CATA LETRAS: AS METAMORFOSES DO LIVRO

05-10-2009
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A história que se segue foi escrita pela professora Celeste Correia em Outubro do ano passado, aquando da inauguração oficial da nossa biblioteca, e é uma bela forma de apelar à leitura. O Cata Letras agradece a colaboração inestimável da professora Celeste e aproveia para relembrar que todos os leitores do Blog podem enviar as suas participações criativas para o endereço à direita ou, se preferirem, deixá-las ao cuidado da D. Maria José na Biblioteca.As Metamorfoses do LivroNasci numa velha aldeia raiana, sem carros e sem luz eléctrica, onde a calma e o silêncio eram de ouro e o tempo passava, tão devagarinho, que parecia acariciar-nos a vida. Então, o dia era o Sol recheado de Esperança e a Noite o colo mágico dos Sonhos! Eram tão poucos os que sabiam ler e tão poucos os que iam à escola! Respiravam-se as sabedorias dos antepassados. Quando eu era pequenina, ainda mal sabia andar, lá, na minha velha aldeia raiana em cujas ruas habitavam saberes muito, muito antigos, todas as noites, podiam sentir-se os apelos que o silêncio da Natureza ditava. Durante repetidos dias e anos, uma voz feita de carícia chegava, afagava os meus ouvidos e falava coisas que eu não entendia. Porém, um dia, de tanto me chamar, já não eram só apelos, pareceu-me ouvir :- Sabes quem colocou aquela Estrela, lá no alto? Aquela, bem lá no alto? A mais brilhante?Com o passar do tempo e o crescer da idade, fiquei tão ansiosa que, um dia, já sem paciência, gritei-lhe, irritada:- Ensinas-me já ou preciso crescer mais? E a carícia, mais que voz, respondeu:- Agora são outros tempos…já andas na escola!... Começa desde já e um dia brilharás junto dela. E eu não sabia o que queria dizer começar e continuava cada vez mais intrigada e o mistério sempre a chamar-me. Porém, já crescidinha, quase em desespero, perguntei:- Foi Deus quem colocou, lá no alto, aquela estrela? E a voz explicou-se melhor e revelou:- Sim. É um daqueles velhinhos, desta velha aldeia que te contava “histórias à lareira”. Viveu sem livros que ainda os não havia. Era no tempo em que o saber passava de boca em boca. A sua vida foi um livro, tão belo, tão belo! Como o são as vidas dos velhinhos deste velho Portugal que vai desaparecendo!. Livros vivos não podem perder-se. Só mudam de lugar… E moram nas Estrelas!Comecei a compreender!... Mas viam-se tantas estrelas que não me contive:-E as outras estrelas? Respondeu-me:-São todos e cada um daqueles que, de geração em geração, continuaram as “Histórias à Lareira”. E foi assim durante muitos anos até que o Homem cresceu, cresceu, cresceu. Viveu a idade da pedra, do ferro, do cobre e do bronze…Aprendeu a ler, a fazer barcos, comboios e aviões e naves espaciais e coisas que duram pouco tempo. Passou os Mares e venceu os Oceanos. Aprendeu a ler e a escrever. Inventou o papel e a Imprensa. Registou tudo no papel e fez livros.


A história que se segue foi escrita pela professora Celeste Correia em Outubro do ano passado, aquando da inauguração oficial da nossa biblioteca, e é uma bela forma de apelar à leitura. O Cata Letras agradece a colaboração inestimável da professora Celeste e aproveia para relembrar que todos os leitores do Blog podem enviar as suas participações criativas para o endereço à direita ou, se preferirem, deixá-las ao cuidado da D. Maria José na Biblioteca.As Metamorfoses do LivroNasci numa velha aldeia raiana, sem carros e sem luz eléctrica, onde a calma e o silêncio eram de ouro e o tempo passava, tão devagarinho, que parecia acariciar-nos a vida. Então, o dia era o Sol recheado de Esperança e a Noite o colo mágico dos Sonhos! Eram tão poucos os que sabiam ler e tão poucos os que iam à escola! Respiravam-se as sabedorias dos antepassados. Quando eu era pequenina, ainda mal sabia andar, lá, na minha velha aldeia raiana em cujas ruas habitavam saberes muito, muito antigos, todas as noites, podiam sentir-se os apelos que o silêncio da Natureza ditava. Durante repetidos dias e anos, uma voz feita de carícia chegava, afagava os meus ouvidos e falava coisas que eu não entendia. Porém, um dia, de tanto me chamar, já não eram só apelos, pareceu-me ouvir :- Sabes quem colocou aquela Estrela, lá no alto? Aquela, bem lá no alto? A mais brilhante?Com o passar do tempo e o crescer da idade, fiquei tão ansiosa que, um dia, já sem paciência, gritei-lhe, irritada:- Ensinas-me já ou preciso crescer mais? E a carícia, mais que voz, respondeu:- Agora são outros tempos…já andas na escola!... Começa desde já e um dia brilharás junto dela. E eu não sabia o que queria dizer começar e continuava cada vez mais intrigada e o mistério sempre a chamar-me. Porém, já crescidinha, quase em desespero, perguntei:- Foi Deus quem colocou, lá no alto, aquela estrela? E a voz explicou-se melhor e revelou:- Sim. É um daqueles velhinhos, desta velha aldeia que te contava “histórias à lareira”. Viveu sem livros que ainda os não havia. Era no tempo em que o saber passava de boca em boca. A sua vida foi um livro, tão belo, tão belo! Como o são as vidas dos velhinhos deste velho Portugal que vai desaparecendo!. Livros vivos não podem perder-se. Só mudam de lugar… E moram nas Estrelas!Comecei a compreender!... Mas viam-se tantas estrelas que não me contive:-E as outras estrelas? Respondeu-me:-São todos e cada um daqueles que, de geração em geração, continuaram as “Histórias à Lareira”. E foi assim durante muitos anos até que o Homem cresceu, cresceu, cresceu. Viveu a idade da pedra, do ferro, do cobre e do bronze…Aprendeu a ler, a fazer barcos, comboios e aviões e naves espaciais e coisas que duram pouco tempo. Passou os Mares e venceu os Oceanos. Aprendeu a ler e a escrever. Inventou o papel e a Imprensa. Registou tudo no papel e fez livros.

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