PROmova: Razões e realidades que, de acordo com o colega Carlos Rocha, reclamam a presença de todos nós na Manifestação de 30 de Maio, em Lisboa

04-10-2009
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A propósito de números e do que é e não é uma vitória…“Sei também como é preciso, pá/ navegar, navegar// Canta a Primavera, pá/ cá estou carente/ manda novamente algum cheirinho de alecrim”(Chico Buarque, Tanto Mar)A ministra da educação anunciou há um par de dias que a reforma da avaliação dos professores foi aposta ganha. E justificou: entregaram os objectivos individuais 80 mil professores. E dos que entregaram os objectivos individuais, 30% pediram aulas assistidas, candidatando-se, dessa forma, às menções de excelência.Estão perplexos perante estes números? Não serão os primeiros, já muitos blogues fizeram as mesmas contas.Vamos às contas! Há 140 mil professores - 140.647 no sector público, segundo os números de 2006/07 (site do ME). Se nesse número abatermos os que estão perto da reforma e estão isentos do processo de avaliação de desempenho, houve mais de 50 mil resistentes. Ora, isto ronda os 40% dos professores. A conclusão é óbvia: MESMO NÃO SENDO OS 100.000, É obra!!!Pondo a questão de outra maneira: quem ganhou o quê?Primeiro: O número dos professores que não entregaram é muito superior ao que se estimava (40% dos professores e não os propalados 20%) - Obrigado, Dr.ª Maria de Lurdes, obrigado ‘Moscãoteiros’.Segundo: Apesar das intimações, dos emails e das intimidações, ainda houve quase 60 mil professores que de forma clara e inequívoca disseram não, recusando-se a ser parte activa na actual prostração da escola pública ou deixar-se intimidar pelo inaudito estilo autoritário do actual ministério, pouco propenso ao diálogo e à negociação, pilares da democracia participada.Terceiro: Os que pediram o pacote todo, candidatando-se à excelência e, deste modo, seguindo intimamente a política ministerial são cerca de 17% do total de professores.Quarto (e o mais importante): Não há memória de nenhum momento anterior, e falo pelo menos dos últimos 30 anos, em que tenha havido um número tão significativo de professores a confrontar legalmente uma reforma recusando a entrega de um documento; note-se que a questão tão-pouco alguma vez se ter colocado, já é por si só significativo!E SE ISTO NÃO É UM GANHO, O QUE É UM GANHO?Quinto: NÃO BASTA!Sexto: Como disse alguém, se há manifestação em que todos devem estar presentes, é esta. É a última hipótese de termos algum peso colectivo no futuro da escola pública e democrática. Depois disto, estamos sós ou vencidos; o crédito negocial reduzido a pouco mais que zero; os próprios sindicatos do sector – independentemente do que se possa achar da sua presente actuação, bastante tíbia na minha própria opinião – exauridos no seu poder reivindicativo por largos anos; isto com as inevitáveis sequelas que tem o esvaziamento dos contrapoderes em democracia.Sétimo: Mesmo se nasci em ditadura, tive a fortuna de crescer em democracia, nela tendo sido bem formado e sendo ela inapelável na minha ponderação. Ora, nunca, nem mesmo por alturas do cavaquistão, vi tal despudor despótico e arrogante em democracia, tamanha mão sobre o prato da justiça ou da comunicação social, tamanha inépcia na gestão dos interesses públicos e dos conflitos laborais. Nunca tantos foram os casos de sobranceria do poder, de abuso de autoridade discricionária, de desrespeito e 'infiltração' na sociedade civil.Oitavo: Sem querer fazer meu o discurso catastrofista do Medina Carreira, encontramo-nos sem que o consiga evitar. Mais, hoje, custa-me reconhecer na agremiação em torno a Sócrates o partido socialista de outrora.Nono: Não podemos deixar cair os braços! É porque a democracia está doente e a escola pública e democrática moribunda que há que desfilar; desta não com ‘malhões’ e bandeirinhas, mas em silêncio – é, pelo menos, o que eu farei!Décimo: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Traduzindo: desempenem-se dos sofás, tire-se uma última esperança do sótão, seja-se ainda capaz, uma vez, de pesar no barco mais do que a vidinha. A 26 e 30 de Maio a opção é pesada, o que está em causa são três anos de luta.Décimo primeiro: Vamos deitar fora três anos de luta, largar de mão os 60.000 professores que não entregaram os objectivos - número ainda assim extraordinário - e dar a vitória de bandeja a quem supostamente já perdeu a guerra?Décimo segundo: A opção é nossa, mas o que está em jogo, o futuro da escola pública e democrática pesará durante décadas no país real. Eu sei o que vou fazer, cansado como estou no fim de um ano lectivo, e tu, o que vais tu fazer?Carlos Marinho Rocha, professor


A propósito de números e do que é e não é uma vitória…“Sei também como é preciso, pá/ navegar, navegar// Canta a Primavera, pá/ cá estou carente/ manda novamente algum cheirinho de alecrim”(Chico Buarque, Tanto Mar)A ministra da educação anunciou há um par de dias que a reforma da avaliação dos professores foi aposta ganha. E justificou: entregaram os objectivos individuais 80 mil professores. E dos que entregaram os objectivos individuais, 30% pediram aulas assistidas, candidatando-se, dessa forma, às menções de excelência.Estão perplexos perante estes números? Não serão os primeiros, já muitos blogues fizeram as mesmas contas.Vamos às contas! Há 140 mil professores - 140.647 no sector público, segundo os números de 2006/07 (site do ME). Se nesse número abatermos os que estão perto da reforma e estão isentos do processo de avaliação de desempenho, houve mais de 50 mil resistentes. Ora, isto ronda os 40% dos professores. A conclusão é óbvia: MESMO NÃO SENDO OS 100.000, É obra!!!Pondo a questão de outra maneira: quem ganhou o quê?Primeiro: O número dos professores que não entregaram é muito superior ao que se estimava (40% dos professores e não os propalados 20%) - Obrigado, Dr.ª Maria de Lurdes, obrigado ‘Moscãoteiros’.Segundo: Apesar das intimações, dos emails e das intimidações, ainda houve quase 60 mil professores que de forma clara e inequívoca disseram não, recusando-se a ser parte activa na actual prostração da escola pública ou deixar-se intimidar pelo inaudito estilo autoritário do actual ministério, pouco propenso ao diálogo e à negociação, pilares da democracia participada.Terceiro: Os que pediram o pacote todo, candidatando-se à excelência e, deste modo, seguindo intimamente a política ministerial são cerca de 17% do total de professores.Quarto (e o mais importante): Não há memória de nenhum momento anterior, e falo pelo menos dos últimos 30 anos, em que tenha havido um número tão significativo de professores a confrontar legalmente uma reforma recusando a entrega de um documento; note-se que a questão tão-pouco alguma vez se ter colocado, já é por si só significativo!E SE ISTO NÃO É UM GANHO, O QUE É UM GANHO?Quinto: NÃO BASTA!Sexto: Como disse alguém, se há manifestação em que todos devem estar presentes, é esta. É a última hipótese de termos algum peso colectivo no futuro da escola pública e democrática. Depois disto, estamos sós ou vencidos; o crédito negocial reduzido a pouco mais que zero; os próprios sindicatos do sector – independentemente do que se possa achar da sua presente actuação, bastante tíbia na minha própria opinião – exauridos no seu poder reivindicativo por largos anos; isto com as inevitáveis sequelas que tem o esvaziamento dos contrapoderes em democracia.Sétimo: Mesmo se nasci em ditadura, tive a fortuna de crescer em democracia, nela tendo sido bem formado e sendo ela inapelável na minha ponderação. Ora, nunca, nem mesmo por alturas do cavaquistão, vi tal despudor despótico e arrogante em democracia, tamanha mão sobre o prato da justiça ou da comunicação social, tamanha inépcia na gestão dos interesses públicos e dos conflitos laborais. Nunca tantos foram os casos de sobranceria do poder, de abuso de autoridade discricionária, de desrespeito e 'infiltração' na sociedade civil.Oitavo: Sem querer fazer meu o discurso catastrofista do Medina Carreira, encontramo-nos sem que o consiga evitar. Mais, hoje, custa-me reconhecer na agremiação em torno a Sócrates o partido socialista de outrora.Nono: Não podemos deixar cair os braços! É porque a democracia está doente e a escola pública e democrática moribunda que há que desfilar; desta não com ‘malhões’ e bandeirinhas, mas em silêncio – é, pelo menos, o que eu farei!Décimo: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Traduzindo: desempenem-se dos sofás, tire-se uma última esperança do sótão, seja-se ainda capaz, uma vez, de pesar no barco mais do que a vidinha. A 26 e 30 de Maio a opção é pesada, o que está em causa são três anos de luta.Décimo primeiro: Vamos deitar fora três anos de luta, largar de mão os 60.000 professores que não entregaram os objectivos - número ainda assim extraordinário - e dar a vitória de bandeja a quem supostamente já perdeu a guerra?Décimo segundo: A opção é nossa, mas o que está em jogo, o futuro da escola pública e democrática pesará durante décadas no país real. Eu sei o que vou fazer, cansado como estou no fim de um ano lectivo, e tu, o que vais tu fazer?Carlos Marinho Rocha, professor

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