Uma Noite com o Fogo: Autoficção

07-10-2009
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Texto de Manuel Nunes, no seu blogue «Disperso Escrevedor», sobre o romance «Uma Noite com o Fogo»..O romance «Uma Noite com o Fogo», de António Manuel Venda, é o relato de uma experiência vivida, ideia sustentada pela epígrafe de Mario Quintana: «O autor nada mais fez do que vestir a verdade…».Porém, a experiência vivida não é descrita como numa simples crónica. A verdade dramática vestida pelo autor não prescinde da ficção, esse canto de sereia em que acreditamos como se fosse a realidade pura.É essa mistura de referencialidade e imaginação que nos leva a classificar o texto de António Manuel Venda como uma autoficção, designação de género definida basicamente como um relato de conteúdo simultaneamente autobiográfico e romanesco em que se regista identificação nominal entre autor, narrador e protagonista.Apesar de em «Uma Noite com o Fogo» essa identificação não ser explícita, a sobreposição daquelas três instâncias não deixa de estar presente ao longo de todo o texto. Percebe-se bem de onde e para onde viaja o protagonista naquela noite em que o fogo andou à solta. Percebe-se bem onde ficam aqueles montes de sobreiros e medronheiros assolados pela fúria das chamas. Na personagem que se defronta com o fogo não conseguimos ver outra figura que não seja a do próprio autor, lá na serra algarvia onde nasceu e onde viveu os tempos da infância e da juventude, a tal floresta do sul que deu nome ao seu blogue – uma floresta destroçada pela incúria de todos, não só dos que se sentam nas cadeiras do poder.O tempo da história resume-se a uma única noite, o suficiente para emocionar o leitor, tanto pelo combate desproporcionado contra a calamidade natural (?), como pela intervenção frequente da memória autoral numa espécie de «recherche du temps perdu» – um mergulho no mundo da infância e da inocência perdida.Um livro muito interessante de António Manuel Venda, dentro do género a que nos habituou, tão raro, por enquanto, nas nossas letras..


Texto de Manuel Nunes, no seu blogue «Disperso Escrevedor», sobre o romance «Uma Noite com o Fogo»..O romance «Uma Noite com o Fogo», de António Manuel Venda, é o relato de uma experiência vivida, ideia sustentada pela epígrafe de Mario Quintana: «O autor nada mais fez do que vestir a verdade…».Porém, a experiência vivida não é descrita como numa simples crónica. A verdade dramática vestida pelo autor não prescinde da ficção, esse canto de sereia em que acreditamos como se fosse a realidade pura.É essa mistura de referencialidade e imaginação que nos leva a classificar o texto de António Manuel Venda como uma autoficção, designação de género definida basicamente como um relato de conteúdo simultaneamente autobiográfico e romanesco em que se regista identificação nominal entre autor, narrador e protagonista.Apesar de em «Uma Noite com o Fogo» essa identificação não ser explícita, a sobreposição daquelas três instâncias não deixa de estar presente ao longo de todo o texto. Percebe-se bem de onde e para onde viaja o protagonista naquela noite em que o fogo andou à solta. Percebe-se bem onde ficam aqueles montes de sobreiros e medronheiros assolados pela fúria das chamas. Na personagem que se defronta com o fogo não conseguimos ver outra figura que não seja a do próprio autor, lá na serra algarvia onde nasceu e onde viveu os tempos da infância e da juventude, a tal floresta do sul que deu nome ao seu blogue – uma floresta destroçada pela incúria de todos, não só dos que se sentam nas cadeiras do poder.O tempo da história resume-se a uma única noite, o suficiente para emocionar o leitor, tanto pelo combate desproporcionado contra a calamidade natural (?), como pela intervenção frequente da memória autoral numa espécie de «recherche du temps perdu» – um mergulho no mundo da infância e da inocência perdida.Um livro muito interessante de António Manuel Venda, dentro do género a que nos habituou, tão raro, por enquanto, nas nossas letras..

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