VERITAS: Lágrimas de Crocodilo

25-02-2008
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Lágrimas de Crocodilo

Finalmente a cidade percebeu que o seu segundo Museu Nacional, o da Ciência e da Técnica tinha sido extinto!

A sentença de morte foi há muito decretada quando o Presidente da Câmara Municipal decidiu que a sua cidade “não tinha dimensão para possuir dois museus de ciência”. Esta decisão só não foi implementada porque muitos lutaram para o impedir. Lembro as posições de Mário Soares, Almeida Santos, Reis Torgal, Sá Furtado, Fausto Correia, Duarte Lima, e mais de 2000 pessoas e várias organizações internacionais.

No meio desta atrapalhação mesmo antes do Ministro da Ciência e do Ensino Superior falar, o mesmo autarca veio dizer que não era o Museu que era extinto, mas sim o Instituto. Como prova do seu grande empenho o Museu deveria mesmo passar a chamar-se “Mário Silva”. Assim passou a ser, mesmo contra a vontade, publicamente expressam, da filha de Mário Silva. Tal era a confusão que se esqueceram do seu grau de Professor Catedrático e ficando a chamar-se somente “Museu Doutor Mário Silva”. Não tendo coragem de lhe retirar o seu estatuto de equiparação a Direcção Geral, este Museu tornou-se o único museu de Portugal com tal estatuto.

Durante dois anos nunca se ouviu qualquer reivindicação da sua direcção sobre a falta de condições financeiras para o seu funcionamento.

A actividade desenvolvida é do conhecimento público.

Contrastante com esta situação, o Museu das Ciências da Universidade de Coimbra, aparecia sempre como aglutinador de todas as energias no campo da museologia das ciências. Dia para dia o museu “apagava-se” sem que ninguém se importasse com isso. O seu estatuto de Direcção Geral só se mantinha visível no ordenado do seu Director e mesmo isso porque não era legalmente possível impedi-lo.

Em Lisboa o governo na área da divulgação científica tinha uma estratégia muito clara: acabar com política de Mariano Gago.

Acabar com o Instituto de História da Ciência e da Técnica/Museu Nacional da Ciência e da Técnica (IHCT/MNCT) foi fácil graças ao apoio camarário. Como brinde foi oferecido o Pavilhão de Hannover que, por magia, passou do Ministério da Ciência para a Autarquia de Coimbra, para que esta lá fizesse o que bem entendesse. À Universidade foi acenando com a promessa de financiar o Museu das Ciências.

Mas o alvo central era (e ainda é) o Programa Ciência Viva. Tudo foi feito para acabar com este projecto. As contas foram vistas e revistas, todos os pequenos defeitos foram ampliados, tudo era pretexto para levantarem problemas. A sua Directora resistiu a tudo, mantendo à sua volta uma equipa coesa e lutadora.

Caros conimbricenses: a extinção do nosso Museu da Ciência e da Técnica e a criação do Museu do Conhecimento e Inovação, foi principalmente mais uma tentativa (a derradeira) de atacar o Ciência Viva. A Direcção Geral actual (MNCT) passaria de Coimbra para Lisboa, passando o ocupar o edifício do Pavilhão do Conhecimento onde hoje está a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Ciência Viva. Desta forma usando a estrutura de Coimbra como carne para canhão, o programa Ciência Viva passaria a ser um “inquilino” no espaço que sempre geriu e dinamizou, o Pavilhão do Conhecimento. De uma só cajadada matavam-se dois coelhos. Por ironia, foi na prenda oferecida à Câmara de Coimbra, aquando da extinção do IHCT/MNCT, o Pavilhão de Hannover, (onde reuniu o conselho de Ministros) que o Governo julgou que iria acabar de vez com o resto da obra de Mariano Gago.

Acho no mínimo curioso que o Director do Museu, o Reitor da Universidade e o Presidente da Câmara só agora tenham dado por isso. Será que é por agora ter caído o Governo? E, mais do que isso, toda a gente saber que não se levanta mais?

Paulo Renato Trincão

Ex Director do Instituto de História da Ciência e da Técnica/Museu Nacional da Ciência e da Técnica

Posted by ptrincao at fevereiro 4, 2005 07:55 PM

Lágrimas de Crocodilo

Finalmente a cidade percebeu que o seu segundo Museu Nacional, o da Ciência e da Técnica tinha sido extinto!

A sentença de morte foi há muito decretada quando o Presidente da Câmara Municipal decidiu que a sua cidade “não tinha dimensão para possuir dois museus de ciência”. Esta decisão só não foi implementada porque muitos lutaram para o impedir. Lembro as posições de Mário Soares, Almeida Santos, Reis Torgal, Sá Furtado, Fausto Correia, Duarte Lima, e mais de 2000 pessoas e várias organizações internacionais.

No meio desta atrapalhação mesmo antes do Ministro da Ciência e do Ensino Superior falar, o mesmo autarca veio dizer que não era o Museu que era extinto, mas sim o Instituto. Como prova do seu grande empenho o Museu deveria mesmo passar a chamar-se “Mário Silva”. Assim passou a ser, mesmo contra a vontade, publicamente expressam, da filha de Mário Silva. Tal era a confusão que se esqueceram do seu grau de Professor Catedrático e ficando a chamar-se somente “Museu Doutor Mário Silva”. Não tendo coragem de lhe retirar o seu estatuto de equiparação a Direcção Geral, este Museu tornou-se o único museu de Portugal com tal estatuto.

Durante dois anos nunca se ouviu qualquer reivindicação da sua direcção sobre a falta de condições financeiras para o seu funcionamento.

A actividade desenvolvida é do conhecimento público.

Contrastante com esta situação, o Museu das Ciências da Universidade de Coimbra, aparecia sempre como aglutinador de todas as energias no campo da museologia das ciências. Dia para dia o museu “apagava-se” sem que ninguém se importasse com isso. O seu estatuto de Direcção Geral só se mantinha visível no ordenado do seu Director e mesmo isso porque não era legalmente possível impedi-lo.

Em Lisboa o governo na área da divulgação científica tinha uma estratégia muito clara: acabar com política de Mariano Gago.

Acabar com o Instituto de História da Ciência e da Técnica/Museu Nacional da Ciência e da Técnica (IHCT/MNCT) foi fácil graças ao apoio camarário. Como brinde foi oferecido o Pavilhão de Hannover que, por magia, passou do Ministério da Ciência para a Autarquia de Coimbra, para que esta lá fizesse o que bem entendesse. À Universidade foi acenando com a promessa de financiar o Museu das Ciências.

Mas o alvo central era (e ainda é) o Programa Ciência Viva. Tudo foi feito para acabar com este projecto. As contas foram vistas e revistas, todos os pequenos defeitos foram ampliados, tudo era pretexto para levantarem problemas. A sua Directora resistiu a tudo, mantendo à sua volta uma equipa coesa e lutadora.

Caros conimbricenses: a extinção do nosso Museu da Ciência e da Técnica e a criação do Museu do Conhecimento e Inovação, foi principalmente mais uma tentativa (a derradeira) de atacar o Ciência Viva. A Direcção Geral actual (MNCT) passaria de Coimbra para Lisboa, passando o ocupar o edifício do Pavilhão do Conhecimento onde hoje está a Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Ciência Viva. Desta forma usando a estrutura de Coimbra como carne para canhão, o programa Ciência Viva passaria a ser um “inquilino” no espaço que sempre geriu e dinamizou, o Pavilhão do Conhecimento. De uma só cajadada matavam-se dois coelhos. Por ironia, foi na prenda oferecida à Câmara de Coimbra, aquando da extinção do IHCT/MNCT, o Pavilhão de Hannover, (onde reuniu o conselho de Ministros) que o Governo julgou que iria acabar de vez com o resto da obra de Mariano Gago.

Acho no mínimo curioso que o Director do Museu, o Reitor da Universidade e o Presidente da Câmara só agora tenham dado por isso. Será que é por agora ter caído o Governo? E, mais do que isso, toda a gente saber que não se levanta mais?

Paulo Renato Trincão

Ex Director do Instituto de História da Ciência e da Técnica/Museu Nacional da Ciência e da Técnica

Posted by ptrincao at fevereiro 4, 2005 07:55 PM

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