de um ferro,li os innuendo ameaçadores.Antes que pessoalizassem o meu impedimento de que entrassem e, no processo,me esfaqueassem à traição retaliatoriamente, agi, lida e antecipada a situação.Putos. Um agordalhado, rotundo, baixote, de olhos verdes apontados à minha cara,medindo-me. O outro, magro, mais alto, o que trazia a faca intimidadora.Saídos (imitabundos!) de um filme hollywoodesco de arruaceiros e perigosos delituando experimentalmente pela cidade: vá lá, eram três.A propósito, o terceiro abortou a investida. Não deve ter alinhado ou tido a coragem para vir assaltar-me, desaparecendo antes.lkjPreciso dos meus 111 euros, mas não quero ter de derramar o meu sangueou o sangue-ossos quebrados alheios: não há sobrevivência que o valha. Há?Às vezes, imagino as coisas a correrem-me mesmo mal, como há algumas horas, Anjo-da-Guarda de folga, num Pub Celestial roçando, dançando, rodopiando, bebendo, alheado de mim.A correrem-me tão mal como também há vinte e quatro horas atrás, quando um bêbado sem-dinheiro queria basar sem pagare sem me dar o cartão carimbado atestando o pagamento (quantas vezes o jeitinho do meu patrãozolas!).Seria péssimo comparecer depois na Escola onde penso um dia de cada vez,com um braço ao peito, um lábio cortado, uma sobrancelha rasgada à Ronaldo,um olho negro e com um roxo inchaço,um ou vários dentes ausentes e tudo, gratis, por apenas 111 euros semanais.Ainda bem que tenho tacto. Muito tacto.Para não falar em capacidade de antecipação.

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