Por vezes saem notícias nos jornais que provam a falta que eu e outros jornalistas com memória fazemos ao jornalismo da região do Porto. O "Público" de hoje informa que um dos vereadores eleitos na lista de Valentim Loureiro renunciou ao mandato, sendo substituído... pela filha do major. O caso, por si só, é suficientemente suculento para tornar-se notícia. No entanto, um bocado de memória tornaria tudo muito mais picante.Vamos por partes. Comecemos por analisar as declarações de Valentim Loureiro hoje citadas pelo diário da Sonae. «Mal conheço a pessoa», diz o major acerca de David Martins, o homem que saiu para entrar a herdeira de Valentim. Já David Martins afrimou: «Foi a primeira e a última vez que me meti nestas coisas de políticas».Voltemos agora ao dia 15 de Julho. Nessa data, fui acordado pelo editor de política de "O Comércio do Porto", que me pediu para estar 30 minutos depois num restaurante de Rio Tinto, onde o major iria apresentar o grande trunfo da sua lista independente, nada mais nada menos do que o tal David Martins. O editor disse-me ainda que a coisa devia ser muito importante, porque a informação lhe fora passada pelo próprio director do jornal.No tal restaurante, o major apresentou o candidato como «um empresário e proprietário de muitos terrenos». Mas disse mais: «Sempre distinguimos Rio Tinto com muitos investimentos e com grande atenção pelos riotintenses, mas desta vez fizemos questão de convidar uma personalidade que não pode deixar dúvidas a ninguém». Pois claro, essa tal personalidade que não pode deixar dúvidas é a mesma que hoje o major diz «mal conhecer».Isto de Gondomar, Valentim Loureiro e um dono de terrenos dava pano para mangas, mas é preciso jornalistas com memória, o que existe cada vez menos. Por exemplo, na apresentação do David Martins, de todos os jornalistas presentes fui o único que não se conformou ao papel de "pé-de-microfone". Todos os outros ouviram Valentim Loureiro e não colocaram questões pertinentes. Fui o único a tentar fazê-lo, tentando aproveitar a oportunidade para introduzir perguntas sobre outros temas que não aquela apresentação de um tipo que, pelos vistos, nem o major conhece. Acontece que Valentim Loureiro impediu-me de o fazer, de forma brusca e mal-educada, que deixou em estado de choque a repórter fotográfica que me acompanhava e que ainda não conhecia a peça. Lembro-me como se fosse hoje que, no final daquela encenação, o camera da RTP veio ter comigo, apertou-me os ossos e disse-me, envergonhado do papel de "pé-de-microfone" feito pelo jornalista da RTP: «Parabéns, continua assim!». Fiquei satisfeito, porque os repórteres de imagem (televisiva e fotográfica) são dos gajos mais íntegros e solidários do jornalismo.Depois disto, comno a coisa, jornalisticamente, não valia a ponta de um corno, telefonei ao meu editor de política, para convencê-lo a não dar destaque nenhum àquilo e a publicar apenas uma fotolegenda. Com isso, eu, que ganhava à peça e quanto maior fosse a peça mais eu embolsava, perderia dinheiro, mas seria correcto. Resposta do editor: «Não pode ser. Estica isso o mais que puderes, porque foi o Rogério [o director] que mandou fazer».É por estas e por outras que eu digo que faço falta ao jornalismo, mas que não faço falta nenhuma aos jornais, porque estes são dirigidos por gente para quem o jornalismo não é um fim, mas um instrumento. A propósito, a generalidade da redacção de "O Comércio do Porto" continua desempregada. O ex-director foi nomeado, pela dupla maravilha Menezes-Marco António, administrador da empresa "Águas de Gaia". Acho que não vale a pena dizer mais nada.
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Por vezes saem notícias nos jornais que provam a falta que eu e outros jornalistas com memória fazemos ao jornalismo da região do Porto. O "Público" de hoje informa que um dos vereadores eleitos na lista de Valentim Loureiro renunciou ao mandato, sendo substituído... pela filha do major. O caso, por si só, é suficientemente suculento para tornar-se notícia. No entanto, um bocado de memória tornaria tudo muito mais picante.Vamos por partes. Comecemos por analisar as declarações de Valentim Loureiro hoje citadas pelo diário da Sonae. «Mal conheço a pessoa», diz o major acerca de David Martins, o homem que saiu para entrar a herdeira de Valentim. Já David Martins afrimou: «Foi a primeira e a última vez que me meti nestas coisas de políticas».Voltemos agora ao dia 15 de Julho. Nessa data, fui acordado pelo editor de política de "O Comércio do Porto", que me pediu para estar 30 minutos depois num restaurante de Rio Tinto, onde o major iria apresentar o grande trunfo da sua lista independente, nada mais nada menos do que o tal David Martins. O editor disse-me ainda que a coisa devia ser muito importante, porque a informação lhe fora passada pelo próprio director do jornal.No tal restaurante, o major apresentou o candidato como «um empresário e proprietário de muitos terrenos». Mas disse mais: «Sempre distinguimos Rio Tinto com muitos investimentos e com grande atenção pelos riotintenses, mas desta vez fizemos questão de convidar uma personalidade que não pode deixar dúvidas a ninguém». Pois claro, essa tal personalidade que não pode deixar dúvidas é a mesma que hoje o major diz «mal conhecer».Isto de Gondomar, Valentim Loureiro e um dono de terrenos dava pano para mangas, mas é preciso jornalistas com memória, o que existe cada vez menos. Por exemplo, na apresentação do David Martins, de todos os jornalistas presentes fui o único que não se conformou ao papel de "pé-de-microfone". Todos os outros ouviram Valentim Loureiro e não colocaram questões pertinentes. Fui o único a tentar fazê-lo, tentando aproveitar a oportunidade para introduzir perguntas sobre outros temas que não aquela apresentação de um tipo que, pelos vistos, nem o major conhece. Acontece que Valentim Loureiro impediu-me de o fazer, de forma brusca e mal-educada, que deixou em estado de choque a repórter fotográfica que me acompanhava e que ainda não conhecia a peça. Lembro-me como se fosse hoje que, no final daquela encenação, o camera da RTP veio ter comigo, apertou-me os ossos e disse-me, envergonhado do papel de "pé-de-microfone" feito pelo jornalista da RTP: «Parabéns, continua assim!». Fiquei satisfeito, porque os repórteres de imagem (televisiva e fotográfica) são dos gajos mais íntegros e solidários do jornalismo.Depois disto, comno a coisa, jornalisticamente, não valia a ponta de um corno, telefonei ao meu editor de política, para convencê-lo a não dar destaque nenhum àquilo e a publicar apenas uma fotolegenda. Com isso, eu, que ganhava à peça e quanto maior fosse a peça mais eu embolsava, perderia dinheiro, mas seria correcto. Resposta do editor: «Não pode ser. Estica isso o mais que puderes, porque foi o Rogério [o director] que mandou fazer».É por estas e por outras que eu digo que faço falta ao jornalismo, mas que não faço falta nenhuma aos jornais, porque estes são dirigidos por gente para quem o jornalismo não é um fim, mas um instrumento. A propósito, a generalidade da redacção de "O Comércio do Porto" continua desempregada. O ex-director foi nomeado, pela dupla maravilha Menezes-Marco António, administrador da empresa "Águas de Gaia". Acho que não vale a pena dizer mais nada.