Clube de Reflexão Política: Matar o tempo (até que o tempo os mate)

29-09-2009
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Segundo a Imprensa, a reunião mais recente da Comissão Política Nacional do PPD/PSD (a referência à social democracia é já, apenas histórica) elaborou uma doutrina política: «fazer de morto». Atendendo ao espectáculo que são as manifestações vitais, desde a lucidez das declarações da lider até à imaginação constitucional de Alberto João Jardim, parece uma doutrina sã. E, de facto, muito popular e pouco social democrata: dizer mal de tudo o que diz respeito aos outros (maxime, governo) e ignorar a mudança social, a permanente renovação das sociedades modernas, ficando muito quietinho.Mesmo quem se sinta um pouco desconfortável perante a facilidade com que o termo «modernidade» é usado hoje não deixará de notar como «fazer de morto» é um programa bem específico e distinto. Ele consiste em ser conservador na acepção mais superficial do termo (o que é lógico, quem faz de morto não deve manifestar vida nem à superfície nem interior). Deixar passar o tempo sem atender aos problemas que se modificam, às expectativas sociais que se alteram, às soluções que se desenvolvem. A manutenção do PPD num estado de Cavaquismo sem Cavaco, coisa que já dura há quase 15 anos, demonstra bem como no interior do partido se pratica o fazer de morto que se quer agora oferecer ao pais. O mundo, lá fora, que siga o seu rumo. «Eles», os populistas de Santana, as «elites» de Ferreira Leite, os «jovens» de Passos Coelho, velam a memória de Sá Carneiro e cuidam dos restos do cavaquismo ainda por serem constituídos arguidos.O problema está em que, se este conservadorismo primário e autocentrado é de facto distinto de um PS apostado na modernização das estruturas produtivas e sociais, ele torna o país manco. Fazer de morto não é uma alternativa de governo, só de oposição (se isto faz do PPD um PCP da Direita ou um partido distópico não há como saber para já). Mas, sem alternativa, nenhum programa de governo adquire plenamente vida, pois não tem nada contra que se afirmar. Uma oposição negativa, que aposta em fazer de morta, não deve animar quem governa, mas preocupar e muito. «Eles» estão a matar o tempo sem perceber que assim, no fim, o tempo os mata a «eles». O que torna tudo bem mais limitado, à custa do país.Claro que o objectivo da «drª Manuela» era constituir listas de deputados «respeitáveis» e atirar com os «populistas» para as autarquias. A vitória nas europeias veio obrigar a um simulacro de esperança para as legislativas. Mas, quando perder e sair, a lider do PSD vai deixar o que encontrou, um partido morto. O (injustamente) famigerado Bloco Central será impossível, desde logo, por falta de parceiro. A ingovernabilidade? Não tanto, mas com pesos mortos tudo fica desnecessariamente mais complicado. Era dispensável. Mas parece que os zombies não baixam os braços. Carlos Leone (A Linha)


Segundo a Imprensa, a reunião mais recente da Comissão Política Nacional do PPD/PSD (a referência à social democracia é já, apenas histórica) elaborou uma doutrina política: «fazer de morto». Atendendo ao espectáculo que são as manifestações vitais, desde a lucidez das declarações da lider até à imaginação constitucional de Alberto João Jardim, parece uma doutrina sã. E, de facto, muito popular e pouco social democrata: dizer mal de tudo o que diz respeito aos outros (maxime, governo) e ignorar a mudança social, a permanente renovação das sociedades modernas, ficando muito quietinho.Mesmo quem se sinta um pouco desconfortável perante a facilidade com que o termo «modernidade» é usado hoje não deixará de notar como «fazer de morto» é um programa bem específico e distinto. Ele consiste em ser conservador na acepção mais superficial do termo (o que é lógico, quem faz de morto não deve manifestar vida nem à superfície nem interior). Deixar passar o tempo sem atender aos problemas que se modificam, às expectativas sociais que se alteram, às soluções que se desenvolvem. A manutenção do PPD num estado de Cavaquismo sem Cavaco, coisa que já dura há quase 15 anos, demonstra bem como no interior do partido se pratica o fazer de morto que se quer agora oferecer ao pais. O mundo, lá fora, que siga o seu rumo. «Eles», os populistas de Santana, as «elites» de Ferreira Leite, os «jovens» de Passos Coelho, velam a memória de Sá Carneiro e cuidam dos restos do cavaquismo ainda por serem constituídos arguidos.O problema está em que, se este conservadorismo primário e autocentrado é de facto distinto de um PS apostado na modernização das estruturas produtivas e sociais, ele torna o país manco. Fazer de morto não é uma alternativa de governo, só de oposição (se isto faz do PPD um PCP da Direita ou um partido distópico não há como saber para já). Mas, sem alternativa, nenhum programa de governo adquire plenamente vida, pois não tem nada contra que se afirmar. Uma oposição negativa, que aposta em fazer de morta, não deve animar quem governa, mas preocupar e muito. «Eles» estão a matar o tempo sem perceber que assim, no fim, o tempo os mata a «eles». O que torna tudo bem mais limitado, à custa do país.Claro que o objectivo da «drª Manuela» era constituir listas de deputados «respeitáveis» e atirar com os «populistas» para as autarquias. A vitória nas europeias veio obrigar a um simulacro de esperança para as legislativas. Mas, quando perder e sair, a lider do PSD vai deixar o que encontrou, um partido morto. O (injustamente) famigerado Bloco Central será impossível, desde logo, por falta de parceiro. A ingovernabilidade? Não tanto, mas com pesos mortos tudo fica desnecessariamente mais complicado. Era dispensável. Mas parece que os zombies não baixam os braços. Carlos Leone (A Linha)

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