Quartzo, Feldspato & Mica: O Povo É Sereno #240

24-05-2009
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Vou também candidatar-me à liderança do PSD. Este é um anúncio que faço em plena consciência, ou seja, com a total consciência da minha inconsciência. A decisão está tomada e é irreversível. Não aceito, por isso, vagas de fundo, melhor, não admito o menor salpico no pedestal da minha arrogância. Que não venha ninguém pedir-me encarecidamente que fique em casa, que não venha ninguém suplicar-me que não envergonhe o partido. O choradinho jamais dobrará a cerviz de um homem determinado. E, quando a vontade de partir a loiça é muito forte, nem a maior das lógicas cartesianas, nem a maior e mais irrefutável das verdades conseguirá dobrar o músculo.A cor-de-laranja não faz parte do meu lote de preferências cromáticas, acho até que nem sou social-democrata e tenho uma vaga ideia de quem foi Sá Carneiro. Não gosto de setas (tenho sempre a sensação de que, mesmo que apontem para cima, posso ser espetado por alguma delas), não tenho pachorra para congressos e acho os discursos de Santana Lopes um tédio só comparável a uma telenovela da TVI. Não tenho saudades nenhumas do Cavaco e confesso-vos que me sinto um bocado encavacado quando me obrigam a cavaquear sobre ele. Aqui entre nós, não é dos meus assuntos favoritos de conversa, seguramente. E, se me falam em candidatura presidencial, não é um estadista que eu vejo à minha frente, mas sim uma assombração. Que o PSD é um partido social-democrata, dizem os boletins de voto, mas isso faz-me lembrar aquele agente secreto que, depois de atravessar a Cortina de Ferro, passou a chamar-se Vladimir quando toda a gente sabia que o nome dele era John Smith. O Muro de Berlim é passado, o espião já regressou a casa mas o safado continua tranquilamente a trazer Vladimir no bilhete de identidade. Em alternativa, até sou capaz de convir que o PSD seja um partido reformista, mas mais no sentido de que melhor estaria reformado. Está-me mais a cheirar que o partido é assim mais pró liberal, ou seja, andará simplesmente ao bel-talante do líder que, na circunstância, sofrer a desdita de ter de manobrar aquela nau.Nunca votei no PSD nem penso vir a votar. Nem sequer tenho cartão de militante e, se o tivesse, já o teria rasgado há muito tempo. Mas nada disso me demove do meu intuito, firmemente alicerçado, de querer ser líder do PSD. "A que propósito?", perguntar-me-ão. "E porque não?", riposto. Um partido que é assim tão interclassista, que nem é de direita nem de esquerda mas de centro a pender ora para um ora para outro lado, que tem sempre o sonho, a ambição e o progresso debaixo da língua, que é um querido a dar colo e afecto aos seu líderes enquanto eles lá estão, que não tem complexos de querer pertencer a uma qualquer internacional além da internacional portuguesa dos que cá estão e dos que estão fora, que é hiper-tolerante, hiper-variado, hiper-cinético e hiper-mercado, que alberga no seu seio o mini-Marques Mendes e o gigante Arnaut, o cauto Durão e o temerário Menezes, a patibular Ferreira Leite e a primaveril Patrício Gouveia, o monástico Mota Amaral e o gongórico Jardim, o estratega Dias Loureiro e o temperamental Morais Sarmento, o futeboleiro Valentim Loureiro e o anti-futeboleira Pacheco Pereira, o futebolopes Santana Lopes e o anti-futebolio Rio, o baterista Proença de Carvalho e o organista Duarte Lima, Sá Carneiro Deus Nosso Senhor e Cavaco Espírito Santo, Amén. Um partido que tem espaço para esta gente toda não é um partido, é o Airbus que os engenheiros do consórcio europeu ainda não se lembraram de inventar, é um prodígio de habitabilidade que relega o Rolls-Royce para a categoria dos carros utilitários. Ora, um partido assim tão grande não há-de ter um lugarzinho para mim?...

Vou também candidatar-me à liderança do PSD. Este é um anúncio que faço em plena consciência, ou seja, com a total consciência da minha inconsciência. A decisão está tomada e é irreversível. Não aceito, por isso, vagas de fundo, melhor, não admito o menor salpico no pedestal da minha arrogância. Que não venha ninguém pedir-me encarecidamente que fique em casa, que não venha ninguém suplicar-me que não envergonhe o partido. O choradinho jamais dobrará a cerviz de um homem determinado. E, quando a vontade de partir a loiça é muito forte, nem a maior das lógicas cartesianas, nem a maior e mais irrefutável das verdades conseguirá dobrar o músculo.A cor-de-laranja não faz parte do meu lote de preferências cromáticas, acho até que nem sou social-democrata e tenho uma vaga ideia de quem foi Sá Carneiro. Não gosto de setas (tenho sempre a sensação de que, mesmo que apontem para cima, posso ser espetado por alguma delas), não tenho pachorra para congressos e acho os discursos de Santana Lopes um tédio só comparável a uma telenovela da TVI. Não tenho saudades nenhumas do Cavaco e confesso-vos que me sinto um bocado encavacado quando me obrigam a cavaquear sobre ele. Aqui entre nós, não é dos meus assuntos favoritos de conversa, seguramente. E, se me falam em candidatura presidencial, não é um estadista que eu vejo à minha frente, mas sim uma assombração. Que o PSD é um partido social-democrata, dizem os boletins de voto, mas isso faz-me lembrar aquele agente secreto que, depois de atravessar a Cortina de Ferro, passou a chamar-se Vladimir quando toda a gente sabia que o nome dele era John Smith. O Muro de Berlim é passado, o espião já regressou a casa mas o safado continua tranquilamente a trazer Vladimir no bilhete de identidade. Em alternativa, até sou capaz de convir que o PSD seja um partido reformista, mas mais no sentido de que melhor estaria reformado. Está-me mais a cheirar que o partido é assim mais pró liberal, ou seja, andará simplesmente ao bel-talante do líder que, na circunstância, sofrer a desdita de ter de manobrar aquela nau.Nunca votei no PSD nem penso vir a votar. Nem sequer tenho cartão de militante e, se o tivesse, já o teria rasgado há muito tempo. Mas nada disso me demove do meu intuito, firmemente alicerçado, de querer ser líder do PSD. "A que propósito?", perguntar-me-ão. "E porque não?", riposto. Um partido que é assim tão interclassista, que nem é de direita nem de esquerda mas de centro a pender ora para um ora para outro lado, que tem sempre o sonho, a ambição e o progresso debaixo da língua, que é um querido a dar colo e afecto aos seu líderes enquanto eles lá estão, que não tem complexos de querer pertencer a uma qualquer internacional além da internacional portuguesa dos que cá estão e dos que estão fora, que é hiper-tolerante, hiper-variado, hiper-cinético e hiper-mercado, que alberga no seu seio o mini-Marques Mendes e o gigante Arnaut, o cauto Durão e o temerário Menezes, a patibular Ferreira Leite e a primaveril Patrício Gouveia, o monástico Mota Amaral e o gongórico Jardim, o estratega Dias Loureiro e o temperamental Morais Sarmento, o futeboleiro Valentim Loureiro e o anti-futeboleira Pacheco Pereira, o futebolopes Santana Lopes e o anti-futebolio Rio, o baterista Proença de Carvalho e o organista Duarte Lima, Sá Carneiro Deus Nosso Senhor e Cavaco Espírito Santo, Amén. Um partido que tem espaço para esta gente toda não é um partido, é o Airbus que os engenheiros do consórcio europeu ainda não se lembraram de inventar, é um prodígio de habitabilidade que relega o Rolls-Royce para a categoria dos carros utilitários. Ora, um partido assim tão grande não há-de ter um lugarzinho para mim?...

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