Se a construção de um sentimento pró-China no sudeste asiático tem algumas vantagens económicas claras para Pequim, a que já aludimos no texto precedente, e que incluem a participação Chinesa em negócios importantes relacionados com infra-estruturas portuárias e de aproveitamento de energia, e se de acordo com alguns relatos esse esforço está a surtir efeito, ainda que os países com largas faixas costeiras, ou constituídos apenas por ilhas, não se sintam confortáveis com as crescentes capacidades navais chinesas - e pensamos aqui, especificamente na Indonésia, na Malásia, no Vietname e nas Filipinas -, a nova postura da China na diplomacia económica da região, ajudando directamente os países ASEAN sem intermediários como o FMI ou o Asian Development Bank, e sem questionar os regimes políticos internos, tem vencido parte das próprias resistências políticas. Parte dessas reticiências, no Vietname e nas Filipninas, sobretudo, tem a ver com o nunca resolvido problema territorial das Ilhas Spratley. Este territótio, nos mares do sul, ao largo do Vietname, é amplamente disputado por múltiplas razões, a mais óbvia das quais o facto de as suas reservas em petróleo e gás natural excederem as do Kuwait, tornando-se a 4ª maior reserva de petróleo do mundo. Em 2002, os vários pretendentes assinaram a Declaration of the Conduct of the Parties in the South China Sea. No essencial, estipulando que todas as partes evitariam a construção na zona, e movimentações militares que pudessem escalar as tensões da região.Quando em meados de Março de 2009, um navio militar de patrulha chinês foi enviado para a zona, alguns países reagiram de modo mais intempestivo. A China respondeu através do seu embaixador em Manila, alegando tratar-se de uma navio de patrulhamento pesqueiro, embora Pequim tivesse anunciado que enviaria um navio militar de patrulh para apoiar navios de pesca no que considera serem as suas águas territoriais. Para a China, as Spratley Islands estão incluídas nessas águas territoriais, mas esta não é de todo uma visão consensual.Episódios como este ajudam a perceber a importância que a China atribui à construção de um sentimento favorável nesses países, uma vez que do ponto de vista económico reclamar a soberania das ilhas poderá estar na sua agenda. E verdadeiramente não há, entre os países ASEAN quem neste contexto de crise de possa opor à armada chinesa. Mais a mais, depois de em Abril um alto representante da marinha americana ter sido convidado a assistir às cerimónias de celebração dos 60 anos da frota naval da República Popular da China. Um segundo interesse geopolítico da China nos países ASEAN tem a ver com a eventualidade, por crescentemente improvável que ela seja, de algum tipo de conflito com os EUA, assegurando aliados. Porque desde 2003 que a China é signatária do Tratado de Armamento e Cooperação da ASEAN, enquanto os EUA ainda não o são. A tudo isto acresce, o buffer que a China representa psicologicamente para alguns destes países, relativamente a pretensões de influência dos EUA e do Japão. A um nível também geopolítico, grande parte das importações chinesas de petróleo e gás natural passam ainda pelo estreito de Malaca, que é um possível ponto de estrangulamento nesse abastecimento. O estreito, com mais de 800 Km é um canal vital de ligação entre os oceanos Índico e Pacífico. Separa a Malásia da ilha de Sumatra, na Indonésia, e é um dos pontos de navegação mais congestionados do mundo, com 50000 navios anualmente. Sobretudo navios mercantes e petroleiros, destinados à China, ao Japão e também à Índia. As exportações chinesas dependem de modo crucial dessa via. Ora um tratado de cooperação militar associado a uma amizade com os países ASEAN, propiciada pela corrente assistência financeira, é uma forma de a China tentar assegurar a longo prazo que o canal se mantém ao seu dispor. Um clássico cruzamento da geopolítica com a geoeconomia. Parece, contudo, claro a outras forças regionais, não necessitadas nem incluídas no auxílio financeiro da China, que o seu crescente poderio naval constitui uma ameaça real. Pelo menos é essa a visão de um documento tornado público recentemente pelo governo australiano, que considerou que a Austrália e a China estavam em rota inevitável de colisão a médio prazo. Em consequência o orçamento militar australiano devia reflectir isso mesmo. O debate parece contudo absurdo, no sentido em que a China não tem demonstrado especiais ambições de expansão nos últimos 20 anos, tendo inclusivamente reconhecido alguns territórios que há décadas considerava ocupados pela Rússia.E o debate atravessa também o espectro político australiano, com o líder da oposição, Malcom Turnbull a considerar errado o entendimento do governo relativamente ao reforço militar chinês. Num extracto de recente discurso, seu hoje publicado no The Australian, Turnbull insurge-se contra essa interpretação do Ministério da Defesa, considerando que no anterior governo, a Austrália tinha sido capaz de manter relações sólidas de cooperação simultânea com a Índia, a China, o Japão e os EUA, o que considera um feito notável. Vai mesmo mais longe para advogar que a China é bem vinda a desempenhar um papel mais activo nas relações internacionais, mormente na ajuda económica e diplomática à região, e colaborando com a comunidade das nações em geral. Turnbull assegura, como é hoje em dia, quase apanágio de todos os países, que a Austrália se coibe de debater regimes políticos e problemas internos da China, mormente, quando a própria China não procura há 20 anos exportar a sua ideologia de forma bélica. O Preofessor Alan Dupont tinha ido mais longe, em artigo no The Australian a 14 de Abril. O seu argumento contra o documento do Ministério da Defesa repousava em quatro vectores:Não existem quaisquer indicações dos serviços secretos australianos que apontem para uma real intenção de hegemonia militar chinesa na região, que envolvesse o ataque à Austrália. O que existe é a mera constatação do reforço e modernização das forças armadas chinesas.Não é razoável com base no pior e mais improvável cenário hipotecar os orçamentos australianos dos próximos 20 anos!Muito do investimento militar chinês é em capacidade defensiva e não ofensiva.Realisticamente, se a China quisesse dominar militarmente o Sudeste Asiático, a Austrália não teria qualquer capacidade para se opôr e fazer face à avassaladora superioridade da China. O ponto 1 acima tem razoabilidade até dentro do pacote de estímulos que a China tem em curso. E o quarto ponto é uma constatação que um político não poderia fazer, mas que o mero bom senso permite compreender. A China é uma superpotência militar à escala mundial. A Índia gostava de o vir a ser. A Austrália não o é seguramente. Nem o Brasil. Uma mera curiosidade reside nas especificidades dos partidos políticos australianos. Os belicistas neste caso, são os trabalhistas no poder. A coligação liberal-nacionalista é liderada por Malcolm Turnbull e esteve no poder até 2007 com John Howard como PM. E curiosamente os liberais nasceram da fusão do partido proteccionista e do partido pró free trade. Go figura.Enfim, voltando à China, os seus objectivos geopolíticos no Sudeste asiático passaram por Málaca, eventualmente pelas ilhas Spratley, e por essa hegemonia de potência dominante, posto que durante décadas coube aos EUA. A balança inclina-se para a China neste momento que espera assim também um apoio dos países ASEAN no improvável cenário de confronto no Pacífico.Em síntese, o auxílio financeiro Chinês aos países ASEAN é mais uma evidência de cruzamento da economia com a geopolítica. Os receios australianos serãon infundados. Mas sobra uma questão: existirá uma satisfação interna na China com as suas opções de política interna? Na cimeira do G20, um dos tópicos de conversa informal mais comum era um livro editado em Março na China: Unhappy China. E não, não é por um problema de democracia ou falta dela. O livro contém textos de 5 autores, e é unificado por um sentimento forte de nacionalismo, e de papel liderante que a China deveria estar a assumir no mundo, numa situação de fragilidade histórica dos EUA. O livro traduz um sentimento de humilhação por todas as demonstrações de pujança da China, culminando nos Jogos Olímpicos de 2008, e todo o tratamento condescendente que antes da crise lhe tinha sido dado pelo ocidente. É um best seller.O livro é considerado por muitos em Pequim como reflectindo um perigoso sentimento nacionalista. A internet parece mostrar uma juventude radical que defende afoitamente o livro e outra que o acha repugnante. Os cidadãos mais idosos tendem a rever-se no livro. E ainda que ele não traduza de modo alguma a corrente visão do poder em Pequim, a sua influência tem-se feito sentir, apesar da relativa desvalorização que o China Post lhe dava a 12 de Abril, procurando advogar que vozes daquelas existem muitas noutros países. As declarações do governo chinês sobre os títulos de dívida americanos, e os apelos a uma nova moeda de reserva internacional terão em parte, segundo esse artigo, sido instigados para mitigar o descontentamento que o livro gerou. É uma visão simplista do problema, mas as autoridades chinesas parecem preocupadas com ele. O livro terá sido mais um catalisador do sentimento de alguma China e uma força de pressão para o governo assumir posições mais duras. Mas terá tido algum impacto, que não decisivo nessas posições. Porque a questão monetária e a dos títulos do tesouro são anteriores ao livro, e Wen Jiabao já as tinha referido antes desta incursão nacionalista. Numa edição recente do Esquire, o analista Thomas Bernett considerava que o livro continha também cíticas implícitas à corrente liderança em Pequim. A corrupção, a resposta deficiente ao terramoto de Sichuan e a história do leite estragado que recentemente levou ao falecimento de 6 crianças, e chegou a provocar doenças em 300000 (história percebida pelos nacionalistas como falha da supervisão e como tal do poder em Pequim) presidem a esse descontentamento.Contudo, e para concluir, nada no livro permite suportar a tese australiana de um aumento de ambições territoriais chinesas. O recente livro de Yu Keping não parece também suportar a tese de um nova China belicista. Nem foi também o Unhappy China a promover o apoio aos países ASEAN. A história de aqui se tratou é económica e geopolítica.Mas como superpotência global, a China não se limitou em Abril a olhar para o Sudeste Asiático. A Rússia e a Ásia Central, bem como a América Latina, foram outros domínios onde estendeu a sua influência. E a sua presença no próprio Hindu Kush, no Afeganistão, não é de todo indiferente ao futuro da região. Mas isso é matéria a tratar num post deste fim de semana.
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Se a construção de um sentimento pró-China no sudeste asiático tem algumas vantagens económicas claras para Pequim, a que já aludimos no texto precedente, e que incluem a participação Chinesa em negócios importantes relacionados com infra-estruturas portuárias e de aproveitamento de energia, e se de acordo com alguns relatos esse esforço está a surtir efeito, ainda que os países com largas faixas costeiras, ou constituídos apenas por ilhas, não se sintam confortáveis com as crescentes capacidades navais chinesas - e pensamos aqui, especificamente na Indonésia, na Malásia, no Vietname e nas Filipinas -, a nova postura da China na diplomacia económica da região, ajudando directamente os países ASEAN sem intermediários como o FMI ou o Asian Development Bank, e sem questionar os regimes políticos internos, tem vencido parte das próprias resistências políticas. Parte dessas reticiências, no Vietname e nas Filipninas, sobretudo, tem a ver com o nunca resolvido problema territorial das Ilhas Spratley. Este territótio, nos mares do sul, ao largo do Vietname, é amplamente disputado por múltiplas razões, a mais óbvia das quais o facto de as suas reservas em petróleo e gás natural excederem as do Kuwait, tornando-se a 4ª maior reserva de petróleo do mundo. Em 2002, os vários pretendentes assinaram a Declaration of the Conduct of the Parties in the South China Sea. No essencial, estipulando que todas as partes evitariam a construção na zona, e movimentações militares que pudessem escalar as tensões da região.Quando em meados de Março de 2009, um navio militar de patrulha chinês foi enviado para a zona, alguns países reagiram de modo mais intempestivo. A China respondeu através do seu embaixador em Manila, alegando tratar-se de uma navio de patrulhamento pesqueiro, embora Pequim tivesse anunciado que enviaria um navio militar de patrulh para apoiar navios de pesca no que considera serem as suas águas territoriais. Para a China, as Spratley Islands estão incluídas nessas águas territoriais, mas esta não é de todo uma visão consensual.Episódios como este ajudam a perceber a importância que a China atribui à construção de um sentimento favorável nesses países, uma vez que do ponto de vista económico reclamar a soberania das ilhas poderá estar na sua agenda. E verdadeiramente não há, entre os países ASEAN quem neste contexto de crise de possa opor à armada chinesa. Mais a mais, depois de em Abril um alto representante da marinha americana ter sido convidado a assistir às cerimónias de celebração dos 60 anos da frota naval da República Popular da China. Um segundo interesse geopolítico da China nos países ASEAN tem a ver com a eventualidade, por crescentemente improvável que ela seja, de algum tipo de conflito com os EUA, assegurando aliados. Porque desde 2003 que a China é signatária do Tratado de Armamento e Cooperação da ASEAN, enquanto os EUA ainda não o são. A tudo isto acresce, o buffer que a China representa psicologicamente para alguns destes países, relativamente a pretensões de influência dos EUA e do Japão. A um nível também geopolítico, grande parte das importações chinesas de petróleo e gás natural passam ainda pelo estreito de Malaca, que é um possível ponto de estrangulamento nesse abastecimento. O estreito, com mais de 800 Km é um canal vital de ligação entre os oceanos Índico e Pacífico. Separa a Malásia da ilha de Sumatra, na Indonésia, e é um dos pontos de navegação mais congestionados do mundo, com 50000 navios anualmente. Sobretudo navios mercantes e petroleiros, destinados à China, ao Japão e também à Índia. As exportações chinesas dependem de modo crucial dessa via. Ora um tratado de cooperação militar associado a uma amizade com os países ASEAN, propiciada pela corrente assistência financeira, é uma forma de a China tentar assegurar a longo prazo que o canal se mantém ao seu dispor. Um clássico cruzamento da geopolítica com a geoeconomia. Parece, contudo, claro a outras forças regionais, não necessitadas nem incluídas no auxílio financeiro da China, que o seu crescente poderio naval constitui uma ameaça real. Pelo menos é essa a visão de um documento tornado público recentemente pelo governo australiano, que considerou que a Austrália e a China estavam em rota inevitável de colisão a médio prazo. Em consequência o orçamento militar australiano devia reflectir isso mesmo. O debate parece contudo absurdo, no sentido em que a China não tem demonstrado especiais ambições de expansão nos últimos 20 anos, tendo inclusivamente reconhecido alguns territórios que há décadas considerava ocupados pela Rússia.E o debate atravessa também o espectro político australiano, com o líder da oposição, Malcom Turnbull a considerar errado o entendimento do governo relativamente ao reforço militar chinês. Num extracto de recente discurso, seu hoje publicado no The Australian, Turnbull insurge-se contra essa interpretação do Ministério da Defesa, considerando que no anterior governo, a Austrália tinha sido capaz de manter relações sólidas de cooperação simultânea com a Índia, a China, o Japão e os EUA, o que considera um feito notável. Vai mesmo mais longe para advogar que a China é bem vinda a desempenhar um papel mais activo nas relações internacionais, mormente na ajuda económica e diplomática à região, e colaborando com a comunidade das nações em geral. Turnbull assegura, como é hoje em dia, quase apanágio de todos os países, que a Austrália se coibe de debater regimes políticos e problemas internos da China, mormente, quando a própria China não procura há 20 anos exportar a sua ideologia de forma bélica. O Preofessor Alan Dupont tinha ido mais longe, em artigo no The Australian a 14 de Abril. O seu argumento contra o documento do Ministério da Defesa repousava em quatro vectores:Não existem quaisquer indicações dos serviços secretos australianos que apontem para uma real intenção de hegemonia militar chinesa na região, que envolvesse o ataque à Austrália. O que existe é a mera constatação do reforço e modernização das forças armadas chinesas.Não é razoável com base no pior e mais improvável cenário hipotecar os orçamentos australianos dos próximos 20 anos!Muito do investimento militar chinês é em capacidade defensiva e não ofensiva.Realisticamente, se a China quisesse dominar militarmente o Sudeste Asiático, a Austrália não teria qualquer capacidade para se opôr e fazer face à avassaladora superioridade da China. O ponto 1 acima tem razoabilidade até dentro do pacote de estímulos que a China tem em curso. E o quarto ponto é uma constatação que um político não poderia fazer, mas que o mero bom senso permite compreender. A China é uma superpotência militar à escala mundial. A Índia gostava de o vir a ser. A Austrália não o é seguramente. Nem o Brasil. Uma mera curiosidade reside nas especificidades dos partidos políticos australianos. Os belicistas neste caso, são os trabalhistas no poder. A coligação liberal-nacionalista é liderada por Malcolm Turnbull e esteve no poder até 2007 com John Howard como PM. E curiosamente os liberais nasceram da fusão do partido proteccionista e do partido pró free trade. Go figura.Enfim, voltando à China, os seus objectivos geopolíticos no Sudeste asiático passaram por Málaca, eventualmente pelas ilhas Spratley, e por essa hegemonia de potência dominante, posto que durante décadas coube aos EUA. A balança inclina-se para a China neste momento que espera assim também um apoio dos países ASEAN no improvável cenário de confronto no Pacífico.Em síntese, o auxílio financeiro Chinês aos países ASEAN é mais uma evidência de cruzamento da economia com a geopolítica. Os receios australianos serãon infundados. Mas sobra uma questão: existirá uma satisfação interna na China com as suas opções de política interna? Na cimeira do G20, um dos tópicos de conversa informal mais comum era um livro editado em Março na China: Unhappy China. E não, não é por um problema de democracia ou falta dela. O livro contém textos de 5 autores, e é unificado por um sentimento forte de nacionalismo, e de papel liderante que a China deveria estar a assumir no mundo, numa situação de fragilidade histórica dos EUA. O livro traduz um sentimento de humilhação por todas as demonstrações de pujança da China, culminando nos Jogos Olímpicos de 2008, e todo o tratamento condescendente que antes da crise lhe tinha sido dado pelo ocidente. É um best seller.O livro é considerado por muitos em Pequim como reflectindo um perigoso sentimento nacionalista. A internet parece mostrar uma juventude radical que defende afoitamente o livro e outra que o acha repugnante. Os cidadãos mais idosos tendem a rever-se no livro. E ainda que ele não traduza de modo alguma a corrente visão do poder em Pequim, a sua influência tem-se feito sentir, apesar da relativa desvalorização que o China Post lhe dava a 12 de Abril, procurando advogar que vozes daquelas existem muitas noutros países. As declarações do governo chinês sobre os títulos de dívida americanos, e os apelos a uma nova moeda de reserva internacional terão em parte, segundo esse artigo, sido instigados para mitigar o descontentamento que o livro gerou. É uma visão simplista do problema, mas as autoridades chinesas parecem preocupadas com ele. O livro terá sido mais um catalisador do sentimento de alguma China e uma força de pressão para o governo assumir posições mais duras. Mas terá tido algum impacto, que não decisivo nessas posições. Porque a questão monetária e a dos títulos do tesouro são anteriores ao livro, e Wen Jiabao já as tinha referido antes desta incursão nacionalista. Numa edição recente do Esquire, o analista Thomas Bernett considerava que o livro continha também cíticas implícitas à corrente liderança em Pequim. A corrupção, a resposta deficiente ao terramoto de Sichuan e a história do leite estragado que recentemente levou ao falecimento de 6 crianças, e chegou a provocar doenças em 300000 (história percebida pelos nacionalistas como falha da supervisão e como tal do poder em Pequim) presidem a esse descontentamento.Contudo, e para concluir, nada no livro permite suportar a tese australiana de um aumento de ambições territoriais chinesas. O recente livro de Yu Keping não parece também suportar a tese de um nova China belicista. Nem foi também o Unhappy China a promover o apoio aos países ASEAN. A história de aqui se tratou é económica e geopolítica.Mas como superpotência global, a China não se limitou em Abril a olhar para o Sudeste Asiático. A Rússia e a Ásia Central, bem como a América Latina, foram outros domínios onde estendeu a sua influência. E a sua presença no próprio Hindu Kush, no Afeganistão, não é de todo indiferente ao futuro da região. Mas isso é matéria a tratar num post deste fim de semana.