Casmurro: «Dicionário de Soundbytes», por Groucho

29-09-2009
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Jornais: 1. Antigamente serviam para informar os cidadãos do devir da coisa pública. Citar, a este propósito, o arroubo secular de Hegel: «A oração matinal do burguês». 2. Agora, servem para vender livros, DVD’s e brindes variados a preços módicos. 3. Antigamente traziam artigos de fundo e reportagens longas e secas. 4. Agora, trazem «opinião» em forma de «crónica» e reportagens cheias de picante sobre temas sensacionais ou «fracturantes». 5. Antigamente, eram dirigidos por senhores veneráveis e invisíveis, cuja fotografia aparecia uma vez por ano, aquando da reportagem sobre o jantar de Natal dos ardinas. Agora, os directores estão, em permanência, em directo na TV. 6. Antigamente havia o Expresso e A Bola, e o resto era paisagem. Agora há o Correio da Manhã, o 24 Horas e o Record. 7. Ao domingo trazem revistas farfalhudas e coloridas que se podem folhear em esplanadas enquanto se olha para quem passa. 8. Nunca tiveram muitos leitores em Portugal e agora, com as edições on line, ainda têm menos. 9. A solução, já posta em prática em certos segmentos da imprensa, é mesmo oferecê-los, tanto mais que os portugueses apreciam muito a máxima popular «A cavalo dado…». Ainda assim, convém que tragam muitas fotos grandes e pouco texto, pois, caso contrário, nem dados... 10. Apesar da actual situação de anomia (dizer, com ênfase gestual: «Atravessamos uma mudança de paradigma!»), continuam a manter as suas funções mais nobres: amadurecer bananas, limpar vidros, embrulhar o arroz remanescente e aliviar a solidão na casinha.Jornalismo cultural: 1. Em clave melancólica: «Teve a sua Idade de Ouro, quando António Mega Ferreira, Clara Ferreira Alves, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Prado Coelho e outros animavam o Expresso e o JL. Mas isso foi quando havia Expresso e JL. Agora, dá ideia de que quando nos jornais têm um estagiário e não sabem o que fazer com ele, põem-no ou no desporto ou na cultura. Sítios aonde não podem fazer grandes estragos, se me estou a fazer entender…». 2. Para falar, em regime culto (e cult), do seu lugar no concerto do nosso jornalismo, parafrasear o verso de Mallarmé: «L’absent de tout bouquet». 3. Ou então, e ainda parafraseando Mallarmé: «Tudo no mundo existe para terminar num jornal (na secção de Cultura)». 4. E ainda: «A falta que faz o Carlos Pinto Coelho!...»José, Herman: 1. Na penúltima década do século passado até tinha piada. 2. Entretanto, tornou-se o pai espiritual da falange mais javarda da stand up comedy lusa, o que só o enternece. 3. Os efeitos colaterais do affaire Casa Pia deixaram-lhe o cabelo louro-palha. 4. Apesar de as suas piadas serem, a 99%, sobre paneleirices, não tem nada a ver com isso e assume-o.

Jornais: 1. Antigamente serviam para informar os cidadãos do devir da coisa pública. Citar, a este propósito, o arroubo secular de Hegel: «A oração matinal do burguês». 2. Agora, servem para vender livros, DVD’s e brindes variados a preços módicos. 3. Antigamente traziam artigos de fundo e reportagens longas e secas. 4. Agora, trazem «opinião» em forma de «crónica» e reportagens cheias de picante sobre temas sensacionais ou «fracturantes». 5. Antigamente, eram dirigidos por senhores veneráveis e invisíveis, cuja fotografia aparecia uma vez por ano, aquando da reportagem sobre o jantar de Natal dos ardinas. Agora, os directores estão, em permanência, em directo na TV. 6. Antigamente havia o Expresso e A Bola, e o resto era paisagem. Agora há o Correio da Manhã, o 24 Horas e o Record. 7. Ao domingo trazem revistas farfalhudas e coloridas que se podem folhear em esplanadas enquanto se olha para quem passa. 8. Nunca tiveram muitos leitores em Portugal e agora, com as edições on line, ainda têm menos. 9. A solução, já posta em prática em certos segmentos da imprensa, é mesmo oferecê-los, tanto mais que os portugueses apreciam muito a máxima popular «A cavalo dado…». Ainda assim, convém que tragam muitas fotos grandes e pouco texto, pois, caso contrário, nem dados... 10. Apesar da actual situação de anomia (dizer, com ênfase gestual: «Atravessamos uma mudança de paradigma!»), continuam a manter as suas funções mais nobres: amadurecer bananas, limpar vidros, embrulhar o arroz remanescente e aliviar a solidão na casinha.Jornalismo cultural: 1. Em clave melancólica: «Teve a sua Idade de Ouro, quando António Mega Ferreira, Clara Ferreira Alves, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Prado Coelho e outros animavam o Expresso e o JL. Mas isso foi quando havia Expresso e JL. Agora, dá ideia de que quando nos jornais têm um estagiário e não sabem o que fazer com ele, põem-no ou no desporto ou na cultura. Sítios aonde não podem fazer grandes estragos, se me estou a fazer entender…». 2. Para falar, em regime culto (e cult), do seu lugar no concerto do nosso jornalismo, parafrasear o verso de Mallarmé: «L’absent de tout bouquet». 3. Ou então, e ainda parafraseando Mallarmé: «Tudo no mundo existe para terminar num jornal (na secção de Cultura)». 4. E ainda: «A falta que faz o Carlos Pinto Coelho!...»José, Herman: 1. Na penúltima década do século passado até tinha piada. 2. Entretanto, tornou-se o pai espiritual da falange mais javarda da stand up comedy lusa, o que só o enternece. 3. Os efeitos colaterais do affaire Casa Pia deixaram-lhe o cabelo louro-palha. 4. Apesar de as suas piadas serem, a 99%, sobre paneleirices, não tem nada a ver com isso e assume-o.

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