O valor das ideias: A tie? Hardly, se quem ia atrás jogava em casa e não marcou

23-05-2009
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E pronto. O debate sobre "segurança e política externa" em Oxford, Mississipi terminou. As reacões dos eleitores americanos serão visíveis nas tracking polls dos próximos dias, particularmente Domingo e Segunda. Não tenho uma bola de cristal para as prever. O objectivo deste comentário é distinto. É um comentário analítico sobre o desempenho dos dois candidatos neste primeiro debate.É factual, para quem o tiver visto que de facto o tema do debate deve estar entre aspas. Sensivelmente metade do tempo, a primeira metade, foi passada a falar de economia. Na segunda metade falou-se de facto do assunto que levou os candidatos ali. Isto em si mesmo reflecte o que é a prioridade actual dos americanos, e em si mesmo proporcionou uma oportunidade para Obama fazer uma das coisas que fez melhor no debate: mesmo durante a segunda metade, aproveitou todos os pretextos para voltar à economia. Again, it's the economy.Barack Obama esteve francamente bem na passagem desta mensagem: a) a guerra do Iraque tem custos financeiros exorbitantes; b) o défice orçamental actual dos EUA pode ser em grande medida atribuído a esse esforço de guerra; c) a conclusão é que se não há mais dinheiro hoje para ajudar a classe média a ter melhores planos de saúde, ajudar as pequenas empresas e ajudar as famílias em dificuldades com crédito hipotecário, a culpa é de uma guerra que leva os EUA ao défice enquanto o governo do Iraque acumula superávites anuais. Este ponto McCain não conseguiu nem tentou rebater. Defendeu a guerra do Iraque como fundamental para criar uma aliado estratégico estável na região. Defendeu o surge. Defendeu que a vitória era fundamental para o moral das tropas. E que não havia nada pior que voltar derrotado de uma guerra.Sucede que Obama nunca falou em derrota. E que a ligação que fez entre o argumento bélico e o argumento económico não foi refutado por McCain. Para mim, Obama ganhou nesse ponto.Ganhou adicionalmente na consideração óbvia, que aliás foi reiterada no final do debate: os EUA perdem a War on Terror se se desviarem do Afeganistão para o Iraque. Este era um argumento fundamental que Obama tinha que fazer hoje. Para explicar porque se opôs a esta guerra. A Al Qaeda e os Taliban não tinham nada a ver com o Iraque. Não havia WMD. E contudo, a guerra teve lugar. Por muito que McCain tenha argumentado sobre isso, parece claro que não teve forma de defender a sua dama. Chegou a dizer que Obama estava a discutir o passado: se devia ou não ter havido guerra. O que é um contra senso vindo de um homem que baseou grande parte do seu debate na experiência e anos que tem na condução dos assuntos. Para rematar: se deixarmos o Iraque agora, como reclama Obama, aquilo torna-se um campo de treino para a Al Qaeda. Ou seja: nós dissemos que era mas não era, mas agora não podemos saír senão passa a ser. Para mim isto foi outro ponto crucial que Obama marcou na política externa e de defesa.Obviamente McCain marcou pontos nesta parte do debate. Sobretudo pela forma. McCain pode argumentar que esteve na Georgia, na Indonésia ou em Vanuatu. Porque os anos de experiência no Senado lhe valem isso. E inerentemente tem mais histórias para contar, e nomes para associar às histórias. Junto de um eleitorado mais impressionável é claro que McCain ganha pontos a debater política externa nestes termos.No cômputo global, a imagem que passou nesta matéria, foi a de um McCain que jogava em casa mas com um Obama que não teve medo de jogar fora. Desculpem-me a metáfora, mas Obama não foi numa de "Sporting a Barcelona" pedir autógrafos às estrelas. Como disse na CNN o próprio Alex Castellanos, estratega republicano, Obama passou a imagem de um homem de estado, capaz de ser commander in chief, e que podia partilhar um palco presidencial nestas matérias com John McCain.Os analistas da CNN consideraram isto um empate do ponto de vista da mensagem passada para o público. Eu acho que Obama esteve acima daquilo que se esperava dele. McCain cometeu uma gaffe clara ao negar que Kissinger tinha apoiado o diálogo com o Irão, como a CNN demonstrou a seguir com as imagens em que o próprio Kissinger o dizia. Obama corrigiu o tiro face à sua frase de há mais de uma ano "diálogo sem pré condições". Mas já o tinha feito nas primárias. McCain martelou essa tecla apesar da correcção repetida de Obama sobre exigir pré condições e de não ser um diálogo que começasse ao nível presidencial. Pareceu claro que McCain sabia que tinha de tocar ali, mas pareceu claro que Obama não estava disposto a ceder.Para mim, o que falhou claramente em Obama, foi o apoio a Israel. Foi expresso e explícito. Mas foi apenas uma frase e uma vez. Para ganhar o voto judeu eu creio que ele terá que fazer mais.Em síntese, nesta parte do debate o mundo viu dois planos: Obama a sugerir uns EUA mais virados para a diplomacia, respeito das instituições e diálogo externo. Um McCain claramente mais belicista a lembrar os neocons e o primeiro mandato de Bush. Eu posso apreciar mais o primeiro, mas o mais importante é que estou convicto, da votação que podemos acompanhar em directo de um painel que inclua indecisos, que nesta parte do debate eles estiveram mais com Obama. Quanto ao debate sobre economia, Obama começou agressivo, metódico e organizado. McCain revelou-se mais inseguro de início e demorou a encontrar o tom. Não creio contudo que tenha emergido algum vencedor claro. Como disse antes, para mim o talento de Obama foi ir buscar a economia ao longo de todo o debate, num claro apelo ao blue collar vote da rust belt e do Michigan. Não foi a parte económica em si que o destacou. A mensagem de McCain foi também atabalhoada. Ficou pelo menos claro que Obama não surge como um adversário do off shore drilling. E isso, infelizmente digo eu, era algo que ele tinha que dizer.Em todo o debate, McCain pareceu irritar mais o eleitor: se o eleitor for como eu e não gostar de paternalismos. McCain repetiu sem conta a expressão "What Senator Obama doesn't understand is....", sobretudo em política externa. Isto ficou-lhe mal. Digo eu. Se os eleitores procuram bypartisanship, fica melhor um Obama que diga, como disse várias vezes "John is right, but..." do que um McCain professoral e com argumentos de autoridade: eu sei que é assim e pronto, porque tenho mais anos disto. Não gostei desse tom de McCain.Para concluir, há que contextualizar de onde partíamos: Obama tinha na Sexta a impressionante vantagem de 5 pontos na Rasmussen tracking poll (republican leaning) e 3 na Gallup. Tinha a clara vantagem nas sondagens estaduais. Eu não consigo compreender como se pode considerar uma boa noite para McCain se ele não ganhou claramente o debate (e isso só a campanha dele reclama). Eu diria que Obama esteve melhor. Mas mesmo que fosse um empate, ou uma ligeira vantagem de McCain está muito longe do que ele precisava para virar a campanha. E num dia em que o vídeo de Palin foi revelado e em que parte do GOP pede a sua substituição, McCain tinha de ter feito muito melhor. Até porque, lá está: jogava em casa.Duas notas finais: Obama expôs claramente melhor as suas condições para avalizar o bail out a Wall Street. Mas deixou McCain escapar com a repetição da linha de que despediria o presidente da SEC. Se o problema está na regulação, não é o regulador que deve ser afastado. E McCain nunca fez nada juridicamente no Senado pela regulação. Como Palin teve que admitir implicitamente a Katie Couric.Se o problema é a regulação, então não é o presidente da SEC que deve ser afastado mas o próprio McCain. E os demais senadores que permitiram falhas na regulação. Obama podia ter ido por aqui. E não foi. Por isso me inclino para o empate. Que em todo o caso, acho que o favorece. Convido qualquer leitor do blogue a deixar a sua impressão. Quando houver tracking polls, já sabem que as terão aqui em primeira mão.


E pronto. O debate sobre "segurança e política externa" em Oxford, Mississipi terminou. As reacões dos eleitores americanos serão visíveis nas tracking polls dos próximos dias, particularmente Domingo e Segunda. Não tenho uma bola de cristal para as prever. O objectivo deste comentário é distinto. É um comentário analítico sobre o desempenho dos dois candidatos neste primeiro debate.É factual, para quem o tiver visto que de facto o tema do debate deve estar entre aspas. Sensivelmente metade do tempo, a primeira metade, foi passada a falar de economia. Na segunda metade falou-se de facto do assunto que levou os candidatos ali. Isto em si mesmo reflecte o que é a prioridade actual dos americanos, e em si mesmo proporcionou uma oportunidade para Obama fazer uma das coisas que fez melhor no debate: mesmo durante a segunda metade, aproveitou todos os pretextos para voltar à economia. Again, it's the economy.Barack Obama esteve francamente bem na passagem desta mensagem: a) a guerra do Iraque tem custos financeiros exorbitantes; b) o défice orçamental actual dos EUA pode ser em grande medida atribuído a esse esforço de guerra; c) a conclusão é que se não há mais dinheiro hoje para ajudar a classe média a ter melhores planos de saúde, ajudar as pequenas empresas e ajudar as famílias em dificuldades com crédito hipotecário, a culpa é de uma guerra que leva os EUA ao défice enquanto o governo do Iraque acumula superávites anuais. Este ponto McCain não conseguiu nem tentou rebater. Defendeu a guerra do Iraque como fundamental para criar uma aliado estratégico estável na região. Defendeu o surge. Defendeu que a vitória era fundamental para o moral das tropas. E que não havia nada pior que voltar derrotado de uma guerra.Sucede que Obama nunca falou em derrota. E que a ligação que fez entre o argumento bélico e o argumento económico não foi refutado por McCain. Para mim, Obama ganhou nesse ponto.Ganhou adicionalmente na consideração óbvia, que aliás foi reiterada no final do debate: os EUA perdem a War on Terror se se desviarem do Afeganistão para o Iraque. Este era um argumento fundamental que Obama tinha que fazer hoje. Para explicar porque se opôs a esta guerra. A Al Qaeda e os Taliban não tinham nada a ver com o Iraque. Não havia WMD. E contudo, a guerra teve lugar. Por muito que McCain tenha argumentado sobre isso, parece claro que não teve forma de defender a sua dama. Chegou a dizer que Obama estava a discutir o passado: se devia ou não ter havido guerra. O que é um contra senso vindo de um homem que baseou grande parte do seu debate na experiência e anos que tem na condução dos assuntos. Para rematar: se deixarmos o Iraque agora, como reclama Obama, aquilo torna-se um campo de treino para a Al Qaeda. Ou seja: nós dissemos que era mas não era, mas agora não podemos saír senão passa a ser. Para mim isto foi outro ponto crucial que Obama marcou na política externa e de defesa.Obviamente McCain marcou pontos nesta parte do debate. Sobretudo pela forma. McCain pode argumentar que esteve na Georgia, na Indonésia ou em Vanuatu. Porque os anos de experiência no Senado lhe valem isso. E inerentemente tem mais histórias para contar, e nomes para associar às histórias. Junto de um eleitorado mais impressionável é claro que McCain ganha pontos a debater política externa nestes termos.No cômputo global, a imagem que passou nesta matéria, foi a de um McCain que jogava em casa mas com um Obama que não teve medo de jogar fora. Desculpem-me a metáfora, mas Obama não foi numa de "Sporting a Barcelona" pedir autógrafos às estrelas. Como disse na CNN o próprio Alex Castellanos, estratega republicano, Obama passou a imagem de um homem de estado, capaz de ser commander in chief, e que podia partilhar um palco presidencial nestas matérias com John McCain.Os analistas da CNN consideraram isto um empate do ponto de vista da mensagem passada para o público. Eu acho que Obama esteve acima daquilo que se esperava dele. McCain cometeu uma gaffe clara ao negar que Kissinger tinha apoiado o diálogo com o Irão, como a CNN demonstrou a seguir com as imagens em que o próprio Kissinger o dizia. Obama corrigiu o tiro face à sua frase de há mais de uma ano "diálogo sem pré condições". Mas já o tinha feito nas primárias. McCain martelou essa tecla apesar da correcção repetida de Obama sobre exigir pré condições e de não ser um diálogo que começasse ao nível presidencial. Pareceu claro que McCain sabia que tinha de tocar ali, mas pareceu claro que Obama não estava disposto a ceder.Para mim, o que falhou claramente em Obama, foi o apoio a Israel. Foi expresso e explícito. Mas foi apenas uma frase e uma vez. Para ganhar o voto judeu eu creio que ele terá que fazer mais.Em síntese, nesta parte do debate o mundo viu dois planos: Obama a sugerir uns EUA mais virados para a diplomacia, respeito das instituições e diálogo externo. Um McCain claramente mais belicista a lembrar os neocons e o primeiro mandato de Bush. Eu posso apreciar mais o primeiro, mas o mais importante é que estou convicto, da votação que podemos acompanhar em directo de um painel que inclua indecisos, que nesta parte do debate eles estiveram mais com Obama. Quanto ao debate sobre economia, Obama começou agressivo, metódico e organizado. McCain revelou-se mais inseguro de início e demorou a encontrar o tom. Não creio contudo que tenha emergido algum vencedor claro. Como disse antes, para mim o talento de Obama foi ir buscar a economia ao longo de todo o debate, num claro apelo ao blue collar vote da rust belt e do Michigan. Não foi a parte económica em si que o destacou. A mensagem de McCain foi também atabalhoada. Ficou pelo menos claro que Obama não surge como um adversário do off shore drilling. E isso, infelizmente digo eu, era algo que ele tinha que dizer.Em todo o debate, McCain pareceu irritar mais o eleitor: se o eleitor for como eu e não gostar de paternalismos. McCain repetiu sem conta a expressão "What Senator Obama doesn't understand is....", sobretudo em política externa. Isto ficou-lhe mal. Digo eu. Se os eleitores procuram bypartisanship, fica melhor um Obama que diga, como disse várias vezes "John is right, but..." do que um McCain professoral e com argumentos de autoridade: eu sei que é assim e pronto, porque tenho mais anos disto. Não gostei desse tom de McCain.Para concluir, há que contextualizar de onde partíamos: Obama tinha na Sexta a impressionante vantagem de 5 pontos na Rasmussen tracking poll (republican leaning) e 3 na Gallup. Tinha a clara vantagem nas sondagens estaduais. Eu não consigo compreender como se pode considerar uma boa noite para McCain se ele não ganhou claramente o debate (e isso só a campanha dele reclama). Eu diria que Obama esteve melhor. Mas mesmo que fosse um empate, ou uma ligeira vantagem de McCain está muito longe do que ele precisava para virar a campanha. E num dia em que o vídeo de Palin foi revelado e em que parte do GOP pede a sua substituição, McCain tinha de ter feito muito melhor. Até porque, lá está: jogava em casa.Duas notas finais: Obama expôs claramente melhor as suas condições para avalizar o bail out a Wall Street. Mas deixou McCain escapar com a repetição da linha de que despediria o presidente da SEC. Se o problema está na regulação, não é o regulador que deve ser afastado. E McCain nunca fez nada juridicamente no Senado pela regulação. Como Palin teve que admitir implicitamente a Katie Couric.Se o problema é a regulação, então não é o presidente da SEC que deve ser afastado mas o próprio McCain. E os demais senadores que permitiram falhas na regulação. Obama podia ter ido por aqui. E não foi. Por isso me inclino para o empate. Que em todo o caso, acho que o favorece. Convido qualquer leitor do blogue a deixar a sua impressão. Quando houver tracking polls, já sabem que as terão aqui em primeira mão.

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